quinta-feira, outubro 30, 2003

Napster: percam as esperanças



Neste 28 de outubro o novo Napster entrou no ar. Do antigo, nada resta além do nome. Na primeira versão, o programa/serviço apresentou aos internautas as maravilhas do troca-troca irrestrito de arquivos de música, para horror dos detentores dos direitos autorais. Pois a nova encarnação do Napster segue o caminho aberto pelo iTunes e vende faixas de áudio. Até com direito a cartão pré-pago para que o internauta possa comprar seus álbuns feitos de bits sem mexer com cartões de crédito. Eis o tamanho do milagre que o novo Napster espera: por que a meninada abriria a carteira para conseguir músicas que as redes de pirataria fornecem a custo zero?

Se hoje é tão fácil conseguir qualquer arquivo na Internet, talvez o Napster (o velho) seja menos culpado do que faz crer a aura lendária que se criou em torno da marca. No dia em que saiu do ar, e já faz quase três anos, o maior patrimônio do Napster era a fidelidade dos internautas. Como eram os próprios usuários que forneciam as músicas (rede peer-to-peer é isso), o valor do acervo do Napster era bem maior que o dos sistemas concorrentes. Mas já estava tecnicamente obsoleto: só funcionava em Windows, só permitia baixar arquivos MP3 (programadores espertos criaram truques para vencer essa limitação, mas sem grande popularidade), não reiniciava transferências interrompidas e não permitia que um arquivo fosse baixado de várias fontes ao mesmo tempo.

O sucesso do Napster atraiu dúzias de imitadores e três ou quatro competidores sérios. Nenhum superava o Audiogalaxy Satellite, que buscava não só o que estivesse na rede naquele momento, como tudo que já tivesse sido distribuído por seus usuários algum dia. Bastava ao caçador de MP3 selecionar centenas e centenas de músicas e deixar rodando dia e noite o pequeno programa Satellite: quando algum outro usuário entrasse no sistema com um arquivo daqueles, o download começava imediatamente. Como o Napster, tinha a desvantagem de só servir para intercâmbio de músicas. A rede Gnutella, que ainda existe, libera qualquer tipo de arquivo e não depende de um servidor central de banco de dados (na prática, a Gnutella não pode ser "desplugada" como foi a rede do Napster). Já teve melhores dias, mas sofreu com programas-clientes que espantavam a freguesia. Resultado: atualmente a rede FastTrack, muito semelhante à Gnutella, reina absoluta, a bordo do sucesso do competente Kazaa - e, para quem sabe das coisas, de sua versão "paralela", Kazaa Lite. Nem a rede tecnicamente mais privilegiada, a eDonkey2000, chega perto... por enquanto.

Todas essas redes foram, ou continuam sendo, bombardeadas pelas associações de defesa dos direitos autorais, RIAA à frente, e por iniciativas de artistas individuais (não necessariamente os campeões da parada de sucessos). A batalha judicial do Napster foi interminável, mas os confiantes usuários não se abalaram. Quanto mais crescia o dramalhão maniqueísta da empresa que surgiu do nada e incomodou os tubarões multinacionais da indústria fonográfica, mais a fauna de militantes marxistas, ciber-hack-ativistas, intelectuais da tecnologia de ponta, juristas espertos, esquisitos da Califórnia e puxa-sacos de moleques vestia a máscara de advogados de quaquilhões de internautas. Teria feito algum sentido se o Napster fosse mesmo a redenção dos oprimidos contra os gigantes da música. Não era.

O Napster original era um exemplo perfeito da febre especulativa da bolha pontocom, quando oitenta mil empresas iniciantes ofereciam ao usuário quase tudo por quase nada, de olho na fonte inesgotável de dinheiro dos investidores. Naquele tempo era considerado louvável que uma loja virtual vendesse por 9,99 dólares a fita de vídeo que custava 15 dólares no atacado (Titanic estava em alta e pouca gente usava DVDs) - o dumping fez tanto barulho que a tal loja foi comprada por uma concorrente por um caminhão de dinheiro, cobrindo com folga a perda de 5,01 dólares por unidade e ainda recheando as contas bancárias dos autores da idéia. É claro que a festa da grana fácil não poderia durar para sempre.

Só que o Napster era ainda mais radical: nunca pretendeu vender nada, nem por preço simbólico, que não fossem suas próprias ações e debêntures. Em fins de 2000 cumpriu sua razão suprema de existir no mundo dos negócios quando foi comprado pelo conglomerado Bertelsmann e logo fechado "para obras". Abriu-se uma avenida de oportunidade aos concorrentes, que transformaram as façanhas do velho Napster em fichinha. Hoje, com as bênçãos de conexões rapidíssimas a baixo custo, os internautas ignoram solenemente as ameaças da RIAA, pirateiam CDs inteiros com a facilidade com que antigamente só conseguiam catar faixas individuais e transferem mundo afora duplicatas de DVDs com a mesma qualidade dos originais. E o novo Napster, vendedor de músicas, é relançado pela Roxio, a importante produtora de software para gravação de CDs em casa. Alguém deve ter se surpreendido.

Crítica de cibercafés (1)


O que esperar quando você está longe do trabalho e precisa acessar a Internet? Na caixinha de surpresas dos cibercafés, só não conte com um mouse limpo. O padrão é nem conseguir controlar minimamente o cursor na tela sem antes abrir o fundo do mouse (vá em frente, isso é perfeitamente possível!) e raspar a sujeira que se acumula há eras nos roletes internos. Não é só um problema de falta de manutenção. Os mouse pads padrões não absorvem a umidade: transferem-na toda, junto com a poeira, para a esfera emborrachada, o que causa grande parte dos "defeitos" do mouse. Isso tudo vale para os cibercafés que não sejam dotados de caros (portanto, raros) mouses ópticos; fora esses, se achar um mouse limpo num micro de aluguel, pode mandar rezar uma missa de Ação de Graças. Por isso, em minhas andanças (anônimas, pagando as contas integralmente) por cibercafés, já desisti de registrar esse tipo de problema.

High Score - Shopping Bay Market, Centro, Niterói, RJ. Por 4 reais a hora o usuário recebe um computador com Windows XP, bem rápido, ainda que não livre de alguns "soluços" exasperantes. A administração remota mantém a instalação razoavelmente livre de programas estranhos, mas é tão rigorosa que não permite nem imprimir uma pagininha sem a intervenção do funcionário. Funciona mais como lan house do que como ponto de acesso à Internet, o que explica o bom monitor de 17 polegadas em ótima posição para os olhos. Se for de seu gosto, vá fundo; difícil é controlar os gritos da garotada (dos males, o menor: a lei draconiana do Rio, capital, contra as lan houses ainda não foi imitada por Niterói). A posição do gabinete, lá no alto, em combinação com a iluminação reduzida, dão uma impressão claustrofóbica, mas as mesas são suficientemente amplas.

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