sábado, novembro 24, 2007

Charlie and the Chocolate Factory

O enredo é inequivocamente religioso. Quem descuidar disso vai entrar pelo cano. Dois filmes entraram pelo cano.

O tema subjacente é manjado porque sempre funciona: "quem é que merece entrar no Céu?". Se eu fosse menino britânico, também desejaria um Céu cheio de doces, mas essa é outra história... No livro de Roald Dahl, do qual Tim Burton mostrou que só conhece o que sopraram em seu ouvido uns assessores engraçadinhos cheios da grana, parece tão óbvio quanto nos filmes que o pobre menininho está fadado a tirar a sorte grande. O interesse da história não é o quem, mas o como.

Charlie não precisa fazer nada especial para conquistar o paraíso dos doces. Seus quatro concorrentes pentelhos se enrolam em suas próprias pentelhices, saem do jogo, Charlie ganha a fábrica de Wonka por W.O. e o livro acaba mais ou menos aí (desse ponto em diante, Tim Burton emenda uma patetice metida a socialmente correta; dispensem). Acostumado que estava com o filme "da Sessão da Tarde" dos anos 70, pensei que estivesse faltando alguma página no livro.

Segundo o quase-cult dirigido por Mel Stuart (quem?), Charlie "sobra", Wonka se desespera achando que ninguém merece o grande prêmio, o resignado Charlie devolve a Wonka o chiclete mágico (um grandíssimo segredo industrial), o rosto de Wonka se ilumina com o gesto de lealdade, Charlie ganha a fábrica inteira. No livro, bastou a fé. Em Hollywood, é dado por certo que a platéia é inteiramente incapaz de conceber fé sem obra, até porque hollywoodiano não conhece nem uma nem outra.

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