terça-feira, agosto 17, 2004

Michael, como convém a um Michael típico, nasceu na Baixada Fluminense. Não era lindão nem tinha corpo de Mister Universo, mas levava todas as moçoilas ao delírio. E sem fazer sexo de verdade. Michael simulava atos sexuais como Spielberg simula dinossauros nos filmes: a imitação é tão realista que a parceira nem precisa mais se lembrar de que o verdadeiro existe. Mulheres de fino trato, de todas as idades, formavam fila na porta de Michael para se entregar a orgasmos múltiplos no mais perfeito simulacro daquilo que os desembargadores de Goiás chamam de "contubérnio", se bem que nenhuma mulher que tenha se jogado nos braços simulados de Michael tenha ousado chamar aquilo de um nome tão feio.

Jamais alguém descobriu a técnica de sexo de mentirinha hiper-realista de Michael. Não adianta procurar no Google. Como um Mister M antes de abrir o bico, ele mantinha segredo total dos truques. Tudo que se sabe é que Michael tirava a roupa, despia a parceira e os dois (geralmente, mas não necessariamente) se deitavam para que o ato tivesse toda a pinta de sexual de fato. Daí em diante, viajava a imaginação dos rivais de Michael. Como ele fazia a parceira acreditar que tinha seu ponto G massageado por um parceiro a meio metro de distância? Como ele desenrolava uma camisinha sobre algo inexistente? Como ele usava a língua sem abrir a boca? E como é que ele ainda simulava uma penetração completa e profunda, com direito a algo que até então nenhum homem jamais conseguira -- fingir o orgasmo?

E depois do ato venéreo inexistente, acendendo um cigarrinho paraguaio e arrematando com a marca dos canastrões de alcova, Michael perguntava:

-- Foi bom, meu bem?

Ela respondia, revirando os olhos com a lembrança do último gozo:

-- Uau! Eu sei que é tudo mentira, mas as suas intenções são as mais bem-dotadas que já vi.

Vexame médico

Enfim a tarde, quase noite, do exame pré-admissional. Levei comigo os necessários quilos e quilos de exames de sangue. Começa-se a dar o sangue antes mesmo do trabalho.

De cara, um longo questionário sobre o background (desculpem o palavrão) de saúde do candidato. Seguindo instruções de alto gabarito, marquei cruzinhas em todos os quadradinhos que indicavam que estava tudo bem, tudo ótimo, tanto comigo quanto com meus parentes.

Por que o médico, como gente civilizada, simplesmente não pergunta: "E aí, como vai? E a família?"

O exame diz que meu colesterol está meio alto, mas com uma ressalva do tipo "Isto que você acabou de ler não necessariamente significa isto; você, que não deu ouvidos ao papai e se formou em qualquer coisa menos medicina (se é que se formou), é um reles mortal incapaz de interpretar o resultado mais óbvio". Obedientemente, fiquei calado até que o médico sentenciou: "O seu colesterol está alto." Caminhada três vezes por semana. Acho bom cooperar; as câmeras do Departamento Médico podem estar espetadas em postes por aí.

Mas se índice de colesterol fosse eliminatório, muitos colegas já teriam dançado há tempos.

segunda-feira, agosto 02, 2004

Adeus

N�o paro de refletir sobre a trag�dia, mas parece que a ficha ainda n�o caiu. Tenho que me pronunciar. Hoje � a missa de s�timo dia do amigo Fernando Villela, o FerVil, mais um carioca ca�ado e abatido pelos invasores de sua pr�pria cidade.

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