Uma civilização (algo) superior
Esqueçam Maradona, finjam que Evita nunca existiu, convençam-se de que Carlos Gardel não começou a cantar melhor depois de morto. No mínimo, um país onde o garrafão de água tem alça (alça!) não pode ser considerado um lugar totalmente entregue à barbárie. Ou os brasileiros são burros demais para descobrir algo tão prático, ou são escravistas enrustidos que acham chiquérrimo receber a visita do menininho carregando um garrafão como um pigmeu de safári de historinha.
Porém, como no Passport, o que importa é o conteúdo, e nesse o Brasil é campeão garantido: a água mineral da Argentina é salgada. Essa é a impressão unânime de quem esteve lá e tentou escapar das gaseosas (caras) e dos vinhos (mesmo os baratinhos são excelentes, mas não servem para matar a sede a qualquer hora). Experimentei várias marcas e, em diferentes intensidades, sempre senti aquele gostinho meio salgado -- em flagrante contraste com a comida, que é feita quase sem sal. Vai entender.
O problema deve ser bem sério. Numa placa enorme na movimentada esquina de Santa Fé com Callao a água de marca XYZ anuncia sua grande vantagem: baixo teor de sódio. Em Campos do Jordão, Paraíba do Sul ou Caxambu ninguém nem sabe o que é sódio. Que felicidade foi beber a maravilhosa água mineral brasileira no vôo de volta.
Vai ver que, no fundo, apesar do desprezo dos degustadores brasileiros, a água argentina é muito boa. Nesse caso, mutatis mutandis, serve para o produto alviceleste a avaliação de certas águas do parque de São Lourenço: podem ter milhões de propriedades medicinais, mas ainda assim têm gosto de cano enferrujado.
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