Abrindo o Baú (II): Mais carnaval
Como em Hollywood, onde não se inventa mais nada há tempos, muitas escolas de samba do Rio estavam doidas pela liberação dos remakes. Desculpem o termo em inglês, mas não havia precedentes carnavalescos. O problema é que conseguiram o que queriam, mas não tiveram a menor idéia do que fazer com a liberdade conquistada. Ou se deram conta de que, mais do que uma besteira total, a idéia envolvia um risco. A Mangueira poderia trazer de volta aquele enredo da Abolição de 1988, que caiu no total esquecimento porque perdeu por meio ponto para a queridinha da vez da esquerda afro-carnavológica (não que o enredo da Mangueira não fosse suficientemente "social"), a Vila Isabel em seu único campeonato até hoje. Ou os mendigos do Joãosinho, 1989, desfile que ganhou bons pontos morais entre a intelligentsia porque cumpriu sua cota de zombaria à Igreja sobre um pano de fundo incontestável, símbolo que se revela toda vez que vou caminhar no Parque do Flamengo: o Rio de Janeiro é um mendigo com vista para o Pão de Açúcar. Remontar esses enredos provaria que a Mangueira foi roubada em 88 ou armaram contra a Beija-Flor (ou a pessoa do Joãosinho, pouco importando a escola de samba) no ano seguinte? Desfile é feito em consoância com seu tempo, para aquele determinado ano, para uma escola que tinha um certo status diante das concorrentes. E é sem romantismo que afirmo: desfile é experiência única. Quem esteve na avenida, viu; quem faltou, sempre pode assistir aos repetecos. É um espetáculo bom de TV, mas só os turistas gringos parecem se interessar pelo compacto dos desfiles em DVD. O fã típico não está nem aí para exular os erros e acertos de desfiles pregressos. Daí para "formatar" o passado, como pretendem os papas da carnavalice, em favor de um remake que ninguém sabe se vai emplacar é um delírio muito grande. Tragam de volta, sim, sambas que façam sentido, sejam fáceis de cantar e não castiguem a bateria.
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