quinta-feira, novembro 03, 2005

Copie direitinho o que o titio escrever no quadro

Ou, como dizem os paulistas, na lousa.

Como os comentaristas humanos deste blog já notaram, ativei aquele chatíssimo sistema de verificação em que é preciso digitar o que se lê naquelas letrinhas tortas. Também não gosto muito disso, mas o bombardeio de spam nos comentários estava exagerado. Apesar do inconveniente, continuo esperando os comentários de todos.

Enfim, férias

Os poucos dias de folga se traduziram numa fraquíssima fase criativa. Não sai nada. Quer dizer, isto não conta. Deixei passar uma importante efeméride, dez anos, não tanto por falta de assunto quanto pela prioridade de estar com quem eu realmente gosto, o que não inclui a perseguição das lembranças infrutíferas -- algo que a denúncia por si só não redime. Mas tenho consciência de minhas limitações. Não vou dar uma de pessoa-maravilhosa-da-Globo, sempre muito lindos, muito queridos e muito empenhados em "fazer o bem" para se rebaixarem à autoconsciência daquela caretice que uns e outros chamam de "pecado".

Por que o espiritismo é adotado maciçamente entre os globais, e por que os espíritas da Globo tendem a atingir posições de importância em grandes números? Não quero pôr a doutrina espírita em questão. Conheço espíritas sinceros, dedicados à caridade e ao estudo, e que se preocupam em respeitar para serem respeitados. Por isso, são os primeiros a encontrar na novela das oito, especialmente agora na reta final, um samba do teólogo doido que denigre todos os mitos e crenças abarcados pela cabeça delirante da autora. Mas a novela "ensina" mais sobre religião do que a criança telespectadora média aprenderá um dia. A garotada está aprendendo errado. É praticamente impossível que esse risco tenha passado desapercebido por quem levou a novela ao ar.

Para os espíritas, a morte é um conceito relativo. Será que só eu acho que isso cai como uma luva no circuitinho do show business? Ícones como Elvis e Marilyn, Cássia Eller e Raul Seixas, Chaplin e Che Guevara (OK, não é artista, mas vende camisetas como se fosse) continuam vivíssimos em som e em imagem, mais ativos e mais nítidos na memória coletiva do que se estivessem efetivamente respirando e andando sobre este mundo, enquanto o artista que cai no ostracismo é, para todos os efeitos práticos, um morto em vida.

Adeus à celulose

(imagem originariamente em preto e branco; clique para ampliar)

Ainda aproveitando as férias, redescobri na casa de meus pais uma das fotos que mais me chamavam a atenção na velha Enciclopédia Barsa. Já nas minhas investigações infantis me parecia inevitável que o livro de papel, no mínimo, teria sérios concorrentes. Só restava a mim, à enciclopédia e aos futurólogos descobrir como e quando.

Quase não se fala mais em livros inteiros em microfilmes do tamanho de um selo (na verdade, quase não se fala mais em selos). Mas o suporte físico dos livros não-papelistas é o que menos importa. Considere-se que em 1980, ano dessa edição da Barsa, ainda era duvidoso se os microcomputadores emplacariam em quantidade e importância. A estimativa de 60 mil volumes numa gaveta de arquivo foi ultrapassada com folga. Aí o poder dos micros se realizou numa novidade impensável na ortodoxia da Guerra Fria: uma rede mundial descentralizada e aberta a usuários comuns. Por fim, diante do crescimento monumental da massa de dados, uma série de competentes mecanismos de busca permitem achar quase num piscar de olhos tudo que é relevante na rede.

Muito se fala, desde o tempo do Napster, sobre a revolução do MP3 e sobre como o troca-troca de arquivos entre usuários abalaria a estrutura jurídica que apóia as fortunas indecentes de artistas chinfrins. Nenhuma palavra, porém, ao (por que não chamá-lo assim?) intercâmbio de livros inteiros na internet, que é fácil, rápido e voa por baixo da antena de radar antipirataria. Um texto de trezentas páginas, enviado e recebido sem grandes preocupações com direitos autorais, ocupa um arquivo de um oitavo do tamanho do MP3 de uma música de parada de sucessos. E nem falei ainda das redes de troca de filmes e seriados.

Por que, então, a cortina de silêncio sobre os livros? No melhor estilo da Era Lula (mas o fenômeno é mundial), os "intelequituais" fingem que não vêem ou se recusam a ver o que se passa debaixo de seus narizes empinados. Não conseguem tolerar a leitura de livros que não seja nos tradicionais volumes de pasta de celulose solidificada, que podem ser cobrados, controlados e eventualmente bafejados com "políticas públicas" favoráveis à patota de sempre. Os jornais tradicionais estão sucumbindo à concorrência online. Com a internet à disposição em toda parte, até quando o leitor pagará por tinta e papel em troca de notícias de ontem?

Peço licença aos profissionais do mercado editorial, aos preciosistas da leitura, aos fetichistas do livro impresso, aos cultores da biblioteca-monumento e aos tecnófobos em geral: se o internauta é capaz de passar um tempão, sem reclamar, com os olhos grudados no monitor lendo noticiários, recadinhos no Orkut e canais de bate-papo, não há que se pensar que seu comportamento seja essencialmente diferente com os livros digitais. As "pessoas maravilhosas" do mundinho intelectual não serão atropeladas pelo progresso. Já foram.

Claudio de Moura Castro, em artigo recente para a Veja, foi dos poucos a se preocupar com o assunto. Com grande conhecimento de causa, ele nos lembra que, no ambiente universitário, papel virou coisa de rico. Até o papel dos livros xerocados, uma espécie de pirataria que os professores (que não estão em nenhum mundo à parte dos "intelequituais" que se fazem de cegos) sempre olharam com grande condescendência visando a um bem maior: a disseminação do conhecimento. O caso é ainda pior nos estudos jurídicos. As leis mudam a todo momento, pois são uma penca de palpites nas cabeças dos legisladores de plantão. Desse jeito, os livros de Direito ficam desatualizados mais rapidamente do que uma versão do Microsoft Office. É preciso investir notas pretas em edições mais ou menos úteis. Em casos como esse, não vejo esperança fora do livro eletrônico. Quem ficar para trás e seguir conformado ao cartel editorial-universitário ficará mais pobre ou menos atualizado. Ou as duas coisas.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Antispam que funciona

Maravilha. Depois que abandonei o Pobox, a avalanche de mensagens não-solicitadas despencou 95 por cento.

Não é o seu antispam que é ruim; o seu endereço é que é excessivamente conhecido.

terça-feira, outubro 18, 2005

A rede dos oprimidos

Os governos de países miseráveis lutam para conduzir seus despossuídos às maravilhas da sociedade mundial interconectada? Acham que sua boa-vontade pode ser recompensada com uma fatia maior de poder na gestão da internet, especialmente no registro de domínios? Enfim, os mandatários dessas nações confiam mesmo no poder da grande rede?

Então ponham sua fé à prova. Desistam de longas e dispendiosas sessões de blablablá em países distantes, como a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação que será realizada na capital da Tunísia em novembro. Passem a tesoura nas passagens intercontinentais e nas reservas de hotéis de si mesmos, de seus diplomatas e dos internetólogos amigos. Se a turma tiver algo sério a dizer no evento, que compareça via teleconferência. Simples assim. Não faltam meios para tal: Skype, MSN, ICQ, AIM, IRC, Google Talk e mais uma dúzia. A participação de cada país terceiro-mundista na Cúpula Mundial custará menos que uma nécessaire de primeira classe de empresa aérea e trará tanto resultado quanto a reunião ao vivo. Ou até mais, na ausência das encantadoras distrações mediterrâneas. O primeiro internetólogo que argumentar que nada se compara com o olho-no-olho do encontro real em Túnis será sumariamente ejetado de seu cargo de confiança. Para os súditos famintos, como dizia Stanislaw Ponte Preta, a ausência do fulano preencherá uma lacuna.

No século 21 qualquer cursinho de certificação em informática se faz via Web. Reunião presencial é para quem tem escassez de competência ou excesso de dinheiro. Seja qual for o motivo, tanto uns quanto outros continuam vivendo à tripa forra, dando mil voltas pelo mundo, aparentemente em busca de um vento estrangeiro que leve inteligência aos ignorantes, honestidade aos picaretas e objetividade aos enroladores. Otários somos nós da platéia.

A cúpula da ONU em Túnis é só a culminância de um circuito de encontros que enriquece as agências de viagem que atendem a governos. Começando em 2002, entre conferências regionais e eventos preparatórios, a caravana passou por Máli, Suíça, Romênia, Japão, República Dominicana, Líbano e França. Sempre de olho na primeira etapa da Cúpula Mundial, em dezembro de 2003 em Genebra, o Monte Olimpo da burocracia globalitarista. Em 2004 e 2005, novas reuniões em Genebra (dez encontros!), Nova York e a tunisiana Hammamet. Tudo ao vivo, como se tivessem esquecido de pagar a conta da conexão de rede no quartel-general da União Internacional de Telecomunicações. E tudo burocraticamente planejado para impossibilitar, depois de quase quatro anos, a obtenção de qualquer definição decisiva que seja. Se trabalhassem no mundo real, esses PhDs em blablablá estariam há tempos no olho da rua.

E qual é a pretensão dos acólitos da ONU portadores de tamanha "objetividade"? Yoshio Utsumi, líder da UIT, afirmou categoricamente que a entidade está pronta para assumir a gestão dos domínios da internet no lugar da Icann. É fato que a Icann é uma corporação sem fins lucrativos contratada pelo Departamento do Comércio dos EUA para a função de administrar os domínios, o que tem causado uma baita irritação no resto do mundo. Na cabeça da fila dos queixosos, a Europa continental. Apesar do dinheiro, do esforço e do nível intelectual, nunca produziu um mísero sistema de computadores bem-sucedido. Logo atrás, o Terceiro Mundo, os comunistas e os ex-comunistas, que devem a informática que têm à "patriótica" apropriação chupinista das conquistas dos outros. E, se dependesse de ambos os grupos, jamais teria existido internet alguma. É curioso como desejam cantar de galo a esta altura do campeonato.

Duvidam? Numa das incontáveis reuniões, a delegação brasileira fez seu showzinho. Eis a proposta: a continuar a intransigência americana, os "emergentes" liderados por Brasil, Índia, África do Sul e China deverão pensar em criar uma rede paralela, incompatível com a internet como a conhecemos. Bandung rediviva em versão interconectada. Sérgio Rosa, diretor do Serpro, defende a aliança da periferia lembrando que brasileiros, indianos e chineses estão entre os melhores técnicos em informática do mundo. E ainda melhores, lembro eu, em outras coisas de internet que não pega bem lembrar em assembléias internacionais.

Se o plano mantivesse mesmo os brasileiros longe da internet, a proposta teria muitos apoiadores de peso. Por exemplo, a administração da Efnet, rede de IRC que foi praticamente destruída por disputas de controle de canais e bombardeios de pornografia infantil até que passaram a barrar na entrada todos os acessos originados no Brasil (de usuários honestos, pois os hackers sempre acham um meio de penetrar na festa dos outros). Sites como o da Nasa, que se cansaram de receber ataques orquestrados de brasileiros dia e noite. Todos os servidores de correio eletrônico fora do Brasil, que desconfiam previamente do manancial tupiniquim de impuníveis spamzeiros, hackers e distribuidores de vírus. Ou o Orkut, invadido (lenta e gradualmente) por brasileiros como a Europa pelos bárbaros na Idade Média: chegaram, enxotaram os estrangeiros e impuseram sua "lei" de vínculos sociais inverificáveis e spam gerado automaticamente.

Tudo depende do ponto de vista. Os internetólogos pensam que ameaçam os poderosos. Na verdade, prometem um sopro de esperança.

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A escolha da Tunísia como sede é emblemática. O governo tunisiano tem feito um grande esforço para levar a internet a seus súditos, com destaque para a disseminação dos cibercafés estatais. Essa "inclusão digital", porém, funciona mais ou menos como a alfabetização plena dos cubanos: só serve para os fins autorizados pelo governo. O Big Brother da Tunísia controla os provedores de acesso (desta forma, obtém facilmente as listas de usuários ativos), costuma mandar bloquear sites politicamente inconvenientes e submete os noticiários da internet à mesma censura prévia dos jornais e revistas. Zouhair Yahiaoui não se lembrou disso quando montou um site criticando o presidente Zine el-Abidine Ben Ali. Bem feito: passou um ano e meio dividindo com 80 presos uma cela de 40 metros quadrados, Só saiu da prisão depois de morto, aos 37 anos. Mohamed Abbou, outro jornalista online que ousou criticar Ben Ali, está encarcerado desde 1º de março, apesar da incansável campanha dos Repórteres Sem Fronteiras e de organizações correlatas.

A Cúpula Mundial da Sociedade da Informação terá terceira fase em Pequim? E quarta fase em Havana?

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Como (ainda) não estamos na Tunísia, podemos verificar às vésperas do referendo do comércio de armas um fantasticamente ativo underground de apoio ao Não, de uma forma que só a internet revelaria. No Sim da televisão, os artistas globais falam (no horário de propaganda propriamente dito, como já falavam nas novelas e minisséries), a platéia escuta apalermada. E ponto final. Notamos que os partidários do Não estão muito mais articulados e unidos em seu pensamento: sabem muito bem por que votarão do jeito que votarão. Enquanto isso, quanto mais falam, mais os partidários do Sim mostram quão vagas são as idéias que os movem. No debate livre da internet, ou acabam dando corda para seu próprio enforcamento ou se recolhem ao silêncio para evitar um vexame maior.

Mas não há milagres. Uma das mensagens pelo Não levanta um argumentozinho estapafúrdio: o Sim não passaria de uma orquestração da indústria internacional de armas para impedir que os armeiros brasileiros exportassem sua produção (se não puderem comercializar para brasileiros, também não poderão para estrangeiros). Para quem, diferentemente de Ancelmo Gois, nunca enxergou "bancada da bala" nenhuma, causa espanto perceber que inventaram duas: uma do "mal", reunindo os proverbiais piratas lourinhos de olhinhos azuis, outra do "bem", tolerável por ser formada por irmãos da pátria-mãe gentil. Eis o resultado de um referendo que, na prática, não decidirá coisa alguma, pois o debate ainda está muito aquém da discussão de direitos civis e o Estatuto do Desarmamento já é intoleravelmente restritivo para gente honesta. Tudo se resume a um revolta pirracenta contra o Cidadão Kane e os ricaços que o servem, contra os inimigos do povo (externos e internos) e contra a autoridade desgastada do governo. Esse que circunstancialmente está aí; "o" Governo em si, é claro, permanece intocado. Eis um referendo que realmente faz falta.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Agora no radar do Google!

Blog Search, a oitava maravilha do mundo.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Sim, aquele hotel...

No blog de fotos de meu amigo Salomão Gladstone, imagens do inacreditável Formule 1.

Como é bom ter tempo para postar...

Mas vou de Ctrl-C + Ctrl-V mesmo.

"Em respeito às vítimas em Nova Orleans e no Brasil eu não escreverei nem sobre o Katrina nem sobre o Sete de Setembro."

(muitas operações de movimentação de arquivos em segundo plano. Lentidão atroz. Preciso de discos mais rápidos, uma CPU mais rápida. Aceito colaborações.)

terça-feira, setembro 06, 2005

Mercado Livre é essa coisa toda?

Cada país tem o eBay que merece. Do lado de lá, a nave-mãe dos sites de leilões comemora seus dez anos. Os brasileiros se viram com o que têm: o Globo Online destacou o sucesso do Mercado Livre, a glória nacional do comércio eletrônico pessoa-a-pessoa. Coincidência?

A matéria é daquelas que costumam suscitar perguntas gaiatas dos desavisados: "Quanto o Globo Online levou para puxar o saco do Mercado Livre?" Pois é sem um pingo de gaiatice que afirmo minha confiança na honestidade de Sabrina Valle, autora do texto, e do corpo editorial do Globo Online em geral. É perfeitamente plausível que uma matéria dessas seja publicada com a naturalidade de quem prevê chuva para o fim-de-semana, sem que qualquer membro da redação tenha levado "um por fora" direta ou indiretamente. Por favor, parem de procurar chifre em cabeça de cavalo.

Fora isso, salta aos olhos a diferença abissal entre o eBay e o Mercado Livre, site que se declara "associado ao eBay". Associado por associado, minha carteirinha do Fonseca Atlético Clube dorme na gaveta há mais de vinte anos, mas teoricamente eu continuo lá. O pacto entre os dois sites está em vigor há tempos, mas ainda não rendeu nada de útil ao Mercado Livre. Depois eu continuo...

segunda-feira, setembro 05, 2005

Enamorado por outra idéia

Por que é que eu nunca mais usei este espaço para comentar o projeto do romance "da" bolha pontocom?

A idéia está engavetada por tempo indeterminado. Motivos:

a) Baixei a bola e pus-me no lugar do leitor por um milésimo de segundo. Não, pessoal: por mais que eu, você e os outros tenham vivido alguma coisa séria no Brasil no tempo da bolha pontocom, um romance pontocom vivido no Brasil não pode ser lido com cem por cento de seriedade. Quem comprar o livro pensando em encontrar Nova York, Londres e Vale do Silício -- pois o grande mundo pontocom não parece ser outro -- e encontrar personagens e locais brasileiros achará que começou a ler uma paródia do Casseta & Planeta por engano. Não é preconceito da minha parte, mas do leitor. Diante dos fatos, o que imaginam que eu fizesse na minha vida? "Danem-se os preconceitos do leitor; o livro vai sair de qualquer jeito, e quem quiser que leia"? Se eu tivesse tempo e dinheiro sobrando, talvez. O ilustre Alex Castro também tem planos literários, ainda que substancialmente diferentes dos meus, inspirados em sua experiência pontocom. Boa sorte, portanto.

b) Abracei um enredo muito, muito, muito mais interessante. Por que não, ora?

domingo, agosto 21, 2005


Mais uma vez, réquiem às fitinhas.

Pobox: o último dia

Enviei há pouco esta mensagem às devidas listas.

Aviso final do Pobox: acabo de receber mensagem da administração avisando que este é o último dia de atividade dos endereços barreto@pobox.com, pbarreto@pobox.com e pcbarreto@pobox.com -- a não ser que eu pague imediatamente uma nova anuidade.

Não, não, não: desde o tempo do 486, do Windows 95 e do OLX, pela primeira vez o Pobox não vai ver a cor do meu dinheiro. Os motivos.


Agora, portanto, é definitivo. Para ser excluído do Pobox, não preciso mais fazer coisa alguma. Não me convenceu a continuar. Azar o dele. A vida continua.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Adeus, Pobox: a palavra dos leitores (II)

Entendo o seu problema, e, de certa forma, compartilho essa ansiedade de
não ser mais encontrado no mundo digital. Também sou da época da pedra
lascada (ou seria internet discada?). Via esses mails aparecerem em profusão
(usa.net, pobox, entre outros). Vi muitos amigos aderindo a esses serviçõs,
na esperança de ter um porto perpétuo de contato com o mundo exterior.

No entanto, todos eles me pareciam que tinham um problema: o que vem depois
do arroba não é meu. Então, no dia que o dono dele surtar, eu vou ter que
trocar de e-mail.

Pensando assim é que eu criei a ranaur.net. O domínio é meu (pago menos
de 9 dólares por ano). Se o serviço que eu estou usando (hoje em dia da
Cubo.net a 19 reais por mês, com direito a POP, forward, web, web segura entre
outros) não me agrada, eu troco. Inclusive, já troquei uma vez quando o
provedor sumiu com todos os dados da minha viagem.

Se você não quiser uma página, fica ainda mais barato, pois existem
serviços que só redirecionam o e-mail do seu domínio para algum outro, por
uma taxa anual. Acho que até tenho direito a usar esse serviço, senão me
engano.

Dessa forma, você fica livre para trocar de provedor, mas mantem sempre o
seu e-mail contigo. Até a a morte os separem.

Hoje em dia, ao mandar um e-mail para o ranaur [arroba] ranaur.net, ele vai parar,
além de um provedor da cubo.net e no gmail. Eu uso o primeiro para baixar por
POP mais tarde, já que não acredito que o gmail seja para sempre, e não
quero perder meus e-mails se os acionistas da google quiserem comprar uma
ferrari nova. E uso o gmail, como todos os recursos firulentos que ele
tem para acessar o meu e-mail.

Dá uma pesquisada, pois já que você está tendo trabalho de mudar de
e-mail agora, faça isso uma só vez na vida. O resto é admnistrar domínio.
No que eu puder ajudar (com sites, etc), estou às ordens.


Pois aqui respondo, Ranaur. Por que não antes um @pcbarreto.com? Lembrai-vos de 96, quando contratei o Pobox. Domínio pessoal era incomum (no Brasil, mais ainda) e meio caro. O Pobox já tinha um certo nome no mercado e cobrava 15 dólares, uma tarifa modesta modesta em relação ao custo total de acesso. Tenho o domínio pcbarreto.com desde janeiro de 2003. Se quisesse um encaminhador de mensagens, teria que pagar um "plus a mais". Mas aí eu já tinha convencido todo mundo, começando por mim mesmo, a usar o endereço do Pobox. Para quem começa agora na indústria vital do encaminhamento de mensagens, a dica do Ranaur é irretocável: nada como a dobradinha Gmail + domínio pessoal.

Estou certo de que o Gmail não durará para sempre. Mas aposto que o Pobox irá para o brejo bem antes. Começou como toda startup de origens modestas e superou o estouro da bomba com alguma tranqüilidade. Mas em todo este tempo o Pobox não foi fundido a qualquer grande grupo que o apoiasse, não expandiu sua base de usuários, não incrementou seu elenco de serviços (só acrescentou o antispam, que o próprio Gmail o tornou inútil), não criou o "buzz" que transformou outras marcas em lendas, não baixou os preços (muito antes pelo contrário). Sentou-se e viu a banda passar. Que não reclame do insucesso.

Adeus, Pobox: a palavra dos leitores

li sua exposição no http://pobox.notlong.com e posso dizer que entendo
perfeitamente todos os seus motivos, por já ter passado pelas mesmas
agruras.

mas há um ponto em seu texto onde vc descreve a agonia q a
possibilidade de não ser mais achado por seus conhecidos e parentes q
só conheciam o endereço antigo e não receberam seu aviso está lhe
causando. e eu me lembrei que, há tempos atrás, antes da era dos
gerenciadores públicos de bookmarks, eu trombei com um site cujo
objetivo principal era cadastrar e-mails desativados associando-os com
os novos e-mails do usuário deles. ou seja: vc se inscrevia no site,
cadastrava seu e-mail atual, e fazia uma lista de e-mails que vc
costumava usar e que haviam sido desativados. assim, qqr pessoa q
quisesse lhe encontrar mas somente tivesse seu e-mail antigo poderia
procurá-lo no banco de dados e encontrar seu novo e-mail.

serviço mto útil, mas que as mudanças de armazenamento de bookmarks
fizeram desaparecer da minha memória. o site existe no cyberespaço, em
algum lugfar, e acho que seria legal se vc pudesse não só encontrá-lo
como espalhar a palavra. eu vou tentar procurá-lo tb, e quem achar
primeiro avisa ao outro. topas?

até,

tatiana a.k.a. sweethell
http://sweethell.deviantart.com


Taí o link para o serviço, encontrado pela própria usuária e indicado em mensagem posterior.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Adeus, Pobox: uma exposição de motivos

Odeio ser portador de más notícias. Contratei os serviços do Pobox (www.pobox.com) em 1996 na esperança de nunca mais ter que enviar aos amigos de internet aquela mensagem tediosa “Por favor, atualizem suas listas de contatos! Doravante meu endereço email será...”.

Pois lá vou eu incomodar a todos. O endereço vai mudar. Que o novo seja eterno enquanto dure.

Se em 1996 já dava um grande trabalho avisar uma alteração de endereço a todos os conhecidos, imaginem como cresceu a lista de contatos nestes nove anos. Terei que revirar a rede na esperança de passar o recado da mudança a todos que precisem anotá-lo. Arrisco-me a não ser mais encontrado por alguns amigos, parentes e contatos profissionais quando o endereço antigo sair de cena.

A esperança é recíproca. Da mesma forma que confiei em manter um endereço inalterável através dos tempos, meus contatos confiaram em anotar meu endereço do Pobox, certos de que poderiam contar comigo através dele. É a estes colegas que peço desculpas; é em respeito a eles que exponho os motivos da minha mudança de planos.

Lamentavelmente, o Pobox não dá mais qualquer argumento sério que me convença da relevância de seus serviços. O Pobox funcionava bem tendo em vista uma combinação de fatores que não existem mais: provedores capengas, linhas discadas, programas de email, webmail indecente e spam dentro do limite do gerenciável. Por isso, sua popularidade decaiu. Mas produtos decadentes saem do caminho ou baixam os preços -- não elevam as anuidades em 33,33 por cento. O Pobox está “se achando” a esta altura do campeonato.

Sofri com os provedores dial-up, que na aurora da internet comercial eram todos (muito bem) pagos. Barbeiragens administrativas e lentidão de acesso eram aborrecimentos muito comuns, capazes de abrir rombos nas finanças do usuário. Era normalíssimo pular de um provedor para outro em busca de serviços dignos e ofertas melhores. Como conciliar isso com a necessidade de o usuário se manter facilmente localizável na rede, num tempo em que as alternativas ao email (mensagens instantâneas, Orkut, Skype, até telefones celulares) eram modestas ou inexistentes?

Aí entra o Pobox. Por quinze dólares anuais, concedia um endereço permanente ao usuário, por mais que ele trocasse de provedor. Não guardava, como continua não guardando, mensagem alguma. Tudo que faz é repassar as mensagens à caixa postal “real” do provedor em uso. Por que o Pobox não guarda nada e ainda cobra por isso? Porque foi inventado no tempo em que o armazenamento custava uma nota preta (mesmo que fosse diferente, seria inviável transferir grandes massas de dados através de linhas telefônicas e provedores tarifados). E não se reinventou até hoje.

De qualquer forma, o usuário já recebia no pacote de serviços do provedor, qualquer que fosse, um espaço de armazenamento de mensagens. Esse espaço era muito reduzido; programas como o Eudora eram indispensáveis não só para ler e escrever mensagens (mesmo com o modem desligado), mas também para descarregá-las ao micro local de tempos em tempos, desocupando o servidor de email no outro lado da linha. O custo desse serviço, quando (e se) avaliado à parte, era sempre muito maior que o preço do Pobox.

A matemática entrou em parafuso quando surgiram os provedores grátis. Nem todos funcionavam bem, mas os usuários do Pobox aproveitavam a liberdade de usar uns e outros à vontade, mantendo o endereço de sempre -- e sem fazer propaganda de qualquer provedor individual. Esse deve ter sido o último suspiro de relevância do Pobox: era um porto seguro, um nome confiável em meio a dúzias de aventureiros.

Acontece que a era dos grátis também foi a da ascensão da banda larga e dos cibercafés, turbinando a demanda pelo webmail e pondo em xeque a própria razão de ser dos programas de mensagens. Por que acumular uma massa ingerenciável de emails no disco rígido de casa (ou seja, inacessíveis por qualquer outro computador)? Por que continuar usando um programinha separado, fosse o pífio Outlook Express, fosse o Eudora em declínio, para baixar mensagens para leitura posterior, quando a conexão passou a ser permanente e rapidíssima? E, principalmente, por que fazer download de mensagens de uma forma ou outra, já que as caixas postais ficam sempre entupidas de spam, vírus e similares? Tal é o ataque dos chatos emailadores que às vezes é melhor se esconder do que manter um endereço permanente.

De olho nos novos tempos, o Pobox criou um forte filtro antispam, sobre o qual comentei em artigo de 27 de novembro de 2003:

“O serviço repassador de mensagens Pobox tem um filtro implacável que pode ser ajustado pelo usuário... ou quase. Se ficar muito rigoroso, pode mandar para o brejo mensagens importantes. Aconteceu comigo: vendi um item num leilão e não consegui receber uma única mensagem do vencedor. Por motivos totalmente aleatórios (o Pobox pouco liga para mensagens de língua não-inglesa em sua filtragem), barrou todas.

“Há salvação, mas é complicada e limitada. O usuário precisa ir ao site do Pobox, pedir para ver o listão de mensagens condenadas nos últimos trinta dias e ver quais são as que podem sair da geladeira. Na verdade, a lista chega a milhares de emails, e não há um jeito rápido e eficaz de se passear pela lista.

“O pior de tudo é que o Pobox só acumula os spams, sem tomar providências: nem o destinatário fica sabendo facilmente que há algo de estranho tentando entrar em sua caixa postal, nem o remetente recebe qualquer sinal de que sua mensagem está sendo recusada. Por isso, meu cliente de leilão considerava que suas mensagens estavam realmente chegando ao destino e que eu é que o estava ignorando.

“A salvação foi uma caixa postal de provedor grátis. Sem intermediários.

“Quem desejar um antispam inteligente deve abaixar o escudo do Pobox e transferir sua confiança para outro filtro. E permanece a dúvida: por que o velho Pobox ainda cobra 15 dólares por ano – por isso?”

Como a fortaleza digital do Pobox começou a implicar com mensagens originadas no Brasil, voltei ao assunto em 9 de fevereiro de 2004:

“Como é que um país faz para entrar nessa nobre relação de fontes notórias de spam (e, é claro, vírus de email)? Pelo menos o Brasil não está lá por acaso. Junte uma grande população de computadores conectados (em números absolutos), muitos jovens talentosos moralmente frouxos, uma cultura de apologia do crime, a orquestração do desestímulo total a qualquer atividade séria e produtiva, a doutrinação nas escolas contra os porcos burgueses imperialistas neoliberais etc. etc., a falta de repressão (e o recalque politicamente correto até de se usar palavras chulas como ‘repressão’) e a crença de que é ‘justiça social’ tratar o que é dos outros como a casa da sogra. Mas vá convencer um brasileiro disso tudo sem ser xingado em bases partidárias, antropológicas ou psiquiátricas.

“Entretanto, se o Pobox distinguiu a Pátria Amada negativamente, colocando-a ao lado da Turquia, da Nigéria e de um punhado de tigres asiáticos, não está sozinho em sua avaliação. O bloqueio por países é apenas uma camada do sistema antispam. Se você não é o usuário típico do Pobox e tem motivos para continuar recebendo mensagens do Brasil, ainda assim pode ativar os outros filtros, baseados em listões continuamente atualizados por entidades especializadas (njabl.com, mailpolice.com, dsbl.org e outras). Todos cada vez mais desconfiados de mensagens do ‘.br’.

“Todo antispam erra muito nos primeiros dias, até conhecer o comportamento do usuário. Pelo menos até que você mostre aos filtros do Pobox que focinho de porco não é tomada, muitas inocentes mensagens de seus amigos cairão na malha fina dos ‘discards’. Recuperar do Pobox os emails que prestam, uma agulha no palheiro de zilhões de vírus e ofertas milagrosas, é atividade manual que requer tempo. Encontrou aquela proposta de trabalho imperdível? Pode ser tarde demais. Para salvar a si mesmo, o Pobox ainda perderá muitos clientes no Brasil.”


Ainda não existia o Gmail para a devida comparação. Mas a pescaria de mensagens boas do Pobox não é a que o Gmail já faz, com alta velocidade, com a vantagem da interface única, sem criar qualquer dificuldade para se resgatar qualquer “spam” desejado ou mandar para o purgatório qualquer “legítima” indesejada?

Esse foi o golpe de misericórdia. Assim que os serviços de webmail começaram a oferecer espaço sério para armazenamento – acima de um gigabyte, para que o usuário não se preocupe tão cedo em apagar mensagens recebidas --, caiu o castelo dos programas de email. Hoje há um programa bom, o Thunderbird. Uns o amam por não ser da Microsoft; outros o admiram por seu poderoso antispam. Mas o pecado original do Thunderbird é o mesmo dos concorrentes: no fundo, é um programa de email tradicional que cumpre as tarefas tradicionais. Com mais de dois gigabytes disponíveis grátis, cortesia da Google Inc., quem precisa continuar fazendo download de milhares de mensagens?

A tendência natural é que os serviços de internet fiquem melhores e mais baratos. O Pobox nada acrescentou de relevante a seus serviços e reajustou a tarifa anual para 20 dólares. No tempo dos 15 dólares, sempre paguei sem reclamar, tanto nos tempos de prosperidade quanto naquelas fases em que a insolvência pessoal se somava à disparada da moeda americana. O problema não é de dinheiro. Se o Pobox fornecesse um serviço que, em 2005, valesse 20 dólares, eu não hesitaria em abrir a carteira.

Porém, há tempos e tempos o Pobox oferece mais do mesmo, sem fazer o menor esforço para conquistar novos usuários. Aproveita-se, portanto, da fidelidade da clientela antiga; faz caixa a bordo da dependência dos usuários que já imprimiram o “pobox.com“ em seus cartões de visita e não sabem como seus amigos os encontrarão caso mudem de endereço -- o que era, afinal, toda a razão de ser do Pobox. Considerando o exposto anteriormente, é o que posso chamar de fé cega. Se o provedor de fundo de quintal fosse à falência, o Pobox continuaria existindo. E o Pobox, desse jeito, existirá para sempre?

terça-feira, julho 26, 2005

Um guru contra o progresso

14/10/2003

Nicholas Negroponte diz que computadores deveriam ser mais baratos. Em busca de culpados, demitiu a lógica.

Negroponte, guru da alta tecnologia, em entrevista à revista Istoé Dinheiro, acusa a Intel e a Microsoft de manter os preços dos computadores artificialmente elevados, nestes termos:

A cada ano, a Intel aumenta a capacidade de processamento do computador e a Microsoft faz um software ainda mais complicado. A todo momento eles anunciam aperfeiçoamentos e características novas e, claro, mais caras. Isso acontece porque a indústria não quer encarar o seu produto como uma mercadoria de baixo preço. Em 1985, o meu Macintosh 512, da Apple, satisfazia boa parte das minhas necessidades. Hoje esse mesmo equipamento deveria custar menos de US$ 10. Então, a pergunta que se faz é: por que os computadores são tão caros hoje em dia? Nós precisamos parar com esse movimento o mais rápido possível. E um dia nós vamos conseguir.

Mesmo considerando que o Macintosh não usa processador Intel nem sistema operacional Microsoft, o exemplo serve perfeitamente para derrubar a teoria do próprio Negroponte. Nada mais natural que um Mac 512 saia hoje por menos de 10 dólares (em termos de mercado dos EUA; entre os brasileiros, que dependiam dos contrabandistas, essa máquina era muito rara), quando na época do lançamento custava 3.300 dólares, fora os impostos. Com direito a 512K de RAM, um único drive de disquete de face simples e o monitor preto-e-branco de nove polegadas que os colecionadores elevaram à categoria de clássico.

Se Negroponte tivesse guardado os 3.300 dólares debaixo do colchão, mesmo sem considerar a alta do custo de vida e o quanto o dinheiro teria rendido na mais conservadora das aplicações, ainda hoje o guru do MIT poderia fazer uma bela farra nas lojas de computadores. O PowerBook G4, topo da linha de notebooks da Apple, sai por 3 mil dólares na loja virtual de fábrica, sendo que desta vez temos um micro totalmente portátil, com direito a visor de cristal líquido de 17 polegadas, mil vezes mais RAM que o Mac 512, disco rígido de 80GB, gravador de DVD, USB, FireWire, Gigabit Ethernet, Bluetooth, 802.11g e outros aperfeiçoamentos e características novasem que Negroponte tascou a pecha de mais caras (desnecessário entrar nos detalhes do pacote de software que acompanha o PowerBook G4; consultem
www.apple.com).

É dinheiro demais por um computador? A mesma loja está recheada de opções mais baratas, provavelmente de custo/benefício superior. Certo, mesmo, é que naqueles tempos Negroponte investiu bem ao trocar seus dólares por um computador capaz de se pagar várias vezes um aspecto do valor da informática que as análises ideologicamente enviesadas fingem que não vêem -- mesmo que, antes disso, tivesse se consumido em interrogações diante das vitrines: por que os computadores são tão caros hoje em dia? (Boa pergunta. E no tempo do cartão perfurado eram mais baratos?).

Há um único motivo para o Mac 512 hoje não custar nem 10 dólares: desde os anos 80 a Apple lançou dúzias e dúzias de novos Macs cada vez mais poderosos. O que ocorre com os computadores da Apple se repete, no mínimo, com o mesmo ímpeto no mundo dos PCs e estes ainda são mais baratos que Macs comparáveis. A perda de valor de computadores antigos desafia qualquer cálculo de depreciação (http://idgnow.terra.com.br/idgnow/business/2003/09/0062), para a felicidade dos caçadores de pechinchas. Mesmo que não seja economicamente viável ao usuário típico comprar o topo de linha, a mera existência de um produto mais avançado puxa inexoravelmente para baixo os preços dos modelos anteriores. Todos saem beneficiados: uns consumidores conseguem máquinas mais poderosas, outros atingem acesso a máquinas mais baratas. Mas acredite: no fundo, no fundo, parar com esse movimento o mais rápido possível deve trazer ao usuário algum benefício que Negroponte não ousa revelar...

Não apenas os computadores não ficam mais caros ao longo do tempo (muito pelo contrário) e as máquinas Intel/Microsoft não são menos acessíveis do que as da concorrência, como as próprias Intel e Microsoft têm competidores tidos e havidos como mais baratos e seguros. A Microsoft tomou conta de quase todo o mercado de sistemas operacionais para PCs. Como resultado de seu sucesso, atraiu concorrência. No início dos anos 90 o OS/2 estava muito bem posicionado para enfrentar a dupla DOS/Windows: era riquíssimo em recursos, oferecia estabilidade e funcionalidade e era um produto IBM. Como exigia grandes quantidades de memória RAM (um componente que passava por uma fase de escassez e preços altos), ficou para trás.

Mas por essa época começou a crescer sem parar uma oferta ainda mais vantajosa. Se o custo da licença de uso do Windows não compensa? O Linux não é cobrado, pode ser customizado à vontade pelos programadores, é compatível com diversas plataformas, roda bem até em micros relativamente defasados, não apresenta as falhas de segurança pelas quais o Windows é tão criticado e aceita milhares e milhares de programas igualmente grátis. Por estar cada vez mais útil e amigável, o Linux se aproxima de milhões e milhões de usuários inexperientes (não fosse a pressão de enfrentar o Windows, a história poderia ter sido outra; de qualquer forma, o usuário saiu ganhando).

O leitor desavisado, ao se deparar com a entrevista de Negroponte, deve pensar que a Intel está sozinha no mercado e inventa chips novos num estalar de dedos ou, pior, tem uma fonte que jorra chips magicamente sem parar. Criar um novo microprocessador envolve estudos bilionários, e são consumidos outros bilhões para montar fábricas destinadas à vida curta: lançado um novo chip, é preciso começar (e gastar) tudo de novo. Por que a Intel se obriga a essa corrida estonteante? Se deixar a peteca cair, será superada pela AMD em pouco tempo. A AMD, que também mantém excelentes relações com a Microsoft, desde os anos 80 consegue a façanha de oferecer processadores centrais (no mínimo) funcionalmente equivalentes aos da Intel, só que mais eficientes e mais baratos.

O vaticínio de Negroponte de parar com esse movimento, se cumprido, daria uma folga monumental à Intel: bastaria manter a mesma fábrica produzindo o mesmo chip de sempre por dez, quinze, vinte anos, sem que os preços caíssem brutalmente, multiplicando o retorno do investimento - desde que fosse garantida a demanda pelo chip e eliminada a pressão tecnológica da concorrência. Como no futebol, a tática é brilhante, mas só falta combinar com o adversário.

É até razoável esperar de usuários comuns palpites como esse. Mas Nicholas Negroponte não é burro. Ele sabe com quem está falando, e quando fala, os donos do poder da tecnologia da informação escutam. Podemos tomar suas palavras como uma medida razoável do ponto a que chegou o conceito que faz a comunidade de TI do sucesso de uns e do fracasso de outros.

Xingar é fácil. Fazer comparações em bases honestas, por sua vez, parece uma façanha ao alcance de poucos.

segunda-feira, julho 25, 2005

Pow kra, pq adolescente escreve assim?

06/10/2003

Quer dizer, não é só o adolescente, mas hoje o internauta típico faz tudo para se nivelar à molecada. Inclusive nesses escritos incompreensíveis que empesteiam os blogs e as salas de bate-papo. Um modismo recente no mundo brasileiro dos blogs é a visitação aos últimos escritos online da menina de 15 anos que morreu pisoteada num show em Curitiba. Era um show "pela paz", ironicamente, conduzido por um punhado de bandas que conduzem à confusão mental e ao descontrole emocional. Não me acusem de explorar o cadáver da moça para detonar algumas bandas queridas dos ouvintes de FM. Não; o estrago vem antes de qualquer tumulto. E quem começou a revirar o blog da falecida não fui eu. Daquilo, não consigo ler mais de cinco palavras seguidas.

Não apenas não é um fato isolado, como já anotei uma série de "argumentos" relativistas que dão sustentação a essa barbaridade lingüística. Por exemplo...


Mito: Adolescentes imitam a escrita dos mais velhos, do tempo em que computador só acentuava precariamente (quando acentuava).Verdade: Éclaro que computadores antigos tinham muitos problemas com acentos. Pior ainda quando se trata de computadores interconectados: era pouco provável que o sistema X lesse os caracteres acentuados gerados no sistema Y. Então fazia sentido nivelar por baixo e eliminar os acentos -- mas sempre a título precário, na falta de melhores recursos. Nada que justifique, hoje, com caracteres acentuados amplamente padronizados (suportados de forma consistente por todos os grandes sistemas operacionais), que os adolescentes deixem de acentuar por influência dos poucos usuários "daqueles tempos". A propósito, a questão dos acentos éapenas a ponta do iceberg. O que os adolescentes fazem é o extermínio total e geral de tudo que lembre ortografia. Quem os apóia nisso?

Mito: Adolescentes abreviam para ganhar tempo na digitação.Verdade: Digitação é técnica. Quem sabe digitar mesmo écapaz de escrever qualquer coisa por extenso, rapidamente, com naturalidade e sem esforço. Só que o aprendizado requer investimento de tempo, muita paciência, diligência e concentração. Quer dizer, conceitos estrangeiros para a maioria dos adolescentes. E depois acham que ser esperto e antenado é escrever "tb" em vez de "também"! O "povo popular", atéo que nunca viu um computador na vida, chamaria isso de "relaxamento" mesmo, mas não vamos entrar em detalhes.

Mito: Adolescentes só escrevem daquele jeito porque estão no ambiente informal do mundo conectadoVerdade: Ou uma variação ainda mais canalha: adolescente escreve daquele jeito porque não está valendo nota. Em qualquer vestibular surge uma montanha de redações absurdas como prova (no sentido mais amplo do termo) de que, na prática, a teoria é outra. De qualquer forma, não há o conceito de se escrever direitinho (nem é "escrever bem" estilisticamente) como meio de se fazer entender pelo maior número de pessoas, mas como ferramenta para se conseguir um diploma lá na frente! O bacharelismo continua em alta.

Mito: Adolescentes, como quaisquer usuários novatos, não aprenderam como se acentua.Verdade: Explicando melhor: se alguém ensinou, não quis aprender. Se aprendeu, achou irrelevante. Afinal, adolescente está sempre certo, não está?

*****

O que é spam? Faça o teste

Os colegas da imprensa especializada podem dar o palpite que quiserem, mas não há um consenso sobre o que faz uma mensagem ser considerada spam. Talvez seja mais fácil chegar a um denominador comum do que não seja spam. Os programadores podem inventar todos os filtros de mensagens que quiserem, mas o usuário-ser-humano não pode aceitar qualquer mensagem cujo remetente não possa responder a sério, sem tergiversar, a estas três perguntas: 1) Quem é você? 2) Quem sou eu para você? 3) No que a sua mensagem me beneficia?

Além de aumentar a consciência do usuário sobre o que presta e o que não presta na enxurrada diária de mensagens, o testezinho é perfeito contra vírus de email, correntes da felicidade e pirâmides de dinheiro. Estas, o escritor de informática John R. Levine, muito adequadamente, chama de vírus da ingenuidade.

Dejeto experimental

(já que o assunto é escrever, apesar das digressões retroinformatas, eis um post de 16 de dezembro de 2004...)

Uma das desgraças da minha vida acadêmica foi ter feito mesmo, não copiado-e-colado ou equivalente, meu projeto experimental em jornalismo. Era só um TCCzinho muito chulezento, muito distante de uma tese.

Fi-lo sobre BBS, em 1994, crente que algum professor fosse saber do que eu estava falando. Por que eu não traduzi aquele folheto da Compuserve e não juntei o documento oficial da FidoNet para compor um trabalho original? Em vez disso, passei as noites queimando as pestanas diante do monitor e os dias mendigando impressoras dos "muy amigos", pois impressoras que funcionassem estavam totalmente fora dos orçamentos meu e da faculdade.

Se tivesse investido na praia metade do tempo que desperdicei para tirar um 10 unânime, quando um 6 teria me conduzido ao mesmíssimo diploma, hoje seria bodyboarder profissional, ganharia mais que suas incelênças os professores, e ainda produziria mais vitamina D.

OK, não foi nenhuma façanha histórica defender meu trabalho diante da banca. Tive que esclarecer que não havia uma ética na pirataria em si, mas sim uma eticazinha entre piratas e piratas (uma série de leis não escritas, principalmente a que proibia vender programas "genéricos" para amigos). E tive que ouvir de um professor, no names, please, que era óbvio ululante o "fundo moral burguês" nos métodos do shareware/freeware como contraponto à tal ética pirata, pois o ambiente BBSiano era inexoravelmente burguês pelos motivos tão bem expostos nas páginas anteriores do projeto etc. etc. Depois dessa, nunca mais falei de burguesia a sério, nisso concordando totalmente com o Xandelon. Nas palavras, não no sentido, o refrão de Cazuza estava certíssimo: "burguesia" fede.

Por essas e outras, não me peçam para ler o trabalho. Descontando o estritamente factual, rejeito 95% do que ali está. Quando cheguei ao fim, já tinha sérias dúvidas sobre a linha condutora do início.

O relatório final da banca também recomendou a publicação do trabalho. Se foi publicado mesmo (em papel, nada de Internet ainda), não me avisaram nem depositaram os royalties. Escapei desse vexame.


Minha primeira placa de vídeo de verdade, 1994-2005

Não entram na conta a placa CGA (acompanhando o pavoroso e clássico monitor verde) que a precedeu, tampouco o sistema de vídeo do MSX mais antigo ainda. Pelo menos esta placa é VGA, tem a enormidade de 1 (hum) megabyte de memória e -- respirem fundo -- é Trident!

Comprá-la foi uma novela. Nada de estandes em Info-quaisquer-coisas em toda parte: era preciso passar o pente fino nos classificados, geralmente os do Balcão ou do Info Etc., marcar um encontro em local público e pagar em dólares -- era impossível calcular qualquer valor em dinheiro brasileiro, fosse qual fosse o nome da moeda. O amadorismo, no mau sentido, imperava: no mercado carioca, Pedro Macarrão e Gerson Rissin eram exceções que tinham lá seu preço, ou seja, um pouco acima do meu orçamento para placa de vídeo. Tive que correr certos riscos.

A primeira tentativa foi um fracasso. Uma anunciante de Niterói marcou para entregar a placa em minha casa à tarde. As horas se passaram (e a máquina parada por falta de placa), e nada. Lá pela meia-noite consegui que alguém atendesse o telefone (fixo). Alegou "imprevisto". Passei adiante e procurei outro anúncio de placa VGA usada com funcionamento perfeito. Isso mesmo, pessoal: em 1994 não podia esperar sequer uma zero-quilômetro.

Desta vez marcamos na entrada de uma estação de metrô, e o negócio foi fechado. Não me lembro do preço. O vendedor, ainda mais jovem do que eu, era um geek total, que se gabava de ter detonado meia dúzia de drives em todos esses anos nesta indústria vital de duplicação maciça de disquetes "protegidos" contra cópia. Ouvi as histórias como um espectador distante: meu primeiro drive de 1,44 MB só seria comprado meses depois... A placa veio com um manual, que ainda deve estar por aí, e um ou dois disquetes com drivers (para programas em DOS), logo esquecidos por desnecessidade.

Mas a placa funcionava? Para os efeitos mais modestos, sim. Em DOS era uma maravilha. Em Windows, só em Super VGA, ou seja, tristes 256 cores em resolução 800 x 600. Mas foi usada até 1997, quando já era o fator número 1 a prejudicar o desempenho global do Windows 95. Ainda foi aproveitada em outro computador (não meu), substituindo uma placa ainda pior. Não me lembro exatamente quando foi retirada de uso. Guardei a relíquia no armário por vários anos. Ontem já joguei dúzias de componentes informáticos inservíveis ou sem valor de mercado; hoje foi o fim para a placa. A foto (que, na verdade, foi feita com scanner) é o último registro. Amanhã o zelador vai recolhê-la. Não será surpresa se, ainda amanhã, alguém encontrá-la à venda na calçada nas primeiras quadras da Rua do Catete.

Só para refrescar a memória: esta foi minha primeira placa VGA, que nunca foi grandes coisas, instalada especificamente para fazer funcionar um deplorável monitor preto-e-branco Videocompo que queimou nove meses depois. Chega de usar as tintas da subjetividade (não quero saber quanto ganhava um analista de sistemas em 1978) para pintar de rosa os tempos que se foram. Informática retrospectiva honesta é aquela em que você admite que era triste e não sabia.

domingo, julho 24, 2005


É preciso amar os óculos de sol "genéricos".

sexta-feira, julho 22, 2005

Ainda o RH

(nada de acentos)

Na corrida do ouro pontocom o departamento de Recursos Humanos aparecia mais na saida do que na entrada. Numa situacao de demanda maior que a oferta, prevalecia a subjetividade do "quem indica" e do notorio saber, algo estranho para um setor acostumado a jogar pelas regras do tempo da maquina de escrever. E´ verdade que o RH continuava a receber pilhas e pilhas de CVs (impressos mesmo), mas o que fazer com eles? Como destacar "anos e anos de vivencia" numa ferramenta inventada anteontem? E se o candidato mesmo nao tem anos e anos de vida? Na falta de aplicabilidade de criterios objetivos de selecao, ai' incluidos os resultados "objetivos" de mapas astrais e exames grafologicos, o maximo que podiam fazer era carimbar as escolhas do andar de cima do organograma (peneirando, quando muito, os criadores de caso e os viciados escandalosos) e armar um programa de apoio para quem for ejetado nas vacas magras. Ai' e' que se separavam os RHs bons dos RHs enroladores-auto-ajudantes.

Mas nem sempre era assim tao facil. Na mais pura tradicao do controle da peaozada, o meio mais simples (leia-se: menos trabalhoso para o RH) de se admitir uma grande quantidade de novos funcionarios e' impor um contrato-padrao. Mesmo que, nessa galera toda, nao haja um unico Fulano que tenha as mesmas atribuicoes funcionais de Sicrano. Recebi um desses ao entrar no iG. Dizia alguma coisa do tipo "O uso de qualquer software que nao tenha sido previamente autorizado pelo pessoal de Sistemas e' terminantemente proibido, implicando em demissao por justa causa". E eu estava no iG para testar jogos. Entenderam? Ou eu seria mandado embora no ato do exercicio das atribuicoes naturais do meu trabalho, ou o contrato ja' nascia como letra morta. E como conhecedor da matreirice alheia, algo que definitivamente vem de beeeeeem antes da era da internet, sei que detalhes contratuais nada tem de triviais.

A porta do Céu

Outro comentário do leitor:

Haverá uma brecha para um Relações Públicas? E para o temido pessoal dos Recursos Humanos?
Não sou anônimo por má vontade; é que não consigo me registrar aqui. Bom, se essas perguntinhas forem inoportunas, é claro que você não precisa responder, muito menos com um post inteiro. Um abraço.


O pessoal do RH vai entrar, sim. Nem tanto como "temido" quanto como refém das trapalhadas decorrentes da burocracia. Disso posso falar de experiência própria, em outro post...

Mas não posso fugir muito dos elementos humanos essenciais à trama, sob pena de a escalação dos personagens parecer aquela brincadeira "quem é que entra no Céu?". :-)

quinta-feira, julho 14, 2005

Dia 14: comentário do leitor anônimo e os doidões virtuais

Deve ser inevitável, nesse seu livro, falar de algum publicitário muito arrogante, cool e feliz. Se é para retratar a realidade, não dá para colocar um sujeito todo ranzinza, triste e hipocondríaco. Entretanto, seria interessante se, de alguma forma, no boom da época, um publicitário desse prosperasse.

Sim, os publicitários construíram a cara da euforia pontocom; de certa forma, eram as personificações do entusiasmo e do futuro brilhante que prometiam.

Mas, acima de tudo, a explosão dos negócios foi conduzida por raposas felpudas de várias espécies, sem privilégio para os publicitários. Gente matreiríssima. Alguns até chegavam a ser espertos demais para se viciar em aditivos químicos que os fizessem parecer sempre sábios, bem-falantes, espontâneos e "para cima". Ainda assim, era preciso seguir os modelos "certos" de comportamento, parecer doidões -- ainda que virtualmente -- para impressionar as pessoas "certas".

Em outra situação, poderia tirar bom proveito da guerra de egos entre publicitários, em especial, e entre aqueles que mostram que sabem vender de verdade contra os que fazem firulas para mascarar sua suprema incompetência, em geral. Aí, sim, o sujeito ranzinza e hipocondríaco pode se dar bem. O problema é que, no tempo restrito em que se passa o romance, não haverá tempo para isso.

A empresa pontocom do romance tem uma cúpula. Os membros do conselho batalham pelo êxito da empresa. Em seu íntimo, uns acreditam sinceramente na mudança de paradigma da "nova economia"; acham mesmo que o futuro os fará justiça. Outros sabem que tudo não passa de um modismo, mas devem gerenciar o sucesso da melhor maneira possível enquanto estão na crista da onda. Independentemente das facções, um deles é criminoso. Quem? Perguntem-me... ou leiam o livro quando estiver pronto.

Abaixo deles, um exército de funcionários está igualmente dividido. Uns têm fé no que fazem, acham que a bolha não vai furar e sonham em fazer carreira no mundo pontocom; outros estão naquela só para aproveitar os salários (astronômicos para quem sempre dependeu de mesada) e tirar onda. Parece uma questão religiosa? E é mesmo.

Dia 14: A Gamecorp e o livro

Ou a história da Gamecorp está muitíssimo mal contada, ou estamos começando a enxergar em 2005 uma nova bolha de conteúdo pontocom.

terça-feira, julho 12, 2005

quinta-feira, julho 07, 2005

Dia 7: Atentado

Londres? Não, Rio de Janeiro. Estou bolando para o livro vários atentados possíveis -- nem todos serão aproveitados, mas de antemão é bom saber que em se tratando de Rio de Janeiro nem o maior terrorismo imaginável pareceria algo diferente de um "simples" crime.

Dia 6: Definitivamente, romance na bolha

Escrever O Grande Romance Da Bolha Pontocom seria muita pretensão para tão pouco tempo (meu e dos leitores) e espaço. O período é um pano de fundo, não a coisa em si. E tratar da bolha supõe um julgamento prévio das loucuras de toda uma era. Isso os leitores não encontrarão. Tenho meu próprio conceito sobre o que foi o período de otimismo exagerado que começou mais ou menos no IPO da Netscape, sem menosprezar qualquer outro IPO daquele tempo, atingiu os píncaros da loucura na fusão AOL-Time Warner e começou a desandar quando a desconfiança em relação à Microsoft, alimentada há longos anos, passou a ser acatada por certos homens de toga. O índice da Nasdaq era um termômetro; não conduzia as forças imponderáveis do universo sobre o mercado, mas apenas as revelava. Era algo perto do impossível que um juiz federal americano gastasse tinta -- a sério -- contra a maior potência do software e o mercado não desse um pio. No entanto, falar dessa influência parece ainda hoje uma doutrina herética.

terça-feira, julho 05, 2005

Dias 3, 4 e 5: more food for thought

"A bolha das dotcom foi causada em grande parte pela crença idiota de que o mecanismo de "branding" iria continuar funcionando tão bem na Era da Informação quanto o fez na Era Industrial que a precedeu. O Venture Capital estava enebriado por "branding" quando depositou bilhões de dólares em companhias sem nenhum valor mandando-as queimar a grana no mercado. Queimando dinheiro, os VCs pensaram, era a única forma de criar "valor de marca" (brand value).

Mas a Internet mudou o mundo completamente. Foi uma receita de asteróide a dinossauros. Mas ao invés de tirar proveito das novas condições criadas pelas rede, os VCs e seus beneficiários decidiram estimular a menos viável condição dos dinossauros: tamanho e dominância. Pior, pensaram que a Nova Economia significava o lado deles do mercado - que era uma questão de oferta e não de demanda. Então se tornaram obcecados com "desintermediação" e "cadeias de valor" mais curtas. Tomaram-se de luxúria pela preposição "to", e queimaram incontáveis bilhões de dólares em opções de empresas com um "2" no meio. Entretanto, os clientes se tornaram mais ariscos do que nunca. As escolhas continuaram a crescer ao ponto deles mesmos desenvolverem suas próprias "soluções" para todos os problemas que os fornecedores obcecados por "branding" falharam em solucionar.

Os tecnólogos estão na liderança deste movimento oferecendo, e escolhendo, mais coisas que simplesmente realizam o serviço melhor do que outras coisas - ou coisas que fazem o serviço tão bem e por menos dinheiro.


*****

Não sei se vocês se lembram disso, mas em 2000 um imbecil trocou seu nome para DotComGuy, passou um ano inteiro trancado dentro de casa comprando merda pela internet, vigiado por webcams e todo mundo ouviu falar dele. Só que no meio de 2000 a bolha estourou, os patrocinadores desapareceram e quando ele efetivamente saiu da casa, neguinho estava cagando e andando para ele. O otário se fodeu bonito.

Como tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, algum imbecil teve a idéia de reproduzir a idéia para promover o cartão E-card do Unibanco. Por 99 dias, uma e-moça e um e-moço, escolhidos por concurso na Internet, iam ficar trancados em um apartamento cada um (comportadinho - ia pegar mal se eles começassem a foder como um casal de hamsters em frente às webcams), sendo visitados por celebridades e fazendo compras na internet. Que máximo, hein?

Foi um grande evento do mundo pontocom, todo mundo comentou. Nossa, que maravilha. Precursor no imaginário popular desses Big Brothers da vida.

E agora fiz uma descoberta estarrecedora: a e-moça trabalha como estagiária aqui na empresa.

Isso deve significar alguma coisa, não sei bem ainda o quê.

domingo, julho 03, 2005

Dia 2: afinal, qual é?

Um livro sobre a bolha pontocom ou vivido na bolha pontocom?

sexta-feira, julho 01, 2005

Dia 1: Para começar, umas palavras de otimismo

Copiado-e-colado daqui, onde podem ser deixados os comentários cabíveis.

UM PAÍS SE FAZ COM LIVROS E SAMBAS

A indústria dos livros, editoras, livreiros, escritores etc brasileiros se comportam como os maiores loosers da história. Parece aquele sambista que só faz samba a respeito do samba, de como o samba é maravilhoso, do quanto o samba é fundamental para a felicidade dele etc. É um tal de projetos e campanhas para que as pessoas leiam mais e vejam menos tv (quando o ideal seria que melhorassem a programação da tv). É um festival de incentivar as pessoas à leitura, de louvar as vantagens da leitura, da leitura como panacéia, que parece mesmo é coisa de desesperado. Como se o povo não soubesse como fazer para saber as coisas. Para aprender profundamente alguma coisa todo mundo sabe que deve recorrer aos livros e estudá-los. O problema é que estudar é chato, chato, muito chato. Na prática, o que fazem é pedir que as pessoas façam algo chato e isto não se faz, pelamordedeus. Já eu não entendo por que alguém perderia dois meses lendo um livro se pode ver a mesma história no cinema em duas horas. Preferir ler O Senhor do Anéis a ver o filme é um tipo de tara por leitura que demanda tratamento psicológico. Estudar, digamos, orquestração, justifica a compra de um livro. Mas para meramente conhecer uma história que o Paulo Coelho (ou qualquer outro) inventou, putz. Não se deve gastar dinheiro com esse tipo de campanhas, não acredito que convença o povo a fazer essa coisa chata que é sair da frente da tv. Livro não enguiça, mas também não se zapeia. Livro é monótono. Quem se viciou em leitura e adora ler é por que faltou algum parafuso ou convite para sair quando estava na puberdade. Um ser humano normal prefere ver tv ou ir pra balada.

quinta-feira, junho 30, 2005

Projeto Romance da Bolha, dia 0

Amanhã, 1º de julho, o dia 1, e assim por diante. todos os comentários cabíveis sobre o processo de criação serão postados aqui.

Projeto Romance da Bolha, dia 0: qual o título?

Preciso de um título provisório para o livro. Só para que os leitores deste blogzinho saibam do que estou falando (também no Multiply, breve no Orkut). Alguma sugestão?

quarta-feira, junho 29, 2005

Acabou a brincadeira

(texto intencionalmente sem acentos)

Voce sempre achou que neste blogzinho faltavam atualizacoes, faltava conteudo e, antes de tudo, faltava foco? Voce estava certissimo o tempo todo. Estava.

Chegou a hora de (re)orientar este espaco virtual rumo a um projeto util -- e com a sua participacao!

Ao dobrar da esquina do segundo semestre, comeca o projeto do romance da bolha pontocom.

Romance? Isso ai': em todos estes anos nesta industria vital, nunca publiquei livro algum. Dei um apoio "espiritual" 'a distribuicao e PDFizacao de "Sangue em Pastopolis e Pato ao Molho Pardo", do meu amigo Salomao Gladstone; de qualquer forma, folhetim e' folhetim e romance e' romance, e nao houve mesmo uma versao tradicional impressa.

Bolha pontocom? Nao exatamente, mas vale a frase de efeito. A corrida do ouro da especulacao interneteira, que comecou mais ou menos no tempo do lancamento das acoes da Netscape, passou batida pelo "fim do mundo" de agosto de 1999 e desconheceu qualquer desastre na virada do ano 2000. Mas o triunfo dos geeks nao iria muito alem: meses depois a Nasdaq atingiu seu pico e o mercado de internet foi gradualmente reconduzido a avaliacoes realistas (nao preciso entrar nos detalhes historicos que provavelmente voces conhecem melhor do que eu).

Pois o romance sera' vivido no auge da euforia: comeca em dezembro de 1999 e acompanha a escalada das acoes -- enquanto ha' escalada.

O local: Brasil, especialmente Rio de Janeiro. Ja' sei: "Essa e' a maior ideia de jerico que ja' encontrei em todos os relatos da bolha pontocom! O Brasil e' um quase nada na informatica mundial e o mercado brasileiro e' feito de Sao Paulo, Sao Paulo, Sao Paulo e umas filiais sem importancia."

Pode ser, mas o desenrolar da historia mostrara' que havia serios motivos para se manter uma -- ao menos uma! -- grande e promissora empresa pontocom no Rio, quando praticamente todas as outras estavam em Sao Paulo ou foram conduzidas ao paulistocentrismo pela dinamica dos negocios.

O centro da acao e' o negocio de internet daquele momento, resultado da fusao do maior provedor carioca, um nome tradicional desde o tempo do BBS, com um portal-revelacao, criado no fundo do quintal por um menino-prodigio, que em poucos meses se tornou o queridinho dos investidores (em 1999 o Brasil ainda estava razoavelmente alheio 'a politica de portais). Conduzindo a fusao, o brasileiro que se tornara uma das maiores raposas de Wall Street.

Mas a história tem muito mais do que negocios. Aguardem...

terça-feira, maio 31, 2005

Momento Carangos e Motocas

Ja' tinha mostrado meu espanto com o completo insucesso da Europa continental (nao contando o Reino Unido, portanto) em lancar uma plataforma de computadores notavel. Charles Cooper, que nunca ouviu falar deste humilde blog ou do artigo em que resumi a questao (http://www.diegocasagrande.com.br/main.php?flavor=artigos&id=1414), nao trata de computadores na Europa toda, mas da industria de tecnologia (em geral) na Franca (em especial). De qualquer forma, valem as sabias palavras da motoquinha pentelha do desenho: "Eu te disse! Eu te disse!"

http://news.com.com/What+is+it+about+the+French/2010-1071-5722277.html?part=dht&tag=npro&tag=nl.e433

domingo, maio 22, 2005

Olá

Não se esqueçam de mim.

segunda-feira, abril 25, 2005

E-business: Fotolog.net é um caso perdido

Se o Fotolog.net precisava de uma injeção de recursos e a conseguiu, sorte a dele. Mas é um exemplo que devemos torcer para que seja isolado.

O Fotolog.net não merece investimentos. Seu modelo de negócios está condenado. Não se pagava e continuará não se pagando. Mantido o modelo atual, os sócios capitalistas jamais verão seu dinheiro de volta. Trazido à racionalide, os usuários virarão as costas em busca de outro banquete grátis.

Já não sobra dinheiro como no tempo da bolha pontocom. Mas uma coisa não mudou desde o milênio passado, como mostra o caso Fotolog.net: em Wall Street o alcoolismo continua epidêmico.

O Fotolog.net começou muito bem, fazendo seu nome com o fornecimento de um serviço bem-vindo. Virou um sucesso estrondoso no Brasil, mas isso está longe de ser um problema. Se a participação de uma dada nacionalidade é proporcional ao número de câmeras digitais entre a população, o Brasil vai bem, obrigado, e os muambeiros merecem uma estátua. Segundo certos críticos, fotologs servem bem a internautas brasileiros porque não é preciso saber ler nem escrever :-), mas o problema real é outro. Como ocorreu com o Orkut, o Fotolog.net formou um ambiente de usuários que tende a atrair gente ruim e espantar gente boa. E o Fotolog.net está ainda mais vulnerável à concorrência.

O site de fotos nunca teve muita capacidade para atender à massa de usuários. O limite do banquete grátis ficou evidente: o Fotolog.net começou a restringir os horários de postagem de imagens e vender contas Gold Camera. Fotologueiros brasileiros protestaram raivosamente contra as duas medidas, tidas como uma conspiração da empresa (e dos americanos, dos ricos e dos caucasóides) contra as santidades latino-americanas que escrevem "pow kra blz vlw" -- não me estenderei sobre o assunto, pois Cora Rónai já o fez melhor que eu.

Uma reclamação, porém, fazia sentido: só podia ter conta Gold quem tivesse cartão de crédito internacional. O Fotolog.net solucionou o problema associando-se ao Ubbi, permitindo pagamento em reais. Revolta geral contra a aliança multinacional mercenária que enche as páginas de banners chatos. Vá entender cabeça de fotologueiro.

Como no Orkut, verificou-se o comportamento padrão da molecada interconectada: a demanda por serviços grátis como direito de nascença combinada com o desejo infantil de auto-afirmação diante de supostos poderosos. Imaginam que, quando o fotologueiro coletivo chama a atenção num site de fotos, é o próprio Brasil que se faz presente, e quando incomoda o Fotolog.net pela presença maciça, são os Estados Unidos que se curvam ao impávido colosso.

É dessa gente, não de outro público trazido do espaço sideral, que os sócios do Fotolog.net terão que tirar o necessário retorno do investimento, vendendo contas Gold ou veiculando publicidade. Mas o usuário típico não aceita pagar um centavo e odeia anúncios. Ou os investidores sabem disso e esperam ganhar no volume, ao ritmo da orgia especulativa de tempos que se foram, ou ignoram totalmente o tamanho do abacaxi que terão que descascar.

Aguardem grandes mudanças no Fotolog.net. Por via das dúvidas, comecem a pesquisar outro site para suas fotos.

domingo, abril 24, 2005

Abrindo o Baú (II): Mais carnaval

Como em Hollywood, onde não se inventa mais nada há tempos, muitas escolas de samba do Rio estavam doidas pela liberação dos remakes. Desculpem o termo em inglês, mas não havia precedentes carnavalescos. O problema é que conseguiram o que queriam, mas não tiveram a menor idéia do que fazer com a liberdade conquistada. Ou se deram conta de que, mais do que uma besteira total, a idéia envolvia um risco. A Mangueira poderia trazer de volta aquele enredo da Abolição de 1988, que caiu no total esquecimento porque perdeu por meio ponto para a queridinha da vez da esquerda afro-carnavológica (não que o enredo da Mangueira não fosse suficientemente "social"), a Vila Isabel em seu único campeonato até hoje. Ou os mendigos do Joãosinho, 1989, desfile que ganhou bons pontos morais entre a intelligentsia porque cumpriu sua cota de zombaria à Igreja sobre um pano de fundo incontestável, símbolo que se revela toda vez que vou caminhar no Parque do Flamengo: o Rio de Janeiro é um mendigo com vista para o Pão de Açúcar. Remontar esses enredos provaria que a Mangueira foi roubada em 88 ou armaram contra a Beija-Flor (ou a pessoa do Joãosinho, pouco importando a escola de samba) no ano seguinte? Desfile é feito em consoância com seu tempo, para aquele determinado ano, para uma escola que tinha um certo status diante das concorrentes. E é sem romantismo que afirmo: desfile é experiência única. Quem esteve na avenida, viu; quem faltou, sempre pode assistir aos repetecos. É um espetáculo bom de TV, mas só os turistas gringos parecem se interessar pelo compacto dos desfiles em DVD. O fã típico não está nem aí para exular os erros e acertos de desfiles pregressos. Daí para "formatar" o passado, como pretendem os papas da carnavalice, em favor de um remake que ninguém sabe se vai emplacar é um delírio muito grande. Tragam de volta, sim, sambas que façam sentido, sejam fáceis de cantar e não castiguem a bateria.

Abrindo o baú (I): Para que não digam que só se fala de carnaval na véspera

Enredo de escola de samba não deveria homenagear os vivos. Quer dizer, a picaretice oportunista deveria ser auto-evidente, mas a "voz do morro" sempre tem razão, cala-te boca. Em 2004 Xuxa foi a "vítima". Não quis saber de referências a seus casos com Pelé e Ayrton Senna. evidentes para qualquer criança que saiba tomar sorvete sem melar a testa, até hoje motivo de mil piadas. Mas nada haveria de mais carnavalesco na biografia da Xuxa do que aquele filminho que agora ela finge que nunca existiu (se o deixasse liberado, hoje teria caído no completo esquecimento).

segunda-feira, março 28, 2005

quinta-feira, março 24, 2005

Da não-trivialidade da falta do eurocomputador

Voltando ao assunto de 11 de março. Passei o pente fino no Old-Computers.com e achei coisíssima nenhuma que pudesse desmentir a afirmação: a Europa continental ainda não lançou um sistema de computadores bem-sucedido. Voltarei ao assunto.

Hoje mesmo, 24 de março

Dez anos de minha formatura. Minha única formatura.

segunda-feira, março 14, 2005

e-mail via celular

A novela ja tem o inconfundivel odor de farofa azeda. Sol nao conseguiria visto nem pro Paraguai.

sexta-feira, março 11, 2005

A Europa continental já lançou um sistema de computadores bem-sucedido?

Essa não é uma questão trivial. Sozinho, o Reino Unido emplacou uma série de sistemas, principalmente na era oito bits, tanto para consumo interno quanto para exportação. Linus Torvalds começou num deles, o Sinclair QL, que nem foi exatamente um sucesso.

Onde estava a potência econômica, política e cultural do resto da Europa (dispenso especulações do tipo "Reino Unido não é Europa") na realização de seu próprio sistema de computadores, unzinho que fosse, quando havia a janela de oportunidade para tal? O problema não era de falta de demanda: os euro-usuários abraçaram avidamente plataformas estrangeiras, pela porta da frente (no Ocidente) ou através da clonagem deslavada (no lado de lá da Cortina de Ferro).

quarta-feira, março 09, 2005

Pensamento do dia

Severino Cavalcanti não deve ser assim tão mau. O MR-8 o ama.

terça-feira, março 08, 2005

Por que não há mais abertura do Fantástico?

Quer dizer, nem do Fantástico, nem da maioria dos programas. É o que veremos.

sexta-feira, março 04, 2005

Anos Oitenta, ainda (II)

... E volto ao assunto. Enquanto os autores do Almanaque erguem altares aos elementos consumíveis que, por experiência própria, mexem com o moleque travesso do subconsciente, passam batidos por muitos outros. Não é que os tenham cortado de vez: são citados, sim, mas de raspão, praticamente em listas nominais (pior ainda, difíceis de ler naquela fonte e naquele formato), e sem que ninguém precise nem entrar no mérito de sua importância para o conjunto da obra. Não há escassez de cobertura sobre Xuxa e Menudo, com justíssima razão. Computadores brasileiros de oito bits, empulhações pirateiras que poucos meninos ricos tiveram, merecidamente não receberam mais de uma página, por mais que protestem os colecionadores fanáticos. Mas nem mil páginas sobre os discos de ouro da Rainha dos Baixinhos, nem a supressão total da menção aos micros nacionais, supriria a grande lacuna do livro: o picadinho de lembranças não consegue formar um conjunto que desenhe uma Cultura (não a TV desse nome) oitentista. Por isso é que os elementos não passam de consumíveis. Como se surgissem do nada, aparecem na História dos humanos quando o leitor saudosista se entende por gente (é o tempo em torno do umbigo) e "acontecem" nos anos 80 na medida em que têm algo como um prazo de validade -- o vinil é desbancado pelo CD, as meninas passam da idade de brincar de boneca, Armação Ilimitada é cancelada etc.

Em resumo, a geração que sujava as calças no jardim de infância nos anos 80 atinge poder de decisão e poder de compra. O que essa turma lembra daqueles tempos? Como se lembra? E o que a leva a crer que o universo se resumia àquilo?

Se tivesse que encarar a sério essas perguntas, o Almanaque não tiraria tantas edições.

quinta-feira, março 03, 2005

Anos Oitenta, ainda

Agora, sim, não posso ser acusado de fazer juízo sobre o Almanaque Anos 80 sem ter o livro (obrigado, Xuzinha!). Os errinhos de revisão foram o penúltimo problema da obra: muitos dos quais os não-cariocas nem perceberam. É preciso reconhecer o esforço dos autores, não somente em juntar um monte de lembranças e figurinhas da tal década perdida, mas em editá-las como um retrato inconsciente do etos nacional de hoje, que é o mesmo dos anos 80 e já então era velho a perder de vista. Primeiro, os autores só se lembram de coisas fofas que cercavam seus umbigos. Ainda estou para ver um livro saudosista-oitentista lembrando do tempo em que grandes luminares de segundos cadernos acreditavam (e faziam a galera acreditar) que a União Soviética era uma realidade eterna e inderrubável. E mesmo no conjunto das coisas fofas eles são altamente seletivos: exaltam uns itens sem quê nem porquê, ainda que nem sejam tipicamente anos 80, desde que despertem as reações certas nas pessoas certas ("Eu vivi nos anos 80 e tinha"). Depois tem mais...

quarta-feira, março 02, 2005


Sorria! Posted by Hello

terça-feira, março 01, 2005

Não posso elogiar

Pelo menos uma coisa boa do Blogger nos últimos tempos: o BlogThis!. Rapidinho e funcional, tudo que a interface "normal" de publicação do Blogger sempre quis ser antes de matar o usuário de tédio. Como o Blogger já era lento no tempo pré-Gúgol, o esperto Marcelo Cabral inventou o programeto W.Bloggar, que continua funcionando maravilhosamente bem, exceto que nem sempre os posts saem publicados exatamente em tempo real, se é que você me entende...

Utilidades para a tecla SAP

Na entrega do Oscar, o SAP da Globo silencia Renato Machado, Elisabete Hart e José Wilker. Isso é que eu chamo de marketing às avessas. Pensei que a TV a cabo existisse para etc. etc.

E não há SAP para amordaçar o Galvão?

Callithrix jacchus

Descobri o nome do bichinho fofo da sessão fotográfica de posts anteriores. Mais conhecido como sagüi-de-tufos-brancos. Não é espécie nativa. Costuma ser comprado, clandestinamente, é claro, no Nordeste, quando ainda é um bebê-sagüi dócil, bonitinho e adorável. Trazido para o Sulmaravilha, o bicho costuma ser dispensado pelo dono quando atinge a adolescência (o bicho, não o dono), pois fica barulhento, hostil e malcheiroso.

Enfim, o sagüi é muito gente.

Breve, mais fotos da espécie menos selvagem que passa pela janela de casa. Adolescente ou não, o Callithrix jacchus não canta funk em altos brados, não cheira solventes, não grita vinte vezes a mesma frase na esperança de que o interlocutor a entenda, não suja a rua, não anda em grandes e temíveis bandos, não gosta de se mostrar à toa.

sábado, fevereiro 12, 2005


Da série "Monumentos da Indústria Nacional". Posted by Hello

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Down with Primitivism

Enquanto Aldo Rebelo e sua turma permitirem, leiam, leiam, leiam.

Astrologia

Neguinho superestima o que só conhece de uma coluna de segundo caderno.


Mas com uma certa paciência consegui até que ele olhasse para a câmera! (atenção, patrulha politicamente correta: o animal das fotos NÃO me pertence e este blog NÃO se destina a oferecer animais selvag... digo, silvestres para laboratórios de biopirataria) Posted by Hello


As fotos foram tiradas da janela de casa. O animalzinho é muito arisco; clicá-lo paradinho foi uma façanha. Posted by Hello


ATRAIA AUDIÊNCIA AO SEU BLOG: MOSTRE UM BICHINHO FOFO
Já que todo mundo faz isso, por que não eu? Posted by Hello

terça-feira, fevereiro 08, 2005


NOVA ORLEANS - Torcedores do Império da Casa Verde ocupam as ruas numa enlouquecida comemoração em estilo franco-americano da vitória de sua escola de samba favorita. A farra anual, chamada por analistas franceses de "terça-feira gorda", já está se tornando uma tradição de Nova Orleans, sempre coincidindo com o dia da apuração das notas do Grupo Especial paulistano. Posted by Hello

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Gringos são um bando de lixos humanos depravados recheados de dinheiro

Venha ao Rio de Janeiro! Seja estigmatizado pelos nativos por sua raça (como no nazismo, só que, desta vez, contra os caucasóides), por sua nacionalidade (como no fascismo) ou por sua classe relativamente endinheirada (como no comunismo). Veja como a raça/nacionalidade/classe aborígene fará tudo para juntá-lo com belos(as) garotos(as) e separá-lo de sua sagrada moeda forte. E, depois que seu dinheiro acabar, seja atirado na Baía de Guanabara, destino de tudo que é lixo.

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Tá gordo(a)

O site de um grandíssimo banco brasileiro pede donativos em dinheiro para a tsunami. Digo, lá saiu "o" tsunami.

Donativo para o(a) tsunami. Entenderam? Qual é a conta corrente da onda gigante? E como ela faz para movimentar seus fundos, no bom sentido, é claro?

E, a contar pela solidariedade internacional, um cearense veria a riqueza do(a) fenômeno(a) da natureza e diria: "Tá gordo(a)".

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Cegos, surdos e mudos

Diferentemente do que o Itamaraty imagina dos candidatos ao Instituto Rio Branco, eu ficaria tristíssimo se só soubesse português na minha vida. Receberia docilmente as engabelações dos tradutores de filmes sem qualquer argumento para contestá-las. Leria o que estivesse nos catálogos dos editores brasileiros, uma maçonaria onde esquerdismo é requisito, e não leria o que os desagradasse. Teria chances reduzidas de conversar com outras gentes, de outros povos, de pensamento diferente do unanimismo imperante na Pátria Amada. No mundo dos computadores, em geral, e na Internet, em especial, mal posso imaginar a desgraça. Portais anacrônicos e confusos, nivelados por baixo em seu noticiário apelativo e tendencioso, coligados a sites dolorosamente superficiais e amadorísticos. Isso quando se sabe português. Faz tempo que a língua oficial do Brasil se tornou opcional onde os brasileiros tomam conta: salas de bate-papo, blogs, fotologs e Orkut, não necessariamente nesta ordem. O dialeto do "pow kra blz vlw", ostentado com a soberba dos caipiras chiques, leva às cambalhotas o sofisma do pensador marxista que sempre convenceu meio mundo de que elite "fala bem" e computador é coisa de elite.

Da mesma forma, o "dom das línguas" tem pouco a ver com poder ou riqueza. Em certo período, trabalhei prestando serviços redacionais ao departamento de marketing de uma grande distribuidora de sistemas de informática megacorporativa. Só clientes enormes: bancos, indústrias, redes de lojas. O logiciário vinha dos Estados Unidos, dificilmente em alguma língua diferente do inglês. Mas o material de marketing para vendê-lo tinha que ser escrito em português irretocável, o que demandava um grande trabalho de tradução. A distribuidora conhecia melhor do que ninguém o nível lingüístico de seus clientes e admitia tacitamente que os tomadores de decisão da informática brasileira, responsáveis pela aquisição de sistemas de milhões, não tinham fluência suficiente na língua que toda empresa exige de qualquer candidato a auxiliar de escritório.



quarta-feira, janeiro 26, 2005

Resende Blues

Você sabe que está em Resende quando, às cinco para as onze da noite, um carro com cinco pessoas pára em frente a um restaurante e o garçom atravessa a rua para dizer à galera: "A cozinha já fechou. Podem ir embora daqui!"

FAQ de Resende: 1) Sim, é Estado do Rio. 2) Uns 200 km da capital carioca, uns 300 km da capital paulista. 3) Penedo, Itatiaia e a fábrica da Volkswagen ficam em outros municípios. 4) Sim, estão fazendo uma bomba atômica em Resende, e daí? Morei lá full time dois anos e meio e estou mais preocupado com as armas de aporrinhação em massa.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Malditos argentinos!

Chega de crucificar os hermanos por alguma coisa relativa a água, doping e 1990. Os argentinos salvaram a Copa da Itália.

Provavelmente aquela malandragem da água que Branco não bebe foi a única coisa divertida daquele Mundial, o maior fiasco da seleção brasileira em meu tempo de vida, até porque ao som daquela musiquinha nojenta ("papa essa, Brasil, papa essa, Brasi-illl...") não se ganharia nem um campeonato de totó/pebolim. Em tempos de Plano Collor, as agências de viagem ofereceram zilhões de pacotes turísticos/futebolísticos que ninguém podia comprar. Uma chave importantíssima, terminou a primeira fase em total empate, decidida no sorteio.

Há quem diga que a Copa começou bem: a Argentina perdeu para Camarões no jogo de abertura, o que rendeu aos camaroneses o respeito eterno da torcida canarinho, mas com isso o Brasil não subiu um pontinho sequer no ranking da Fifa. E a Argentina usou métodos farmacêuticos e venceu o Brasil (não necessariamente por causa dos tais métodos), mas morreu na praia; nem me dou ao trabalho de ver no Gúgol para quem foi a derrota. Antes a "mão de Deus" de Maradona levara ao título. A obra do Senhor se mostrou bem melhor que a obra do doutor.

E não custa perguntar: já que Branco ficou tão mal em campo depois de beber a água dos argentinos, como é que em quase quinze anos ninguém tinha notado coisa alguma antes das revelações do técnico Bilardo e daquele gordo fanfarrão adorador de Che Guevara que atende pelo mesmo nome do grande jogador que foi Maradona? Quaisquer que tivessem sido os efeitos do remedinho, não faltaram testemunhas. Só no Brasil uns cem milhões assistiram ao jogo. Em 1998, os torcedores souberam com antecedência que alguma coisa muito estranha tinha acontecido com Ronaldinho. Por isso, bastou que o jogador botasse o pé em campo para que todos notassem que ele ainda estava passando muito mal, ou estava sob efeito de uma droga muito forte, ou as duas coisas.

Cansei de ver o roto cobrar fair play do esfarrapado. Há uma grande chance de a Argentina ter vencido aquela partida por ter jogado melhor.

São Paulo

Nenhuma foto. Esqueci de levar a câmera.

Finalmente vi Gil Gomes ao vivo. Ele e meia dúzia de carros da polícia na Avenida Paulista. Mas não era só lá: a PM de São Paulo é muito mais visível. Se bem que visibilidade não paga dívidas.

O transporte continua ruim, mas não totalmente. O metrô, a R$ 2,10, superou os dois reáu do Rio e ainda imitou dos cariocas o programa Desconto Zero -- se o bilhete duplo custa R$ 4,20, qual é a vantagem? Pelo menos estão mesmo construindo novas linhas (e sem grandes transtornos), o que sempre surpreende quem é do Rio. Andei naquele ônibus com portas à esquerda e que anda num corredor expresso. Ambos (o coletivo e o corredor), surpreendentemente, funcionam. Táxis continuam caríssimos.

Um cartão postal enviado na quinta-feira chegou ao Rio no dia seguinte.

O café expresso do Floresta continua insuperável. Mas só para quem gosta de café forte. De qualquer forma, a vida é muito curta para café fraco.

Vi um pedacinho pouco relevante da Cultura, quase todo o Promocenter, e não passei da metade do Stand Center por falta de tempo.

Orelhões em pane. Cartões da Tele-Afônica não eram aceitos, ou custavam a ser lidos, ou completavam ligações que não duravam mais de um segundo. À tarde ou à noite, local ou interurbana, a caca era a mesma. Alguém acha que a Tele-Afônica está preocupada?

O que é Expresso do Sul? Lembra daqueles velhíssimos ônibus Cometa da linha Rio-São Paulo? Desde a "repaginação" da Cometa, é a Expresso do Sul que faz a mesma linha de antigamente com os mesmos ônibus do tempo que Brigitte Bardot dava um caldo -- praticamente, só mudou o nome. Mas o ônibus executivo da mesma empresa é novinho e é bem mais confortável que o Itapemirim equivalente. E ainda custa um pouco menos.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Mais declínio da macumba

(desta vez, sim, concluo o raciocínio...)

Em meus tristes dias de adolescente, foi com grande interesse que vi todos os capítulos de uma minissérie da finada Manchete onde o candomblé "ortodoxo" da Bahia desmascarava a si mesmo com o maior orgulho. Revelava-se como intrinsecamente indiferente ao cristianismo, o que deixou de queixo caído quem ainda tinha alguma dúvida disso, ainda que não propriamente anticristão. O recado estava dado: ou o indivíduo é cristão, ou é candomblecista. Quando santos e orixás dividem o mesmo espaço, não se pode levar nem uns nem outros a sério.

Aí vem a umbanda, que é outra coisa, de outra origem (provavelmente a maior contribuição do eixo Niterói-São Gonçalo à religião mundial desde o batismo de Araribóia -- e o próprio Araribóia, como entidade, foi incorporado à umbanda) e procura abarcar tudo: uma base de origem africana com santos católicos e elementos rituais indígenas.

Na parte puramente antropológica do fenômeno, tudo bem: considere-se a umbanda como expressão religiosa de uma sociedade miscigenada e avessa a radicalismos. Mas fé é como personalidade: quem diz que tem mais de uma certamente não tem nenhuma. Posso dar um desconto se o sujeito ainda não souber que aquele culto que pratica inocentemente, herdado de seus pais e avós, abriga elementos mutuamente excludentes (quer dizer, não confundam com os pregadores evangélicos que esbravejam que é tudo "coisa do capeta"). Pouco provável num tempo em que até as "classes oprimidas" têm celular e qualquer favela está apinhada de antenas parabólicas. Essa é que é a verdadeira falta de espaço para os cultos afro-brasileiros.

Fora isso, só há a masturbação intelequitual de quem não leva religião a sério e, ao mesmo tempo, acha que "excluídos" não podem, não devem ou não merecem ir além da macumba que praticam. Afinal, para os membros da intelligentsia, nada como descer de seu apartamento à beira-mar, jogar sidra Cereser na areia e dizer que entrou em comunhão espiritual com o proletariado...

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