quinta-feira, fevereiro 19, 2004

UOL: amo muito essa briga


O post sobre a reportagem da Dinheiro mexeu com os leitores. Tão logo foi circulado, Luiz Egypto, do Observatório da Imprensa, pediu para incluí-lo na próxima edição. Enquanto atendia a outro pedido de republicação, desta vez no Torpedo, o próprio Egypto retorna avisando que descobriu (antes de mim mesmo) que o Comunique-se já tinha reproduzido o artigo.

E tanto em público quanto em particular, os leitores da listinha de discussão soltaram o verbo sobre a situação desconfortável do UOL. Muito divertido, muito estimulante. Que importa se a capa da Dinheiro faz parte de uma ardilosa vendetta de Domingo Alzugaray contra a Folha? De uma forma ou de outra, o assunto está sendo trazido à luz; um órgão de imprensa ligado a um portal assume os ônus e os bônus de expor a má situação do portal concorrente.

Afinal, desde que se formaram (tardiamente e fora de contexto) os portais brasileiros, todo grande noticioso é ligado a algum grande portal. Parece uma troca justa: um fornece conteúdo de qualidade, outro fornece a tão almejada presença online. Mas cria uma desconfortável situação de dependência mútua. Quem viu a situação por dentro em 1999, quando os investidores alimentaram a política de portais no Brasil, teve muito a lamentar: cada novo lance de expansionismo da Nova Economia englobava mais um órgão de imprensa. Nesse contexto, quem contestaria a própria euforia pontocom? Os jornais que, recém-abrigados pelos portais, não poderiam deixar de se beneficiar da exuberância irracional? Ou os independentes (ou irrelevantes), talvez movidos pela inveja dos grandões que acharam seu lugar na Web sob o guarda-chuva de um portal promissor?

Ninguém deve tirar conclusões fáceis disso. Há poucos e bons exemplos de órgãos de notícias que caíram na Web, mas não abriram mão de sua independência editorial... apesar de ligados a portais. O fato é que, entre os grandões, reportagens como a da Dinheiro eram exceção. O "produto de conteúdo" sob o portal A, que já não estava propenso a criticar o próprio portal A, também não ousaria apontar defeitos no portal B. Poderia levar uma chuva de lama em resposta. Definitivamente, os tempos são outros.

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