Ainda o livro do Planeta Diário
O maior mérito do livro da Desiderata deve parecer uma heresia a quem viveu "aqueles tempos": delavar o visual antigo para que as novas gerações possam absorver o conteúdo sem torcer o nariz. Daqui a pouco ninguém mais vai saber o que realmente o Planeta satirizava em gênero, pois a garotada que entra hoje na população economicamente jamais deu a menor pelota para jornais de papel (sai tudo grátis na internet mesmo; ademais, "eucalipto não se come"), e qualquer matéria impressa um pouco mais complexa remete ao site do jornal, onde contará com a foto-cidadão, o vídeo-cidadão e uma enxurrada de comentários. Pelo menos hoje os fetichistas da celulose recebem jornais multicoloridos e graficamente impecáveis. Em comparação, O Planeta Diário dos anos 80 deve parecer a coisa mais tosca da História da imprensa.
Numa estimativa otimista, o Planeta gozou (no bom sentido) dois anos de glória, mais ou menos os anos de 1985 e 1986, até que sucumbiu à glória e decadência do Plano Cruzado e continuou caindo nos muitos pacotes econômicos seguintes. Porque boa produção custa dinheiro. O papel piorava, a impressão piorava, o número de páginas caía, os anunciantes desapareciam. Acima de tudo, quem não se lembra de ter visto uma troca de moeda não tem a menor noção no abalo psicológico que os furacões econômicos causavam e no baixo astral que disseminavam. De todo modo, O Planeta entrou em 1988 sem Perry White, sem A Vingança do Bastardo e sem Cláudio Paiva, mas com uma banda e um programa de TV batendo à porta, o que tornou o jornal um negócio secundário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário