Já era
As fitas cassete de áudio já vão tarde. Estou copiando gradualmente para CD todas as minhas antiguidades, antes que estraguem. Mas as antiguidades continuarão guardadas. A bola da vez é o gravador de microcassete.
Um blog certificado
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Um grande site de recursos humanos veiculou a oferta abaixo, tão preciosa que só os assinantes puderam ter acesso. Onde está o erro?
E estou preparando o lançamento de meu fotolog. Tenho centenas e centenas de imagens arquivadas (para não falar das que só existem em papel... por enquanto) que merecem um lugar na Rede. Aguardem.
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Coisas que a gente encontra na pilha de cartões quando menos espera.
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Desculpem por não ter postado antes minha coluna da semana passada... Ei-la. As cibercríticas, porém, só no rodapé do original.
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Quinze anos de carreira (parte 4)
Antes de seguir com o relato, uma explicação adicional sobre a "conversão" de computadores. Estou anotando tudo. Um dia isso ainda vai dar um livro.
Já usei monitor VGA em tons de cinza. Queimou em pouco mais de seis meses (não digo a marca para não ser mordido por "adevogados" hidrófobos). Mas não foi aí que decidi raspar a poupança e comprar um monitor colorido: a verdade veio de supetão num jogo de paciência. Num belo dia de 1994 fui visitado por uma amiga e apresentei o jogo no monitor sem cores. Expliquei como funcionava: pela ordem numérica, era preciso arrastar carta de naipe preto sobre carta de naipe vermelho, e assim sucessivamente. Quem tem intimidade com baralhos sabe distinguir pretos de vermelhos só pelos desenhos. Não era o caso: para ela, copas e ouros pareciam tão pretos quanto paus e espadas. Desisti de nadar contra a corrente.
O fim do MSX, para mim, foi uma ficha que caiu lenta e gradualmente. Se é verdade que um computador vale tanto quanto sua capacidade de pagar a si mesmo, aquele tinha se depreciado por completo. Não podia mais esperar retorno de um computador obsoleto. Existia uma torcida muito grande dos usuários de MSX em defesa de suas queridas máquinas; por ser mais barato que um PC ou (raro) Mac, consideravam-no o micro da realidade brasileira. Concordo totalmente com a definição, mas no mau sentido: Expert e Hotbit foram o que a reserva de mercado pôde proporcionar a nós, usuários comuns.
O conceito original do MSX era brilhante. Uma dúzia de fábricas no Japão se reuniu em torno de uma especificação comum que garantisse máquinas compatíveis umas com as outras; depois os europeus (mas os britânicos, que já tinham seus Sinclairs e Amstrads, nem tanto) compraram a idéia, com grande sucesso. No Brasil, a polícia da reserva de mercado não teria ficado exatamente encantada com as possibilidades. Por isso, Sharp e Gradiente armaram o que até hoje se considera "a sacada genial": registraram seus modelos de MSX como videogames. Grandes coisas. Tecnicamente, um computador é indistinguível de um videogame. MSX usava cartuchos e era computador. Odyssey tinha teclado e era videogame. Imagine o que a SEI pensaria de um Xbox ou um PlayStation 2. De qualquer forma, computador compete com videogame (dizem que foi o caso dentro da Gradiente: como o Atari 2600 ainda vendia bem, o MSX cumpriu uma etapa na geladeira; acredito, mas não dispensaria certas "forças ocultas"), computador superou videogame como máquina de jogos no período pós-Atari 2600 (estive nos EUA em 1984 e vi o Atari 5200 ser hypeado até a medula. Alguém se lembra dele? Deixem para lá, então.), pré-Nintendinho. E naqueles tempos B. Piropo foi a uma grande loja no Japão, procurou MSX na seção de computadores e foi conduzido à seção de videogames...
Ainda assim, a história do MSX no Brasil foi repleta de sacadas marcantes e aparentemente geniais, mas ainda assim marcantes. Sharp e Gradiente prometiam e prometiam drives de disquete, mas não entregavam; como de costume, deixaram a porta aberta a múltiplos desenvolvedores independentes de hardware. Inventou-se uma interface de drives que era incompatível com as especificações originais. Passou como triunfo da criatividade nacional por suprir uma carência relevante, mas embirutava produtores e consumidores de software. Quando a Gradiente quis fazer certo, era tarde: empregou um drive interno de 3,5", formato que ainda não tinha sido amplamente adotado (era considerado mais típico de Macs e Amigas; só se tornou padrão em PCs do 386 em diante, e na versão de alta densidade). Àquela altura, os programas já eram engatilhados para funcionar na interface tupiniquim e não se entendiam com a interface "oficial" da Gradiente.
As limitações dos micrinhos clamavam aos céus, sempre atribuídas pela comunidade à perversa falta de interesse dos fabricantes. Mas os casos apresentados pelos advogados do MSX atrapalhavam mais que ajudavam. Diziam que o MSX foi usado pela União Soviética na estação espacial Mir... Conheço vários colecionadores de micros de oito bits e respeito seus esforços de preservação das antiguidades da informática, mas é apenas isso mesmo: uma atividade domingueira, sem maiores pretensões de arranhar o valor do que a maioria usa.
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Formulário de mensagem na Web é a ferramenta perfeita para o serviço de desatendimento ao consumidor. Seja para elogiar, seja para perguntar ou xingar, o usuário não guarda cópia do que escreveu.
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Quinze anos de carreira (parte 3)
Na época em que murchavam as aventuras impressas da Casseta e do Planeta, comprei meu primeiro modem. Era praticamente o único modelo que funcionava no meu modelo de MSX e podia ser adquirido em loja. Comecei a acessar precariamente: o modem era tão lento que era barrado nos dois BBSs mais influentes. Não estavam errados, pois o modem "paraguaio" mais vagabundo para PC era oito vezes mais rápido que o meu; usuário de MSX passava tempo demais conectado, impedindo que outros acessassem, e pouco contribuía à comunidade. Mas havia dezenas de BBSs, quase todos amadores, que agüentavam a barra. Eu acessava uns nove ou dez alternadamente, mas só era usuário freqüente de três BBSs, no máximo.
Eu aproveitava um subconjunto das atrações do BBS: as salas de bate-papo, ocasionalmente (nada de muito impressionante: se fosse um BBS enorme, entravam cinco ou seis pessoas de cada vez, se tanto), e a troca de mensagens, sempre. O resto funcionava mal (jogos online, em interface de caracteres mesmo) ou não funcionava (acervo de programas, que todo BBS fornecia, mas poucos títulos rodavam em MSX). Foi aí que começou a cair a ficha da diferença entre padrão de mercado e otimismo otário: o retorno do meu investimento de informática seria tanto maior quanto mais gente usasse sistemas compatíveis com o meu. É a famosa lei de Metcalfe, inescapável, ignorada no Brasil em favor da fé no planejamento central e do orgulho de ser do contra. O uso de BBS foi determinante para que, em questão de meses, eu dispensasse o MSX em troca de um PC.
O sistema BBSiano de mensagens era melhor que o da Usenet ou das listas de discussão, onde todas as mensagens são públicas, ou do e-mail comum, onde todas são privadas: salvo indicação contrária, uma mensagem de Fulano para Sicrano poderia ser lida por todos que acessassem aquele board temático. Parece pouco, mas todo mundo podia meter o bedelho em qualquer discussão. Isso criava um sentido de comunidade fortíssimo, sem comparação no mundo dos contatinhos fugazes da Internet. Os BBSs, grandes e pequenos, se associavam em redes e trocavam mensagens entre si. Desse modo, qualquer mensagem podia ser ecoada no Brasil e (raramente) no exterior. Era um bocado de poder para um conglomerado de sistemas que a companhia telefônica fingia que não existia, sem visibilidade popular (o trabalho "evangélico" do Informática Etc. era das poucas exceções) e sem apoio do comércio não-muambeiro.
Mais divertidos ainda eram os encontros de usuários. Em meus primeiros dias de BBSiano, em 1992, quase todos eram realizados em bares ou restaurante entre Leme e Leblon, a região onde quase todos moravam. Só um pouco mais tarde é que ganharam força os encontros na Zona Norte e - pasmem! - em Niterói. Além dos encontros mensais regulares, inventava-se encontro por qualquer motivo, como se os eventos sociais fossem um lembrete permanente de como é fútil a vida online sem um pé no mundo real. Esse equilíbrio acabou abrindo novos caminhos para minha carreira... o que explicarei no próximo capítulo.
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A entrevista ao Comunique-se
Sim, agora eu é que acabei sendo entrevistado. :-) O original está aqui, mas só para cadastrados.
Do offline para o online (e vice-versa) Em uma conversa por ICQ, pedi ao jornalista Paulo C. Barreto, grande veterano da Internet no Brasil, que sugerisse um tema para minha coluna no qual fosse interessante tanto para os jornalistas que já estão no mercado quanto para os que ainda estão aprendendo o be-a-bá. Há mais de 10 anos no mercado editorial de informática, colunista do site do jornalista Diego Casagrande e colaborador regular da redação da revista Info, Paulo C. Barreto sugeriu um artigo que abordasse como a experiência offline pode ser aplicada online. Então perguntei: por que você mesmo não conta isso? Em entrevista por email e por ICQ, PC Barreto contou um pouco das suas experiências no offline e no online e aponta algumas tendências para a área de jornalismo digital. Acompanhem abaixo: Comunique-se - Você está há mais de 10 anos no mercado editorial de informática. Como se deu seu ingresso no cenário de jornalismo online? PC - Meu primeiro artigo para O Globo, de 1994, saiu primeiro online no Centroin BBS, ainda na era pré-Internet. O universo dos BBSs ainda era muito restrito e praticamente todos se conheciam, ou de encontros de usuários, ou pela presença regular nos fóruns. Foi assim que fui "descoberto" pela Editoria de Informática do Globo. A partir daí, descontando os artigos que fiz para mídia impressa que acabaram sendo republicados em sites, meu primeiro trabalho jornalístico 100% online começou em 1998, na revista eletrônica Aqui!, um conceito brilhante de Fernando Villela que foi levado adiante com competência e profissionalismo dentro do Cadê?. Lá eu fazia uma coluna semanal com dicas de shareware e freeware, e também uns tutoriais e FAQs sobre vários assuntos técnicos em evidência. PC - Em termos de tempo de carreira, é equilibrado. O offline é a base de tudo. Comecei ainda no tempo da máquina de escrever; quer mais analógico do que isso? :-) Não há nada como ler impresso, sem monitores cansativos, sem baixas resoluções, de um modo que se preste mais a leituras aprofundadas. Isso exige mais de quem escreve. Na tela, parece que todos fazemos uma espécie de leitura dinâmica. Por isso os autores online acabam se safando de tantos descuidos ortográficos, gramaticais, factuais e lógicos. Pensam assim: para que caprichar em algo que daqui a algumas horas poderá estar obsoleto? Em Internet tudo é realmente muito rápido e objetivo (se não captar a mensagem em menos de cinco linhas, o leitor se cansa e vai ver outro site), e é natural que o autor precise se adaptar a um público heterogêneo e sem fronteiras. Mas se devemos escolher um aspecto do offline que faz falta online, é o equilíbrio entre um controle de qualidade mais apurado dentro da redação e um nível de exigência mais alto por parte do leitor. PC - O caminho certamente é esse. A versatilidade é benéfica tanto para o veículo quanto para o profissional. |
Postado por Paulo C. Barreto às 18:20 0 comentários
Em sua luta contra o monopólio das telecomunicações, a Anatel tomou para si o monopólio do bom senso. Exemplos não faltam. Espero que os usuários de telefones celulares se lembrem dos contratos vantajosos que as operadoras ofereciam com estardalhaço. Passe um pente fino e busque as cláusulas que os gênios de Brasília não rasgaram.
A adoção, na marra, dos códigos de operadora nas chamadas interurbanas via celular, tal como já ocorria na telefonia fixa, deve até ter feito a satisfação de alguém fora da muralha burocrática da Anatel. Liberdade de escolha, dizem. Nem uma palavra sobre os usuários que já tinham celebrado contratos de tarifa fixa na área de cobertura de sua operadora. Lembra do plano que permitia fazer ligações em todo o território do estado a preço de chamada local? Da noite para o dia essas cláusulas foram revogadas: até para cidades vizinhas as ligações passaram a ser consideradas interurbanas - e cobradas como tais.
O usuário reclama com a operadora. A operadora nada pode fazer, pois só cumpre, no varejo, as ordens da Anatel (um cipoal de resoluções pelas quais a Anatel legisla sem Legislativo) e, no atacado, um conjunto de metas arbitrárias e mirabolantes. Deve ser por isso que os seguidores de Stálin estão todos em Brasília, perto da Anatel, em torno da Anatel e - por que não? - dentro da Anatel.
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A Dell, ainda que tardia, seguiu o exemplo da Apple e jogou a toalha: desistiu de incluir drives de disquete em seus computadores. E as pequenas montadoras, quando perceberão o óbvio? Exceto para manter compatibilidade com equipamentos antigos, floppies no século 21 já não fazem o menor sentido. Usuário típico, que acabou de tirar o micro da caixa, não foi do tempo dos equipamentos antigos: já está acostumado com CD-Rs (e, cada vez mais, DVD-Rs) baratinhos e gravadores onipresentes. Em todo caso, redes existem para jogar arquivos de um lado para o outro. E para levar arquivos no bolso, não inventaram nada melhor que a memory key. Se não for o seu caso, provavelmente você se lembra de tempos bem mais bicudos.
Em 1994 escrevi para O Globo um artigo sobre o WinCat, um programa shareware. Para efeitos de comparação, citei o preço do registro do programa como equivalente ao de uma caixa de discos flexíveis (dez unidades de 3,5 polegadas e alta densidade, o mesmo padrão de hoje) de ótima qualidade: uns 15 dólares. De tão caros, ou o usuário racionava os disquetes, ou relaxava no controle de qualidade em busca de melhores preços. Assim perderam-se muitos dados preciosos. De qualquer forma, disquetes nunca foram muito confiáveis mesmo, apesar de já terem sido tratados com mais respeito pela indústria. As caixinhas de papelão eram maiores, pois os disquetes eram embalados em envelopes plásticos individuais. A prática foi abortada "a bem da ecologia", mas o consumidor conhece de longe o cheiro da sovinice.
O que impressiona é notar que já existiram inúmeros formatos de disquetes. Todos foram varridos do mapa, os Zip Disks (que um dia já foram mais vantajosos que CDs) vão acabar seguindo o mesmo caminho, e os concorrentes diretos do Zip Disk praticamente não deixaram vestígios. Para a decadência de todos, o mesmo motivo: não são baratos, nem práticos, nem rápidos, nem resistentes, muito menos espaçosos. Os floppies resistem com veículo de vírus, mídia de compatibilidade confortavelmente garantida e sopro de vida a computadores em avançada decadência.
O quê? Decadência? Já posso prever que o ilustre usuário vá pedir menos arrogância e mais respeito a seu 486 velho de guerra (há máquinas ainda mais antigas, mas não vamos nos estender muito). Aceito a crítica, desde que o queixoso revele quanto pagou pelo 486 no tempo que aquele era um computador zero-quilômetro e conte quantas pessoas tinham computador naquela época. Aí, sim, poderemos falar em "exclusão" sem cair em frases feitas. Mas esse é um assunto para outra coluna.
Postado por Paulo C. Barreto às 11:26 0 comentários
Já nas bancas!Guia de Carreira em TI
Mais um especial da INFO... com a minha participação. Confiram já (o site só tem a lista de atrações; conteúdo mesmo, só no papel)
Postado por Paulo C. Barreto às 19:56 0 comentários
Postado por Paulo C. Barreto às 15:45 0 comentários
Quinze anos de carreira (parte 2)
O período como colaborador da Casseta e do Planeta durou aproximadamente enquanto os dois grupos se mantiveram relativamente separados e interessados em suas publicações. Sempre mantiveram relações cordiais, fizeram shows juntos desde mil novecentos e antigamente, gravaram disco juntos, escreviam para televisão juntos desde 1988; fizeram Doris para Maiores em 1991; viraram astros de seu próprio programa em 1992. A fusão definitiva era questão de tempo. Casseta e Planeta, as publicações, foram para o brejo, reuniram-se numa revista única onde botaram água no feijão do projeto original; ainda assim, durou até 1994 ou 1995, quando as crianças já imaginavam que os "cassetas" eram invenção recente da Globo. Àquela altura eu já estava longe.
Em fins de 1992 comecei a escrever para a Mad brasileira, ironicamente (que nada tem a ver com O Lado Irônico do Dave Berg) numa fase em que eu nem estava lendo a revista. Mas já fazia tempo que eu sabia tocar de ouvido todas aquelas sátiras de cinema e TV, Livros do Ódio, Respostas Cretinas, entrevistas, jogos dos erros, invenções malucas e o que mais aparecesse. Foi uma colaboração praticamente contínua até fins de 1996, na companhia de grandes craques do texto e da arte. (continua...)
Postado por Paulo C. Barreto às 12:28 0 comentários
Por Paulo C. Barreto - 14/10/2003
Nicholas Negroponte diz que computadores deveriam ser mais baratos. Em busca de culpados, demitiu a lógica.
Negroponte, guru da alta tecnologia, em entrevista à revista Istoé Dinheiro, acusa a Intel e a Microsoft de manter os preços dos computadores artificialmente elevados, nestes termos:
A cada ano, a Intel aumenta a capacidade de processamento do computador e a Microsoft faz um software ainda mais complicado. A todo momento eles anunciam aperfeiçoamentos e características novas e, claro, mais caras. Isso acontece porque a indústria não quer encarar o seu produto como uma mercadoria de baixo preço. Em 1985, o meu Macintosh 512, da Apple, satisfazia boa parte das minhas necessidades. Hoje esse mesmo equipamento deveria custar menos de US$ 10. Então, a pergunta que se faz é: por que os computadores são tão caros hoje em dia? Nós precisamos parar com esse movimento o mais rápido possível. E um dia nós vamos conseguir.
Mesmo considerando que o Macintosh não usa processador Intel nem sistema operacional Microsoft, o exemplo serve perfeitamente -- para derrubar a teoria do próprio Negroponte. Nada mais natural que um Mac 512 saia hoje por menos de 10 dólares (em termos de mercado dos EUA; entre os brasileiros, que dependiam dos contrabandistas, essa máquina era muito rara), quando na época do lançamento custava 3.300 dólares, fora os impostos. Com direito a 512K de RAM, um único drive de disquete de face simples e o monitor preto-e-branco de nove polegadas que os colecionadores elevaram à categoria de "clássico".
Se Negroponte tivesse guardado os 3.300 dólares debaixo do colchão, mesmo sem considerar a alta do custo de vida e o quanto o dinheiro teria rendido na mais conservadora das aplicações, ainda hoje o guru do MIT poderia fazer uma bela farra nas lojas de computadores. O PowerBook G4, topo da linha de notebooks da Apple, sai por 3 mil dólares na loja virtual de fábrica, sendo que desta vez temos um micro totalmente portátil, com direito a visor de cristal líquido de 17 polegadas, mil vezes mais RAM que o Mac 512, disco rígido de 80GB, gravador de DVD, USB, FireWire, Gigabit Ethernet, Bluetooth, 802.11g e outros "aperfeiçoamentos e características novas" em que Negroponte tascou a pecha de "mais caras" (desnecessário entrar nos detalhes do pacote de software que acompanha o PowerBook G4; consultem www.apple.com).
É dinheiro demais por um computador? A mesma loja está recheada de opções mais baratas, provavelmente de custo/benefício superior. Certo, mesmo, é que naqueles tempos Negroponte investiu bem ao trocar seus dólares por um computador capaz de se pagar várias vezes -- um aspecto do valor da informática que as análises ideologicamente enviesadas fingem que não vêem -- mesmo que, antes disso, tivesse se consumido em interrogações diante das vitrines: "por que os computadores são tão caros hoje em dia?" (Boa pergunta. E no tempo do cartão perfurado eram mais baratos?).
Há um único motivo para o Mac 512 hoje não custar nem 10 dólares: desde os anos 80 a Apple lançou dúzias e dúzias de novos Macs cada vez mais poderosos. O que ocorre com os computadores da Apple se repete, no mínimo, com o mesmo ímpeto no mundo dos PCs -- e estes ainda são mais baratos que Macs comparáveis. A perda de valor de computadores antigos desafia qualquer cálculo de depreciação, para a felicidade dos caçadores de pechinchas. Mesmo que não seja economicamente viável ao usuário típico comprar o topo de linha, a mera existência de um produto mais avançado puxa inexoravelmente para baixo os preços dos modelos anteriores. Todos saem beneficiados: uns consumidores conseguem máquinas mais poderosas, outros atingem acesso a máquinas mais baratas. Mas acredite: no fundo, no fundo,"parar com esse movimento o mais rápido possível" deve trazer ao usuário algum benefício que Negroponte não ousa revelar...
Não apenas os computadores não ficam mais caros ao longo do tempo (muito pelo contrário) e as máquinas Intel/Microsoft não são menos acessíveis do que as da concorrência, como as próprias Intel e Microsoft têm competidores tidos e havidos como mais baratos e seguros. A Microsoft tomou conta de quase todo o mercado de sistemas operacionais para PCs. Como resultado de seu sucesso, atraiu concorrência. No início dos anos 90 o OS/2 estava muito bem posicionado para enfrentar a dupla DOS/Windows: era riquíssimo em recursos, oferecia estabilidade e funcionalidade e era um produto IBM. Como exigia grandes quantidades de memória RAM (um componente que passava por uma fase de escassez e preços altos), ficou para trás.
Mas por essa época começou a crescer sem parar uma oferta ainda mais vantajosa. Se o custo da licença de uso do Windows não compensa? O Linux não é cobrado, pode ser customizado à vontade pelos programadores, é compatível com diversas plataformas, roda bem até em micros relativamente defasados, não apresenta as falhas de segurança pelas quais o Windows é tão criticado e aceita milhares e milhares de programas igualmente grátis. Por estar cada vez mais útil e amigável, o Linux se aproxima de milhões e milhões de usuários inexperientes (não fosse a pressão de enfrentar o Windows, a história poderia ter sido outra; de qualquer forma, o usuário saiu ganhando).
O leitor desavisado, ao se deparar com a entrevista de Negroponte, deve pensar que a Intel está sozinha no mercado e inventa chips novos num estalar de dedos -- ou, pior, tem uma fonte que jorra chips magicamente sem parar. Criar um novo microprocessador envolve estudos bilionários, e são consumidos outros bilhões para montar fábricas destinadas à vida curta: lançado um novo chip, é preciso começar (e gastar) tudo de novo. Por que a Intel se obriga a essa corrida estonteante? Se deixar a peteca cair, será superada pela AMD em pouco tempo. A AMD, que também mantém excelentes relações com a Microsoft, desde os anos 80 consegue a façanha de oferecer processadores centrais (no mínimo) funcionalmente equivalentes aos da Intel, só que mais eficientes e mais baratos.
O vaticínio de Negroponte de "parar com esse movimento", se cumprido, daria uma folga monumental à Intel: bastaria manter a mesma fábrica produzindo o mesmo chip de sempre por dez, quinze, vinte anos, sem que os preços caíssem brutalmente, multiplicando o retorno do investimento -- desde que fosse garantida a demanda pelo chip e eliminada a pressão tecnológica da concorrência. Como no futebol, a tática é brilhante, mas só falta combinar com o adversário.
É até razoável esperar de usuários comuns palpites como esse. Mas Nicholas Negroponte não é burro. Ele sabe com quem está falando, e quando fala, os donos do poder da tecnologia da informação escutam. Podemos tomar suas palavras como uma medida razoável do ponto a que chegou o conceito que faz a comunidade de TI do sucesso de uns e do fracasso de outros.
Xingar é fácil. Fazer comparações em bases honestas, por sua vez, parece uma façanha ao alcance de poucos.