segunda-feira, janeiro 13, 2003

Gratuidade: encerrando o assunto

Semana passada o iG completou tr�s anos. Nas contas aceleradas da Internet, tal como ocorre com os c�es, � como se tivesse chegado aos 21. Uma baita responsabilidade sobre seus ombros; ao mesmo tempo, uma adolesc�ncia que teima em n�o acabar t�o cedo.

A celebra��o quase fica em segundo plano atr�s das queixas dos provedores concorrentes, reunidos na Abranet, que n�o est�o nada satisfeitos com o tratamento das companhias telef�nicas aos servi�os de Internet gr�tis.

A gratuidade relativizou todos os valores. Na aurora da Internet comercial brasileira pagava-se algo perto de 1,50 d�lar por hora de conex�o. N�o incluindo os custos do telefone, n�o considerando o racionamento das linhas, nem as conex�es terrivelmente lentas, tampouco a escassez de conte�do brasileiro. � verdade que a contribui��o desses provedores pioneiros foi essencial para a constru��o do imp�vido colosso de hoje, mas n�o se pode negar: pagava-se uma nota por um servi�o chinfrim.

Manter um n�vel de servi�o � altura desses pre�os n�o era mera quest�o de querer. Al�m da compet�ncia profissional indispens�vel, era preciso ter uma certa proximidade com o poder, de modo a animar operadoras estatais que n�o tinham nenhum interesse natural em ver gente comum conectada. Nem Silvio Santos escapou de entrar pelo cano nas m�os da Embratel. Curiosamente, o chabu inicial do provedor SOL pegou de surpresa toda a imprensa especializada -- com a her�ica exce��o do Inform�tica Etc. Quem te viu, quem te v�.

Em 1999, para a felicidade geral dos usu�rios, os provedores tarifados sa�ram de moda. Agora que n�o era mais necess�rio racionar o acesso, entraram em cena os planos de mensalidade fixa, facilitando as contas dos usu�rios e deixando mais claro quem � que cobrava tarifas exageradas nesse mercado. Quem chora pela "perda" dos pequenos provedores que fecharam as portas (se ruins) ou foram absorvidos pelos grandes (se mais-ou-menos)? O mundo do provimento de acesso foi reestruturado em torno de melhores padr�es de pre�o e de qualidade, e o consumidor � que saiu ganhando.

No ano seguinte, o acesso gr�tis chegou arrasando, mesmo que meio tarde. Como o estouro da bolha pontocom veio logo, o iG deixou de realizar seus verdadeiros planos: abrir o capital na Nasdaq e prosperar como empresa de comunica��o "multim�dia". Para a garotada de hoje, "IPO" virou algo do tempo das carro�as, e a gera��o de conte�do de qualidade foi rebaixada � pen�ltima preocupa��o de qualquer portal -- hoje basta manter a garotada conectada o maior tempo poss�vel, seja l� para o que for.

Os provedores n�o-gr�tis reclamam dos gr�tis, com alguma raz�o, se bem que a chave do problema n�o s�o os contratos "de pai para filho" entre os "gr�tis' e as companhias telef�nicas: � a pr�pria restri��o de acesso ao mercado de fornecimento de telefonia. Quer dizer: n�o � um problema para a Anatel resolver, pois a Anatel (e a pesada regulamenta��o que ap�ia sua exist�ncia) � o problema. Enquanto os provedores, gr�tis ou n�o, continuarem devendo sua mera exist�ncia a uma burocracia monstruosa, cavar�o sua pr�pria sepultura.

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