sexta-feira, outubro 04, 2002

UOL: filtros in�teis

Se o UOL tem interesse em deter o spam que assola seus usu�rios, n�o tem compet�ncia para tanto. Se tem compet�ncia, n�o tem interesse.

� o que se conclui do uso do Organizador de Mensagens, um dos servi�os � disposi��o dos usu�rios do correio eletr�nico pela Web. N�o � o Filtro Anti-Spam, que piorou na �ltima reforma do sistema de webmail, mas at� que continua funcionando mais ou menos. Enquanto o Filtro Anti-Spam s� funciona para excluir mensagens originadas de determinados endere�os exatos, o Organizador permite que o usu�rio crie filtros relativos a palavras-chave nos campos de cabe�alho ou no corpo da mensagem. Por exemplo, para se livrar de vez do bombardeio de spam do impenitente Link2buy, seria suficiente criar uma regra do tipo "Se o campo 'De:' cont�m 'link2buy.com', apagar a mensagem".

Seria. Na verdade, o Organizador n�o funciona de jeito nenhum. J� tentei tudo, at� passar um pente fino no site para ver se aquilo n�o � uma vers�o beta que os pr�prios desenvolvedores deixaram de lado. Algu�m duvida?

Coincid�ncia ao cubo

Escrevo sobre GameCube, imaginem o que aparece no banner desta p�gina: um an�ncio de GameCube. J� deve ter passado. Tudo � muito r�pido e curioso.

� N�IS NA FITA

Forbes e videogame: o leitor � ruim demais para entender o que � certo

Fui retificar uma �nica palavra num artigo da Forbes Brasil e acabei participando de uma situa��o-s�mbolo do jornalismo nacional. Ao tratar do GameCube, poderoso console da Nintendo, a revista tentou dar o reconhecimento devido a um dos raros setores de tecnologia digital que tem escapado da crise e atra�do um p�blico crescente e diversificado. Na pr�tica, estacionou no tempo do Atari 2600, quando os jogadores, provavelmente inspirados nos computadores populares da �poca, tratavam os cartuchos por "fitas de videogame". E, pior, a reda��o da Forbes n�o tem a menor vergonha disso.

Eis a minha mensagem, na vers�o original (os par�grafos com asteriscos foram publicados sem grandes altera��es; o resto foi exclu�do):



* Primeiro, parab�ns pelo excelente trabalho!

* Necess�rio retificar o artigo "Cubo M�gico" (Forbes Brasil, 30 de agosto de 2002, p�gina 37) no que se refere �s "fitas de videogame".

* Os jogos do GameCube v�m gravados em discos �ticos -- mais especificamente, mini-DVDs.

* Para os devidos esclarecimentos: n�o apenas o GameCube, mas nenhum outro sistema de videogames (n�o incluindo computadores) de primeira linha jamais usou fitas em sua configura��o b�sica.

Por muito tempo os videogames de mesa usaram ROMs intercambi�veis em cartuchos (que n�o continham fita nenhuma).

Alguns sistemas dos anos 80, como o bem-sucedido Atari 2600, aceitavam um acess�rio que permitia o carregamento de jogos gravados em fitas cassete. Mas esse acess�rio, fornecido por terceiros, n�o fazia parte videogame b�sico e nunca atingiu uma popularidade not�vel. E � altamente improv�vel que seja implementado algo semelhante no GameCube: os arquivos dos jogos contempor�neos s�o infinitamente maiores do que uma fita cassete pode comportar.

* Fui um dos criadores do Fliperama (www.fliperama.com.br), o canal oficial de jogos do iG. Quando precisarem de consultoria sobre videogames, n�o hesitem em entrar em contato.



O �ltimo par�grafo, como se pode notar, era destinado direta e exclusivamente � reda��o. N�o que fosse uma vergonha revel�-lo ao leitor, muito pelo contr�rio, mas quem se importa com esses detalhes na pressa do fechamento da edi��o? Eis a resposta da Forbes:



NR: Apesar de os novos videogames usarem CDs e DVDs, preferimos cham�-los de fitas, como o fazem a maioria de seus usu�rios no pa�s.



S� fiquei sabendo hoje, pois a revista chega aos assinantes desta ro�a -- que nem � t�o fora de rota assim -- com treze dias de atraso; como a Forbes n�o tem conteudo nenhum na Web, n�o h� alternativa. A mo�a do telemarketing n�o entende por que n�o quero renovar a assinatura. Falando como um rob� e incapaz de interpretar um mundo maior que sua vizinhan�a, a mo�a n�o estava programada para lidar com um abacaxi desses.

Mas a reda��o tamb�m n�o est� isenta de problemas de programa��o errada. Aponto uma palavrinha mal empregada, e a resposta vem com a nonchalance de um Casseta & Planeta confrontado com a den�ncia de que Seu Creysson fala errado. Segundo o mesmo crit�rio, pode-se escrever � vontade "seje" ou "esteje", pois � assim que a maioria dos brasileiros fala. Ou, considerando a prolifera��o dos bate-papos pela Web, oficializar as abrevia��es "vc" e "pq": o internauta as escreve e compreende, e se algu�m criticar a m� escrita, ainda manda calar a boca.

� compreens�vel que a reda��o se esforce para produzir mat�rias cuja linguagem alcance o maior n�mero de leitores. Incompreens�vel � produzir um artigo que, tomado pelo valor de face, induza � conclus�o errada de que a Nintendo promoveu um retrocesso t�cnico brutal ao fazer seu hipterturbinado GameCube aceitar jogos em fitas.

Das, duas, uma: ou a autora do artigo mencionou as "fitas" por n�o saber exatamente do que se tratava, ou acreditava ter um bom motivo para omitir que sabia que as "fitas" eram discos -- uma distin��o pr�-escolar entre objetos essencialmente diferentes. Em vez de ater-se aos fatos, preferiu a confort�vel associa��o � uma ignor�ncia generalizada.

Saudades de quanto Marcio Ehrlich editava a coluna "Video Guia" (uma verdadeira escola de videogame em meados dos anos 80) e denunciava a gafe da "fita de videogame" como efeito do baixo conhecimento t�cnico do usu�rio brasileiro, mas zelava pelo emprego dos termos corretos nos artigos. A que ponto chegamos. � claro que o caso da Forbes n�o � isolado: hoje o nivelamento por baixo � uma religi�o jornal�stica. O medo de destacar-se, numa palavrinha que seja, de uma idealizada mentalidade "coletiva" se tornou mat�ria de aprova��o nas escolas e regra n�o-escrita dos manuais de reda��o.

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