A orkutização do jornalismo
O Globo Online inaugurou mais uma reforma para reforçar sua identidade corporativa e avançar sua interação com o público. Em resumo, agora o portal se chama simplesmente O Globo e oferece destaque desmedido aos comentários dos leitores. O sistema de comentários já existia e continua existindo do mesmo jeito, como tosquíssima arena de palpites e conspirações de transeuntes eletrônicos (seriam propriamente "leitores"?) que não têm coisa melhor a fazer. Hoje os contadores de comentários foram promovidos à primeira página: as notícias mais comentadas passam a chamar atenção por isso mesmo. A capacidade de atrair uma horda de palpiteiros e conspiradores virou critério de valor das notícias. Como em qualquer comunidade do orkut.
Antes da bolha pontocom, em 2000, os portais disputavam o melhor conteúdo para atrair os olhares dos usuários que sabiam das coisas. Quando o dinheiro virou fumaça e a política de portais foi ao fundo, subitamente os marqueteiros online descobriram as maravilhas da internet participativa: blogs, páginas pessoais, caixas de comentários, fóruns de discussão, bate-papo, peer-to-peer: recursos que inexistiam ou ninguém levava a sério passaram a ser promovidos como "a" razão de ser da rede -- e para um moleque "pow kra blz bjux vlw", nada existiu mesmo antes disso.
Em tempo: Caixinhas de comentários, enquetezinhas, fotinhas "Eu-repórter" e firulas de reengenharia farão levarão os profissionais (propriamente ditos) do Globo a tomar jeito? Todo dia, no papel e online, erros crassos de português e apuração. Sinto como se a redação tivesse sido tomada pelos próprios moleques do orkut: por mais que eles se esforcem para escrever uns textinhos passáveis, continuam dando provas de que não viveram nada, não leram nada, não entenderam nada.
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