terça-feira, novembro 30, 2004

SBT blues III

Chamando doutor Hans Chucrute!

SBT Blues II

Quando voce vai embora e eu fico... Choro... Choro... Choroooooo...

Essa onda de saudosismo anos 80 representa a própria diferença entre o ser e o parecer, entre a existência real e a impressão nas cuquinhas frescas e sem referência.

Sobre a geração baby boomer, um livreto diz que os longa-metragens de animação da Disney, com suas cores berrantes e atuações alucinadas, foram o verdadeiro pano de fundo das trips psicodélicas. Uma vez que as drogas não inventam imagens (só trabalham com o que o usuário já tem na cabeça) e a TV era em preto e branco, de onde mais tirariam aquele mundão de cores e fantasias?

Mas a brincadeira foi longe demais. Neguinho tem 3 anos de idade, ouve uma música over and over (não consegue escapar, pois toca sem parar no rádio). Causa uma impressão nas mentes. Como qualquer modismo de verão, a música mergulha no justo ostracismo. Discos de vinil são doados ao garrafeiro, fitas piratas são gravadas por cima, cantoras gostosinhas engordam e vão viver como donas-de-casa no subúrbio. Aí um animador-reciclador da cena contemporânea redescobre a música para sua patota. Todo mundo acha o máximo, mas ninguém consegue explicar o que a música em si tem de especial além de transportar o ouvinte de volta a um tempo de pouca preocupação e muita arrogância.

Música dos anos 80 é Sigue Sigue Sputnik, que não existia antes nem manteve existência real depois. A banda tinha um tema, montado sobre a guerra fria. Depois não houve mais espaço para União Soviética nem para perucas esquisitas. Sim, de um ou outro jeito, apesar dos intervalos, o SSS continuou a existir. Mas ou era uma remontagem do antigo, ou era uma atualização que os fãs sempre acharam chinfrim. O resto pode ser requentado ad infinitum.

Filmes anos 80, a mesma coisa. Todo mundo estima o filme mais porque foi visto por todo mundo que era alguém na sociedade ocidental civilizada (ou passava na Tela Quente/Sessão da Tarde, o que dava no mesmo) em seu tempo de criança. Fico com Paulo Francis: vá perguntar para os fãs do que é que eles lembram de marcante dos filmes-pipoca dos quais tanto gostaram. Não sai nada.

Já era grandinho o suficiente para entender as graphic novels, por isso é que achei tão baixo seu (como dizem nos videogames) replay value. Estou sendo muito cruel? Não escapa nada? OK, OK, Vanusa Spindler e três campeonatos de Nelson Piquet significam alguma coisa, não que um fenômeno tenha algo a ver com o outro.

Os anos 80 tiveram salvação. Foi em 1980 que um visionário hippie recebeu uma mensagem interplanetária que mostrava o circo de horrores que nos esperava nos anos seguintes: calças cigarette, Atari 2600, Aids, mullets, Ritchie, Plano Cruzado, Malt 90, programas da Xuxa, discos da Xuxa. Só uma intervenção das alturas poderia nos afastar desse castigo! O visionário convenceu gente suficiente que um OVNI desceria nos campos verdejantes de Casimiro de Abreu, uma cidade fluminense que ainda usava telefone a manivela, sem que ninguém percebesse que há uma diferença essencial entre uma nave espacial extraterrestre e um objeto voador que não é chamado de "não identificado" por acaso. Milhares de doidões fizeram vigília na pista de pouso improvisada num comovente espetáculo de cantorias violonísticas, ritos esotéricos e aditivos químicos que faziam muita gente ver discos voadores onde não existiam. As inteligências extraterrestres viram aquilo a uma distância segura e concluíram: "somos inteligências, não podemos nos misturar com essa gentalha. Vamos embora!" O assistente: "Mas e o visionário, vai ficar lá embaixo com cara de tacho?" "Por isso mesmo."

segunda-feira, novembro 29, 2004

Novo template!

Mas ainda não foi solucionado o problema com o Previous Posts: qualquer acento bagunça tudo. Sugestões?

O crime que não houve

Tenho que tirar o chapéu para Cora Rónai na coluna de hoje. Ela, como eu, não achou crime nenhum no tal esquema ciberpornográfico que funcionava no Rio até ser estrepitosamente estourado pela polícia na última quarta-feira. Não que eu me interesse em gastar meu tempo com esse tipo de diversão. Mas uma proposta profissional me levou a conhecer por dentro o funcionamento de uma dessas produtoras. Se tivesse encontrado alguma conduta criminosa, não teria hesitado em denunciá-la.

Ano passado respondi a um anúncio de jornal procurando pessoas com experiência para conduzir salas de bate-papo. Compareci no local para uma entrevista e uma pequena experiência.

O estúdio era dividido em saletas isoladas, às quais não tive acesso físico, cada uma ocupada por uma garota em trajes sumários (não nua) e um nome-clichê qualquer, uma câmera operada por controle remoto, um alto-falante e um teclado. A câmera transmite tudo para o site enquanto taradões do mundo inteiro (menos do Brasil) entram numa sala de bate-papo e conversam em modo texto com a garota.

Mas é um pouco demais esperar que as modelos-e-atrizes consigam fazer poses desinibidas, operar o controle remoto da câmera e participar de um chat em inglês fluente. Nesta última tarefa é que entra o time de especialistas em bate-papo, enquanto as garotas só fingem que digitam.

É um trabalho que exige um certo talento. A criatividade dos digitadores é fundamental para atrair os usuários -- e seus cartões de crédito -- para as desinibidas salas privativas. Mas a firma paga muito mal, em longos expedientes e poucos intervalos, sem qualquer garantia formal ou informal além do contrato de prestação de serviços. Acendeu a luz amarela; ainda assim, não vi coisa alguma que merecesse ser denunciada.

Ou a polícia estourou o tal "bordel virtual" pelos motivos errados, ou não se incomodou em revelar os possíveis motivos certos. Nem uma palavra sobre exploração de menores, escravidão sexual, sonegação fiscal, falta de alvará, lavagem de dinheiro ou vínculo com organizações mafiosas. Pelo noticiado, as moças não sofriam sequer "assédio moral", o novo modismo fascista dos sindicatos. Se sofressem, sairia nas manchetes.

Mas notem a seletividade do precedente.

Se exibir-se diante das câmeras é crime, há um monte de produtoras de filmes que só não são garfadas porque não são taxadas de "virtuais". Ainda assim, um americano e um venezuelano foram presos por exploração de casa de prostituição e outro sócio americano está sendo procurado pela polícia. Depois dos pivetes, é a vez da polícia entrar na temporada de caça aos estrangeiros. A delegada diz que o tal site faz parte de uma organização internacional. Parabéns. Deve ser a única multinacional a se instalar no centro do Rio nos últimos dez anos. O site atendia unicamente a clientes estrangeiros, bloqueando acessos de usuários do Brasil, o que na cabeça das autoridades policiais federais deve ter alguma coisa a ver com a política arrogante e unilateralista da doutrina Bush. Os clientes pagavam em dólares. A vergonha de receber uma moeda tão desvalorizada deve ser mesmo um crime. A imagem das garotas era exportada pela Grande Rede. Riquezas nacionais, como a beleza das mulheres, não podem ser entregues à rapina do Primeiro Mundo nem virtualmente.

O mais estranho é que um site com um faturamento estimado de 100 mil reais por mês parecia ser incapaz de fazer o mesmo que todas as "casas de massagem" e "centros de lazer" que funcionam como bordéis nada virtuais: manter as portas abertas na base da propina. Pelo visto, os estrangeiros donos do negócio passaram um pente fino na lei, concluíram que a transmissão das imagens das meninas não feria nenhum artigo do Código Penal e pensaram que a lei seria interpretada a seu favor, de modo que não precisariam molhar a mão de ninguém. No Brasil, onde não se consegue nem vender chiclete na esquina sem se dobrar ao poderoso do pedaço. Otários.

Bad, bad server. No donut for you.

Chove e chove, mas isso nada tem a ver com as falhas do Orkut. Nada funciona direito. Uns 70 por cento de brasileiros (não vou me dar ao trabalho de reconferir as estatísticas, se é que o Orkut não falharia também ao exibi-las) num site até hoje despreparado para não-americanos. Sem contar os usuários brasileiros que dizem que são de outros países, na esperança de que os malditos servidores imperialistas ianques passem a tratá-los melhor. É uma realidade inescapável. Antigamente um grande site precisava temer ataques DDoS, coisa de picaretas. Hoje precisa rezar para não virar modismo de honestos e inocentes bicões brasileiros. Um dia a Google Inc. vai notar o tamanho do abacaxi do Orkut. O site está em eterna versão beta. Um dia vai cobrar pelo serviço. Por enquanto, tem pelo menos 70 por cento de usuários que se acham bons demais para pagar um centavo que seja pelo serviço e ainda pensam que estão em casa. Os incomodados se mudaram, o que diminui ainda mais a chance de o Orkut conseguir usuários pagantes. Toda essa galera brasileira é boa para fazer número e valorizar o negócio, como se fez tanto na bolha pontocom. Quando chegar o dia do juízo, o Orkut vai ter que começar a cobrar, o que equivale a desplugar a maioria dos brasileiros, o que -- na cabeça do usuário prejudicado -- é motivo para conflito diplomático entre Brasil e Estados Unidos.

Ou a Google Inc. acaba com o Orkut, ou o Brasil unido acaba com a Google Inc. afundando o Orkut. Vamos lá, gente bronzeada! O impávido colosso ainda chegará lá.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Mail disorder heaven

[ah, os acentos...]

Minha mais nova diversao e' pedir catalogos de compras. Aqueles que vem pelo correio, cheios de paginas multicoloridas oferecendo cacarecos que voce nao vai comprar nunca. Com as bencaos da Internet, nunca foi tao facil solicitar esses catalogos. Pelo menos os remanescentes: com as bencaos da Internet, nunca pareceu tao caro enviar catalogos de papel a consumidores potenciais. Azar o deles.

Uma busca gugonautica com as palavras-chaves certas revela muitas lojas oferecendo catalogos pelo correio. Algumas ate' no Brasil. E' verdade que por aqui nunca houve muita tradicao de catalogos (descontando Avon, Natura e similares, que dependem de um exercito de demonstradoras, nao de reembolso postal), e a que tinha foi amplamente superada pelo sucesso das lojas estritamente online ou mergulhou nas profundezas sub-interneticas da existencia. Ha' um catalogo tao famoso quanto inutil na cidade grande, pois ha' as alternativas da propria loja real, das lojas concorrentes da real e do mercado popular (no names, please) que concorre com todos. Talvez por isso o formulario online para pedido de catalogo nao funciona. Resumindo: se nao tiver tempo de sobra, desista de catar sites brasileiros em busca de catalogos de papel. Vá direto ao Santo Graal... o que sera' explicado em novo post.

terça-feira, novembro 23, 2004

Se arrependimento matasse...

Qualquer passeio pelo eBay ou pelo Mercado Livre revela quanto valem aqueles cacarecos que voce jogou fora ha' tempos para desocupar espaco. Quer dizer, sao valiosos exatamente porque quase todo mundo os jogou fora ao fim da infancia.

Quero de volta aquela Computer Shopper de 1993, comprada a duras penas no tempo em que qualquer livraria decente a vendia (ate' em Niteroi). Uns 3,5 cm de espessura. Musculacao de micreiro era ler Computer Shopper em pe' no onibus.

Aquela edicao, esqueci o mes de 1993, comparava o NT 3.5 com o OS/2 2.1, classificava o 486 DX2/66 de "speed demon" e vinha com uma parrudissima lista de BBSs americanos que usei como modelo para a lista de BBSs brasileiros incluida no meu projeto experimental de faculdade.

segunda-feira, novembro 22, 2004

A única esperança de se escapar do spam é um filtro em múltiplas camadas.

As mensagens a mim destinadas são filtradas pelo Pobox e repassadas a duas caixas postais: a do UOL e a do Gmail, cada uma com seu próprio filtro. Isoladamente, nenhum deles é cem por cento. Mas há uns melhores que os outros.

O Pobox já teve piores dias. Acertou a mão, mas só pega os spams mais óbvios. O UOL é fraquíssimo. Incapaz de fazer um filtro que preste, criou dois: um limitado e difícil de usar, outro metido a espanta-intrusos que não consegue cumprir a expectativa nem do básico do básico. E é tudo lento, lento, muito lento. A interface de webmail é uma piada. Por que continuam usando, então?

a) Porque já estão acostumados e sabem como custa caro trocar de endereço. Errado. Não há um provedor sequer que mereça esse nível de confiança. Mas não é bem isso que os usuários pensam até que os provedores dêem uma rasteira. Acontece muito. Manter endrereço permanente não é serviço para provedores. E custa caríssimo: 15 dólares por ano. Além dos penduricalhos de antispam adicionados com o passar dos anos, o serviço básico continua o mesmo de sempre, o preço de tudo em Internet desabou desde 1995, mas o preço do Pobox não baixou nem um níquel. Mas por que um usuário comum, ou seja, o que não tem negócios sérios por e-mail que compensem o pente fino no spam, teria tanto interesse em manter um endereço permanente? Se o endereço é sempre o mesmo para os amigos, também o é para os spammers. Ninguém quer pagar para ter problemas. O Cxpostal, concorrente brasileiro do Pobox, afundou. Pouca gente entendeu como funcionava, poucos tinham dinheiro para a anuidade e poucos acharam útil.

b) Porque foram obrigados a assinar um provedor para o ADSL. Errado. Por que o UOL? Só porque tem mais quilometragem? A contratação de provedor como condição sine qua non para uso de ADSL é equivalente à exigência de extintor de incêndio nos carros: você, súdito otário, pensa que é útil para alguma coisa, mas não é. A exigência deve ser contestada até o fim. Não vá na conversa mole dos provedores que se enrolam na bandeira nacional para "argumentar" algo diferente. Celso Furtado já morreu.

c) Porque têm acesso a alguma coisa parecida com conteúdo exclusivo. Mais ou menos, o que tem pouco ou nada a a ver com o problema do e-mail em si. O mito do conteúdo exclusivo chegou ao Brasil tarde e fora de contexto. Antes, muito antes, da Internet comercial já existiam AOL, CompuServe, Prodigy, GEnie (a grafia era assim mesmo) e outros megaBBSs, cada um com seu mundinho, seus serviços, suas salas de bate papo, seu programa de navegação. Diante da concorrência da Internet, alguns fecharam as portas, uns menores foram absorvidos pelos maiores. Os sobreviventes, mui relutantemente, atenderam aos clamores do povo e abriram canais para a Internet, o que, na prática, os tornava apêndices da Grande Rede. UOL não passou por nada disso e quer fazer para si o berço esplêndido que o AOL perdeu no tempo da Nasdaq em alta. Tá se achando.

d) Porque pelo menos é um serviço pago, sujeito a responsabilidade. Em termos. No momento em que não fizer jus a essa responsabilidade, babau. Aí vale a dica do Pobox. E quem precisa pagar os tubos para conseguir uma caixa postal paga, quando os grátis disputam quem oferece mais espaço para armazenar mensagens? Façam o cálculo custo/benefício. O Gmail pode não ser o melhor nem o mais recomendável, mas lançou exemplos dignos de ser seguidos: parou de procurar lucro no racionamento Tio Patinhas de storage, libertou o usuário da ditadura de programas de e-mail pesados e ineficientes, tem uma interface simples e primorosa, e seu mecanismo antispam funciona de verdade. Um dia os concorrentes vão chegar lá.

Mais sobre o conto do vigário das impressoras a jato de tinta. Lembro bem do tempo em que a tecnologia existia, mas não era muito comum. As primeiras jatos-de-tinta não imprimiam em cores. Preto-e-branco por preto-e-branco, as lasers (tinta cara, máquina caríssima) davam melhores resultados e todos tinham matriciais (tinta a preço de banana, máquina razoavelmente barata, a produção em escala mantinha os preços baixos). Pelo menos eram pequenas e silenciosas. A febre começou mesmo quando se popularizou o recurso de impressão em cores, em meados dos anos 90. Ao mesmo tempo, proliferaram os truques para recarga de cartuchos. Comprei uma minúscula HP 310 em 1995. 300 dólares, sem cor opcional, sem alimentador semiautomático opcional. Os cartuchos não eram exatamente baratos, mas não havia o conceito de que tivessem que ser tão caros quanto a própria impressora. Recarregar era fácil. Qualquer loja de informática vendia kits para qualquer um fazer em casa. Vinha uma espécie de seringa. Usei a tinta do kit, comprei um vidro de tinta de caneta e continuei usando a mesma seringa. A única renda garantida da HP vinha do fato de que os cartuchos não duravam para sempre. Depois o cartucho foi trocado pela própria HP por um modelo mais novo e mais difícil de recarregar. Os vendedores de kits de recarga, espertíssimos, logo se adaptaram à nova realidade. Até que, pouco depois, a HP tirou o cartucho de linha, o que tornou a 310 um elefante branco.

Daí em diante, HP, Canon, Epson e Lexmark se uniram em torno do mesmo ideal: criar arapucas para inflacionar o consumo de tinta, dificultar o reaproveitamento dos cartuchos e induzir o usuário a substituir cartuchos prematuramente.

Assim se passaram doze anos...

Uma data que nao se pode deixar passar. Alem de ser mais conhecido como "dia do Arariboia", aniversario de Niteroi, o 22 de novembro foi um marco pessoal: nessa data, em 1992, compareci a meu primeiro encontro de usuarios, ainda na era pre-internetica.

Acessava um BBS chamado WSE, no qual eu conseguia creditos de uso enviando cartas ao SysOp (seu escritorio era no caminho do estagio que eu fazia; deixava o envelope com o porteiro do predio), muito semelhante, em aspectos tecnicos e publicos coincidentes, a outro BBS maior, o Tex, que eu acho que nem acessava ainda porque cobrava o equivalente a cinco dolares por nao sei quantos creditos.

Pois a turma do Tex/WSE, espontaneamente, armou um encontro estilo flash mob (o termo nao existia, mas a pratica e' antiga) no Barril 1800. Foi enorme minha felicidade ao conhecer no mundo real as pessoas que frequentavam, do jeito que podiam, os servicos BBSianos.

As minhas condicoes de acesso eram precarias (nao vou me repetir sobre o MSX com modem de 300 bps, que ja' foi tema de posts), tanto que alguns BBSs realmente grandes nem aceitavam minha conexao, mas havia uma atmosfera propria 'a consciencia de que nao seria assim para sempre, que o progresso estaria logo ali na esquina.

Por isso tudo, nao consigo levar a serio a versao de luditas, petelhos, estatocratas e bebes choroes de varias especies, que em 1992 torciam o nariz para tudo que dissesse respeito a computadores, pegaram o bonde andando e se meteram a filosofar que a informatizacao e' perversa e excludente porque foi feita por filhinhos de papai com objetivos pouco "sociais".

Naquele tempo eu vivia duro, nao dei presente de Natal a ninguem, pagava equipamentos de informatica e contas de telefone (astronomicas, pois a 300 bps) com uma renda incerta, o comparecimento a qualquer encontro de usuarios me exigia uma longa viagem. Mesmo os colegas "paitrocinados" precisavam de muita determinacao, acima e alem do dinheiro, para botar um computador em casa (dependencia da muamba e da pirataria, dificuldade de uso do micro, modem como acessorio opcional, linhas telefonicas especulativas). E, naquele encontro historico, nao vi usuarios com dinheiro sobrando: bebia-se agua mineral porque custava menos. Depois e' que a situacao se inverteu: os computadores ficaram superpoderosos e hiperbaratos e a Internet se tornara realidade, enquanto os encontros degeneraram, sem muita criatividade, em sexo, drogas e roquenrou...

sexta-feira, novembro 19, 2004

Cazuza, o filme

(oh-oh, mais um post sem acentos...)

Finalmente vi o filme. Nao parece feito para cinema. So' closes. Cabe direitinho numa janelinha de 12 centimetros no monitor. Interpretado por atores de TV, filmado e dirigido como um programa de TV, como de costume. O que não seria um demerito caso o cinema brasileiro parasse de fingir que sabe aproveitar os metros quadrados da tela grande e investisse nos filmes "made for TV", que, se calhar, ficarao mais interessantes que os similares americanos de psicopata-e-tribunal que passam no Supercine.

Nao foi exatamente uma experiencia marcante, mas essa coisa de dizer que o filme arranca lagrimas diz mais sobre a reverencia do critico do que sobre o filme. Mais interesante foi acompanhar as falhas de reconstituicao de epoca e os loopings na cronologia. Mostram quatro datas historicas marcantes: o atentado no Riocentro, 1 de maio de 1981, a eleicao e a morte de Tancredo, 1985, e a queda do Muro de Berlim, 9 de novembro de 1989. Fora isso, e' como dizem aqueles professores de Historia muito amigoes da galera: "nao quero ninguem decorando datas". Se colar, colou.  Voltarei ao asunto.

quinta-feira, novembro 11, 2004

A TV a cabo deveria ser toda pay-per-view. O telespectador assiste dez minutinhos de Sex and the City, o canal do Sex and the City recebe pelos dez minutinhos assistidos (descontado o tempo de exibição de comerciais). O telespectador muda para o canal do documentário das abelhas africanas, liga-se o taxímetro do canal do documentário. Quem dormir na frente da TV vai pagar caro, quem ligar a TV para "fazer ambiente", sem ninguém vendo, vai ter que pensar melhor. Zapear para desperdiçar tempo (que a operadora de TV pensa que você pensa que tem de sobra) é uma coisa. Usar o controle remoto para votar no seu orçamento de entretenimento é bem diferente.

Se cada canal a cabo tivesse seu taxímetro (excluídos os educativos e os 100% sustentados por publicidade), todos os assinantes teriam acesso a todos os canais. Acabou-se a eterna enganação dos pacotes X, Y, Z e W. Quer ter uma dúzia de canais de cinema? Estão todos lá, desde que você pague o tempo que assistir.

Seria o fim do chutômetro na contagem de audiência, o que varreria do mapa os programinhas bundas-moles e aumentaria o prestígio dos realmente populares. Muitas lourinhas filhas de subsecretários de superintendentes perderiam seus empregos, mas os anunciantes, certos do fim de décadas de enganação, orientariam seus investimentos para programas interessantes de verdade - já que, do outro lado, os consumidores fariam o mesmo.

Alguns canais poderiam ser mais caros que outros. Bloomberg, por exemplo, seria candidata natural a tarifas premium, se não fosse a concorrência da internet (o que forçaria a Bloomberg a se tornar não-tediosa de uma vez por todas).

Horário nobre poderia ter preços compatíveis com o adjetivo. Fissurado em Friends pagaria sem pestanejar. Oferta e demanda. Horários plebeus seriam baratíssimos, o que turbinaria a audiência de programas "alternativos" e botaria mais peso no outro prato do mix da programação. Aquela re-re-re-reprise de Titanic não seria mais anunciada como uma dádiva dos céus.

O plano seria moralmente irrepreensível. Se deixar a molecada solta com o controle na mão, a conta vai às alturas. Pelo menos *UM* motivo os pais terão para vigiar o que seus filhos estão vendo na TV, tarefa pedagógica a que não estão muito acostumados. Viu Cartoon Network demais? Tá lá na conta, com horários e tudo: desconte-se da mesada.

Mercuccio desce a ripa

(aspas)
A grande questao nao e' saber se Bush e' "o presidente do mundo" ou nao; a questao realmente importante e': sua vida e' tao vazia e sem sentido ao ponto do "presidente do mundo" tornar-se tao importante para voce? Sua vida e' tao pequena e absurdamente materialista? Voce nao sabe o que e' Arte? Voce nao sabe o que e' a vida do Espirito? Lamento.

(/aspas)

Desculpem, tive que tirar os acentos. A versao completa esta' em http://www.wunderblogs.com/mercuccio/archives/014073.html

quarta-feira, novembro 10, 2004

O melhor cafe' expresso do Rio

Costanza, no primeiro piso do Rio Sul, o shopping preferido dos turistas. So' la' encontra-se o ritual completo do expresso, incluindo agua mineral gasosa 'a temperatura ambiente, um quadradinho de pao arabe e um cubinho de brownie. Uma cidade que tem um cafe' daqueles nao pode ser considerada totalmente incivilizada. E, pelo que e', o preco e' justissimo.

terça-feira, novembro 09, 2004

http://www.mini-itx.com

Dificilmente o futuro dos computadores, especula John C. Dvorak. Projetos muito bonitinhos, os da motherboard reduzida. Meu favorito e' o que cabe na caixa do Windows XP. Consomem pouca energia. E enchem seus criadores de orgulho. Mas quanto custam? Se juntar os componentes, todos caros, muitos fora do padrao, e um monitor realmente bom (LCD, naturalmente), chegaremos quase ao preco de um notebook, so' que pouco portatil comparado ao proprio notebook e de baixo poder de fogo comparado a qualquer micro "normal".

Uma fonte de boa reputacao no mercado de informatica, sabendo que o distinto publico adora uma teoria conspiratoria, diz que os comerciantes orquestram uma barreira contra a entrada de placas Mini-ITX no Brasil; dessa forma, forcam a continuidade da orgia de upgrades, seu ganha-pao. Por isso e' que nos centros de compras de informatica nem se ouve falar em Mini-ITX. Nao seria mais facil dizer que nao vendem as plaquinhas porque sao caras demais para o bico do usuario medio?

O futuro guarda um notebook para voce.

Boa, Pequeno Hans

E' muito divertido o sentimento retro-pirata-chic de elevar 'a condicao de "classicos" Made in Brazil uns clones nao-autorizados de micros internacionais dos anos 80, principalmente quando isso leva colecionadores fissurados 'a defesa de alguma especie de "controle" semelhante 'a reserva de mercado, fato gerador de todos aqueles cacarecos ("nao sou contra a abertura da economia, mas..."), inspirados no tempo em que teriamos tido uma industria de informatica digna de orgulho, o que na verdade diz mais sobre o usuario do que sobre os meritos do computador: em sua mente em formacao, usuario de fraldas se sente num mundo fofinho e coloridinho de fazer inveja ao Hello Kitty World, que fica ainda mais interessante quando os usuarios de micros domesticos cabem numa Kombi (a propria reserva de mercado assegura a raridade) e voce se orgulha de fazer parte dessa patota.

Ate' ai', tudo bem; a gente nao concorda, mas entende. Dai' a um pulinho emergiu a teoria de que o uso de computador esta' cada vez mais chato: ninguem mais quer fazer as coisas, pois ja' esta' tudo pronto e nao ha' mais o impulso de se fazer o maximo com o minimo. Na falta de um programa especifico, programava-se em casa. Na falta de disquetes ou similares, digitava-se longas listagens em tecladinhos que nem sempre eram grandes coisas (zzzzz, ronc, zzzzz). E a computacao grafica...

A virada de 1982 para 1983 foi um divisor de aguas para quem ainda imaginava o computador como uma maquina de engolir e expelir dados: o filme Tron e as primeiras aberturas computadorizadas de Hans Donner na Globo. Fiquem 'a vontade para desconsiderar o filme, que virou atestado de nerdice, o que nao tira a impressao do molecao aqui, aos 11 incompletos, babando com a cenografia virtual, arte ate entao inexistente no mainstream cinematografico. Vamos ficar com Hans, que continua vivo e se mexendo, entao seguidor da mesma linha de Tron: formas geometricas muito basicas, incapazes de negar suas origens matematicas (um excelente exemplo e' o da abertura do Fantastico de 1983; quem lembra?). E pensar que uma vinhetinha de cinco segundos levava uma semana inteira para ser feita, mesmo que a Globo fornecesse todo o equipamento e estagiarios que Hans pedisse.

Depois de todos esses anos acompanhando as aberturas da Globo, aquelas antigas me parecem melhores do que nunca. Obvio. Nos anos 80 Hans Donner praticamente so' podia ser comparado a si mesmo; ninguem fazia trabalho semelhante no Brasil, os similares das TVs do resto do mundo nao chegavam aqui, a experiencia de Tron nao fizera muitos seguidores em Hollywood. Nao me arrisco a dizer quando Hans comecou a ficar ruim. Na mal falada abertura de Renascer, 1993, o estrago ja' estava feito, ele sabia que jamais teria concorrencia de verdade no Brasil, que as aberturas (computadorizadas ou nao) eram especie em extincao e que era melhor ficar conhecido como marido da Globeleza.

Enquanto isso, Hollywood da' seguidas demonstracoes de como transformar sua propria computacao grafica numa commodity cada vez menos impressionante. Veio O Exterminador do Futuro 2 para revolucionar todos os conceitos de computacao grafica no cinema. Depois, Jurassic Park para revolucionar todos os conceitos de computacao etc. Depois, O Maskara para revolucionar todos os conceitos etc. Depois, Toy Story para revolucionar todos etc. Depois, The Matrix para etc. (a lista esta' longe de ser completa, mas voces entenderam). Em cada um deles, um documentariozinho promocional, um diretor falando como se estivesse algumas doses acima da Humanidade, uma sala sombria com dez duzias de computadores pilotados por negros e orientais, rabiscos que viram wireframes que viram imagens finais... O cinefilo notou um padrao.

Veiculo do ano

O Tiezzi (http://tiezzi.wunderblogs.com/) esta' surfando nas ondas das grandes solucoes (nao posso deixar de mencionar a palavra-fetiche; tenho uma cota vocabular a cumprir). Irmaos Metralha Ltda. e' a preferida. Necessaria. Incrivel como gente "normal" nao consegue cometer um crimezinho besta sem meter os pes pelas maos, o que o Corujao e o Supercine nos ensinam exaustivamente. Chefe-de-familia-exemplar pega os habitos de tomar drogas para musculacao e espancar a mulher todo dia, o segundo consequencia do primeiro. A mulher nao aguenta mais e contrata uns bandidinhos pes-de-chinelo para dar um fim no conjuge. O resultado voces podem imaginar: se fosse trabalho da mafia, nao dos genericos a 1,99, o filme nao renderia nem um curta-metragem nem mereceria ser discutido aqui. Ouviu-se no tribunal: "Se voce tivesse matado com suas proprias maos, nem seria presa." Esqueci o titulo do filme.

Para quem acha que potencial escandaloso cinematografico se mede pela quantidade de "fuck" pronunciados por minuto, "Bully" aproveita fatos reais (prefiro fatos ficticios ou ficcoes reais) para levar a mesma moral: bandido e' bandido, garoto de familia e' garoto de familia. Procurem um spoiler na rede para nao terem que enfrentar a provacao de realmente assistir ao filme. Basta dizer: que falta fazem os duelos.

Sim, Virginia, existe Papai Noel. Jah os acentos...

Eh claro que voce, macaco velho em Blogger, ja' estava careca de saber que a postagem por email nao suporta acentos (ainda). De qualquer forma, aguentem.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Agora sem acentos para ver se da certo

Psicanalise e' um estado de espirito. Cocegas? Voce e' que acha que sente porque botaram isso na sua cabeca.

Pra jacu

Psicanálise fede a picaretagem. Mas o lobby é fortíssimo. Quando eu tinha onze anos, uma orientadora educacional convenceu meus pais de que eu ficaria muito melhor se o dinheiro deles fosse para a conta da terapeuta. Nunca levei a sério: nem a decoração modernete do consultório prestava. Não dava resposta nenhuma, o que me levava a crer que seria melhor conversar com os gnomos. Mas já que era gente grande que achava que o troço era melhor do que me parecia, quem era eu para discutir? O tratamento naufragou de vez quando tive uns livrinhos furtados por um colega "de confiança" que costumava ir lá em casa. Contei isso à terapeuta. Ela perguntou: "Qual era a importância daqueles livros para você?" Deixe-me ver se entendi: eu, como vítima de furto, deveria cumprir meu papel habitual de otário brasileiro e pular de alegria? O crime não tinha acontecido fora da minha delirante cabeça animal? Tudo não passou de uma diferença de pontos de vista, a diferença entre um furto e uma locação não-autorizada? Ou, se doutora Fulana ignorava totalmente a importância do produto do furto, é porque não tinha importância mesmo?

Testando... Isto é um título

Testando novamente... Isto é um texto

domingo, novembro 07, 2004


Minha foto no Multiply. Sim, sou eu mesmo. Posted by Hello


Em homenagem ao Smart, mais JobiCam. Posted by Hello

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