terça-feira, julho 26, 2005

Um guru contra o progresso

14/10/2003

Nicholas Negroponte diz que computadores deveriam ser mais baratos. Em busca de culpados, demitiu a lógica.

Negroponte, guru da alta tecnologia, em entrevista à revista Istoé Dinheiro, acusa a Intel e a Microsoft de manter os preços dos computadores artificialmente elevados, nestes termos:

A cada ano, a Intel aumenta a capacidade de processamento do computador e a Microsoft faz um software ainda mais complicado. A todo momento eles anunciam aperfeiçoamentos e características novas e, claro, mais caras. Isso acontece porque a indústria não quer encarar o seu produto como uma mercadoria de baixo preço. Em 1985, o meu Macintosh 512, da Apple, satisfazia boa parte das minhas necessidades. Hoje esse mesmo equipamento deveria custar menos de US$ 10. Então, a pergunta que se faz é: por que os computadores são tão caros hoje em dia? Nós precisamos parar com esse movimento o mais rápido possível. E um dia nós vamos conseguir.

Mesmo considerando que o Macintosh não usa processador Intel nem sistema operacional Microsoft, o exemplo serve perfeitamente para derrubar a teoria do próprio Negroponte. Nada mais natural que um Mac 512 saia hoje por menos de 10 dólares (em termos de mercado dos EUA; entre os brasileiros, que dependiam dos contrabandistas, essa máquina era muito rara), quando na época do lançamento custava 3.300 dólares, fora os impostos. Com direito a 512K de RAM, um único drive de disquete de face simples e o monitor preto-e-branco de nove polegadas que os colecionadores elevaram à categoria de clássico.

Se Negroponte tivesse guardado os 3.300 dólares debaixo do colchão, mesmo sem considerar a alta do custo de vida e o quanto o dinheiro teria rendido na mais conservadora das aplicações, ainda hoje o guru do MIT poderia fazer uma bela farra nas lojas de computadores. O PowerBook G4, topo da linha de notebooks da Apple, sai por 3 mil dólares na loja virtual de fábrica, sendo que desta vez temos um micro totalmente portátil, com direito a visor de cristal líquido de 17 polegadas, mil vezes mais RAM que o Mac 512, disco rígido de 80GB, gravador de DVD, USB, FireWire, Gigabit Ethernet, Bluetooth, 802.11g e outros aperfeiçoamentos e características novasem que Negroponte tascou a pecha de mais caras (desnecessário entrar nos detalhes do pacote de software que acompanha o PowerBook G4; consultem
www.apple.com).

É dinheiro demais por um computador? A mesma loja está recheada de opções mais baratas, provavelmente de custo/benefício superior. Certo, mesmo, é que naqueles tempos Negroponte investiu bem ao trocar seus dólares por um computador capaz de se pagar várias vezes um aspecto do valor da informática que as análises ideologicamente enviesadas fingem que não vêem -- mesmo que, antes disso, tivesse se consumido em interrogações diante das vitrines: por que os computadores são tão caros hoje em dia? (Boa pergunta. E no tempo do cartão perfurado eram mais baratos?).

Há um único motivo para o Mac 512 hoje não custar nem 10 dólares: desde os anos 80 a Apple lançou dúzias e dúzias de novos Macs cada vez mais poderosos. O que ocorre com os computadores da Apple se repete, no mínimo, com o mesmo ímpeto no mundo dos PCs e estes ainda são mais baratos que Macs comparáveis. A perda de valor de computadores antigos desafia qualquer cálculo de depreciação (http://idgnow.terra.com.br/idgnow/business/2003/09/0062), para a felicidade dos caçadores de pechinchas. Mesmo que não seja economicamente viável ao usuário típico comprar o topo de linha, a mera existência de um produto mais avançado puxa inexoravelmente para baixo os preços dos modelos anteriores. Todos saem beneficiados: uns consumidores conseguem máquinas mais poderosas, outros atingem acesso a máquinas mais baratas. Mas acredite: no fundo, no fundo, parar com esse movimento o mais rápido possível deve trazer ao usuário algum benefício que Negroponte não ousa revelar...

Não apenas os computadores não ficam mais caros ao longo do tempo (muito pelo contrário) e as máquinas Intel/Microsoft não são menos acessíveis do que as da concorrência, como as próprias Intel e Microsoft têm competidores tidos e havidos como mais baratos e seguros. A Microsoft tomou conta de quase todo o mercado de sistemas operacionais para PCs. Como resultado de seu sucesso, atraiu concorrência. No início dos anos 90 o OS/2 estava muito bem posicionado para enfrentar a dupla DOS/Windows: era riquíssimo em recursos, oferecia estabilidade e funcionalidade e era um produto IBM. Como exigia grandes quantidades de memória RAM (um componente que passava por uma fase de escassez e preços altos), ficou para trás.

Mas por essa época começou a crescer sem parar uma oferta ainda mais vantajosa. Se o custo da licença de uso do Windows não compensa? O Linux não é cobrado, pode ser customizado à vontade pelos programadores, é compatível com diversas plataformas, roda bem até em micros relativamente defasados, não apresenta as falhas de segurança pelas quais o Windows é tão criticado e aceita milhares e milhares de programas igualmente grátis. Por estar cada vez mais útil e amigável, o Linux se aproxima de milhões e milhões de usuários inexperientes (não fosse a pressão de enfrentar o Windows, a história poderia ter sido outra; de qualquer forma, o usuário saiu ganhando).

O leitor desavisado, ao se deparar com a entrevista de Negroponte, deve pensar que a Intel está sozinha no mercado e inventa chips novos num estalar de dedos ou, pior, tem uma fonte que jorra chips magicamente sem parar. Criar um novo microprocessador envolve estudos bilionários, e são consumidos outros bilhões para montar fábricas destinadas à vida curta: lançado um novo chip, é preciso começar (e gastar) tudo de novo. Por que a Intel se obriga a essa corrida estonteante? Se deixar a peteca cair, será superada pela AMD em pouco tempo. A AMD, que também mantém excelentes relações com a Microsoft, desde os anos 80 consegue a façanha de oferecer processadores centrais (no mínimo) funcionalmente equivalentes aos da Intel, só que mais eficientes e mais baratos.

O vaticínio de Negroponte de parar com esse movimento, se cumprido, daria uma folga monumental à Intel: bastaria manter a mesma fábrica produzindo o mesmo chip de sempre por dez, quinze, vinte anos, sem que os preços caíssem brutalmente, multiplicando o retorno do investimento - desde que fosse garantida a demanda pelo chip e eliminada a pressão tecnológica da concorrência. Como no futebol, a tática é brilhante, mas só falta combinar com o adversário.

É até razoável esperar de usuários comuns palpites como esse. Mas Nicholas Negroponte não é burro. Ele sabe com quem está falando, e quando fala, os donos do poder da tecnologia da informação escutam. Podemos tomar suas palavras como uma medida razoável do ponto a que chegou o conceito que faz a comunidade de TI do sucesso de uns e do fracasso de outros.

Xingar é fácil. Fazer comparações em bases honestas, por sua vez, parece uma façanha ao alcance de poucos.

segunda-feira, julho 25, 2005

Pow kra, pq adolescente escreve assim?

06/10/2003

Quer dizer, não é só o adolescente, mas hoje o internauta típico faz tudo para se nivelar à molecada. Inclusive nesses escritos incompreensíveis que empesteiam os blogs e as salas de bate-papo. Um modismo recente no mundo brasileiro dos blogs é a visitação aos últimos escritos online da menina de 15 anos que morreu pisoteada num show em Curitiba. Era um show "pela paz", ironicamente, conduzido por um punhado de bandas que conduzem à confusão mental e ao descontrole emocional. Não me acusem de explorar o cadáver da moça para detonar algumas bandas queridas dos ouvintes de FM. Não; o estrago vem antes de qualquer tumulto. E quem começou a revirar o blog da falecida não fui eu. Daquilo, não consigo ler mais de cinco palavras seguidas.

Não apenas não é um fato isolado, como já anotei uma série de "argumentos" relativistas que dão sustentação a essa barbaridade lingüística. Por exemplo...


Mito: Adolescentes imitam a escrita dos mais velhos, do tempo em que computador só acentuava precariamente (quando acentuava).Verdade: Éclaro que computadores antigos tinham muitos problemas com acentos. Pior ainda quando se trata de computadores interconectados: era pouco provável que o sistema X lesse os caracteres acentuados gerados no sistema Y. Então fazia sentido nivelar por baixo e eliminar os acentos -- mas sempre a título precário, na falta de melhores recursos. Nada que justifique, hoje, com caracteres acentuados amplamente padronizados (suportados de forma consistente por todos os grandes sistemas operacionais), que os adolescentes deixem de acentuar por influência dos poucos usuários "daqueles tempos". A propósito, a questão dos acentos éapenas a ponta do iceberg. O que os adolescentes fazem é o extermínio total e geral de tudo que lembre ortografia. Quem os apóia nisso?

Mito: Adolescentes abreviam para ganhar tempo na digitação.Verdade: Digitação é técnica. Quem sabe digitar mesmo écapaz de escrever qualquer coisa por extenso, rapidamente, com naturalidade e sem esforço. Só que o aprendizado requer investimento de tempo, muita paciência, diligência e concentração. Quer dizer, conceitos estrangeiros para a maioria dos adolescentes. E depois acham que ser esperto e antenado é escrever "tb" em vez de "também"! O "povo popular", atéo que nunca viu um computador na vida, chamaria isso de "relaxamento" mesmo, mas não vamos entrar em detalhes.

Mito: Adolescentes só escrevem daquele jeito porque estão no ambiente informal do mundo conectadoVerdade: Ou uma variação ainda mais canalha: adolescente escreve daquele jeito porque não está valendo nota. Em qualquer vestibular surge uma montanha de redações absurdas como prova (no sentido mais amplo do termo) de que, na prática, a teoria é outra. De qualquer forma, não há o conceito de se escrever direitinho (nem é "escrever bem" estilisticamente) como meio de se fazer entender pelo maior número de pessoas, mas como ferramenta para se conseguir um diploma lá na frente! O bacharelismo continua em alta.

Mito: Adolescentes, como quaisquer usuários novatos, não aprenderam como se acentua.Verdade: Explicando melhor: se alguém ensinou, não quis aprender. Se aprendeu, achou irrelevante. Afinal, adolescente está sempre certo, não está?

*****

O que é spam? Faça o teste

Os colegas da imprensa especializada podem dar o palpite que quiserem, mas não há um consenso sobre o que faz uma mensagem ser considerada spam. Talvez seja mais fácil chegar a um denominador comum do que não seja spam. Os programadores podem inventar todos os filtros de mensagens que quiserem, mas o usuário-ser-humano não pode aceitar qualquer mensagem cujo remetente não possa responder a sério, sem tergiversar, a estas três perguntas: 1) Quem é você? 2) Quem sou eu para você? 3) No que a sua mensagem me beneficia?

Além de aumentar a consciência do usuário sobre o que presta e o que não presta na enxurrada diária de mensagens, o testezinho é perfeito contra vírus de email, correntes da felicidade e pirâmides de dinheiro. Estas, o escritor de informática John R. Levine, muito adequadamente, chama de vírus da ingenuidade.

Dejeto experimental

(já que o assunto é escrever, apesar das digressões retroinformatas, eis um post de 16 de dezembro de 2004...)

Uma das desgraças da minha vida acadêmica foi ter feito mesmo, não copiado-e-colado ou equivalente, meu projeto experimental em jornalismo. Era só um TCCzinho muito chulezento, muito distante de uma tese.

Fi-lo sobre BBS, em 1994, crente que algum professor fosse saber do que eu estava falando. Por que eu não traduzi aquele folheto da Compuserve e não juntei o documento oficial da FidoNet para compor um trabalho original? Em vez disso, passei as noites queimando as pestanas diante do monitor e os dias mendigando impressoras dos "muy amigos", pois impressoras que funcionassem estavam totalmente fora dos orçamentos meu e da faculdade.

Se tivesse investido na praia metade do tempo que desperdicei para tirar um 10 unânime, quando um 6 teria me conduzido ao mesmíssimo diploma, hoje seria bodyboarder profissional, ganharia mais que suas incelênças os professores, e ainda produziria mais vitamina D.

OK, não foi nenhuma façanha histórica defender meu trabalho diante da banca. Tive que esclarecer que não havia uma ética na pirataria em si, mas sim uma eticazinha entre piratas e piratas (uma série de leis não escritas, principalmente a que proibia vender programas "genéricos" para amigos). E tive que ouvir de um professor, no names, please, que era óbvio ululante o "fundo moral burguês" nos métodos do shareware/freeware como contraponto à tal ética pirata, pois o ambiente BBSiano era inexoravelmente burguês pelos motivos tão bem expostos nas páginas anteriores do projeto etc. etc. Depois dessa, nunca mais falei de burguesia a sério, nisso concordando totalmente com o Xandelon. Nas palavras, não no sentido, o refrão de Cazuza estava certíssimo: "burguesia" fede.

Por essas e outras, não me peçam para ler o trabalho. Descontando o estritamente factual, rejeito 95% do que ali está. Quando cheguei ao fim, já tinha sérias dúvidas sobre a linha condutora do início.

O relatório final da banca também recomendou a publicação do trabalho. Se foi publicado mesmo (em papel, nada de Internet ainda), não me avisaram nem depositaram os royalties. Escapei desse vexame.


Minha primeira placa de vídeo de verdade, 1994-2005

Não entram na conta a placa CGA (acompanhando o pavoroso e clássico monitor verde) que a precedeu, tampouco o sistema de vídeo do MSX mais antigo ainda. Pelo menos esta placa é VGA, tem a enormidade de 1 (hum) megabyte de memória e -- respirem fundo -- é Trident!

Comprá-la foi uma novela. Nada de estandes em Info-quaisquer-coisas em toda parte: era preciso passar o pente fino nos classificados, geralmente os do Balcão ou do Info Etc., marcar um encontro em local público e pagar em dólares -- era impossível calcular qualquer valor em dinheiro brasileiro, fosse qual fosse o nome da moeda. O amadorismo, no mau sentido, imperava: no mercado carioca, Pedro Macarrão e Gerson Rissin eram exceções que tinham lá seu preço, ou seja, um pouco acima do meu orçamento para placa de vídeo. Tive que correr certos riscos.

A primeira tentativa foi um fracasso. Uma anunciante de Niterói marcou para entregar a placa em minha casa à tarde. As horas se passaram (e a máquina parada por falta de placa), e nada. Lá pela meia-noite consegui que alguém atendesse o telefone (fixo). Alegou "imprevisto". Passei adiante e procurei outro anúncio de placa VGA usada com funcionamento perfeito. Isso mesmo, pessoal: em 1994 não podia esperar sequer uma zero-quilômetro.

Desta vez marcamos na entrada de uma estação de metrô, e o negócio foi fechado. Não me lembro do preço. O vendedor, ainda mais jovem do que eu, era um geek total, que se gabava de ter detonado meia dúzia de drives em todos esses anos nesta indústria vital de duplicação maciça de disquetes "protegidos" contra cópia. Ouvi as histórias como um espectador distante: meu primeiro drive de 1,44 MB só seria comprado meses depois... A placa veio com um manual, que ainda deve estar por aí, e um ou dois disquetes com drivers (para programas em DOS), logo esquecidos por desnecessidade.

Mas a placa funcionava? Para os efeitos mais modestos, sim. Em DOS era uma maravilha. Em Windows, só em Super VGA, ou seja, tristes 256 cores em resolução 800 x 600. Mas foi usada até 1997, quando já era o fator número 1 a prejudicar o desempenho global do Windows 95. Ainda foi aproveitada em outro computador (não meu), substituindo uma placa ainda pior. Não me lembro exatamente quando foi retirada de uso. Guardei a relíquia no armário por vários anos. Ontem já joguei dúzias de componentes informáticos inservíveis ou sem valor de mercado; hoje foi o fim para a placa. A foto (que, na verdade, foi feita com scanner) é o último registro. Amanhã o zelador vai recolhê-la. Não será surpresa se, ainda amanhã, alguém encontrá-la à venda na calçada nas primeiras quadras da Rua do Catete.

Só para refrescar a memória: esta foi minha primeira placa VGA, que nunca foi grandes coisas, instalada especificamente para fazer funcionar um deplorável monitor preto-e-branco Videocompo que queimou nove meses depois. Chega de usar as tintas da subjetividade (não quero saber quanto ganhava um analista de sistemas em 1978) para pintar de rosa os tempos que se foram. Informática retrospectiva honesta é aquela em que você admite que era triste e não sabia.

domingo, julho 24, 2005


É preciso amar os óculos de sol "genéricos".

sexta-feira, julho 22, 2005

Ainda o RH

(nada de acentos)

Na corrida do ouro pontocom o departamento de Recursos Humanos aparecia mais na saida do que na entrada. Numa situacao de demanda maior que a oferta, prevalecia a subjetividade do "quem indica" e do notorio saber, algo estranho para um setor acostumado a jogar pelas regras do tempo da maquina de escrever. E´ verdade que o RH continuava a receber pilhas e pilhas de CVs (impressos mesmo), mas o que fazer com eles? Como destacar "anos e anos de vivencia" numa ferramenta inventada anteontem? E se o candidato mesmo nao tem anos e anos de vida? Na falta de aplicabilidade de criterios objetivos de selecao, ai' incluidos os resultados "objetivos" de mapas astrais e exames grafologicos, o maximo que podiam fazer era carimbar as escolhas do andar de cima do organograma (peneirando, quando muito, os criadores de caso e os viciados escandalosos) e armar um programa de apoio para quem for ejetado nas vacas magras. Ai' e' que se separavam os RHs bons dos RHs enroladores-auto-ajudantes.

Mas nem sempre era assim tao facil. Na mais pura tradicao do controle da peaozada, o meio mais simples (leia-se: menos trabalhoso para o RH) de se admitir uma grande quantidade de novos funcionarios e' impor um contrato-padrao. Mesmo que, nessa galera toda, nao haja um unico Fulano que tenha as mesmas atribuicoes funcionais de Sicrano. Recebi um desses ao entrar no iG. Dizia alguma coisa do tipo "O uso de qualquer software que nao tenha sido previamente autorizado pelo pessoal de Sistemas e' terminantemente proibido, implicando em demissao por justa causa". E eu estava no iG para testar jogos. Entenderam? Ou eu seria mandado embora no ato do exercicio das atribuicoes naturais do meu trabalho, ou o contrato ja' nascia como letra morta. E como conhecedor da matreirice alheia, algo que definitivamente vem de beeeeeem antes da era da internet, sei que detalhes contratuais nada tem de triviais.

A porta do Céu

Outro comentário do leitor:

Haverá uma brecha para um Relações Públicas? E para o temido pessoal dos Recursos Humanos?
Não sou anônimo por má vontade; é que não consigo me registrar aqui. Bom, se essas perguntinhas forem inoportunas, é claro que você não precisa responder, muito menos com um post inteiro. Um abraço.


O pessoal do RH vai entrar, sim. Nem tanto como "temido" quanto como refém das trapalhadas decorrentes da burocracia. Disso posso falar de experiência própria, em outro post...

Mas não posso fugir muito dos elementos humanos essenciais à trama, sob pena de a escalação dos personagens parecer aquela brincadeira "quem é que entra no Céu?". :-)

quinta-feira, julho 14, 2005

Dia 14: comentário do leitor anônimo e os doidões virtuais

Deve ser inevitável, nesse seu livro, falar de algum publicitário muito arrogante, cool e feliz. Se é para retratar a realidade, não dá para colocar um sujeito todo ranzinza, triste e hipocondríaco. Entretanto, seria interessante se, de alguma forma, no boom da época, um publicitário desse prosperasse.

Sim, os publicitários construíram a cara da euforia pontocom; de certa forma, eram as personificações do entusiasmo e do futuro brilhante que prometiam.

Mas, acima de tudo, a explosão dos negócios foi conduzida por raposas felpudas de várias espécies, sem privilégio para os publicitários. Gente matreiríssima. Alguns até chegavam a ser espertos demais para se viciar em aditivos químicos que os fizessem parecer sempre sábios, bem-falantes, espontâneos e "para cima". Ainda assim, era preciso seguir os modelos "certos" de comportamento, parecer doidões -- ainda que virtualmente -- para impressionar as pessoas "certas".

Em outra situação, poderia tirar bom proveito da guerra de egos entre publicitários, em especial, e entre aqueles que mostram que sabem vender de verdade contra os que fazem firulas para mascarar sua suprema incompetência, em geral. Aí, sim, o sujeito ranzinza e hipocondríaco pode se dar bem. O problema é que, no tempo restrito em que se passa o romance, não haverá tempo para isso.

A empresa pontocom do romance tem uma cúpula. Os membros do conselho batalham pelo êxito da empresa. Em seu íntimo, uns acreditam sinceramente na mudança de paradigma da "nova economia"; acham mesmo que o futuro os fará justiça. Outros sabem que tudo não passa de um modismo, mas devem gerenciar o sucesso da melhor maneira possível enquanto estão na crista da onda. Independentemente das facções, um deles é criminoso. Quem? Perguntem-me... ou leiam o livro quando estiver pronto.

Abaixo deles, um exército de funcionários está igualmente dividido. Uns têm fé no que fazem, acham que a bolha não vai furar e sonham em fazer carreira no mundo pontocom; outros estão naquela só para aproveitar os salários (astronômicos para quem sempre dependeu de mesada) e tirar onda. Parece uma questão religiosa? E é mesmo.

Dia 14: A Gamecorp e o livro

Ou a história da Gamecorp está muitíssimo mal contada, ou estamos começando a enxergar em 2005 uma nova bolha de conteúdo pontocom.

terça-feira, julho 12, 2005

quinta-feira, julho 07, 2005

Dia 7: Atentado

Londres? Não, Rio de Janeiro. Estou bolando para o livro vários atentados possíveis -- nem todos serão aproveitados, mas de antemão é bom saber que em se tratando de Rio de Janeiro nem o maior terrorismo imaginável pareceria algo diferente de um "simples" crime.

Dia 6: Definitivamente, romance na bolha

Escrever O Grande Romance Da Bolha Pontocom seria muita pretensão para tão pouco tempo (meu e dos leitores) e espaço. O período é um pano de fundo, não a coisa em si. E tratar da bolha supõe um julgamento prévio das loucuras de toda uma era. Isso os leitores não encontrarão. Tenho meu próprio conceito sobre o que foi o período de otimismo exagerado que começou mais ou menos no IPO da Netscape, sem menosprezar qualquer outro IPO daquele tempo, atingiu os píncaros da loucura na fusão AOL-Time Warner e começou a desandar quando a desconfiança em relação à Microsoft, alimentada há longos anos, passou a ser acatada por certos homens de toga. O índice da Nasdaq era um termômetro; não conduzia as forças imponderáveis do universo sobre o mercado, mas apenas as revelava. Era algo perto do impossível que um juiz federal americano gastasse tinta -- a sério -- contra a maior potência do software e o mercado não desse um pio. No entanto, falar dessa influência parece ainda hoje uma doutrina herética.

terça-feira, julho 05, 2005

Dias 3, 4 e 5: more food for thought

"A bolha das dotcom foi causada em grande parte pela crença idiota de que o mecanismo de "branding" iria continuar funcionando tão bem na Era da Informação quanto o fez na Era Industrial que a precedeu. O Venture Capital estava enebriado por "branding" quando depositou bilhões de dólares em companhias sem nenhum valor mandando-as queimar a grana no mercado. Queimando dinheiro, os VCs pensaram, era a única forma de criar "valor de marca" (brand value).

Mas a Internet mudou o mundo completamente. Foi uma receita de asteróide a dinossauros. Mas ao invés de tirar proveito das novas condições criadas pelas rede, os VCs e seus beneficiários decidiram estimular a menos viável condição dos dinossauros: tamanho e dominância. Pior, pensaram que a Nova Economia significava o lado deles do mercado - que era uma questão de oferta e não de demanda. Então se tornaram obcecados com "desintermediação" e "cadeias de valor" mais curtas. Tomaram-se de luxúria pela preposição "to", e queimaram incontáveis bilhões de dólares em opções de empresas com um "2" no meio. Entretanto, os clientes se tornaram mais ariscos do que nunca. As escolhas continuaram a crescer ao ponto deles mesmos desenvolverem suas próprias "soluções" para todos os problemas que os fornecedores obcecados por "branding" falharam em solucionar.

Os tecnólogos estão na liderança deste movimento oferecendo, e escolhendo, mais coisas que simplesmente realizam o serviço melhor do que outras coisas - ou coisas que fazem o serviço tão bem e por menos dinheiro.


*****

Não sei se vocês se lembram disso, mas em 2000 um imbecil trocou seu nome para DotComGuy, passou um ano inteiro trancado dentro de casa comprando merda pela internet, vigiado por webcams e todo mundo ouviu falar dele. Só que no meio de 2000 a bolha estourou, os patrocinadores desapareceram e quando ele efetivamente saiu da casa, neguinho estava cagando e andando para ele. O otário se fodeu bonito.

Como tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, algum imbecil teve a idéia de reproduzir a idéia para promover o cartão E-card do Unibanco. Por 99 dias, uma e-moça e um e-moço, escolhidos por concurso na Internet, iam ficar trancados em um apartamento cada um (comportadinho - ia pegar mal se eles começassem a foder como um casal de hamsters em frente às webcams), sendo visitados por celebridades e fazendo compras na internet. Que máximo, hein?

Foi um grande evento do mundo pontocom, todo mundo comentou. Nossa, que maravilha. Precursor no imaginário popular desses Big Brothers da vida.

E agora fiz uma descoberta estarrecedora: a e-moça trabalha como estagiária aqui na empresa.

Isso deve significar alguma coisa, não sei bem ainda o quê.

domingo, julho 03, 2005

Dia 2: afinal, qual é?

Um livro sobre a bolha pontocom ou vivido na bolha pontocom?

sexta-feira, julho 01, 2005

Dia 1: Para começar, umas palavras de otimismo

Copiado-e-colado daqui, onde podem ser deixados os comentários cabíveis.

UM PAÍS SE FAZ COM LIVROS E SAMBAS

A indústria dos livros, editoras, livreiros, escritores etc brasileiros se comportam como os maiores loosers da história. Parece aquele sambista que só faz samba a respeito do samba, de como o samba é maravilhoso, do quanto o samba é fundamental para a felicidade dele etc. É um tal de projetos e campanhas para que as pessoas leiam mais e vejam menos tv (quando o ideal seria que melhorassem a programação da tv). É um festival de incentivar as pessoas à leitura, de louvar as vantagens da leitura, da leitura como panacéia, que parece mesmo é coisa de desesperado. Como se o povo não soubesse como fazer para saber as coisas. Para aprender profundamente alguma coisa todo mundo sabe que deve recorrer aos livros e estudá-los. O problema é que estudar é chato, chato, muito chato. Na prática, o que fazem é pedir que as pessoas façam algo chato e isto não se faz, pelamordedeus. Já eu não entendo por que alguém perderia dois meses lendo um livro se pode ver a mesma história no cinema em duas horas. Preferir ler O Senhor do Anéis a ver o filme é um tipo de tara por leitura que demanda tratamento psicológico. Estudar, digamos, orquestração, justifica a compra de um livro. Mas para meramente conhecer uma história que o Paulo Coelho (ou qualquer outro) inventou, putz. Não se deve gastar dinheiro com esse tipo de campanhas, não acredito que convença o povo a fazer essa coisa chata que é sair da frente da tv. Livro não enguiça, mas também não se zapeia. Livro é monótono. Quem se viciou em leitura e adora ler é por que faltou algum parafuso ou convite para sair quando estava na puberdade. Um ser humano normal prefere ver tv ou ir pra balada.

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