A volta dos Kikos Marinhos ao Brasil
Depois da moda dos anos 80, chegou a vez de exumar certos modismos lamentáveis dos anos 70. Agora chegou a vez de um dos mais retumbantes e fugazes cases de marketing infantil do período: os Kikos Marinhos. Por enquanto, só em São Paulo, em muitas bancas, numa edição que em dois aspectos faz justiça à antiga: é cara (R$ 14,95) e mal-ajambrada.
Nunca tive os Kikos originais setentistas, que todo mundo diz que não funcionavam, mas testei duas vezes os Sea-Monkeys, a versão original americana (que existe sem interrupção desde os anos 60), e posso atestar: dão certo. É só não fazer lambança e ler atentamente o maldito manual. Duas habilidades acima da capacidade da criança (criança?) normal.
Por dentro das embalagens, a espécie de crustáceo que nasce por "mágica" é sempre a mesma. Mas entre os Kikos brasileiros do século 21 e os Sea-Monkeys há grandes diferenças que prejudicam o produto nacional.
Começando pela documentação. Até agora não sei direito se as instruções dos Kikos falam ao adulto ou à criança, ao leigo ou ao aquarista -- de qualquer forma, os itens não se aprofundam em nenhuma questão. O manual completo dos Sea-Monkeys tem 32 páginas absolutamente objetivas.
Qualquer kit básico dos Sea-Monkeys vem com um purificador de água, um pozinho usado para neutralizar metais tóxicos e outros produtos químicos que fazem mal à saúde dos bichinhos, que funciona às mil maravilhas (testei com o precioso líquido da Cedae e deu certo). Uma vez cumpridas as 24 horas de descanso do purificador, é só adicionar os ovos de Sea-Monkeys, mexer e -- plim! -- os bebês-crustáceos surgem em um minutinho. Exatamente como no "truque" de Flávio Cavalcanti diante das câmeras da TV Tupi em 1978.
Em comparação, o procedimento para criação dos Kikos da nova geração é impreciso e ilógico. Pelo preço, o mínimo que poderiam fornecer era um purificador. Nada que, segundo a antiga e venerável tradição brasileira, não possa ser substituído por uma boa conversinha e muito wishful thinking. Pretende-se "recriar um pedacinho do oceano em sua casa" com dois litros (nos Sea-Monkeys seriam apenas 350 ml) de água do mar limpa (como vizinho da -- rá, rá! -- praia do Flamengo, prefiro pular essa hipótese) ou água filtrada com duas colheres de sopa de sal grosso (até agora, nenhum controle químico, nem da água, nem do sal). É preciso esperar 24 a 36 horas para a eclosão. Ninguém do lado de cá do Sistema Solar vai ter essa paciência toda.
E tudo que era opcional (e pouco necessário) nos Sea-Monkeys se torna essencial nos Kikos Marinhos: deixar perto de uma lâmpada de 40 watts sob o aquário, usar um aerador "para manter a oxigenação constante no fundo do aquário" e manter o pH entre 8 e 9 (pH? What's pH?).
Em todos os casos, lá como cá, temos como divulgação uma família de bichos antropomorfos a separar as crianças não-otárias das que acreditarão que o pozinho "mágico" se transformará exatamente naquilo. Sendo que, pelas caras dos personagens dos personagens dos Kikos brasileiros, parece que há alguma coisa na água que os deixa em permanente estado de doidice.
Nunca tive os Kikos originais setentistas, que todo mundo diz que não funcionavam, mas testei duas vezes os Sea-Monkeys, a versão original americana (que existe sem interrupção desde os anos 60), e posso atestar: dão certo. É só não fazer lambança e ler atentamente o maldito manual. Duas habilidades acima da capacidade da criança (criança?) normal.
Por dentro das embalagens, a espécie de crustáceo que nasce por "mágica" é sempre a mesma. Mas entre os Kikos brasileiros do século 21 e os Sea-Monkeys há grandes diferenças que prejudicam o produto nacional.
Começando pela documentação. Até agora não sei direito se as instruções dos Kikos falam ao adulto ou à criança, ao leigo ou ao aquarista -- de qualquer forma, os itens não se aprofundam em nenhuma questão. O manual completo dos Sea-Monkeys tem 32 páginas absolutamente objetivas.
Qualquer kit básico dos Sea-Monkeys vem com um purificador de água, um pozinho usado para neutralizar metais tóxicos e outros produtos químicos que fazem mal à saúde dos bichinhos, que funciona às mil maravilhas (testei com o precioso líquido da Cedae e deu certo). Uma vez cumpridas as 24 horas de descanso do purificador, é só adicionar os ovos de Sea-Monkeys, mexer e -- plim! -- os bebês-crustáceos surgem em um minutinho. Exatamente como no "truque" de Flávio Cavalcanti diante das câmeras da TV Tupi em 1978.
Em comparação, o procedimento para criação dos Kikos da nova geração é impreciso e ilógico. Pelo preço, o mínimo que poderiam fornecer era um purificador. Nada que, segundo a antiga e venerável tradição brasileira, não possa ser substituído por uma boa conversinha e muito wishful thinking. Pretende-se "recriar um pedacinho do oceano em sua casa" com dois litros (nos Sea-Monkeys seriam apenas 350 ml) de água do mar limpa (como vizinho da -- rá, rá! -- praia do Flamengo, prefiro pular essa hipótese) ou água filtrada com duas colheres de sopa de sal grosso (até agora, nenhum controle químico, nem da água, nem do sal). É preciso esperar 24 a 36 horas para a eclosão. Ninguém do lado de cá do Sistema Solar vai ter essa paciência toda.
E tudo que era opcional (e pouco necessário) nos Sea-Monkeys se torna essencial nos Kikos Marinhos: deixar perto de uma lâmpada de 40 watts sob o aquário, usar um aerador "para manter a oxigenação constante no fundo do aquário" e manter o pH entre 8 e 9 (pH? What's pH?).
Em todos os casos, lá como cá, temos como divulgação uma família de bichos antropomorfos a separar as crianças não-otárias das que acreditarão que o pozinho "mágico" se transformará exatamente naquilo. Sendo que, pelas caras dos personagens dos personagens dos Kikos brasileiros, parece que há alguma coisa na água que os deixa em permanente estado de doidice.
Um comentário:
Eu era um deles (otário) que ficava horas e horas diante daquele aquario na esperança de ver aqueles seres inúteis brotar da agua com sal.
pura picaretagem dos anos 70.
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