terça-feira, julho 31, 2007

Dejeto experimental

(já que o assunto é escrever, apesar das digressões retroinformatas, eis um post de 16 de dezembro de 2004...)

Uma das desgraças da minha vida acadêmica foi ter feito mesmo, não copiado-e-colado ou equivalente, meu projeto experimental em jornalismo. Era só um TCCzinho muito chulezento, muito distante de uma tese.

Fi-lo sobre BBS, em 1994, crente que algum professor fosse saber do que eu estava falando. Por que eu não traduzi aquele folheto da Compuserve e não juntei o documento oficial da FidoNet para compor um trabalho original? Em vez disso, passei as noites queimando as pestanas diante do monitor e os dias mendigando impressoras dos "muy amigos", pois impressoras que funcionassem estavam totalmente fora dos orçamentos meu e da faculdade.

Se tivesse investido na praia metade do tempo que desperdicei para tirar um 10 unânime, quando um 6 teria me conduzido ao mesmíssimo diploma, hoje seria bodyboarder profissional, ganharia mais que suas incelênças os professores, e ainda produziria mais vitamina D.

OK, não foi nenhuma façanha histórica defender meu trabalho diante da banca. Tive que esclarecer que não havia uma ética na pirataria em si, mas sim uma eticazinha entre piratas e piratas (uma série de leis não escritas, principalmente a que proibia vender programas "genéricos" para amigos). E tive que ouvir de um professor, no names, please, que era óbvio ululante o "fundo moral burguês" nos métodos do shareware/freeware como contraponto à tal ética pirata, pois o ambiente BBSiano era inexoravelmente burguês pelos motivos tão bem expostos nas páginas anteriores do projeto etc. etc. Depois dessa, nunca mais falei de burguesia a sério, nisso concordando totalmente com o Xandelon. Nas palavras, não no sentido, o refrão de Cazuza estava certíssimo: "burguesia" fede.

Por essas e outras, não me peçam para ler o trabalho. Descontando o estritamente factual, rejeito 95% do que ali está. Quando cheguei ao fim, já tinha sérias dúvidas sobre a linha condutora do início.

O relatório final da banca também recomendou a publicação do trabalho. Se foi publicado mesmo (em papel, nada de Internet ainda), não me avisaram nem depositaram os royalties. Escapei desse vexame.

Starbucks é um fracasso

Ainda os ecos de São Paulo. Pela primeira vez na vida fomos a uma Starbucks, no Shopping Pátio Higienópolis. Tomamos um espresso igual ao das confiterias de Buenos Aires. Isto é: uma porcaria mal e mal tolerável como mero abastecimento de cafeína. Qualquer boteco em São Paulo serve um café melhor e mais barato. Não posso fazer um juízo daqueles copões cheio de espuma e gosminhas açucaradas, mas naquele mínimo que a Starbucks pode ser medida em relação à concorrência, perdeu feio. Quanto mais faz sucesso, mais a Starbucks reverbera um clichê do tempo das diligências: americano não entende coisa nenhuma de café e, pior ainda, não sabe que não entende.

Ainda Bergman

Janer Cristaldo relembra uma deliciosa história sobre o cine-debate:

Da platéia, alguém perguntou porque razões Liv Ullmann usava duas alianças no mesmo dedo. Interpretou um dos analistas: "Agressão instintiva ao marido, desejo de viuvez antecipada. Ou ainda, uma projeção homossexual na mãe. Ela vê na mãe os princípios masculino e feminino e usa os dois símbolos no dedo". Lavei a alma naquela noite: o douto analista ignorava que na Suécia as mulheres costumavam usar ambas as alianças, a própria e a do marido.

Post completo aqui.

segunda-feira, julho 30, 2007

Bem-vindos de volta à realidade

Depois do ouro, prata e bronze no PAN... agora o negócio é CHUMBO!

RIO - No dia seguinte ao encerramento dos Jogos Pan-Americanos, a polícia voltou a fazer operações nas favelas do Rio. Três supostos traficantes foram mortos, dez pessoas foram presas e foram apreendidas armas e grande quantidade de drogas (...)

Olhares paulistanos entre gritos e sussurros (lembrando Ingmar Bergman)

Em um de nossos itinerários em São Paulo, eu deveria dobrar uma esquina marcada por um McDonald's e uma Blockbuster. "Marcada"? Desde que a Prefeitura paulistana passou o rodo em todas as placas, outdoors, cartazes, backlights e similares, descobrimos que nada parece tão escondido quanto um McDonald's ou uma Blockbuster sem seus logotipos elevados às alturas.

Não foi exceção. Eu, que não ia a São Paulo há mais de um ano, perdi todas as referências. A cidade ficou irreconhecível. Ou será que a lei Cidade Limpa é que revelou a verdadeira cidade? Descobrimos que havia prédios por trás das antigas placas. E que tantos e tantos prédios novos tinham sido projetados especificamente de olho em sua utilidade como cabides de placas. A um ponto que a Avenida Paulista à noite parece tão fria e nua quanto se tirassem da Times Square ou da Nueve de Julio os letreiros piscantes.

Poluição visual é poluição como qualquer outra. Antes os gênios da publicidade disputavam palmo a palmo os metros quadrados das placas, gritando pelos olhares desgastados do transeunte. Hoje, reduzidos a meninos bem educadinhos, precisam convencer com sussurros. O problema é que estética e boas maneiras não se aprendem a golpes de Diário Oficial.

Teste de economia

Um determinado setor do ramo de transportes está amplamente desacreditado no Brasil. Controladores amotinados, filas intermináveis, cancelamentos aos 44 minutos do segundo tempo, empresas displicentes. Um acidente faz duzentas vítimas. O mais movimentado aeroporto do país está semifechado para evitar um estrago maior. O Supremo Magistrado da Nação, que não enfrenta filas nem paga passagens, admite que morre de medo de voar. Pegar ônibus (que não é barato) virou "in" -- pelo menos é o que eu vi no programa da Ana Maria Braga. O que acontece com os preços das passagens aéreas?

a) Diminuem abruptamente;
b) Aumentam mais ainda.

Quem dera ser um peixe...

Fagner é o chato supremo. Ele e Juan Luis Guerra se merecem.

A Sampa que vale a pena

Este blog não recebeu jabá.

Fim-de-semana de entretenimento e reciclagem cultural gravemente obstruídos pelo frio que nem os paulistanos agüentam. Não, pessoal, não fui à passeata ontem. Parabéns pela disposição da turma do "Cansei" quando ninguém estava a fim de sair da cama quente. Mas, sinceramente, não estou nem aí para manifestação liderada pelo Seu Jorge.

domingo, julho 29, 2007

De volta da desplaquizada capital paulista...

...em viagem totalmente realizada em terra firme. O Pan chega ao fim. Poucas horas depois, já meio longe dos olhos zapeadores de algum atleta-blogueiro-de-time-B ou aspone-de-delegação-turista-sexual, a Globo exuma o Brasil real: o filme Carandiru. Notei uma certa ansiedade. Se não fosse o esquema, já lembrado aqui, de "programação normal e o melhor do carnaval", passariam o filme mais cedo.

P.S.: Tudo bem, galera. Carandiru não é filme brasileiro porque Hector Babenco não nasceu no Brasil. E Madre Paulina não é santa brasileira porque não nasceu no Brasil. E Elio Gaspari não é jornalista brasileiro etc. etc... O ridículo do raciocínio não tem limites.

P.S.II: Simultaneamente o SBT mostra um desenho animado.

terça-feira, julho 24, 2007

24.7.07

É verossímil e bombástico. Será verdade?

O Boletim do César Maia veio hoje com uma hipótese que, a se comprovar, seria bombástica. Eu não havia lido o boletim hoje de manhã e só descobri a bomba há pouco divulgada no blog do Noblat. Vai a bomba na íntegra:

"Transcrevo -mudando os termos para evitar identificação- informação recebida de um alto dirigente da TAM:

- Sobre a informação de um diretor da TAM acerca de um dos reversos da turbina, que foi divulgada pelo Jornal Nacional da TV Globo e que tanta polêmica gerou dando uma justificativa ao governo, posso afirmar -pois sou testemunha- que um alto personagem do governo contatou a alta direção da empresa (TAM) dizendo que ou eles davam uma boa saída ao governo, ou ele (alto personagem), garantia que baixada a poeira, o governo iria quebrar a TAM.
Foi um problema, pois admitir qualquer coisa dessas seria assumir o seguro dos passageiros sem seguradora, o que levaria a uma grave situação financeira. A saída encontrada foi dar uma explicação que do ponto de vista técnico e do mercado segurador, não muda nada. O governo com isso teria garantida uma saída "honrosa" e a TAM ficaria coberta, pois o não uso eventual de um dos reversos é fato regular. Afirmo mais: o top, top, top do senhor Marco Aurélio Garcia, não foi pela surpresa. Ele sabia que viria a matéria e simplesmente fez os gestos como se confirma uma operação. Tradução do top, top: - É isso aí. Fu.......mos, eles.

Clique abaixo e veja esta matéria do JN de sábado, e especialmente o que diz o ultimo piloto entrevistado. É essa entrevista que vale. O JN, imagino eu, sentiu que foi usado, e com essa matéria compensou a matéria anterior do reverso da turbina.
"
A matéria do Jornal Nacional a que se referem pode ser lida aqui e assistida aqui.

A se comprovar, é uma bomba difícil até mesmo de dimensionar pois:
* Joga no lixo duas edições do Jornal Nacional e todas as capas de jornais de sexta-feira;
* Joga no lixo todos os méritos que acreditava-se justo à equipe de jornalismo da Globo por ter "descoberto o furo", que era a informação do problema na aeronave;
* Levanta a suspeita de que a Globo pode sim ter sido cúmplice mais uma vez do governo, embora mais razoável seja imaginar que a emissora foi apenas usada;
* Evidencia ainda mais a relação promíscua entre Governo, ANAC e empresas aéreas. Antes a crítica se fazia apenas à relação ANAC-Cias. Agora deve-se pensar que a ANAC não faz nada que o governo em si não faria, ou o que é pior, que o governo não tenha incentivado;
* Levanta suspeita contra um certo "alto personagem do governo", gente do nível de Dilma Roussef. Eu apostaria nela sim, senhores!

Mais uma vez repito que o momento é de cuidado com o que se diz e se escreve. E este caso é gravíssimo, especialmente por poder criar um desequilíbrio na relação GloboxGoverno. Ou vocês acham que a Vênus Platinada engolirá numa boa uma manipulação deste tamanho? A petralhada eclama da Globo mas eu pago para ver a emissora realmente contra o governo.
O fato é que a reação de Marco Aurélio Garcia e seu assessor dublê-de-Renato Russo aparentavam muitas coisas naqueles gestos estúpidos, mas surpresa não.
Acompanhemos o desenrolar dos fatos com atenção redobrada. O Governo Lula pode, enfim, estar por um fio!

segunda-feira, julho 23, 2007

domingo, julho 22, 2007

Last 25 Searches that Brought People to Your Blog

Mistério insondável

lunedì, luglio 16, 2007

A blogueira descerebrada Xis foi casada com o jornalista famosinho Ypyçylom. Não que Ypyçylom seja um poço de cultura. Longe disso. Conheço o moço (?) e, além de ser um pau-mandado movido por um ego desproporcional (como boa parte dos jornalistinhas famosinhos de certa emissorazinha de TV), Ypyçylom é esperto, isso sim. Hoje faz bom uso da imagem pública que a vitrine certa lhe proporcionou e cobra uma cacetada por duas horas de redescoberta da América para dummies. Uma espécie de Lair Ribeiro ou Shinyashiki do jornalismo.

Mesmo assim, esperava mais dele. Ter sido casado com uma mulher cabeça-oca das mais fúteis? Jesusmesalve!

Já contei para Dáblyu e o quanto Ypyçylom cobra por suas aulinhas. Dáblyu me perguntou quem diabos era Ypyçylom. Bom sinal. Se Dáblyu não conhece, então não presta. o considera apenas medíocre. Com a notícia sobre QUEM é sua ex-mulher, o quadro da mediocridade se completa. Tudo se explica.

6 commenti

Livros e mais livros


Eu tenho, você não tem! Encontrei certa noite à venda na Rua do Catete. Evidentes falhas na sobrecapa, mas a beleza interior do livro está quase imexida. Não está à venda de jeito nenhum. Quer dizer, se você tiver muito talento negocial e uma carteira recheada, poderemos até pensar em flexibilizar nossa posição.



Já foi vendido, bebês chorões.


Deve ter algum problema, pois tenho há quase dez anos e nunca usei. Um dia valerá uma grana preta como testemunho do que já foi a internet (porque você já esqueceu, né, espertão?)

O defensor da classe dos metaleiros

Mas ainda há muito a fazer...

É verdade que A Diarista já estava na marca do pênalti há tempos, mas Cláudia Rodrigues "está sendo" garota-propaganda dos Supermercados Guanabara (depois eu conto como o Guanabara e o Mundial botaram o Carrefour para correr do setor "popular" do Rio). Guanabara não aceita cartões de crédito. Não existe na Zona Sul. Todo mundo que pensa que é alguém no Rio finge que ignora o Guanabara.

Pois diante do concorrente Multi Market, o Guanabara é um Empório Santa Maria. Fabiana Carla "está sendo" garota-propaganda do Multi Market. Tchau, Fabiana Carla.


Já vai tarde

Pensaram que era o ACM? Esta perda, sim, será pouco sentida.

quinta-feira, julho 19, 2007

Uuuuuuuuuuu! Ladrão! Ladrão!

Agora que todo mundo já esqueceu do escândalo da vaia, um certo Adilson Xavier, publicitário, opina no Globo de hoje que o episódio foi basicamente uma molecagem desportiva -- Lula foi vaiado como os atletas dos Estados Unidos (os quais, como o articulista não se cansou de ressaltar, não têm nada a ver com a política externa de seu país etc. etc.) foram vaiados e os eternos rivais da Argentina foram vaiados. E, diria eu, vascaínos vaiam flamenguistas e vice-versa.

Na verdade, foi a primeira coisa que pensei quando ouvi o "uuuuuuuuuu" da galera. Faz parte do jogo. Não quer ouvir vaias ao seu time? Não vá ao Maracanã.

O problema é que Lula caiu na pilha e Xavier preferia que Lula fosse blindado da reação espontânea da galera, considerada uma "falta de respeito" e reveladora de "sinais de intolerância". Isso aí. Se o árbitro apitar descaradamente a favor do Vasco, a torcida do Flamengo deve ser tolerante e não xingá-lo de ladrão.

Sempre pensei que essa gente atribuísse ao "povo" uma inteligência superior, um discernimento divino e uma tendência inexorável de seguir o caminho certo. Vamos trocar de povo, então.

Com muito orgulho, com muito amor...

“Vergonha de ser brasileiro”

Nada a dizer.

Ruy Goiaba:

julho 18, 2007
Vergonha de ser brasileiro

Dia tristíssimo, propício à retomada de um dos slogans deste blogue.

(Difícil viver no Bananão? “Relaxa e morre” é a resposta. País de merda.)

******

Nota de Garschagen:

Meus sentimentos às famílias das mais de 200 vítimas dessa desgraça. E eu não consigo pensar em outra palavra menos rude que defina essa grande desgraça no aeroporto de Congonhas em 17 de julho de 2007.

Enfim, agradeçam a ele, agradeçam a ele, agradeçam a ele...

Esse foi tão impactante que republiquei em 24 de agosto. Obrigado pela re-dica, Thomas Korontai.

quarta-feira, julho 18, 2007

Quinze anos de carreira (parte 4)

Antes de seguir com o relato, uma explicação adicional sobre a "conversão" de computadores. Estou anotando tudo. Um dia isso ainda vai dar um livro.

Já usei monitor VGA em tons de cinza. Queimou em pouco mais de seis meses (não digo a marca para não ser mordido por "adevogados" hidrófobos). Mas não foi aí que decidi raspar a poupança e comprar um monitor colorido: a verdade veio de supetão num jogo de paciência. Num belo dia de 1994 fui visitado por uma amiga e apresentei o jogo no monitor sem cores. Expliquei como funcionava: pela ordem numérica, era preciso arrastar carta de naipe preto sobre carta de naipe vermelho, e assim sucessivamente. Quem tem intimidade com baralhos sabe distinguir pretos de vermelhos só pelos desenhos. Não era o caso: para ela, copas e ouros pareciam tão pretos quanto paus e espadas. Desisti de nadar contra a corrente.

O fim do MSX, para mim, foi uma ficha que caiu lenta e gradualmente. Se é verdade que um computador vale tanto quanto sua capacidade de pagar a si mesmo, aquele tinha se depreciado por completo. Não podia mais esperar retorno de um computador obsoleto. Existia uma torcida muito grande dos usuários de MSX em defesa de suas queridas máquinas; por ser mais barato que um PC ou (raro) Mac, consideravam-no o micro da realidade brasileira. Concordo totalmente com a definição, mas no mau sentido: Expert e Hotbit foram o que a reserva de mercado pôde proporcionar a nós, usuários comuns.

O conceito original do MSX era brilhante. Uma dúzia de fábricas no Japão se reuniu em torno de uma especificação comum que garantisse máquinas compatíveis umas com as outras; depois os europeus (mas os britânicos, que já tinham seus Sinclairs e Amstrads, nem tanto) compraram a idéia, com grande sucesso. No Brasil, a polícia da reserva de mercado não teria ficado exatamente encantada com as possibilidades. Por isso, Sharp e Gradiente armaram o que até hoje se considera "a sacada genial": registraram seus modelos de MSX como videogames. Grandes coisas. Tecnicamente, um computador é indistinguível de um videogame. MSX usava cartuchos e era computador. Odyssey tinha teclado e era videogame. Imagine o que a SEI pensaria de um Xbox ou um PlayStation 2. De qualquer forma, computador compete com videogame (dizem que foi o caso dentro da Gradiente: como o Atari 2600 ainda vendia bem, o MSX cumpriu uma etapa na geladeira; acredito, mas não dispensaria certas "forças ocultas"), computador superou videogame como máquina de jogos no período pós-Atari 2600 (estive nos EUA em 1984 e vi o Atari 5200 ser hypeado até a medula. Alguém se lembra dele? Deixem para lá, então.), pré-Nintendinho. E naqueles tempos B. Piropo foi a uma grande loja no Japão, procurou MSX na seção de computadores e foi conduzido à seção de videogames...

Ainda assim, a história do MSX no Brasil foi repleta de sacadas marcantes e aparentemente geniais, mas ainda assim marcantes. Sharp e Gradiente prometiam e prometiam drives de disquete, mas não entregavam; como de costume, deixaram a porta aberta a múltiplos desenvolvedores independentes de hardware. Inventou-se uma interface de drives que era incompatível com as especificações originais. Passou como triunfo da criatividade nacional por suprir uma carência relevante, mas embirutava produtores e consumidores de software. Quando a Gradiente quis fazer certo, era tarde: empregou um drive interno de 3,5", formato que ainda não tinha sido amplamente adotado (era considerado mais típico de Macs e Amigas; só se tornou padrão em PCs do 386 em diante, e na versão de alta densidade). Àquela altura, os programas já eram engatilhados para funcionar na interface tupiniquim e não se entendiam com a interface "oficial" da Gradiente.

As limitações dos micrinhos clamavam aos céus, sempre atribuídas pela comunidade à perversa falta de interesse dos fabricantes. Mas os casos apresentados pelos advogados do MSX atrapalhavam mais que ajudavam. Diziam que o MSX foi usado pela União Soviética na estação espacial Mir... Conheço vários colecionadores de micros de oito bits e respeito seus esforços de preservação das antiguidades da informática, mas é apenas isso mesmo: uma atividade domingueira, sem maiores pretensões de arranhar o valor do que a maioria usa.

Quinze anos de carreira (parte 3)

Na época em que murchavam as aventuras impressas da Casseta e do Planeta, comprei meu primeiro modem. Era praticamente o único modelo que funcionava no meu modelo de MSX e podia ser adquirido em loja. Comecei a acessar precariamente: o modem era tão lento que era barrado nos dois BBSs mais influentes. Não estavam errados, pois o modem "paraguaio" mais vagabundo para PC era oito vezes mais rápido que o meu; usuário de MSX passava tempo demais conectado, impedindo que outros acessassem, e pouco contribuía à comunidade. Mas havia dezenas de BBSs, quase todos amadores, que agüentavam a barra. Eu acessava uns nove ou dez alternadamente, mas só era usuário freqüente de três BBSs, no máximo.

Eu aproveitava um subconjunto das atrações do BBS: as salas de bate-papo, ocasionalmente (nada de muito impressionante: se fosse um BBS enorme, entravam cinco ou seis pessoas de cada vez, se tanto), e a troca de mensagens, sempre. O resto funcionava mal (jogos online, em interface de caracteres mesmo) ou não funcionava (acervo de programas, que todo BBS fornecia, mas poucos títulos rodavam em MSX). Foi aí que começou a cair a ficha da diferença entre padrão de mercado e otimismo otário: o retorno do meu investimento de informática seria tanto maior quanto mais gente usasse sistemas compatíveis com o meu. É a famosa lei de Metcalfe, inescapável, ignorada no Brasil em favor da fé no planejamento central e do orgulho de ser do contra. O uso de BBS foi determinante para que, em questão de meses, eu dispensasse o MSX em troca de um PC.

O sistema BBSiano de mensagens era melhor que o da Usenet ou das listas de discussão, onde todas as mensagens são públicas, ou do e-mail comum, onde todas são privadas: salvo indicação contrária, uma mensagem de Fulano para Sicrano poderia ser lida por todos que acessassem aquele board temático. Parece pouco, mas todo mundo podia meter o bedelho em qualquer discussão. Isso criava um sentido de comunidade fortíssimo, sem comparação no mundo dos contatinhos fugazes da Internet. Os BBSs, grandes e pequenos, se associavam em redes e trocavam mensagens entre si. Desse modo, qualquer mensagem podia ser ecoada no Brasil e (raramente) no exterior. Era um bocado de poder para um conglomerado de sistemas que a companhia telefônica fingia que não existia, sem visibilidade popular (o trabalho "evangélico" do Informática Etc. era das poucas exceções) e sem apoio do comércio não-muambeiro.

Mais divertidos ainda eram os encontros de usuários. Em meus primeiros dias de BBSiano, em 1992, quase todos eram realizados em bares ou restaurante entre Leme e Leblon, a região onde quase todos moravam. Só um pouco mais tarde é que ganharam força os encontros na Zona Norte e - pasmem! - em Niterói. Além dos encontros mensais regulares, inventava-se encontro por qualquer motivo, como se os eventos sociais fossem um lembrete permanente de como é fútil a vida online sem um pé no mundo real. Esse equilíbrio acabou abrindo novos caminhos para minha carreira... o que explicarei no próximo capítulo.

Quinze anos de carreira (parte 2)

O período como colaborador da Casseta e do Planeta durou aproximadamente enquanto os dois grupos se mantiveram relativamente separados e interessados em suas publicações. Sempre mantiveram relações cordiais, fizeram shows juntos desde mil novecentos e antigamente, gravaram disco juntos, escreviam para televisão juntos desde 1988; fizeram Doris para Maiores em 1991; viraram astros de seu próprio programa em 1992. A fusão definitiva era questão de tempo. Casseta e Planeta, as publicações, foram para o brejo, reuniram-se numa revista única onde botaram água no feijão do projeto original; ainda assim, durou até 1994 ou 1995, quando as crianças já imaginavam que os "cassetas" eram invenção recente da Globo. Àquela altura eu já estava longe.

Em fins de 1992 comecei a escrever para a Mad brasileira, ironicamente (que nada tem a ver com O Lado Irônico do Dave Berg) numa fase em que eu nem estava lendo a revista. Mas já fazia tempo que eu sabia tocar de ouvido todas aquelas sátiras de cinema e TV, Livros do Ódio, Respostas Cretinas, entrevistas, jogos dos erros, invenções malucas e o que mais aparecesse. Foi uma colaboração praticamente contínua até fins de 1996, na companhia de grandes craques do texto e da arte. (continua...)

Quinze anos de carreira (parte 1)

(publicado neste blog originalmente no longínquo 2003)

Parece que foi hontem: descontadas as egotrips de infância que nunca saíram dos cadernos, escrevo profissionalmente desde setembro de 1988. Tudo começou na Casseta Popular (a revista, não o programa de TV), onde, depois de muitíssima insistência, consegui publicar o capítulo 1 de um folhetim que saiu com o título "Depreciação Moral" (foi uma pequena confusão editorial: usaram o título do capítulo como título do folhetim todo, mas até que ficou legalzinho). Foi a primeira de muitas participações na Casseta e no Planeta Diário. O vestibular foi naquele mesmo ano. Foi um vestibular difícil a não mais poder (fiz dois, passei em um); no entanto, o trabalhinho paralelo não atrapalhou o mergulho nos estudos.

Anos depois, em 1992, a Casseta e o Planeta (a revista e o jornal, não os respectivos grupos criativos) mergulharam em decadência, mas no fim daquele ano comecei a fornecer meus serviços de humor à Mad brasileira. O pontapé inicial foi nota dez: o Ota (sim, ele existe) não quis nem saber se eu já tinha sido da Casseta ou do Planeta, desde que o trabalho que eu apresentasse fosse bom. Foram quatro anos de colaboração quase contínua e, depois disso, uns trabalhinhos ocasionais.

Mas aí eu já atuava na imprensa de informática. Comecei na Micro Sistemas, que me pagou em assinatura anual (que cedi a um colega antes do fim) e na CPU, que, como de costume, prometeu e não pagou. OK, como eram títulos conceituados, para muita gente a mera publicação era a recompensa, mas eu pensava mais alto e os editores pensavam cada vez mais baixo. Não desejava para uma CPU o fim melancólico que teve. Só que, na situação, nada era mais lógico, pois o calote (e seu irmão gêmeo "oferecemos prestígio") gera decadência editorial que gera mais calote.

Muito diferente de certos empreendimentos online que, desinvestindo brutalmente em conteúdo próprio, oferecem espaço "grátis" para blogs como se fizessem um favorzão à Humanidade? Os atentados à língua, o "falow kra blz" que virou idioma de 95% dos blogs, são conseqüências naturais. Não tenho a menor pena dos adolescentes (e como há adolescentes velhos por aí) que, podendo fazer melhor, escolhem rebaixar-se a essa caipirice; tenho, sim, pena de meia dúzia de tecno-pundits que exaltam esse dialeto abominável (ou pelo menos relativizam suas conseqüências) crentes que sua puxação de saco faz algum bem à garotada. Depois eu conto o resto...

Começa o jogo. Ninguém vaiou o minuto de silêncio.

Palavras de especialista

Não há muito o que comentar. Apenas alguns pontos:
1) 1 mês e meio para fazer uma reforma na pista principal (e super curta) de congonhas é pouco. Tem que parar mais tempo e fazer um serviço de qualidade. Mas com nosso governo desmoralizado e corrupto do jeito que é, e com uma infraero exemplar que faz shopping ao invés de consertar buracos na pista, fica difícil.
2) Falando de infraero, eu lembro aos senhores que ela é uma empresa pública que, dentre outras funções, deveria usar o rico dinheirinho da taxa de embarque de vocês não só para prover conforto (?!) aos usuários dos terminais mas melhorar a qualidade da infraestrutura, e isso inclui tanto os sistemas de auxílio a navegação aérea (que em Guarulhos é razoável, no Rio é sofrível e em outros estados eu nem comento) e também às pistas de pouso (e suas particularidades).
3) Lembrem-se que há alguns dias atrás um avião da Pantanal, um turbohélice (ou seja, avião de hélice, voa mais LENTO do que um Airbus e usa bem menos PISTA), também saiu do alinhamento e parou o aeroporto de congonhas. Aquilo lá tava um sabão, serviço mal feito e provavelmente teve pressão política para liberar aquilo "do jeito que tá". Sem dúvida o fator principal contribuinte que está isento de qualquer argumento de que "foi coincidência".
4) Para o brasileiro, infelizmente, sobrou os terminais rodoviários. Cada um tem o transporte que merece, assim como o cada eleitor tem seu presidente da república que merece.
5) O poder para mudar isso estão nos parentes das vítimas dos acidentes mais recentes. Os parentes das vítimas da Gol não ficaram felizes com o indício dos pilotos norte-americanos que ainda não pagaram nada para eles em relação à morte de seus entes queridos. Eles sabem que o problema, antes de ser do Transponder, está na infraestrutura aeronáutica dominada por militares (apesar de ser ANAC) inteligentíssimos (sic) e super experientes (sic) sendo capazes até de prever nostradamicamente que o erro estava nos pilotos. Poupem-me.
6) Tenham certeza de uma coisa: Um acidente aeronáutico, por definição empírica e imutável, é uma soma de erros. Mas somando todas as tragédias, um fator é comum: A falta de infraestrutura. Só os parentes das vítimas (porque as vítimas não podem falar por si mesmas infelizmente) tem a capacidade de, juntamente com aqueles interessados, de mudar as condições atuais.
De resto, não tenho mais nada a comentar, por enquanto.
Agora relaxa e goza aí galera.


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Roque Santos Junior
roquesantos at gmail dot com
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Alô, Ministério da Agricultura! Qual é o prazo de validade de pautas congeladas?

Você tem a impressão de já ter visto essa capa antes? Eu já.

Em meados de 1995 a venerável TIME saiu com uma capa bombástica sobre o problema do fácil acesso à pornografia na internet. A capa: garotinho apavorado olhando para o monitor. Isso.

Em cima do laço, a venerável Veja achou a pauta o máximo. Só havia um problema na versão brasileira: como a internet comercial do Impávido Colosso ainda estava em fase de testes, não seria fácil achar por aqui muitas crianças (ou adolescentes ou adultos) surfando na Web.

Aproveitaram a pauta assim mesmo, desta vez revelando o escândalo dos programas de televisão inadequados para menores. Capa: garotinho apavorado olhando para a tela da TV.

(Eu mesmo teria esquecido da matéria se não fosse uma nota oficial de não sei quem. A nota argumentava que a Abril, como concessionária da MTV, deveria dobrar a língua mil vezes antes de descascar o conteúdo dos outros inadequado aos olhos das crianças. Brilhante.)

Mas quem sabe um dia a pauta original sobre a internet não pudesse ser aproveitada? Um dia, tipo, doze anos depois? Quando o ilustre leitor típico achar que a Humanidade nasceu vendo mulher pelada no Firefox, leve-se o prato congelado ao microondas. Todo mundo vai pensar que é comida fresca.

Chá Earl Grey argentino


Experimentamos ontem. Como nas Malvinas Falklands, bem que os hermanos tentaram.

Walter Carrilho - Jornalismo Boçal: SANTOS DUMMONT DEVE ESTAR PUTO.
SANTOS DUMMONT DEVE ESTAR PUTO.
É isso aí que está escrito no título. O cara inventa avião, o povo insiste em divulgar que o inventor da bagaça é brasileiro...e pra quê? Para a rapaziada fazer merda com a invenção. Pena que no além não dá para fazer suicídio.

Não é caso de fazer piada com a tragédia em Congonhas, mas, ´tasquipariu, de novo? Avião da Gol que cai. Crise com controladores. Ministra que manda todo mundo gozar. E agora cai um avião da Tam. E em cima de um prédio da Tam (vai ser empresa zicada assim na Bruna Surfistinha que pariu!). Resumindo: daqui a pouco, viagem só de jegue.

A água aqui não é filtrada. Ninguém fala inglês (o “this is a pen!” da CCAA não conta). As praias estão sujas. As estradas estão esburacadas. Voar de avião por aqui é loteria. E o carnaval já foi melhor. Caceta, e ainda querem que os turistas venham para cá?

Eu vivo dizendo: transformem essa trolha em um safári. Assumam que é uma selva. Na boa, qual é o problema? Pelo menos o pessoal vai saber o risco que corre. O mais emputeceder de tudo é que vai ter autoridade pacas tentando explicar o caso. Sei lá de quem é a culpa. Sei lá se PRECISA ter alguém culpado. Mas ainda vão jogar a culpa no coitado do piloto. Ou na gente, que fica com essas idéias burguesas de viajar de avião.
Enquanto não inventarem o teletransporte, vou ficar com pé atrás na hora de viajar.


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Ignorância custa caro

Aconteceu.
Não foi por falta de previsões macabras. Não foi por falta de CPI. Sim,
esta mesma, a que culpa pilotos americanos em vez de expôr a ignorância
de controladores aéreos que nem falam inglês.

Quem
"virou presidente" sem ter estudado pode achar que a ignorância lhe
serviu como uma luva para chegar ao cargo. Entretanto as desvantagens
que a ignorância traz tem que ser contrabalançadas com algo, e no caso
do nosso mandatário, ele compensou com truculência.

Truculência como a que usa a Infraero,
empresa que administra os aeroportos, para desviar dinheiro para o PT
em vez de utilizá-lo para melhorar os aeroportos. Truculência como a
que o PT usa para desviar dinheiro de estatais, da Petrobrás, do Banco
do Brasil.

Ignorância custa caro. Se não custar ao ignorante é porque custa ao resto da sociedade.

No nosso caso, a ignorância que o presidente alardeia como virtude já custa muito. Lamento informar que ainda custará mais.



O Idiota Latino Americano - The Latin American Idiot: As poltronas giratórias da ANAC
As poltronas giratórias da ANAC




Sobre a ANAC de Milton Zuanazzi (protegido da ministra Dilma Roussef), o site Contas Abertas nos informa:

(...)

Estudo realizado no fim de 2006 pelo site da ONG CONTAS ABERTAS informa, com base em dados oficiais, que até 27 de dezembro a Anac gastou mais em passagens e diárias de viagem do que em fiscalização das companhias aéreas. Em diárias e viagens foram gastos R$ 10,5 milhões (15% de todo o orçamento da agência), enquanto no programa "Fiscalização da Aviação Civil" a Anac havia gasto menos de R$ 7,5 milhões.
Outras informações sobre as despesas da agência também chamaram a atenção dos analistas do Contas Abertas. Eles observaram que a Anac, instalada em março, gastou R$ 1,9 milhão na compra de móveis, entre os quais 503 poltronas, outras seis poltronas giratórias (R$ 4,4 mil cada uma), 155 mesas pequenas - a R$ 3,9 mil cada uma - e outras 258 mesas, 15 sofanetes, 58 armários e 37 arquivos.
A ONG identificou ainda a compra de aparelhos e utensílios domésticos no valor de R$ 60,8 mil. Foram gastos em fornos elétricos, câmera digital, cama box solteiro, torradeiras, refrigeradores, microondas (com tecla pipoca), TV de 21 polegadas com função game e DVD player karaokê.

(...)



É ou não é uma corja, uma canalha, uma súcia, uma malta...?


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Também ainda não li nada na imprensa brasileira sobre o número de mortos. Vergonha? Dá azar admitir o óbvio?

SAO PAULO, Brazil (CNN) -- Heavy black smoke poured into the air and bright orange flames lit the night sky in Sao Paulo after a passenger plane skidded across a road and crashed into a building Tuesday. At least 200 people were killed.

Li isto aí na CNN às 00:02 de hoje, 18 de julho. Nos sites dos principais jornais brasileiros, Folha, Estado e Globo, não encontrei até agora (00:07) nenhuma referência a 200 mortos, nem a que todos os passageiros do avião da TAM morreram, nem mesmo a que provavelmente ou possivelmente morreram. Está dito num deles que é a maior tragédia da aviação brasileira, mas você lê o texto e não explicam por quê.

Das duas uma: 1) ou a CNN irresponsavelmente está dizendo que há 200 mortos quando ainda há reais chances de que grande parte dos passageiros esteja viva. 2) Ou os principais jornais brasileiros estranhamente acanham-se em dizer que morreu todo mundo, ou que tudo indica que morreu todo mundo. Acompanhando o noticiário, a hipótese 2 me parece muito mais provável que a 1. Se for isto mesmo, fica a pergunta: por que a imprensa brasileira demora tanto a dizer que morreram 150 a 200 pessoas que de fato morreram? Eu não tenho a menor idéia.

Neste caso eu vou querer sangue. Não é um acidente aéreo comum, onde há várias causas para um acidente. Este tem todo o perfil de ser causado única e completamente por INCOMPETÊNCIA. e Incompetência que afeta a vida alheia deve ser punida.

terça-feira, julho 17, 2007

Ainda mais TAM

Nesta obra, até a época do estouro da crise dos aeroportos, exibia uma placa enorme do Governo Federal com informações sobre a obra e, dentre as mentiras, estava lá o prazo para o fim da mesma: Você passava por ali e descobria que a obra já deveria ter terminado meses antes... E é bom lembrar que a pista de Congonhas foi reformada há pouco tempo!

Update: Datena acaba de dizer que o avião foi "catapultado" sobre o prédio. É o novo Isaac Newton.

TAM: continua o baile

Pelo tom da cobertura do acidente, parece até que desta vez as conseqüências trágicas do apagão aéreo vão derrubar o governo. Lula está mais preocupado com uma vaia.

Na mosca!

Uma aula sobre o modus operandi do mundo virtual brasileiro: Direito de resposta ao surrealismo que me cerca.

TAM, TAM, TAM, TAM!!!!!!!!!!

Paulistanos não agüentam ver o Rio em evidência. Têm que inventar alguma coisa para chamar mais atenção que os Pan-Americanos.

No Plantão da Globo, William Bonner inteiramente descontrolado, gaguejando, perdendo o tom de voz, errando informações. No entanto, a novela segue impávida; o clichê "programação normal e o melhor do carnaval" serve para tudo da Globo.

Na Band (acabei de capturar a tela), no calor (literal) da tragédia, Datena fica especulando se este acidente ou ou acidente da Gol foi o maior desastre da História do Brasil-e-da-América-do-Sul. Depois o prédio começa a desabar e Datena compara com a queda do World Trade Center. E tudo na base do "eu tenho certeza que acho que..."

Chega de blablablá! Um nulo intelectual foi vaiado por milhares de nulos intelectuais. Mas ninguém ficou sabendo.

E não é que a máquina de boatos e clichês da militância continua rodando a todo vapor? Vejo pessoas inteligentes caindo na armadilha do buzz lulista e repetindo bobagens sem saber por quê. Por exemplo:

O público devia mais respeito à figura do presidente. Em outras palavras, "tratem o pobre Lulinha com mais carinho; afinal, ele está por cima, você está por baixo, e um dia você pode precisar do carinho dele." Lula compareceu ao estádio para "fazer uma presença" como chefe de Estado: entrar mudo, dizer meia dúzia de palavras e sair calado. O problema é que Lula não pode trazer o chefe de Estado ao Maracanã e deixar em Brasília o chefe de governo, pois trata-se da mesma pessoa. Essa é uma falha do "DNA" do presidencialismo. Quer fazer boa figura diante da multidão? Não seja um administrador relapso.

O episódio queimou o filme do Brasil no exterior ("roupa suja se lava em casa"). Por motivos óbvios, os Jogos Pan-Americanos foram ignorados na Europa, na África, na Ásia e na Oceania. Estados Unidos e Canadá, ocupados com uma disputa de verdade -- os Jogos Olímpicos do ano que vem --, enviaram seus times B, não estão nem aí para os resultados e ainda conseguem manter razoavelmente elevado o nível da competição (valem as palavras de Oscar Schmidt em 1996: "Agradeço aos adversários, que tornaram nossa vida difícil"). A repercussão da vaia foi limitada (se tanto) aos países da América Latina e do Caribe, que estariam melhor se não fossem expostos a esses maus exemplos brasileiros e continuassem a tratar seus líderes com uma oposição silenciosa e comportada.

A vaia foi orquestrada. A teoria conspiratória diz que Cesar Maia foi o mentor da "manifestação" ou mandou executá-la seguindo ordens superiores. Essa bola de neve ainda vai crescer muito. De qualquer forma, a necessidade de puxadores de vaias parece plenamente contraditória com o item abaixo. E é.

Quem vaiou não foi o "povo", mas a "classe média". Escrevo "povo" e "classe média" entre aspas, pois ambas são abstrações demagógicas. É verdade que ainda havia muito "povo" nas arquibancadas da cerimônia, e o ensaio da abertura (no qual Lula tinha levado outra vaia) supostamente só tinha "povo". Mas tanto a esquerda quanto a direita compraram a idéia do uuuuuuuuuuuu como voz coletiva da classe média. Para uns, representa o desprezo da "elite branca" ao presidente que olha para os pobres. Para outros, a análise de quem comeu proteínas na infância, estuda, tem informação e forma uma idéia clara sobre o que está acontecendo. Por que isso é uma grande bobagem? A classe média carioca é formada pelos tipos mais desprezíveis que conheço. Apóiam a ocupação dos morros até o ponto em que suas trouxinhas e papelotes não faltem. Dão propina ao guarda e, no mesmo fôlego, se mostram filosoficamente contra dar esmolas. Protestam contra o turismo sexual mas acham que ser prostituta é motivo de orgulho. Não têm nenhuma pretensão intelectual que não seja a de passar em provas. E não têm nenhum pudor de defender um Estado totalitário, desde que nesse Estado "o meu" esteja garantido. Para um fiscal, o imposto de renda poderia ser de 99 por cento -- e lixem-se as vítimas. O mais marcante foi ouvi-los gritar "Ladrão! Ladrão!" Desconhecendo eles próprios qualquer norte moral, seqüestraram a moral dos outros (esta, sim, arraigada no "Brasil profundo") para julgar Lula por falta de cumprimento de nobres ideais que não existem. Amanhã votarão em Heloísa Helena. E depois será a vez de Heloísa Helena levar sua vaia. Aguardem.

domingo, julho 15, 2007

Homenagem ao Ilustre Internauta Desconhecido

Eis a vossa obra, segundo o Lijit:

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Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

"Pior não foi a vaia. Ruim mesmo foi a combinação de falta de espírito esportivo do presidente Luiz Inácio da Silva, ausência de senso de realidade de seus áulicos e sabujice do cerimonial, que levaram Lula a passar um recibo diante do mundo: é intolerante com a divergência e não tem desenvoltura para enfrentar algo perfeitamente natural na vida de um homem público."

E tome Pan!

Um dia eu terei esse tempo todo para conferir o previsível descontrole televisivo-desportivo. Aqui, ó.

Obviamente, tudo não passa de uma conspiração das elites brancas que se locupletam há mais de 500 anos...

O áudio do grito da galera no fim poderia ser mais claro, mas está valendo.

sábado, julho 14, 2007

A real de verdade que existe mesmo

Um blog sobre o outro lado de um certo evento poliesportivo.

sexta-feira, julho 13, 2007

Não percam!

Pan!

No manuel e juaquim vendo a abertura dos jogos. Parece um desfile de terceiro grupo.

Cachaça também é cultura

Lembrança de Roque Santeiro. Antes de fazer carreira internacional como retrato do Brasil (ou algo levemente parecido), a novela-símbolo do pós-ditadura fez um grande desserviço à causa patriótica. Pegou carona na exaltação a uma tal cultura da cachaça e da broa de milho (ou foi a novela que criou o buzz cachaça-broa-de-milho; minha memória de 1985 não é assim tão nítida, mas lembro que não se falava de outra coisa). O garoto-propaganda era o intelectual-esquisito-lobisomem de plantão. Não disse que esse negócio de estudar faz mal à saúde?

Mas o papo da cultura de comer e de beber valia mais pelo não dito: era uma resistência contra O Pirata Lourinho de Olhinho Azul, o bicho-papão dos nacionalisteiros.

Isso é praticamente chutar um cachorro morto. Fácil é tachar hambúrguer de não ser exatamente comida, Coca-Cola de não ser exatamente bebida. É uma atitude que se toma sem fazer careta. Difícil é convencer a galera das virtudes das alternativas. Até parece que é sinal de grande amor à Pátria queimar a garganta e beber até cair. E que seja rápido, antes que se comece a filosofar do ponto de vista privilegiado de quem está muitas doses acima da Humanidade.

Como as Havaianas, o destilado de cana virou coisa chique. Mas enquanto as sandálias são produzidas em massa e não admitem imitações, a força cultural das cachaças está em sua diversidade. Cada aldeia de duzentos habitantes tem a sua. Sempre com uma tradição subjacente ou um rótulo criativo, jocoso, simbólico do etos do Brasil profundo.

Antes era só desconfiança. Virou certeza no dia em que fui a um restaurante regional de butique onde o acervo de cachaça era atração. Nas toalhas de papel das mesas, centenas e centenas de rótulos de cachaça. Mais ou menos como naqueles cartazes das quaquilhões de marcas de cerveja da Bélgica. Enfim um denominador comum de identidade acima das discrepâncias regionais, do abismo social, das etnias e dos sotaques: a cachaça! Viva! Acontece que, diferentemente das cervejas belgas, 99% das cachaças não prestam.

As centenas de nomes são outra prova incontestável, dizem, da sagacidade brasileira. O dicionário lista trocentos sinônimos para cachaça (quem sou eu para contá-los?). Estão no dicionário; todo mundo acha que tem que levar cada um dos nomes a sério. Mesmo que só existam em paróquias minúsculas, sem interesse dicionarizável. Há milhões de termos que os dicionaristas recusam por esnobismo ou correção política, mas parece que a caninha, a pinga, a marvada, a parati etc. etc. amolece qualquer critério.

Ou como você imagina que tenham desenterrado aqueles nomes todos? Do jeito que são caros os dicionários brasileiros, deve existir um exército de pesquisadores vagando pelas brenhas do sertão, um Projeto Rondon lingüístico em busca de novos verbetes e locuções para engordar o pai dos burros.

Um deles chega em Jeripoca do Noroeste e entra numa birosca, ou qualquer que seja o nome que dão àquilo naquelas terras. Os locais estão no balcão entornando muitas e muitas. Olham o estranho por uma fração de segundo. Talvez nunca tenham visto alguém tão pouco bronzeado em suas vidas. O suficiente para que dediquem o típico desprezo caipira a quem não conhecem.

Insensível à falta de calor humano, o bandeirante do idioma encosta no balcão e puxa um papo com os nativos: "Oi, meu nome é Simplício e sou pesquisador do Dicionário Epaminondas da Língua Portuguesa."

A turma se entreolha. Sorrisinhos de Mona Lisa, olhares de “lá vem mais um pato da cidade grande”. O mais velho toma a iniciativa:

“Achegue-se! Seu Zé, manda aí pro nosso amigo a estrogofúndia que matou o guarda."

O mais novo quase tem um ataque de riso de se engasgar no engasga-gato, mas leva uma botinada na canela (nosso pesquisador, agora encantado com a hospitalidade jeripoquense, nada percebe) e faz cara de sério.

Assim segue o papo movido a álcool, como se a cachaça tivesse sido chamada de estrogofúndia desde o tempo dos jesuítas. Ele anota em seu bloquinho: "Estrogofúndia (s.f.): (Bras., Jeripoca do Noroeste) Cachaça." E assim sai no dicionário. Quem vai duvidar? Quem mais esteve em Jeripoca do Noroeste para conferir?

Na cidade grande, no boteco vizinho à faculdade, a descoberta lingüística vira tema de conversa. Quer pegar uma estudante de Humanas descolada e moderna? Diga ao pé do ouvido da moça: "Você sabia, gata, que em Jeripoca do Noroeste eles chamam a cachaça de estrogofúndia?" Pronto! Ganhou pra hoje.

Cachaça também é cultura. Quer dizer, no Brasil a cultura vai pouco além da cachaça.

quinta-feira, julho 12, 2007

Relaxa e compra

Rá, rá, rá.

Estava assistindo ao Jornal Nacional. No intervalo, a propaganda de uma concessionária da Peugeaut mostra um marmanjo, fantasiado de Marta Suplicy (a ministra do Turismo), exaltando o preço baixinho dos seus carros, sob o lema: “Relaxa e compra”. É tudo meio tosco, mambembe, sub-Casseta & Planeta.

Esta não se livra mais de si mesma. Estou torcendo para que seja ela a candidata do PT à Prefeitura de São Paulo.

Decifrando a nova direita

Há aí, parece, uma tal de “nova direita”. Como o bicho parecia extinto e ninguém concede ao monstrengo o direito de existir, o empenho em investigar o fenômeno é enorme. Primeiro foi aquela reportagem mitológica da Folha, que todo o mundo conhece. Desde então, milhares de cochichos a boca pequena. Recentemente Luís Nassif (...)

Happy Earth Day - and never forget that telling the truth is the first, indispensible step toward wise management of our resources.

Abaixo a meia entrada obrigatória

Problema da meia-entrada virou 'bola de neve'. É a 'lei do engana-que-eu-gosto'

RIO - Produtores culturais e exibidores de cinema resolveram botar a boca no trombone para tentar reverter uma situação que, segundo eles, está esvaziando teatros, shows e salas de cinema: o uso ilegal das carteiras de estudante no Brasil.


O modelo contemporâneo de meia entrada para estudantes foi criado para conceder à UNE e à UBES uma renda garantida. Ainda que o monopólio das megaentidades estudantis fosse quebrado na Justiça, como foi, o recado dos "companheiros" estava dado: a falta de acesso do povo aos bens culturais era resultado de uma conspiração das elites que só podia ser quebrada pela vontade política.

O conceito de "bens culturais" está furado. O desconto de 50% só atinge os alvos mais fáceis. Baile funk é digno de meia entrada. Livro de Aristóteles não é.

Se o povo não tem acesso (= dinheiro), por que só os estudantes são beneficiados pela meia entrada? Com o incentivo da meia entrada, a idéia é inventar um estímulo para que todos sejam (ou, com carteiras falsas, finjam ser) estudantes. Numa eterna preparação para um futuro que nunca chega.

quarta-feira, julho 11, 2007

Serviço de utilidade pública mundial

Este tem que ser reproduzido por inteiro. Original aqui.

No site do Paulo, vi que mais um ataque dos imperialistas contra nossa auto-estima (eles devem estar se pelando de medo do Brasil que vem aí!) resultou num mini-bundalelê internacional.

Muitos estrangeiros - ignorância é um problema mundial, minha gente - não sabem que um dos mais valorizados e protegidos patrimônios nacionais é a nossa auto-estima. Faça um estrangeiro o que quiser por aqui, roube, seqüestre, transe com nossas crianças, use o país como esconderijo, enfim, o diabo!, mas nunca, eu disse NUNCA, fale mal do Brasil e, principalmente, do Rio de Janeiro (na verdade, para muitos cariocas, Brasil e Rio de Janeiro dão no mesmo).

Cidadão consciente dos meus deveres para com os irmãos do planeta, resolvi elaborar um pequeno, mas muito útil, guia do viajante para o Brasil. Este guia tem por objetivo tornar o visitante uma pessoa mais simpática aos olhos dos nativos, o que pode tornar a estada no Bananão menos sofrida, digo, mais prazerosa.

Em breve articularei meus contatos no Ministério do Turismo para que tenhamos o guia impresso e distribuído nas principais línguas do planeta. Vamos a ele:


DA VIAGEM

1. Dependendo do local onde o turista embarca rumo ao Brasil, ele pode se ver diante da espécie mais aterradora que existe sobre o planeta: o brasileiro-mirim. Se o vôo vier de Miami e em época de férias escolares, é batata! Mas não se desespere, já é uma boa chance de ir treinando o principal atributo para suportar a estada no Bananão: a paciência. Se um brasileiro-mirim estiver sentado atrás da sua poltrona, será treinamento intensivo!

Um pouco de compreensão é necessária. O brasileiro-mirim é um animalzinho criado em cativeiro sem adestramento. Quando se vêem em espaços amplos e sem grades, tendem a surtar e sair correndo para tudo que é lado, gritando feito loucos.

Dica: nunca exija dos pais do pimpolho que eles o disciplinem! Isso é uma ofensa inimaginável para um brasileiro. O comportamento recomendado é sorrir para os pais e dizer "criança é assim mesmo..." num tom próximo ao de um pedido de desculpas envergonhado. Se o viajante resolver ignorar esta recomendação e reclamar, certamente se tornará o pária do avião, ouvindo comentários do tipo "estressaaaado..." ou "é coisa de gringo, é tudo arrogante!"

2. Durante a viagem é possível que sente do lado do viajante um brazuca daqueles ferrenhos. Para este, tudo que há no Brasil é melhor do mundo e o brasileiro é o povo mais marvilhoso do mundo que reúne qualidades somente encontradas em divindades gregas e, mesmo assim,,nunca ao mesmo tempo. Este tipo não se cansa de usar estereótipos e clichês para sustentar seu ponto de vista e também não prima pela gentileza. Ele é capaz de esculachar a cidade natal de um gringo ao compará-la com uma do Brasil, mas tudo sem maldade claro!

Dica: nunca questione um estereótipo cuspido por um brasileiro! Não importa quão absurdo ele pareça e nem quantos dados você tenha que o desminta. Aliás, NUNCA conteste estereótipos com dados, isso é visto por aqui como gravíssima demonstração de arrogância. Tudo que o viajante tem que fazer é balançar a cabeça afirmativamente e dizer "humm-humm" como se aprovasse os absurdos que está ouvindo. Se o fizer, certamente o brazuca ira dizer para os amigos depois que viajou com um gringo tão maneiro que até reconhece quão superior o Brasil é ao lugar de onde veio.


DA CHEGADA

Ao chegar no aeorporto o turista terá o primeiro contato com nossa mais cultivada instituição: a otoridadi. É fundamental que o viajante desenvolva o olhar humilde para quando se dirigir a uma otoridadi, principalmente se for uma otoridai federal. Aqui no Brasil, "federal" é adjetivo que designa qualidade, importância, relevância. "- Cara, esse carro é federal!"siginifica que o carro é excelente, muito bom."-Putz, estou com uma dor de cabeça federal!" significa que a dor de cabeça é muito forte.


DA ESTADA

Agumas dicas de comportamento que facilitarão a aquisição de novas amizades no Brasil. Primeiro vamos definir amizade. No Rio de Janeiro, amigo é qualquer pessoa que você saiba o primeiro nome. Se souber o nome todo é amigo mais chegado. Se souber qualquer outro detalhe, é amigo íntimo. O brasileiro mais fraquinho no Orkut tem 986543212345678909876543 amigos.

Dica: cidades como o Rio de Janeiro não são reconhecidas pela qualidade do serviço. Mas não convém reclamar. O lance é embarcar nessa e passar a chamar serviço merda de serviço despojado ou casual. Se um brasileiro te levar no point da cidade e você achar o lugar uma titica, procure encher a cara. Ajuda bastante a mudar os parâmetros de qualidade. Não faça comentários esnobes e deselegantes tipo: "que lugar fedorento!", "tem uma baratona na mesa!", "o frango está cru!", "o copo está sujo!" ou "dá para me atender ou está difícil?" Quando o brazuca te perguntar do que achou do lugar, sorria e fale "Que exótico! Na minha terra não dessas coisas..."

Dica: ao andar pelas ruas do Rio de Janeiro alguns cuidados são necessários: (A) evite exibir objetos de valor tipo qualquer coisa que possa ser arrancado de você, (B) evite sandálias abertas, pois nossas ruas não famosas pela sua limpeza. (C) aprenda a dizer "não tenho trocado" que é a desculpa usada por ricos, remediados e pobres para não dar esmola para os 98765433456789 de pedintes que encontram diariamente nas ruas. Se algum brazuca, sabe-se lá o porquê, se mostrar envergonhado com algum desses detalhes, use a mentira que mais gostamos para confortá-lo: "-Cara, isso acontece em todas as grandes cidades do mundo!"

Dica: no Rio, quando for a uma de nossas praias recomenda-se um cuidado a mais (além de não levar nada de valor, ou seja qualquer coisa que possa ser arrancada de você): tome todas as vacinas que puder! Há uma crença entre os nativos de que na cidade do Rio estão as mais belas praias do mundo, com destaque para Copabacana. Quando você finalmente estiver frente a frente com a "Princezinha do Mar", evite ficar perto das línguas negras (esgoto lançado nas areias em direção ao mar) por motivos óbvios. Quando um carioca perguntar "-É ou não é a coisa mais linda que você já viu?" jamais responda "Tá maluco?!" pois isso fará de você o inimigo público número um! Para sair dessa sem mentir mas sem ofender a alma carioca basta dizer "Nunca vi igual na minha vida!"

Dica: em algum momento da sua estada no Brasil, alguém perguntará o que você está achando do brasileiro. Não importa que você só tenha conhecido uns poucos pontos turísticos da cidade e se relacionado com uma meia dúzia de gatos pingados nativos. Ele não quer uma análise aprofundada da nossa cultura e do nosso jeito de ser, ele apenas quer a sua aprovação. Tudo que você precisa dizer para se transformar no "gringo gente boa bagaray" é "-Que povo maravilhoso!". Certamente você ganhará ainda mais pontos se disser coisas como "-Sinto falta dessa energia, desse calor humano no lugar de onde venho!" ou "Me dá vontade de largar tudo e morar aqui!". Claro que nada disso impedirá que brasileiros enrolem você na intenção de faturar uns trocados. Amigos, amigos. Negócios à parte.

Por enquanto é só. Não posso divulgar mais senão alguém rouba minha idéia e perco a chance de obter patrocínio do Ministério do Turismo.

Update: se, em uma eventualidade, você for vítima de um raro ataque de criminosos e acabar se ferindo, não saia do país esbravejando "-Que selva! Não volto aqui nunca mais!" Além de atrair antipatia das otoridadis e dos nativos, seu país se tornará alvo da nossa zelosa imprensa que usará algum evento recente de tragédia para mostrar que os selvagens são vocês: "Americano, em cujo país trucidam-se crianças nas escolas diariamente, diz que não volta mais ao Brasil. Já vai tarde!" A resposta correta, neste caso, é "-Ora, isso acontece em toda grande cidade do mundo e não mudará minha opinião sobre o país. É claro que nas próximas férias considerarei a alternativa de voltar aqui."

terça-feira, julho 10, 2007

Quer escrever um livrinho? Eis um tema legal

Mostre que você é uma pessoa que viveu o seu tempo (e não o viveu no PlayStation ou no Second Life), está a fim de estudar a sério e não tem medo da cara feia dos medalhões palpiteiros:

Visões da ciberfronteira: como eles viram a internet em seus livros
Me parece que o tema que mais matou árvores nos anos 90 foi a análise do que a Grande Rede fora/era/viria a ser. "Análise"? Todo mundo achava que podia soltar uns palpites e lançá-los em livro. Muitos foram best-sellers e fizeram as cabeças de muita gente por aí. Anote esses títulos.

Selecione quais deles envelheceram mal e seguiram o mesmo caminho da pochete, da lambada e do Fiat 147. Compre os livros. São aqueles das bancas de "tudo por R$ 1,99" das grandes livrarias de informática.

Peneire sete ou oito títulos que, no conjunto, cubram um espectro amplo da "problemática" internética: os temas não podem se sobrepor muito.

Disseque-os. Mostre aos leitores onde eles erraram, por que erraram, quem esposou suas teses furadas e quem os desmentiu na época (o que mais se ouviu depois do estouro da bolha pontocom foi "Não disse? Bem feito!").

Enfim, não falta assunto. Mãos à obra!

Rumo ao Cristo

Meu primo está no Rio. Surgiu a idéia de levá-lo ao Corcovado de trenzinho. Fui pesquisar o que nos espera. A passagem da Estrada de Ferro do Corcovado, ida e volta sem descontos, custa 36 reais, aproximadamente 3,5 reais por quilômetro. Entre Rio de Janeiro e Paris há 9.126 km. Nesse trecho, uma passagem de primeira classe da Air France custa uns R$ 9 mil, taxas incluídas. Façam as contas.

[Update] O site do Corcovado é completamente tosco, pobre, mal-ajambrado. Parece que não é reformado há anos (chama os cartões de "virtuais"? E os oferece naquela interface?). Não esclarece quase nada, põe o telefone pouco visível, telefono e descubro que a ligação caiu num gabinete parlamentar (tenho certeza de que teclei o número certo).

Eleição irrelevante

Nada vai mudar em Bananópolis devido a eleição de uma estatua para ser uma maravilha do mundo. As legiões de pobres que perambulam em Bananópolis continuarão a serem pobres.

segunda-feira, julho 09, 2007

¡¡¡Calentamiento global!!!

Los porteños viven hoy una jornada histórica a raíz de la ola de frío polar. Nieva sobre distintos barrios de la Ciudad de Buenos Aires y del Gran Buenos Aires. (...) "Están cayendo copos de nieve en toda la ciudad(...)" (...) La última vez que nevó en la Ciudad de Buenos Aires y sus alrededores fue en junio de 1918.

Família vende tudo! É pra acabar!

Um grande sortimento de discos de vinil (muitos maxi-singles dos anos 80), uma cadeira de escritório totalmente articulada, livros clássicos de informàtica. Desta vez sem intermédio do Mercado Livre: tudo direto com o vendedor. Consulte!

Para não dizer que não falei do Live Earth

(em homenagem aos tarados que vêm a este blog em busca de "vídeo proibido da Xuxa")

A maior estrela da televisão brasileira foi rebaixada a showzinho de abertura em concerto-farofa, mas pensa que continua abafando.

Observação da minha esposa, xuxista dos velhos tempos: "os fãs da Xuxa crescem, a própria Xuxa não". Isso aí. E disse mais sobre o espetáculo da Praia de Copacabana: "Xuxa não agüenta mais nem dançar". Tudo bem. Em compensação, sob uma decoração... hã... alegre que mais parecia uma festinha de aniversário de subúrbio (o que Jorge Fernando está botando no suco de laranja da Xuxa?), um corpo de baile de paquitas falsificadas e dançarinos "de rua" mal-ajambrados tinha amplo espaço para se movimentar. Compare com qualquer outro show do Live Earth que tivesse ocupado o palco com músicos de verdade e instrumentos de verdade. Se Xuxa
não canta nem dança, o que ela pensa que faz num show?

Xuxa tem que saber a hora de parar. Ela tem saúde. Beleza. O carinho dos fãs. Um quaquilhão no banco. E uma missão séria em sua vida: criar sua filha. Xuxa conquistou tudo, menos a capacidade de continuar fazendo papel de Xuxa. Já passa da hora de sair da redoma auto-infantilista. Xuxa não conquistará maturidade e sabedoria pelo critério da antiguidade. Dercy Gonçalves só há uma.

*****

Mas lembremo-nos de Miguel Falabella: a zero real vocês queriam o quê?
O show brasileiro foi o único com entrada grátis. É sintomático. Mesmo com o dólar descendo às profundezas sub-R$ 1,90 e certos setores da indústria chorando as pitangas, é claro que os exportadores inteligentes continuam se dando bem quando trocam sua produção por moedas fortes. Não poderia ser diferente: os estrangeiros pagam.

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