quinta-feira, agosto 09, 2007

PF caçando palhaçadas sobre a TAM no Orkut? Aqui, ó

[notem a data original: 26/05/2006]

A arte do relacionamento é uma arte que vem do tempo das cavernas. Nesse negócio mente-se muito desde sempre: separar a verdade da mentira faz parte do jogo. Pelo menos sempre houve um método na enganação. O pobre se fazia de rico, o picareta fingia honestidade, o feio aumentava sua belezura. Nem essas velhas tradições passam incólumes no Brasil.

Na medida em que o Orkut criou novos meios para que pessoas façam contato com pessoas (ou "pessoas" feitas de bits e bytes que só existem na fantasia de seus criadores), virou o paraíso da exposição mútua das esquisitices. Quanto mais você for louco, feio e vândalo, maior o seu sucesso social.

Os criadores do Orkut achavam que a comunidade regularia a si mesma através da rede de vínculos sociais. Só esqueceram de combinar isso com a "elite branca" que acessa a internet no Brasil. Resultado: prostituição, tráfico de drogas, pornografia infantil, apologia a ideologias criminosas. Os honestos ficaram quietos ou saíram de cena, deixando livre o caminho para a classe bandida da rede. Deve ser o conceito brasileiro de "liberdade de expressão".

Os homens da lei brasileiros não estão gostando nada disso. Depois de muita insistência, conseguiram a cooperação da poderosa/odiável Google Inc., dona do Orkut, contra as comunidades de usuários que têm violado a legislação nacional (e, antes disso, o termo de conduta do Orkut, documento que todos fingem que não existe). O escritório da Google no Brasil começou dizendo que nada tinha a ver com o site, que é hospedado nos Estados Unidos, e que a representação brasileira só serve para negócios. E já que os dados orkutianos estão em servidores americanos, seu sigilo não pode ser quebrado pelas autoridades brasileiras.

Observação cem por cento correta, mas ainda assim uma linda contribuição aos anti-Google. Jogou gasolina numa fogueira em que o Ministério Público chegou a propor a "desconstituição da pessoa jurídica" da Google no Brasil. Inútil. Os usuários daqui continuarão acessando os servidores do Orkut lá na Califórnia. A não ser que, à moda chinesa, uma barreira virtual de censura impeça o Brasil de ter acesso ao Orkut.

Mas a Google americana deve entregar os dados sigilosos de todos os picaretas. Que o faça já para que as autoridades brasileiras se convençam logo de que não há o que se possa rastrear a sério. Nada é mais fácil do que criar no Orkut perfis falsos com dados inverificados e inverificáveis. Se quem busca o Orkut para fazer contatos e disputar popularidade sabe disso, os criminosos sabem mais ainda.

Pelo menos a bronca do MP tem uma base incontestável: o Orkut não tem feito tudo o que pode para criar e manter um ambiente limpo.

Há algumas semanas o Orkut incluiu por padrão nas páginas iniciais dos usuários uma lista de visitantes recentes. Foi o suficiente para deixar em pânico muitos orkutianos subitamente expostos pela xeretice alheia. Preocupam-se por bobagem. Todo mundo pode entrar no perfil de todo mundo por qualquer motivo ou por motivo nenhum.

Pelo menos esse recurso pode ser desativado conforme a preferência do usuário. Enquanto isso, tem feito falta desde os primórdios do Orkut um elemento que deveria ser mostrado obrigatoriamente, com o maior destaque possível, em cada uma das páginas iniciais: o nome de quem indicou aquele usuário. Acompanhem meu raciocínio:

1) Ninguém cai de pára-quedas no Orkut. Todo usuário, com perfil verdadeiro ou falso, só entrou porque foi convidado por alguém e tinha um endereço email válido para receber o convite. Nazistas, pedófilos e traficantes só entraram no Orkut (e convidaram para o Orkut seus próprios amigos com "interesses" afins) porque algum dia alguém traiu a confiança de gente honesta.

2) Todos querem aparecer. Pelo menos até o ponto em que interessa, a melancia no pescoço é adereço obrigatório. Farão todos os "amigos" que encontrarem pela frente e entrarão nas comunidades mais absurdas possíveis -- quantidade, não qualidade -- enquanto acreditarem que seus podres não serão contestados.

Resumindo: com a revelação do "Q.I." do usuário, antes mesmo de quaisquer ordens judiciais, todos os orkutianos teriam a resposta clara e antecipada da pergunta tão necessária: "Quem deixou o nazista entrar?"

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