quarta-feira, dezembro 19, 2007

Computador: Uma Biografia

O filme "Tron", em seu tempo de exibição, 1982-1983, causou impacto pelos poucos que o viram e entenderam mais ou menos do que se tratava (uma tribo de nerds, se quiserem chamar assim); de resto, foi descascado pelos críticos e foi mal de bilheteria. Não tinha uma personalidade que pudesse receber os ônus e os bônus. Quem era o diretor? Quem escreveu o roteiro? Quem eram, naquele tempo, os atores? E o que era a Disney do início dos anos 80 além de uma razoavelmente competente administradora da obra pregressa de Walt D.? Numa interpretação muito rigorosa, até a trilha sonora, de sintetizadores, era música falsa. Teoricamente era um filme sem gente. "O computador" era o astro principal -- é aí que mora seu pioneirismo. Mas a participação real da computação gráfica em "Tron" foi menor do que se imagina.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Amarelo aparece mais

"O Planeta Diário", o livro, está aparecendo bem nas livrarias. Todas as livrarias. Pelo menos no Rio, onde a marca é mais lembrada -- digo isso dos "coroas", pois o jornal fechou há quinze anos e "ninguém" que apareça hoje como público-alvo no radar dos marqueteiros era alfabetizado em 1992. A capa amarela ajudou muito. Pense nas canetas marca-texto, pense nas placas rodoviárias de advertência. O jornal original dos anos 80, quando preto-e-branco, não tinha esse destaque natural. Só não desaparecia no meio dos jornalões porque era o único tablóide que costumava aparecer nas bancas cariocas. Capa em cores, só de 1990 em diante, recurso que só não foi um "upgrade" porque foi explorado mormente para anexar cabeças de políticos em corpos constrangedores (batendo de frente com a "Casseta Popular" e rebaixando-se até ao "Anormal", um esquecível concorrente anarco-tosco que xingava o "Planeta" de "vendido").
Por justiça histórica, um dia será revelado o iceberg administrativo que arrombou o casco do "Planeta". Do jeito que as coisas iam até a virada de mesa de 1992, quando a casa foi arrumada para ser fechada, o jornal não daria certo nem se vendesse um milhão de exemplares por mês. Quem supostamente responderia pelo rombo não é Googlezável; quem tiver espírito de Clifford Stoll e quiser meter o nariz em papéis empoeirados encontrará algum esclarecimento nos expedientes dos "Planetas" da época.
E com isso encerro o assunto. Pelo menos enquanto não sair a suposta nova edição de "A Vingança do Bastardo" e -- quem sabe? -- não tivermos mais um volume de lembranças do "Planeta".

sexta-feira, novembro 30, 2007

Tupi (a TV, não o poço virtual)

A Tupi foi a primeira TV do Brasil. Quando faliu, em 1980, estava presente em todo o país, mas não conseguia formar uma rede nacional. Hoje qualquer CNT é mais “rede nacional” do que foi a Tupi. Rio e São Paulo ficavam brigando pelo título de cabeça de rede. Como resultado, até programas de auditório tinham versões diferentes para cariocas e paulistas. Anacronismo total, porque a Globo já era a Globo de norte a sul. Videoteipe existia há muito tempo, mas o show do Plim-Plim (Gualba Pessanha, o Mágico do Papel) ainda era transmitido ao vivo. Só de imaginar um programa infantil ao vivo, Xuxa deve rolar de rir até perder o fôlego. Notem bem: ainda no meu tempo de vida conheci uma Tupi de grandes talentos, mesmo que presos em atrações antiquadas, à espera de quem soubesse transformar o potencial em sucesso (não digo ultrapassar a Globo, essa obsessão dos profetas do Apocalipse, mas encontrar seu espaço justo no mercado). Dizem que a Tupi sucumbiu por falta de dinheiro. Nem uma palavra sobre a falta de comando.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Uma TV, muitas bolhas

Luciana Gimenez é melhor apresentadora do que dizem. Dizem que ela é limitada. Ou seja, não é nem mais nem menos do que o “Superpop” exige. Ela não fica falando pelos cotovelos como se sua palavra fosse a revelação divina, não faz macaquices vocais de locutora de rádio, não trata os convidados como reles súditos. Em termos de televisão brasileira, é praticamente de uma fleuma britânica.

Mas Luciana é primeira-dama da RedeTV!; ainda assim, trabalha duro. Ontem ela estava rouca. Se estivesse na Globo no tempo em que o Padrão Globo de Qualidade era levado a sério, não teria saído de casa. No palco, do jeitinho das garotas-propaganda de outros tempos, anunciava um produto desses aí. Poupando sua garganta, a apresentação era intercalada com um comercial gravado. Aplausos. Intervalo comercial propriamente dito. Luciana volta e mostra mais um produto. Aplausos. Luciana abre espaço para um comercial de guaraná. Aplausos. Entra uma chamada de “Donas de casa desesperadas”. Mais um intervalo comercial propriamente dito.

Não se pode dizer que o “Superpop” não fature. Mas cadê o conteúdo?

Falei de "Donas de casa...". O seriado é exibido na noite de quarta-feira. Aí o mesmo episódio é exibido no domingo seguinte. "Pânico na TV" é a grande atração domingueira da emissora. O programa é integralmente repetido na noite de sexta-feira. De terça a sexta temos o "Programa Amaury Jr.". No nada desprezível horário de sábado à noite são reprisados os melhores momentos da semana.

E estes são os programas mais relevantes da RedeTV!. Ainda nem cheguei aos programas de fofocas de copiar-e-colar, às televendas, aos pregadores evangélicos e aos suspeitíssimos joguinhos por telefone.

Não perderia meu tempo comentando o enchimento de lingüiça de uma TV "brega" se fosse um caso isolado de emissora em luta contra o tempo -- excesso de tempo, escassez de conteúdo para preenchê-lo. Parece ser um comportamento padrão. Não é verdade que há tempos uma antiga e tradicional rede nacional tem alugado o horário nobre para uma igreja? Um certo programa das tardes de domingo podia ser xingado de popularesco, mas não de antiprofissional. Não mais. Quem passar os olhos pelo programa acabará se deparando com umas imagens borradas, trêmulas e sem contraste, explicadas off por uma tagarelice qualquer e identificadas pela legenda fatal "Imagens da internet". Sim, os mesmos vídeos chinfrins que são exibidos no YouTube e circulados em emails. O programa chora a perda da liderança aos domingos. O programa compete com cibercafés de um real. O fracasso lhes cai bem.

De volta ao Segundo Caderno

Joaquim Ferreira dos Santos, outrora sacaneado até a medula em shows da banda Casseta & Planeta, deu metade da coluna de hoje para o lançamento do livro “O Planeta Diário”, evento de terça-feira. Se não estivesse chovendo (carioca dissolve na chuva) e o lançamento tivesse algo a ver com alguma peladona ex-mulher de traficante, daria a coluna inteira.

 

Mas a noite de autógrafos estava pequena, pelo menos enquanto eu estava lá, pois saí antes que Hubert chegasse. Entusiasmo da coluna com a ressurreição das camisetas “eleitorais” do Macaco Tião, agora elevadas a ícones dos anos 80...

 

Faltou explicar que o fôlego do chimpanzé não deu nem para a saída. A candidatura prefeitural do Tião em 1988, levantada em conjunto pela Casseta e pelo Planeta, foi campeã de popularidade nos bons tempos em que o Rio ainda apitava alguma coisa culturalmente (quando os eleitorólogos da Globo apontaram Tião, símbolo do voto nulo, como o “grande derrotado” nas urnas, queriam dizer “alguém do PT venceu em São Paulo”).

 

No ano seguinte, bem que tentaram levantar a bola do Macaco Tião como candidato a presidente. Alguém lembra?

 

Mas, enquanto durou, a gracinha foi levada mais a sério do que deveria, incluindo talk shows e candidatos de verdade, o que sob os devidos critérios teria feito o consórcio Casseta-Planeta merecer alguma espécie de Top de Marketing.

 

Especialmente porque tanto a Casseta quanto o Planeta já tinham entrado em trajetória descendente na mídia impressa, assolados por pacotes econômicos e perdendo de vista o público-alvo (baixaria “impacta” muito e vende pouco. Adolescente não lê texto de mais de cinco linhas). Mas foi em 1988 que descobriram a televisão, conquistando o ódio eterno da intelligentsia. E ainda lançaram “oficialmente” a banda, que correu o Brasil com shows que lucraram um quase nada - só serviram para promover as vendas do LP “Preto com um buraco no meio”, exatamente o inverso do modelo de negócios que os obituaristas da “indústria fonográfica” consideram o único que resta a seguir...

quarta-feira, novembro 28, 2007

Campeonato de arremesso de Palm

Acabei de escrever para o marketing (qual outro departamento?) da Palm Brasil perguntando o que fazer para reciclar o Vx morto. O que responderão?

  1. Esteja ligando para São Paulo para estar entrando em contato com o departamento responsável. Portanto, se vire.
  2. Esteja entrando em contato com o "centro de reciclagem" mantido pelas autoridades locais. As autoridades locais que se virem.
  3. Esteja depositando o palmtop em uma das lixeiras verdes mantidas pela Comlurb. A Comlurb que se vire.
  4. Esteja deixando o palmtop distraidamente na esquina do Palácio São Joaquim, o verdadeiro "centro de reciclagem" da Glória/Catete. Rapidamente o Vx morto estará sendo revendido. E o comprador que se vire.
  5. Esteja entregando o palmtop ao revendedor mais próximo de baterias de celular. O Vx é "inabrível", o que torna as baterias... Bom, o revendedor que se vire.

terça-feira, novembro 27, 2007

Lançamento: sucesso total

Quer dizer, teria sido um sucesso parcial se a Livraria da Travessa estivesse entupida de bicões sem noção. Do jeito que estava, podia-se até andar de um lado para o outro. Reencontrei o Reinaldo, que lamentou muito não ter me localizado antes do lançamento, apesar de todos os esforços de pesquisa. Reinaldo ao vivo parece bem mais velho que na televisão (e eu o conheço pessoalmente desde 1988). Hubert, meio que misteriosamente, não estava; Cláudio Paiva não saiu da mesa. E vamos que vamos.

Bem morto

O Palm Vx pode ficar o dia inteiro na base de recarga, mas nunca mais liga. Meu sonho antiecológico é lançá-lo do vão central da Ponte Rio-Niterói.

Sem substitutos. O celular, pelo menos com os programas fornecidos, não tem a menor chance de sincronizar com o micro (aceito sugestões). Penso em ver outro modelo. Os planos das companhias telefônicas são vergonhosos. Oferecem como grandes novidades, e a preço de novidades, uns aparelhos obsoletos (a Palm faz isso com o TX, que nem telefone é) nos quais empacotam uns planos de dados que me fazem lembrar da velha NutecNet de 1996 (estou aqui com o papel), matrícula de R$ 50 mais R$ 25 mensais para dez horas de uso e R$ 2 por hora adicional -- mas o 486 que eu usava naquele tempo não tinha o visor do tamanho de um selo.

O Planeta Diário: engraçado o que dizem...

Catálogos virtuais repetem um texto sobre o livrinho, entusiástico mas derrapante na primeira linha:

O Planeta Diário, jornal mais importante da década de 80 e feita pelos Cassetas (...)
Muito lisonjeiro, pouco verdadeiro. Pode ter sido o jornal de humor mais importante da década de 80 num período em que os jornais "sérios" despencavam em importância (não, crianças: a internet não é culpada única). E Hubert e Reinaldo, sem Cláudio Paiva, só puderam ser considerados "cassetas", num rótulo vira-lata para situar totais desinformados, vários anos depois do auge do Planeta jornal.

É hoje! Os vinhos se dividem em "bom", "médio", "mau" e "para lançamentos e vernissages". Este último será fartamente servido às 20h na Livraria da Travessa de Ipanema no lançamento do livro. Estarei lá.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Adeus, Palm

O Palm Vx funcionou mais ou menos até ontem, quando desligou e não ligou mais. Sem explicação e sem chance de conserto.

Só a morte do portátil conseguiu ser mais absurda que sua longevidade: mais de sete anos de efetivo exercício, o que prova que de vez em quando até o Stand Center é capaz de vender um troço honesto... Exceção total. Nada em informática dura sete anos, mesmo sendo o símbolo de uma era.

Lançado em 1999, o Vx (igual ao V original com o quádruplo de memória) foi o melhor Palm de todos os tempos, ponto. O primeiro com design “de gente grande”, imitadíssimo. O primeiro com tela realmente nítida. E o primeiro com bateria recarregável, minúscula e que durava horas e horas (não me lembro de celular daquele tempo que tivesse bateria que prestasse).

Enquanto Palm foi sinal de status, leiam The anatomy of buzz, e as pretensões do usuário típico se limitavam a agenda, tarefas e lista de contatos, o Vx era a continha do necessário. Depois só estragaram a receita. O conceito do Palm (e do PDA em geral) degringolou quando as operações de agendinha foram absorvidas com folga pelos celulares -- no bolso, um gadget só já basta. E os handhelds remanescentes, de todas as marcas, correram desesperados em busca de conectividade, armazenamento e multimídia. Aí é que as tartarugas ultrapassaram a lebre.

Resultado: qualquer Motorola V3 vagabundo é mais cult que o melhor dos Palms (e sem deixar seu usuário parecendo um usurpador do proletariado), o BlackBerry ressuscitou o teclado, o iPhone botou o hype das canetinhas em seu devido lugar, qualquer coisa da Symbian mostra que, em usabilidade, é possível pôr no bolso um computador conectado que não pareça um Frankenstein de PDA com telefone.

Palms? Ainda os há, mais caros do que parecem. O TX é o herdeiro da "velha tradição" na falta de melhor (não que dê para melhorar muito diante dos problemas conceituais), os Treos são antiquados e limitados, o LifeDrive castigou os early adopters com seus defeitos, "coisas" como E2 e Z22 dão a idéia do que a Palm (empresa) pensa do consumidor brasileiro. Daqui a pouco vem o Palm Centro. Não espero nada.

Longevidade

A seção Veja Recomenda da edição desta semana da revista diz que O Planeta Diário, o jornal, foi publicado até 1991. Não foi. O jornal resistiu até julho de 1992. Já pedi retificação.

Nesta terça às 20h na Travessa de Ipanema

OK, vocês já leram o Segundo Caderno de hoje: O Planeta Diário, o livro, enfim será lançado oficialmente. Continuo esperando um emailzinho da Editora Desiderata.

sábado, novembro 24, 2007

Charlie and the Chocolate Factory

O enredo é inequivocamente religioso. Quem descuidar disso vai entrar pelo cano. Dois filmes entraram pelo cano.

O tema subjacente é manjado porque sempre funciona: "quem é que merece entrar no Céu?". Se eu fosse menino britânico, também desejaria um Céu cheio de doces, mas essa é outra história... No livro de Roald Dahl, do qual Tim Burton mostrou que só conhece o que sopraram em seu ouvido uns assessores engraçadinhos cheios da grana, parece tão óbvio quanto nos filmes que o pobre menininho está fadado a tirar a sorte grande. O interesse da história não é o quem, mas o como.

Charlie não precisa fazer nada especial para conquistar o paraíso dos doces. Seus quatro concorrentes pentelhos se enrolam em suas próprias pentelhices, saem do jogo, Charlie ganha a fábrica de Wonka por W.O. e o livro acaba mais ou menos aí (desse ponto em diante, Tim Burton emenda uma patetice metida a socialmente correta; dispensem). Acostumado que estava com o filme "da Sessão da Tarde" dos anos 70, pensei que estivesse faltando alguma página no livro.

Segundo o quase-cult dirigido por Mel Stuart (quem?), Charlie "sobra", Wonka se desespera achando que ninguém merece o grande prêmio, o resignado Charlie devolve a Wonka o chiclete mágico (um grandíssimo segredo industrial), o rosto de Wonka se ilumina com o gesto de lealdade, Charlie ganha a fábrica inteira. No livro, bastou a fé. Em Hollywood, é dado por certo que a platéia é inteiramente incapaz de conceber fé sem obra, até porque hollywoodiano não conhece nem uma nem outra.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Megalojas

A Tower Records já dançou. Andrew Keen, em “The cult of the amateur”, ainda sem tradução no Brasil (não esperem; encomendem o original), chora longamente a perda. É nessas horas que o argumento do livro, em geral digno de respeito quando denuncia “duela a quien duela” os ídolos ocos da era 2.0, se perde em dores-de-cotovelo, emocionalismos, ímpetos “californianos” de ser do contra. Keen preferia que a galera continuasse, como nos bons tempos, gastando sola de sapato para prestigiar a Tower Records, ouvir as sábias dicas dos vendedores... Quero ver no Brasil um vendedor, de qualquer coisa, com competência para algo mais que intimidar possíveis não-compradores e procurar preços escondidos. Descontando a pirataria, o público-alvo virou as costas quando descobriu que tudo que havia na Tower se comprava melhor em lojas virtuais com catálogos (de vendas por catálogo os americanos entendem) ilimitadamente expansíveis e infinitamente comparáveis uns com os outros. No geral, isso deixa o consumidor passando melhor hoje do que ontem. É nessas coisas que internet faz a diferença. Mas enquanto Keen passeou só na superfície do descalabro cultural pós-bolha pontocom, “The weightless world” (cadê a tradução?) é que revirou os alicerces da economia digitalizada e não gostou do que viu. Isso quando a glória e prosperidade da Nasdaq ainda era considerada eterna...

Pena do ICQ? Fique com ele

Choramingos aqui e ali pelos poucos e bons tempos do ICQ, o primeiro software-serviço de mensagens instantâneas que deu certo, porque era o que “todo mundo” usava até mais ou menos 2003-2004 quando, dizem, foi atropelado pelo odioso monopólio de Bill Gates através do MSN Messenger (depois Windows Live Messenger). A Microsoft cumpriu sua obrigação competitiva de mexer o traseiro e oferecer um produto rival que os usuários desejassem usar. E o império AOL, antes e depois da Time Warner, dormiu no ponto com o ICQ (idem com o Netscape). Deixou a equipe de produção solta para rechear o programinha com penduricalhos que as máquinas da época não assimilavam bem; já em 1999 era bombardeado por críticas de usuários, que, no entanto, valorizavam o ICQ justamente porque “todo mundo” o usava. A AOL olhava para o teto enquanto o que realmente valia no ICQ, os zilhões de usuários, lhes escorriam pelos dedos. AOL já teve um modelo de negócios sustentável? O Messenger se ergueu por seus méritos enquanto, lateralmente, o ICQ despencava pelos defeitos de si mesmo, e é essa a história. Se alguém quiser “colocar” a morte em vida do ICQ (ainda existe, mas ninguém mais quer saber dele) como questão opressor-oprimido, só se for por peninha das centenas de bilhões que a AOL desintegrou com o fim da bolha pontocom. Mas é uma façanha convencer de alguma coisa essas crianças que conhecem melhor a cartilha marxista do que a localização do Brasil no mapa.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Mega o quê?

Falando em Saraiva, esqueçam essas megalojas. A não ser que você precise de determinado livro “para ontem” ou na improvável circunstância de oferecerem uma promoção realmente compensadora em relação às das lojas virtuais. Leve em conta, porém, os custos de transporte público que não digo que é “de gado” para não ofender o gado, possível estacionamento, cafezinho caro servido por completos palermas, longas filas, barulho, assaltantes e tempo perdido que não volta mais.

 

Megaloja física não está mais nem aí para vender coisa alguma. Mantém aquele símbolo dos anos 90, a seção enorme de CDs e DVDs que “ninguém” compra porque, ah, deixa pra lá. Pelo menos seria útil mexer nos computadores e outros eletrônicos antes de comprá-los. Não há nem espaço para isso. Os poucos atendentes são meninos “pow kra vlw blz” que explicam menos que a loja virtual, as condições de pagamento são melhores na loja virtual e todos os itens em falta são oferecidos pela loja virtual.

 

Se o estabelecimento de tijolos existe para atender a compradores impulsivos, então deveria pelo menos não esconder os preços das mercadorias (busque uma oferta na internet: o preço é mostrado antes do nome da loja). Em qualquer birosca o grande trabalho dos balconistas é ficar consultando livros de referência (ou listas computadorizadas) para dizer os mesmos preços dos mesmos itens para todo mundo. É uma velha tradição brasileira que nenhuma leizinha parece intimidar. De minha parte, se escondem os preços, eu escondo a carteira.

O Planeta Diário na Saraiva

Enfim o livrinho em exposição não-virtual em filial carioca de rede não-carioca de livrarias. Se a Desiderata fosse editora paulista, já teríamos O Planeta Diário nas Saraivas cariocas há tempos.

 

Continuo esperando a boa-vontade de alguém, pode ser um “sub”, na Desiderata em responder meu email.

terça-feira, novembro 20, 2007

Notícia de ontem

A Editora Desiderata respondeu ao meu pedido de contato. Assim que chegarmos a um acordo sobre o horário, farei uma visita.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Ainda o livro do Planeta Diário

O maior mérito do livro da Desiderata deve parecer uma heresia a quem viveu "aqueles tempos": delavar o visual antigo para que as novas gerações possam absorver o conteúdo sem torcer o nariz. Daqui a pouco ninguém mais vai saber o que realmente o Planeta satirizava em gênero, pois a garotada que entra hoje na população economicamente jamais deu a menor pelota para jornais de papel (sai tudo grátis na internet mesmo; ademais, "eucalipto não se come"), e qualquer matéria impressa um pouco mais complexa remete ao site do jornal, onde contará com a foto-cidadão, o vídeo-cidadão e uma enxurrada de comentários. Pelo menos hoje os fetichistas da celulose recebem jornais multicoloridos e graficamente impecáveis. Em comparação, O Planeta Diário dos anos 80 deve parecer a coisa mais tosca da História da imprensa.
 
Numa estimativa otimista, o Planeta gozou (no bom sentido) dois anos de glória, mais ou menos os anos de 1985 e 1986, até que sucumbiu à glória e decadência do Plano Cruzado e continuou caindo nos muitos pacotes econômicos seguintes. Porque boa produção custa dinheiro. O papel piorava, a impressão piorava, o número de páginas caía, os anunciantes desapareciam. Acima de tudo, quem não se lembra de ter visto uma troca de moeda não tem a menor noção no abalo psicológico que os furacões econômicos causavam e no baixo astral que disseminavam. De todo modo, O Planeta entrou em 1988 sem Perry White, sem A Vingança do Bastardo e sem Cláudio Paiva, mas com uma banda e um programa de TV batendo à porta, o que tornou o jornal um negócio secundário.

Sim, Verissimo já foi bom

"Lenda de Copacabana" bem aqui. Li esse conto numa Revista de Domingo nos anos 70, cuja última página era do Verissimo. Eu era muito criança. Nem me lembrava mais dos detalhes. Só agora reencontrei a "Lenda" pelo Google.

Pois a molecada de hoje pensa que Google (e a internet por baixo dele) sempre existiu, que "a revistinha" do JB sempre foi uma coisinha irrelevante, e que Verissimo nunca fez nada melhor que suas parlapatices adesistas. E, principalmente, que eu nunca falaria bem do Verissimo neste blog ou fora dele. "Lenda de Copacabana" bem aqui.

sexta-feira, novembro 09, 2007

O Planeta Diário: Me exumaram. Aos pedaços. Vida breve, arte longa

Primeiro foram as versões resampleadas, delavadas, remasterizadas e customizadas das matérias do período mais glorioso d'O Pasquim, reunidas em dois grossos volumes da Editora Desiderata. Agora a mesma editora faz o mesmo com outro famoso tablóide de humor: O Planeta Diário. Comprem. Peçam os autógrafos. Leiam.

O que eu tenho a ver com isso? Uma coisinha ou outra. Quer dizer, algumas matérias de minha autoria acabaram saindo. Não riam. Ninguém acredita mesmo, mas é verdade. Em 1988, aos 16 anos, comecei a escrever no Planeta e na Casseta Popular e nem os insiders do jornal/revista acreditavam. Em diversos níveis de descaramento, insinuavam que eu era só um laranja do verdadeiro autor dos artiguinhos (top-FAQ: todas as minhas colaborações ao Planeta e à Casseta foram rigorosamente pagas). No Brasil, imagina-se, desenvolver trabalho intelectual é mais ou menos o mesmo que ser farsante.

Mas as matérias. Numa lida atenta mas rápida, encontrei o "Guia Quatro Patas: São Paulo", obra do prolífico verão de 1989 que passei no quarto dos fundos da casa de praia sobre uma velha máquina Olivetti. Faltou justamente o quadro sobre a capital paulista. Um pedacinho de "A Patada", publicado originalmente em outubro de 1990, quando os editores já tinham mexido no original mais do que os cirurgiões plásticos já mexeram em Dercy Gonçalves. Pelo menos do "Especial Videogame", de 1991, aproveitaram o principal -- a entrevista Sunda-Mário -- com uma fidelidade razoável. Só não me lembro de ter inventado qualquer coisa no sentido de "Pac-Mandíbula". À dupla Hubert-Reinaldo nunca faltou uma prodigiosa imaginação.

Update: Assim como fui o último a saber que tive algo republicado, também não me contaram até hoje quando haverá noite de autógrafos.

Update 2: Em leitura um pouquinho mais atenta, descobri que fui devidamente creditado. Até acertaram a grafia do meu nome! Corram à livraria mais próxima e confiram. Enfim, seguiram o espírito do Planeta original, que jamais deixou de cumprir suas obrigações com este humilde colaborador. Se Hubert e Reinaldo atingem o status de celebridades, não é por falta de profissionalismo.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Cristaldo, mais uma vez

Daqui. Vai cópia do post inteiro.


SÃO LANCELOTTI


O padre Júlio Lancelloti, defensor incondicional dos moradores de rua e menores delinqüentes, apresentou queixa à polícia, dizendo-se vítima de extorsão há três anos, período no qual teria pago 50 mil reais a um grupo de extorsionistas, que ameaçavam denunciá-lo por prática de abusos sexuais contra menores. A vítima de seus abusos seria filho de um dos extorsionistas, já acusado por homícidio.

Vejamos as declarações do padre à Folha de São Paulo:

Além de intimidá-lo com insinuações de agressão, o grupo passou nos últimos meses a dizer que procuraria a imprensa para denunciar um suposto abuso sexual cometido pelo padre contra o filho de Conceição, de oito anos. "Tem coisas que você não consegue explicar. Tem coisas subjetivas. Eu queria mudá-los [os autores da extorsão]", disse o religioso, ao ser questionado por que tinha pago aos acusados por tanto tempo. O padre Júlio afirmou ontem que recebe salário de R$ 1.000 por mês e que mora com sua mãe e a sobrinha. Ele disse que irá pedir proteção policial.

Não convence. Como pode alguém que recebe mil reais por mês pagar 50 mil reais a extorsionistas no período de três anos? Além disso, o gesto do padre, de pretender com seu pagamento evitar outras extorsões - como declarou em outra entrevista - não tem precedente nos anais da hagiografia. Temos um novo caso Henry Sobel. O sacerdote impoluto envolvido em um reles caso de reportagem policial.

Quanto mais Sobel se explicava, mais se enredava. Quanto mais Lancelotti se explicar, mais se enredará. Quem dá explicações já perdeu a discussão. É óbvio que o imbroglio que envolve Lancelotti está longe de ter sido elucidado. Como pode uma personalidade pública de seu status ceder a chantagens por temer que seu nome seja envolvido pelas denúncias de um homicida? É claro que há algo mais atrás da ameaça de denúncia.

Se não houver, temos de apresentar Lancelotti como candidato a santo pela Igreja Católica. Só um santo cederia a uma chantagem para evitar outras chantagens. Urge apresentar o nome do santo homem ao Vaticano, para posterior beatificação e santificação.

Dvorak

"Though the open-source movement isn't going to die anytime soon, it's looking a little ragged at the edges. And with the appearance of the onerous GPL v3 and the slow deterioration of the popular Firefox browser, I now wonder if open source may have been a fad, or perhaps just a more elaborate iteration of the shareware phenomenon in the 1980s." Mais...

De volta

Quer dizer, já há uma semana. E que semana atribulada.

terça-feira, outubro 02, 2007

Atraso

No portão de embarque. Uma vez Gol, sempre Gol.

Até a volta

Para o espanto d'O Mundo, em São Paulo conheci incontáveis eleitores de Paulo Maluf. Nenhum deles parecia particularmente envergonhado de seu voto (não mais do que o conceito de certas mulheres sobre suas celulites reais ou imaginárias).

No Estado do Rio, segundo dizem as lendas do distante 2002, uma certa Rosângela Matheus foi eleita governadora. E sem enfrentar segundo turno. Ou eu realmente nunca vi um eleitor da dita cuja andando por aí, ou eles se disfarçam melhor do que lagartos invasores de seriado de ficção científica.

Nem desperdiçarei o tempo do leitor analisando como certas figuraças indizíveis se tornaram vereadores e deputados. Mantendo-nos nas eleições majoritárias, pelo menos do ponto de vista do Sulmaravilha eleitor de Maluf e Rosinha esclarecido e politizado, permanece um mistério a eleição de Renan Calheiros como senador. Um mistério tão grande que tenho que investigar in loco. Alagoas me espera; volto em sete dias.

A indústria investiu muito em carruagens, espartilhos e discos de 78 rotações. Isso deve ser lembrado.

Como era de se prever, a Telefônica começou a cobrar um "plus a mais" pelo serviço que teoricamente os provedores é que prestavam. Pelo menos agora o cliente paga a quem presta o serviço. Até há pouco era preciso pagar a X pelo serviço de Y. Tudo pela competitividade.

Ainda assim, os R$ 8,70 são uma pechincha diante do que padecem os usuários domésticos de DSL fora do Planeta São Paulo em troca de email inútil, suporte incompetente e um tal de conteúdo diferenciado para o qual ninguém dá a menor pelota.

Não faltou a tirada humorística da Abranet: "O custo da conexão à internet está lá e o setor de provimento de acesso investiu muito neste serviço. Isso deve ser lembrado."

segunda-feira, outubro 01, 2007

Internet destrói piadas, diz pesquisa

Isso eu já tinha notado há tempos. Mas os pesquisadores fariam bem em considerar os fatores que fazem a internet ser tomada pelos vírus do cinismo e da paranóia, reduzindo o espaço vital para a disseminação do humor genuíno. Como os computadores, os cabos e os roteadores não se tornam cínicos e paranóicos -- pelo menos é o que suponho --, os usuários é que são. E cada vez mais.

Se dependesse dos iluminados da informática, Bill Gates teria que perguntar a eles o que poderia ter feito na vida e quão longe poderia chegar.

Vejo um monte de gente que não tem domínio de língua nenhuma, tem orgulho disso e tenta compensar com lábia, peitadas, atributos físicos, volume de voz, reviradas de olho, frases feitas.

sexta-feira, setembro 28, 2007

A reação

Abranet entra com recurso contra acesso ao Speedy sem provedor

Trecho:

"Há uma lei - a Lei Geral das Telecomunicações (LGT) - que ampara nossa atividade. É ilusório achar que o serviço de valor adicional de conexão à internet não tem preço", argumenta Eduardo Fumes Parajo, presidente da Abranet.

É claro. E a LGT serve à lei maior. A Constituição? Não, a Lei do Gerson.

Em tempo: quem não sabe o que são "embargos auriculares" não entende coisíssima nenhuma de como funcionam esses cabos-de-guerra judiciários.

Um pequeno sopro de bom senso

Telefônica libera Speedy sem provedor

Ou melhor: "Justiça reduz a guilda dos provedores à merecida insignificância". Ou melhor ainda: "Bola de ferro no tornozelo do cliente DSL paulista se torna opcional".

terça-feira, setembro 25, 2007

Fax já vai tarde

Aqui.

Pirataria também é cultura

E o Alexandre Soares Silva nem scanner tem.

Acabei de visitar a Sunshine Vídeo. É a distribuidora autorizada de CDs e DVDs piratas na esquina (se você pensa que pirataria é coisa de desamparados freelancers da "exclusão", experimente copiar uns disquinhos e vendê-los na sua esquina sem jurar lealdade a ninguém). Chamo de "Sunshine Vídeo" porque traz o material numa detonada Kombi amarela, quem viu Pequena Miss Sunshine conhece a referência, que nem sei como é que ainda se move. Ainda por cima, a equipe da Sunshine Vídeo, sempre o mesmo corpo de funcionários, monta sua banca bem na porta da locadora (legal e legítima). Quando há vaga, a própria Kombi amarela estaciona em frente.

-- Aí tem as colunas escaneadas/fotografadas do Paulo Francis?

-- Não, mas temos Tropa de Elite 1, 2 e 3. E aceitamos encomendas para o 4.

quinta-feira, setembro 20, 2007

You've Come A Long Way, Baby

Acabei de achar uma listinha de despesas de fins de 1995:

16/10 - Placa-mãe com processador 486 DX4/120: R$ 385
16/10 - 8 (oito!) megabytes de RAM: R$ 320
20/11 - HD de 1,08 GB: R$ 270
21/11 - Kit multimídia Creative (leitor de CD de no máximo 4X, placa de som decente, caixinhas que dispensavam alimentação externa, uma enciclopédia e um disco de joguinhos em DOS): R$ 390

Calcule o dólar daquele tempo a meros R$ 0,90. Todos os preços se referem ao mercado negro (um certo executivo de fronteira muito famoso nos meios BBSianos) ou cinza-escuro (pessoas jurídicas que anunciavam em classificados), pois os preços em lojas de rua eram ainda mais astronômicos.

Engraçado. Nunca vi historiador "progressista" chamar isso de progresso.

terça-feira, setembro 18, 2007

Mistérios da Humanidade

Por que o Technorati é tão lento às vezes?

segunda-feira, setembro 17, 2007

O baú dos cartões 22

Anos 90.

O baú dos cartões 21


1988 ou 1989.

O baú dos cartões 20


Meados dos anos 80.

O baú dos cartões 19

1986 ou 1987: essa loja (basicamente uma surf shop) teve grande fama nos últimos dias em que a Gold Star (como assim "qual Gold Star"? Para quem era de Niterói, aquela galeria não precisava de endereço) foi alguma coisa relevante. Mas seu sucesso foi tão eterno quanto um amorzinho de verão -- fenômeno tão tipicamente niteroiense quanto a cafifa, o Mineirinho, o MAC e a estátua de Araribóia.

O baú dos cartões 18

Anos 90, fase difícil de determinar: está vendo algum endereço de email?

O baú dos cartões 17

Meados dos anos 80.

O baú dos cartões 16

1981.

O baú dos cartões 15

Sem data.

O baú dos cartões 14

1982. Fico devendo o verso, que está danificado demais para o scanner.

O baú dos cartões 13


Meados dos anos 80.

O baú dos cartões 12


Fim dos anos 90.

O baú dos cartões 11: série vertical

Cartões verticais não aparecem muito nas estatísticas. "Naqueles tempos", pela minha amostragem de colecionador, menos ainda. Neste e nos próximos posts, uns exemplos aleatórios.


Por volta de 1983. Para vingar esse descarado ato de tráfico de marca, por pouco Ronald Reagan não manda invadir o Brasil. Mas segundo a lei brasileira, como dizia o camelô mexicano da Regina Casé, era a autêntica "piratería garantizada".

Gilberto Paim, o visionário

Um dos petardos do livro de 1985:

"Como o atraso está vinculado à estatização, já é previsível o fechamento da Cobra, por desnecessária. Se a Itautec, a Sid, a Sisco, Elebra e Edisa produzem melhor e mais barato do que a Cobra, por que razão manter a estatal?"

quinta-feira, setembro 13, 2007

Em Niterói...

Transmitindo diretamente da Cidade Sorriso depois de tanto tempo, eis-me numa belíssima noite para... Ver o semifinal da novela?
Pelo menos é o que todos parecem fazer. Na rua, só uns gatos pingados.

Liberou geral (I)

Chega de vergonha daqueles DVDs clandestinos que se acumulam em suas gavetas. Desnecessário levar em conta firulas juridiqueiras como "propriedade intelectual". Definitivamente, no Brasil acabou o último vestígio de vergonha da pirataria. No fim dos anos 90 uns moleques conectados fizeram a guerra das pulgas contra a indústria fonográfica através do Napster. Agora, com um filminho nacional cujo título não vou mencionar para quem já o conhece, uma coalizão mafiosa derruba o que restava de direitos autorais para a alegria da patuléia que nem sabe a que aplaude. Cada um tem o Napster que merece.
 
O tal filme foi providencial e suspeitamente vazado pouco antes do (ainda aguardado) lançamento oficial, tornando-se figurinha fácil nos camelôs. Se você ainda acredita que, na escala em que é praticada, a venda de DVDs ilegais não tem nada a ver com crime organizado, experimente fazer umas cópias em casa e ir para a esquina de casa vendê-los você mesmo. Até posso admitir que essa rede de produção e distribuição seja usada para piratear filmes que exaltem as forças de segurança -- desde que os agentes das ditas cujas falem inglês com legendinhas por baixo, usem uniformes de Fucker & Sucker e estejam bem longe.
 
{continua}

terça-feira, setembro 11, 2007

Para não dizer que não escrevi nada sobre o Onze de Setembro

Enquanto é tempo.

Pode o governo do Brasil premiar terroristas internos e ainda assim lamentar atentados externos?

A divisão do bolo já está feita?

É claro que não.

Essa é uma questão que me intriga há décadas, não pela questão em si, mas como ela tem sido trabalhada pela esquerda em flagrante contraste com o gut feeling do cidadão comum.

Como de costume, a lamentação "a divisão do bolo já está feita", afirmada como lei divina, diz menos sobre fatos do mundo do que sobre o próprio etos esquerdista. A Humanidade progride como naquela mensagem de fim de ano: "tente, invente, faça diferente". Esquerdistas não progridem porque são avessos a riscos. Para fugir do desconforto de encontrar atores fugindo do script, imaginam ricos engessados na riqueza e pobres na pobreza. Um moleque como Bill Gates jamais teria passado a perna na IBM, que já era gigante mesmo antes do primeiro computador.

Computador Faz Política

É o título de um livrinho de Gilberto Paim lançado em 1985. Estou lendo agora (às vezes se acha alguma coisa interessante num domingão no Largo do Machado!). Não se deixe enganar pela análise meio tediosa e repetitiva dos balanços (desastrosos em regra) das empresas abençoadas pela reserva de mercado naqueles tempos. O livro é o próprio balanço do estado da indústria de informática ao apagar das luzes do regime militar. Mais: a obra é uma paulada na testa da reserva de mercado. Ainda mais: uma exortação à inteligência dos governantes civis contra aquele entulho autoritário.
 
Naquele 1985 as empresas brasileiras de informática, quase sempre dedicadas à clonagem de modelos estrangeiros, se encontravam endividadas até a medula. Paim previu acertadamente que aquela trilha piratesca não teria fôlego, pois não seria possível reproduzir as tecnologias "emergentes" sem algum tipo de participação das multinacionais do setor. Se antes o desastre financeiro era explicado (mas não justificado) porque os militares fizeram tudo ao jeito deles, era chegado o momento de se fazer diferente.
 
Mas vocês lembram qual era o governo em 1985, não lembram? Os pastéis da todo-poderosa Secretaria Especial de Informática mantiveram seu poder incontestado (em 1985 saíram os dois modelos brasileiros de computadores MSX. Ambos foram apresentados à SEI como videogames. Foram aprovados como tais). E o governo do pai mais beletrista de Roseana Sarney não mexeu uma palha para acabar com a reserva de mercado. Por que o faria? Era bom ter todo um setor estratégico da indústria nacional dependendo de seus carimbaços. E era excelente que, ainda por cima, esse setor estivesse à beira da falência, arrastando-se a seus pés, disposto a qualquer coisa em troca de um soprinho de vida.
 
Em 1986, lembro-me bem, enquanto todos estavam muito preocupados com o Plano Cruzado, Sarney enterrou as chances de autorização às joint ventures em informática. Manteve-se a política industrial de Macunaíma: o "vá lá e pegue, é tudo seu". Pelo menos um relevante órgão comunista de imprensa celebrou o ato patriótico. O Congresso eleito naquele ano escreveu e aprovou a Constituição que tornou ainda mais rigorosa a definição de "empresa nacional". Muambeiros ficaram ricos. Um MS-DOS com nome diferente foi considerado instrumento de resistência ao imperialismo ianque.
 
Gilberto Paim foi muito otimista. Achou importante reunir dados abundantes, juntar A com B e conduzir o leitor a tirar as devidas conclusões. Esqueceram de avisá-lo que essas coisas de lógica não funcionam no Brasil.

sexta-feira, setembro 07, 2007

O baú dos cartões 10

Acho que foi de 1982.

O baú dos cartões 9

Meados dos anos 90.

O baú dos cartões 8

Não anterior a 1985.

O baú dos cartões 7

Este eu tenho certeza: 1981.

O baú dos cartões 6

O baú dos cartões 5

Desdobrável, frente e interior. Sem palpite quanto à data.

O baú dos cartões 4

Outro do início dos anos 80. Quando localizá-la, postarei a versão deste cartão em castelhano com cores alternativas.

O baú dos cartões 3

Aproximadamente 1983.

O baú dos cartões 2


Frente e verso, segunda metade dos anos 80.

O baú dos cartões 1

Primeira metade dos anos 80.

O baú dos cartões: estréia mundial!

Enfim os cartões há muito esquecidos no fundo do armário ganham seu espaço na Web. Quantos eu tenho? Perdi as contas. Como se não bastassem os incontáveis cartões recentes acumulados, qualquer seleção aleatória -- como a deste lote inicial de dez -- acaba tendo cheiro de "vintage", pois a coleta começou em 1980.

Daqui para frente, as normas e os esclarecimentos:

  1. Nenhum cartão está à venda.
  2. Os cartões são mostrados aqui exclusivamente por sua importância histórica e artística. Não recebemos jabá de qualquer pessoa física ou jurídica.
  3. Tem um cartão interessante para mostrar? Envie-o via correio-lesma (consulte-me). Sempre, sempre, sempre vale integralmente o determinado no item 2.
  4. Os cartões foram originalmente digitalizados em 1200 dpi. A quem estiver realmente interessado, tenho os originais aqui.
  5. Os cartões foram levemente retocados no meu editor de imagens favorito -- só o estritamente necessário para os casos mais sérios de manchas e rabiscos. De resto, até o quanto é possível, as imagens revelam as qualidades e os defeitos dos cartões originais.

terça-feira, setembro 04, 2007

Conexão Global

A coluna de Nelson Vasconcelos no Globo de 27 de agosto chorou as pitangas em nome do Software Livre (ou, mais modestamente, do software livre; falta um consenso editorial/sentimental sobre as maiúsculas) pelo tal plano da Receita Federal de investir R$ 40,9 milhões em licenças do Microsoft Office 2007.

A coluna de hoje celebra o torpedeamento do "leilão para a gastança com o dinheiro público". Título da nota: "Valeu o bom senso". Parabéns! Tiro meu chapéu, agora que é de conhecimento geral que os R$ 40,9 milhões serão diligentemente devolvidos ao pagador de tributos... Epa, não é bem essa a história.

"'Esses R$ 40,9 milhões podem ser utilizados em outras atividades (...), como em projetos tecnológicos voltados para a democratização da informática', disse o coordenador adjunto da Associação Softwarelivre.Org, Gustavo Pacheco."

É claro, a idéia-mãe das colunas de Nelson Vasconcelos era convencer a Receita a considerar a suíte alternativa (e grátis) BrOffice. Pois eu tenho uma idéia melhor para a Receita apoiar a democratização da informática e desonerar o "contribuinte": em vez de comprar as 44 mil licenças do MS-Office, eliminar já os 44 mil postos de trabalho correspondentes.

Por que não?

Todos os servidores da Receita são pessoas bem formadas, aprovadas em provas muito difíceis. Ingressaram no serviço público porque provaram ficha limpa e capacidade física. São altamente capazes de desempenhar suas funções. Detêm cargos cobiçados e invejados. Certo? Sendo tudo isso verdade, pessoas assim terão muito menos dificuldade para achar empregos no "mundo real" do que o brasileiro médio. E com a redução do bafo quente da Receita nas costas, a vida ficará mais fácil para todo mundo. Pense.

Horas lamentáveis

Tem alguém me lendo aqui? Ninguém? Ótimo.

Se alguém sentiu falta, passei a segunda-feira cuidando do www.jogueaki.com.br e de outros assuntos. No domingo, cataloguei incontáveis CDs e DVDs (no entanto, ainda não estou certo se escolhi um programa decente para isso -- sugestões, alguém?). Na sexta e no sábado... Bem, foi uma belíssima ocasião para eu ter ficado quietinho em vez de procurar a "ajuda" das otoridades médicas.

Na noite de quinta comecei a sentir uma leve dor no peito que continuou na manhã seguinte. Dr. Google não achou nada. Fui a um médico que também não achou nada, mas me encaminhou para os devidos exames. Mole, né? Pois se isso um dia acontecer com você, pelo menos assegure-se de procurar um hospital que não confunda uma coisinha de menor importância com um infarto agudo do miocárdio.

Resumindo: ficar num CTI não é nada confortável. Foram umas vinte horas (não havia relógios e o ambiente não permitia saber direito quando era dia ou noite) preso a uma cama desconfortável, sem telefone, sem televisão, sem um livrinho, sem nem um iPod paraguaio, sendo submetido a procedimentos e mais procedimentos. O mínimo que se espera é que os procedimentos façam sentido. Mas não fazem.

Quando percebi que tinha caído num "Feitiço do Tempo" de exames (que não davam nada de estranho) e medicamentos (que não tinham relação com qualquer enfermidade real ou suspeita), vi que eram remotas minhas chances de progresso naquele lugar. Tarde demais: só na manhã do dia seguinte é que o médico poderia começar a pensar na possibilidade de me mandar para um quarto, como se fosse uma alternativa tremendamente animadora para quem queria mesmo voltar para casa.

Em miúdos: enquanto a opinião das otoridades de branco sobre o meu estado oscilava entre o "não há nada" e o "não tenho a menor idéia", tentaram cuidar de me manter imóvel, quietinho, sonolento, insensível ao importúnio dos procedimentos e com um aspecto debilitado que fizesse a família pensar "tadinho, foi sério mesmo, ele tem que ficar mais tempo no CTI". Afinal, por que o hospital perderia a bocada?

Não entro em detalhes para não alarmar desnecessariamente o leitor. Mas assim que começou a hora da visita, na manhã de sábado, minha mulher e minha sogra (em todos os tempos daquele CTI eu fui o único genro a ter sido visitado pela sogra) fizeram o que era certo e assinaram minha alta à revelia. Voltei para casa e retomei minha vida normal. Simples assim.

Update: Internado, você estará nas mãos de um cabeça-de-bagre profissional. Viva com essa verdade. Mas se você estiver lúcido e se sentir só mais-ou-menos, não autorize coisa alguma antes de ouvir o conselho de um cabeça-de-bagre que você já conheça.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Como era gostosa minha reserva de mercado

Enfim um lampejo de racionalidade: os usuários do Speedy, "o" serviço DSL de São Paulo, não precisarão mais pagar a provedores inúteis.

Como os provedores inúteis reagem? Assim.

Trecho da matéria: "O presidente da Abranet afirma que os provedores cobram preços competitivos e adequados para o serviço que prestam, o que inclui ferramentas de segurança, suporte, e-mail e muitas vezes conteúdo".

Segurança: O tráfego passa realmente pelos provedores?

Suporte: "Desculpe, isso é culpa do Speedy, não do provedor."

E-mail: Como brasileiro é tudo burro, nunca ouviu falar de caixa postal grátis.

Conteúdo: Esfreguei os olhos para reconferir se quem afirmava era o presidente da Abranet ou o presidente de um determinado provedor. O mesmo cuja caixa de mensagens ainda nem passou da era da Web 1.1. O mesmo que pensa que o mundo permanece na era da política de portais pré-2000.

A era de ouro dos provedores brasileiros foi a do link de 64k compartilhado por trocentos usuários que pagavam, cada um, uns 30 dólares de taxa fixa mais o proporcional pelo tempo de uso mais o custo do telefone (astronômico para quem não vivesse numa cidade politicamente favorecida pela operadora de telefonia). Mas pelo menos os militantes antitruste não podiam reclamar: naquele tempo a concorrência era muito maior! Daí que, como os provedores eram muito bonitinhos e fofinhos, acabaram sendo agasalhados por uma lei que consagra a inutilidade, o relaxamento, o atraso, a pilhéria com a desgraça alheia.

Que tal produzir uns serviços que valham a pena ser pagos, para variar?

Que seja mantida a decisão, que os provedores enfiem a viola no saco e que a voz da razão de São Paulo seja ouvida nos outros estados.

"Travamento no setor 4!"

O Gmail está dobrando ao peso da fama?

Desde ontem os auto-travamentos "de segurança" do Gmail estão insuportáveis. Tudo que é dito é que "nosso sistema indica uso anormal da sua conta. Para proteger os usuários do Gmail contra o uso potencialmente nocivo do Gmail, esta conta foi desativada por até 24 horas.".

Proteger quem de quem, cara-pálida? Eu li os termos de uso. Não uso nem usei o Gmail para armazenar arquivos piratescos, nem como storage online, nem como disseminador de vírus ou de mensagens excessivas.

Mais adiante, diz a página: "Se achar que está usando a conta do Gmail de acordo com os Termos de Uso, ou normalmente, entre em contato conosco preenchendo este formulário para comunicar o problema." O link envia a uma página em inglês. Só em inglês, e meio escondida na tal página, há explicação para o auto-travamento. E essa explicação não explica nada.

As únicas páginas de usuários comentando a situação se limitam à choradeira de infratores reais, usuários do Impávido Colosso frustrados porque o Google opressor os descobriu usando a conta do Gmail para distribuir "certas coisas".

Que tal? Uma palavrinha oficial para os pobres e honestos usuários, dá para ser?

quarta-feira, agosto 29, 2007

Forbes descobre o Orkut

Só falta descobrir a jabuticaba, o cheque pré-datado, o ponto facultativo e o Sigue Sigue Sputnik.
 

Santa ingenuidade

O STF tornou réus ontem em ação penal todos os 40 acusados pela Procuradoria Geral da República de envolvimento no caso do mensalão. O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, denunciado por corrupção ativa e formação de quadrilha, pode ser condenado a 75 anos de prisão, caso receba pena máxima para todas as denúncias. É o que diz o Terra on line. Diz ainda que o publicitário Marcos Valério, também denunciado por envolvimento no esquema do mensalão, pode ser condenado a 1.131 anos de prisão.

Santa ingenuidade.

Ontem ainda, o publicitário Duda Mendonça era anunciado em página inteira no Estadão como palestrante na aula inaugural do curso de Comunicação Social da Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU). O anúncio era um evidente desagravo a seu indiciamento na CPI por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Não funcionou. Foi recebido por estudantes com gritos de mensaleiro, corrupto e ladrão.

Em depoimento na CPI dos Correios, Duda disse ter recebido do PT R$ 10,5 milhões numa conta em Miami, em nome de empresa offshore com sede nas Bahamas. "O que eu fiz de errado? Não fui indiciado por formação de quadrilha ou peculato porra nenhuma. Eu recebi o meu dinheiro. Se essa era a forma de receber eu recebi. Precisava pagar os salários dos funcionários", reagiu.

Ou seja, sendo para pagar salário de funcionários, qualquer dinheiro sujo vale. A denúncia deste pagamento ilícito sequer fez mossa no PT. Alguém ainda acha que Duda Mendonça será punido?

Santa ingenuidade. Estes senhores não verão o sol quadrado nem mesmo durante um dia.

Plaxo gets naked, opens up some source code

Aqui, ó. E já usei muito o Plaxo.

O que acham?

terça-feira, agosto 28, 2007

Como queríamos demonstrar

Em baixa, Fotolog é vendido para franceses
Alguém ainda se lembra do Fotolog?

Não se deixem enganar. Uma horda de freeloaders brasileiros analfabetos, como um bando do MST, ocupou o Fotolog e o destruiu. Os únicos beneficiários foram os muambeiros de câmeras digitais.

Quando surgiu o YouTube, segundo a infinita sapiência coletiva dessa gentalha, instantaneamente essa coisa de fotos paradas virou "out". E o Fotolog foi abandonado às traças.

Aposto que o Second Life será a próxima vítima do hype mal conduzido. Se o mundo fosse justo, o Orkut já teria tido o mesmo destino.

sexta-feira, agosto 24, 2007

sexta-feira, agosto 17, 2007

Cansaram do 'Cansei'?

Sobre o que quer que tenha ocorrido, os jornalões na rede estão em silêncio.
Em outubro vem a renovação das concessões.
Qualquer semelhança com as Diretas...

Os 100 blogs mais populares do Brasil (ou melhor, no Brasil)

Aqui, com bons comentários.

Teste: Você, blogueiro amigo, se depara com o listão, examina os blogs e se esforça para...

a) Seguir o caminho tão viajado e tão seguro dos campeões de audiência;
b) Fazer algo diferente e algo melhor que o rodízio de chuchu das cabeças coroadas.

Seja sincero. E imagine qual alternativa seria escolhida por seu blogueiro favorito.

Quem é o reacionário?

Blogagem é...






quarta-feira, agosto 15, 2007

Terceiro mandato?

terça-feira, agosto 14, 2007

Digg in the beginning : The first 10 stories

Aqui.

domingo, agosto 12, 2007

Quanto se gasta em pedágios...

27/07, 7h16, Viúva, R$ 7,50
27/07, 9h18, Itatiaia, R$ 7,50
27/07, 10h20, Moreira, R$ 7,50
27/07, 11h26, Jacareí, R$ 3,30
27/07, 11h36, Parateí, R$ 3,60
29/7, 14h10, Parateí, R$ 3,60
29/7, 14h58, Jacareí, R$ 3,30
29/7, 15h48, Moreira, R$ 7,50
29/7, 17h00, Itatiaia, R$ 7,50
29/7, 19h06, Viúva, R$ 7,50

sexta-feira, agosto 10, 2007

Continuo não endossando este movimento

O importante é que o segundo governo de Lula já acabou. O Grande Timoneiro de Garanhuns, para variar, não sabe. Mas já acabou em um sentido: eleito pelo "povo" (muitas aspas, pois abstrações não vão às urnas), não conseguirá mais um olho-no-olho com uma amostra grande e não-amestrada desse "povo". Os vaiadores o seguirão aonde for, como Collor em 1992 depois de publicadas as denúncias de seu irmão Pedro. O turismo republicano do Supremo Magistrado da Nação se resumirá a pular de uma base aérea a outra, como Sarney depois do fim do Plano Cruzado.

O primeiro governo de Lula, já lembrei em artigo, acabou no momento em que Roberto Jefferson aconselhou José Dirceu a sair do Planalto rapidinho. Não faço idéia de quanto custou mantê-lo ligado a aparelhos até a eleição seguinte.


Discriminação digital?

Historicamente, a esquerda brasileira nunca esteve nem aí para levar computadores a ricos ou pobres, brancos ou negros. Quando a ONG do Betinho perdeu o monopólio da distribuição de internet para brasileiros reles mortais, na mesma hora brotou outra ONG seguindo o mesmo modelo e a mesma inspiração ideológica da Campanha Contra a Fome (aquela que muitos esquerdistas consideravam paliativa e diversionista): o Comitê para Democratização da Informática.

Nos tempos do Diário da Tropa, um boletim por email que publiquei entre 1998 e 2000, nunca os leitores me xingaram tanto quanto nas ocasiões em que me mostrei cético diante do CDI. Mostrei exaustivamente por que um CDI em expansão não conseguiria doações de computadores que bastassem à necessidade. Hoje há muita gente jogando fora, ou quase, micros mais ou menos usáveis (não me venha com 486s ou Pentiumzinhos) porque o dólar está barato em reais e o computador novo está barato em dólares. Com isso, um monte de gente está se "incluindo digitalmente" por conta própria, o que torna relativamente menos necessários os núcleos de informática coletivizada propostos pelo CDI e imitados por governos e governos.

E agora mais essa. Tirei daqui, ó.

Ligo a TV e vejo matéria sobre exclusão digital. O fato de ricos e brancos usarem os centros de acesso gratuito à internet mais do que os pobres e negros é definido como discriminação digital. Como assim, “discriminação digital”? O computador sente o cheiro de pobre? O computador sabe diferenciar a raça do usuário? É claro, “exclusão digital” é uma expressão segura, simples tradução de um fato; era fundamental ir além, era necessário usar uma expressão que explicasse as verdadeiras causas da exclusão. As pessoas excluídas são excluídas porque são discriminadas — e são discriminadas nesses centros porque são pobres e negras. Simples como rasgar uma página do dicionário. Se o espectador não se abalava com “exclusão digital”, ele irá se abalar com “discriminação digital”. Mas não temam, as estatísticas não mentem: se nesses centros os negros são minoria é mister fazer algo por eles. Em breve teremos cotas raciais para acesso à “rede mundial de computadores” (como alguém consegue usar essa expressão diante das câmeras sem cair na risada?). A matéria não falou de cotas, mas tem o kit pronto para quem quiser comprar.

quinta-feira, agosto 09, 2007

PF caçando palhaçadas sobre a TAM no Orkut? Aqui, ó

[notem a data original: 26/05/2006]

A arte do relacionamento é uma arte que vem do tempo das cavernas. Nesse negócio mente-se muito desde sempre: separar a verdade da mentira faz parte do jogo. Pelo menos sempre houve um método na enganação. O pobre se fazia de rico, o picareta fingia honestidade, o feio aumentava sua belezura. Nem essas velhas tradições passam incólumes no Brasil.

Na medida em que o Orkut criou novos meios para que pessoas façam contato com pessoas (ou "pessoas" feitas de bits e bytes que só existem na fantasia de seus criadores), virou o paraíso da exposição mútua das esquisitices. Quanto mais você for louco, feio e vândalo, maior o seu sucesso social.

Os criadores do Orkut achavam que a comunidade regularia a si mesma através da rede de vínculos sociais. Só esqueceram de combinar isso com a "elite branca" que acessa a internet no Brasil. Resultado: prostituição, tráfico de drogas, pornografia infantil, apologia a ideologias criminosas. Os honestos ficaram quietos ou saíram de cena, deixando livre o caminho para a classe bandida da rede. Deve ser o conceito brasileiro de "liberdade de expressão".

Os homens da lei brasileiros não estão gostando nada disso. Depois de muita insistência, conseguiram a cooperação da poderosa/odiável Google Inc., dona do Orkut, contra as comunidades de usuários que têm violado a legislação nacional (e, antes disso, o termo de conduta do Orkut, documento que todos fingem que não existe). O escritório da Google no Brasil começou dizendo que nada tinha a ver com o site, que é hospedado nos Estados Unidos, e que a representação brasileira só serve para negócios. E já que os dados orkutianos estão em servidores americanos, seu sigilo não pode ser quebrado pelas autoridades brasileiras.

Observação cem por cento correta, mas ainda assim uma linda contribuição aos anti-Google. Jogou gasolina numa fogueira em que o Ministério Público chegou a propor a "desconstituição da pessoa jurídica" da Google no Brasil. Inútil. Os usuários daqui continuarão acessando os servidores do Orkut lá na Califórnia. A não ser que, à moda chinesa, uma barreira virtual de censura impeça o Brasil de ter acesso ao Orkut.

Mas a Google americana deve entregar os dados sigilosos de todos os picaretas. Que o faça já para que as autoridades brasileiras se convençam logo de que não há o que se possa rastrear a sério. Nada é mais fácil do que criar no Orkut perfis falsos com dados inverificados e inverificáveis. Se quem busca o Orkut para fazer contatos e disputar popularidade sabe disso, os criminosos sabem mais ainda.

Pelo menos a bronca do MP tem uma base incontestável: o Orkut não tem feito tudo o que pode para criar e manter um ambiente limpo.

Há algumas semanas o Orkut incluiu por padrão nas páginas iniciais dos usuários uma lista de visitantes recentes. Foi o suficiente para deixar em pânico muitos orkutianos subitamente expostos pela xeretice alheia. Preocupam-se por bobagem. Todo mundo pode entrar no perfil de todo mundo por qualquer motivo ou por motivo nenhum.

Pelo menos esse recurso pode ser desativado conforme a preferência do usuário. Enquanto isso, tem feito falta desde os primórdios do Orkut um elemento que deveria ser mostrado obrigatoriamente, com o maior destaque possível, em cada uma das páginas iniciais: o nome de quem indicou aquele usuário. Acompanhem meu raciocínio:

1) Ninguém cai de pára-quedas no Orkut. Todo usuário, com perfil verdadeiro ou falso, só entrou porque foi convidado por alguém e tinha um endereço email válido para receber o convite. Nazistas, pedófilos e traficantes só entraram no Orkut (e convidaram para o Orkut seus próprios amigos com "interesses" afins) porque algum dia alguém traiu a confiança de gente honesta.

2) Todos querem aparecer. Pelo menos até o ponto em que interessa, a melancia no pescoço é adereço obrigatório. Farão todos os "amigos" que encontrarem pela frente e entrarão nas comunidades mais absurdas possíveis -- quantidade, não qualidade -- enquanto acreditarem que seus podres não serão contestados.

Resumindo: com a revelação do "Q.I." do usuário, antes mesmo de quaisquer ordens judiciais, todos os orkutianos teriam a resposta clara e antecipada da pergunta tão necessária: "Quem deixou o nazista entrar?"

Quando a Assespro mergulha no poço da saudade

[12/05/2006]

"Há pessoas que sentam e esperam o passado chegar." (César Miranda em http://protensao.wunderblogs.com)

Toda a indústria nacional gosta de pintar em tons de cor-de-rosa o quadro de seu passado glorioso, apresentar-se como vítima inocente de um presente cruel e contar com novas "políticas públicas" que defendam seus interesses daqui para o futuro.

No mundo da informática brasileira ocorre exatamente o mesmo, mas pelo menos no caso da Assespro (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet) não há por que suspeitar de uma conspiração da entidade de classe para iludir o público e influenciar decisões governamentais com base em premissas erradas e distorções históricas.

Eis o que se lê no documento "A Política Industrial para o Setor de Software: Propostas da Assespro" [http://www.assespro-rj.org.br/instituc/politicaSW.html], aprovado pela diretoria da associação em 12 de março de 2004:

"Em 1992 iniciou-se o declínio da maior empresa nacional de software à época, a carioca Convergente. A principal razão foi que, com a chegada do Windows, a Caixa Econômica Federal, um dos maiores usuários do Carta Certa, optou por descontinuar o seu uso e substitui-lo pelo Word 2. O orçamento à época remontava a cerca de meio milhão de dólares. A Convergente tentou de todas as formas sensibilizar a Caixa para que apoiasse a sua versão Windows, que ficaria pronta em no máximo 4 meses, em troca de um aporte financeiro de menor monta. A Convergente fez o seu papel e lançou o Carta Certa for Windows, a Caixa não. O resultado: a Caixa não tem mais Word 2.0 e o Brasil não tem mais a Convergente."

A mensagem tem destinatários certos: os guardiães da chave dos cofres públicos, que não necessariamente entendem de informática e, quando entendem, muitas vezes dão uma de Silvinho Pereira e se esquecem do que era usar computador no Brasil naqueles tempos. Mas os membros da Assespro se lembram tanto que têm boas histórias para contar aos "gestores de políticas públicas".

Se aceitam minha sugestão, poderiam relatar que o Carta Certa foi produto da reserva de mercado, o produto da ditadura mais querido da esquerda militante. Seus dias de glória foram aqueles das máquinas de terceira a preço de primeira, pois as importações eram proibidas e o capital estrangeiro era o diabo que não podia manchar as fábricas locais de computadores. Da mesma forma, estavam fechadas as fronteiras para o software internacional: o Carta Certa não tinha muitos concorrentes no mercado legal de processadores de textos. O WordStar era campeão de popularidade da época, mas a bordo da pirataria deslavada. WordPerfect e Microsoft Word, em suas versões pré-Windows, não chegaram a ser amplamente usados.

Ainda assim, era um mercado bem mais dividido que o de hoje. Ninguém arriscava um palpite sobre qual seria o processador de textos dominante dos anos seguintes. Poucos apostavam que o Microsoft Word para Windows fosse tomar conta do mercado. Na verdade, poucos podiam sequer apostar no Windows, que ainda rodava mal e exigia no mínimo um micro 386 -- classe de computadores ainda rara e cara no mercado não-muambeiro. Fazer programas para as carroças made in Brazil, nivelando por baixo, era realismo patriótico.

Assim fez a Convergente. Não tinha um Carta Certa para Windows porque não achava que fosse necessário: a maioria das máquinas só usava DOS, aquela matriz de letrinhas (geralmente verdes) sobre fundo preto. A Caixa tinha muitos computadores incapazes de rodar Windows, mas que suportavam o Carta Certa. A Convergente faturava com as licenças de uso. Pensava que os usuários corporativos se manteriam contentes com aquilo por tempo indeterminado, mantidos os 386 como brinquedinhos pequeno-burgueses, e as licenças de uso continuassem entrando sem grande esforço.

Mas em 1992 muita coisa mudou. A reserva de mercado caiu, reduzindo os preços dos computadores. A abertura aos importados já era realidade. A Microsoft lançou a versão 3.1 do Windows, um aperfeiçoamento substancial no ambiente gráfico (não que pareça grandes coisas aos olhos do usuário de hoje, mas foi). Até a Eco-92 ajudou, consolidando a Internet no Brasil. A Caixa teve a oportunidade inédita de se reequipar informaticamente, comprando máquinas a preços mais justos. Se assim não fosse, continuaria no DOS e no Carta Certa. Quem mandou migrar para o Windows? Mesmo sobre um Windows que funcionava relativamente mal, o MS-Word era um excelente motivo para adotar as janelinhas, mesmo que ninguém ainda tivesse idéia de que aquele processador de textos viria a dominar o mercado.

O outro erro de avaliação da Convergente foi contar com a boa vontade de um único comprador. Notem que, num mercado indefinido, o processador de textos brasileiros tinha vantagens nada desprezíveis: era feito em língua portuguesa, era um nome famoso, tinha muitos usuários (que geravam incontáveis documentos compatíveis com ele), rodava tanto nas máquinas antigas quanto nas mais recentes. Mesmo o Carta Certa para Windows, quando saiu, era notável por ocupar pouco espaço em disco num tempo em que o armazenamento não saía barato. Por que, então, foi sendo gradualmente deixado de lado não só pela Caixa, mas por incontáveis organizações e pessoas físicas?

Em momento algum o documento da Assespro discute o que realmente interessa em toda a questão: se a decisão da Caixa em adotar o Word, pesando prós e contras, foi vantajosa. Como verificá-lo, se é que é possível? Estamos falando de setor público, confortavelmente imune ao cálculo econômico.

Por isso tudo, não há conspiração nenhuma. Haveria se tivessem consciência da engabelação que praticam. Pelo contrário: os arautos da grandeza pontogov iludem uns aos outros com tanto ímpeto que acabam acreditando mesmo no que dizem.

terça-feira, agosto 07, 2007

Enfim a luz

2007-08-07

Não é desertor, estúpido

Os atletas cubanos que fugiram da ilha da miséria (Cuba) não são "desertores". Toda a imprensa brasileira os está chamando assim. Acontece que desertor é:

que ou aquele que deserta do serviço militar;
o que fugiu ao cumprimento do dever.


Os atletas cubanos não fugiram do serviço militar, estavam competindo no Pan. Não fugiram tampouco ao cumprimento do dever. Chamá-los de desertores equivale a negar-lhes o básico direito de mudar de país. Equivale a endossar a política de Cuba, uma ditadura ferrenha que proíbe de sair os que tiveram o azar de lá nascer. Será que o Estadão endossa essa clara violação dos direitos humanos? Não? Então chamem os atletas de "fugitivos" ou "dissidentes" no máximo.
Aceitar que os cubanos são desertores é o primeiro passo para tirar direitos básicos do brasileiro, que está para ser vítima de um regime absolutista cujo nome ainda não sabemos. Será Petismo? Ou será Lulismo?

by Zappi

Já que falei da falta de placas...


Por enquanto é só. Escasseiam os posts. Segue a dúvida sobre quem se beneficia do participacionismo da Web 2.0. Quem tem certeza? E, dado o cenário, que importam as certezas?

segunda-feira, agosto 06, 2007

Critiquinha de restaurante

Pode ser que o novo Emporium Pax do térreo do Rio Sul se torne alguma coisa um dia. Pois na noite de quinta-feira...

  • Notamos várias mesas ladeadas por baldes que aparentemente esperavam garrafas de champanhe. Muito chique, não é? Errado: os baldes recolhiam a água de várias goteiras.
  • Dois garçons, atrapalhados, anotavam os pedidos. Mas um transmitia os pedidos e o outro nos deixava no vácuo.
  • Nossa quiche, pronta, ficou um tempão dormindo sobre o balcão antes que alguém se lembrasse da salada.
  • Serviram taças de vinho branco estupidamente gelado (não sei se esse é um costume folclórico carioca, mas já deu o que tinha que dar). Questionado sobre a procedência da bebida, o garçom se esqueceu de nos mostrar o rótulo.
  • Um problemão que não nos afetou pessoalmente, mas vale registrar: o chope é -- com a licença da má palavra -- Sol.
No lado positivo, afinal a comida estava boa.

Procura um Emporium Pax decente? Vá ao Botafogo Escada Shopping. Com mesa na janela, é claro.

domingo, agosto 05, 2007

sábado, agosto 04, 2007

quinta-feira, agosto 02, 2007

Faça como Elton John:

Puxe a tomada da internet já!

Este blog não endossa o movimento...

...mas não perde a chance de desmascarar a mídia que, de tão "golpista", se recusou a veicular este anúncio. Istozinho. Nada de mais. Ou a "zelite" reclama de barriga cheia, inventando movimentos golpistas quando deveria agradecer de joelhos ao Grande Timoneiro pelo dólar baixo e pelas lucrativas jogadas financeiras, ou a "zelite" da mídia é descaradamente conivente com... hã... tudo isso que aí está. Você é que sabe.

P.S.: Agradeça à odiada Google Inc. por manter este espaço. De pé, não de joelhos.

quarta-feira, agosto 01, 2007

As salsinhas e o desemprego

Daqui, ó.

Esta eu descobri graças ao Guilherme, que me mandou um link sobre a Sylvia Kristel, no Verdes Trigos. Imediatamente me lembrei de um de meus desejos de infância, minha vizinha Rosane ser jornaleiro. Eu achava o máximo, poderia ler todos os jornais e revistas, e ainda ganharia dinheiro com isso. Depois vi que não era uma profissão muito rendosa, em uma banca de subúrbio, mas continuei a admirar a possibilidade de ter acesso a todo aquele material. Seguido a isso, só trabalhar em uma livraria.

Mas pelo visto, as salsinhas não compartilham dessa minha visão. Vejam o que encontrei, graças ao Verdes Trigos. Foi publicado na coluna do Gilberto Dimenstein, de hoje.

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Canssei, cancei ou cansei?
Um vendedor da Livraria Cultura, na avenida Paulista, consegue tirar até R$ 4.500 mensais, com direito a assistência médica e odontológica, além de receber bolsa para estudar na faculdade. Dependendo do seu desempenho, ganha um bônus no final do ano -sem contar os descontos para a compra de livros. Mesmo assim, um dos principais problemas daquela livraria é atrair e manter empregados. “É desesperador”, resume Pedro Herz, proprietário da livraria.

Desesperador porque os candidatos a vendedor apresentam falhas na sua formação, a tal ponto que muitos deles não perceberiam o erro no título desta coluna. Uma boa parte dos contratados não se adapta às exigências do trabalho, deixando o emprego na fase de experimentação. Resultado: vagas abertas há muitos meses, o que acaba por impactar a capacidade da livraria de elevar suas vendas.

Eu poderia escrever umas dez páginas, mas nada que eu diga vai ser mais contundente que os dois parágrafos acima.

Ruy Castro enfia o sorvete na testa

Daí começou-se a bater na desimportância do Pan. Ela podia ser medida pelo fato de que a imprensa americana não lhe estava dando bola. Mas e daí? Os americanos são assim mesmo, de um provincianismo ridículo. Tiveram a honra de sediar uma Copa do Mundo de futebol em 1994 e, nas duas primeiras semanas, seus jornais também a ignoraram, em nome dos campeonatinhos locais de rúgbi e beisebol.
Entenderam, crianças? É assim que se faz no Brasil um jornalista "respeitado" e cheio daquela aura energética chamada "credibilidade": comece dizendo que nos Estados Unidos se joga râguebi (aqui sigo a redondamente vantajosa grafia lusitana). Ruy Castro é a velhinha fofoqueira anônima de Peyton Place.

[Update 1] O futebol profissional masculino está com a vida ganha no Brasil (imagine se o Campeonato Brasileiro não fosse uma divisão de base para exportação de craques para a Europa). Ganhou cinco copas. Não está nem aí para a falta de um ouro olímpico. Não esteve nem aí para um ouro sub-olímpico no Pan. Entraram em campo uns menininhos, perdeu a medalha e tudo ficou por isso mesmo.

[Update 2] Já que nem os americanos gostam de futebol (de bola redonda) nem os brasileiros gostam de beisebol, os desorganizadores do Pan arrumaram um campinho de beisebol improvisado no rockódromo-lamódromo. A seleção dos EUA, no entanto, estava tão interessada em medalha quanto o escrete canarinho de futebol de campo masculino.

[Update 3] Eu sou o exemplo supremo de brasileiro que não está nem aí para beisebol e não tem a menor idéia de como se joga aquela p@#$&*@#$%*.

Não percam!

Entrevista com Pedro Doria.

P.S.: Como sempre, o Blogger mais lento que um caramujo manco.

terça-feira, julho 31, 2007

Dejeto experimental

(já que o assunto é escrever, apesar das digressões retroinformatas, eis um post de 16 de dezembro de 2004...)

Uma das desgraças da minha vida acadêmica foi ter feito mesmo, não copiado-e-colado ou equivalente, meu projeto experimental em jornalismo. Era só um TCCzinho muito chulezento, muito distante de uma tese.

Fi-lo sobre BBS, em 1994, crente que algum professor fosse saber do que eu estava falando. Por que eu não traduzi aquele folheto da Compuserve e não juntei o documento oficial da FidoNet para compor um trabalho original? Em vez disso, passei as noites queimando as pestanas diante do monitor e os dias mendigando impressoras dos "muy amigos", pois impressoras que funcionassem estavam totalmente fora dos orçamentos meu e da faculdade.

Se tivesse investido na praia metade do tempo que desperdicei para tirar um 10 unânime, quando um 6 teria me conduzido ao mesmíssimo diploma, hoje seria bodyboarder profissional, ganharia mais que suas incelênças os professores, e ainda produziria mais vitamina D.

OK, não foi nenhuma façanha histórica defender meu trabalho diante da banca. Tive que esclarecer que não havia uma ética na pirataria em si, mas sim uma eticazinha entre piratas e piratas (uma série de leis não escritas, principalmente a que proibia vender programas "genéricos" para amigos). E tive que ouvir de um professor, no names, please, que era óbvio ululante o "fundo moral burguês" nos métodos do shareware/freeware como contraponto à tal ética pirata, pois o ambiente BBSiano era inexoravelmente burguês pelos motivos tão bem expostos nas páginas anteriores do projeto etc. etc. Depois dessa, nunca mais falei de burguesia a sério, nisso concordando totalmente com o Xandelon. Nas palavras, não no sentido, o refrão de Cazuza estava certíssimo: "burguesia" fede.

Por essas e outras, não me peçam para ler o trabalho. Descontando o estritamente factual, rejeito 95% do que ali está. Quando cheguei ao fim, já tinha sérias dúvidas sobre a linha condutora do início.

O relatório final da banca também recomendou a publicação do trabalho. Se foi publicado mesmo (em papel, nada de Internet ainda), não me avisaram nem depositaram os royalties. Escapei desse vexame.

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