Olhares paulistanos entre gritos e sussurros (lembrando Ingmar Bergman)
Em um de nossos itinerários em São Paulo, eu deveria dobrar uma esquina marcada por um McDonald's e uma Blockbuster. "Marcada"? Desde que a Prefeitura paulistana passou o rodo em todas as placas, outdoors, cartazes, backlights e similares, descobrimos que nada parece tão escondido quanto um McDonald's ou uma Blockbuster sem seus logotipos elevados às alturas.
Não foi exceção. Eu, que não ia a São Paulo há mais de um ano, perdi todas as referências. A cidade ficou irreconhecível. Ou será que a lei Cidade Limpa é que revelou a verdadeira cidade? Descobrimos que havia prédios por trás das antigas placas. E que tantos e tantos prédios novos tinham sido projetados especificamente de olho em sua utilidade como cabides de placas. A um ponto que a Avenida Paulista à noite parece tão fria e nua quanto se tirassem da Times Square ou da Nueve de Julio os letreiros piscantes.
Poluição visual é poluição como qualquer outra. Antes os gênios da publicidade disputavam palmo a palmo os metros quadrados das placas, gritando pelos olhares desgastados do transeunte. Hoje, reduzidos a meninos bem educadinhos, precisam convencer com sussurros. O problema é que estética e boas maneiras não se aprendem a golpes de Diário Oficial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário