segunda-feira, julho 25, 2005


Minha primeira placa de vídeo de verdade, 1994-2005

Não entram na conta a placa CGA (acompanhando o pavoroso e clássico monitor verde) que a precedeu, tampouco o sistema de vídeo do MSX mais antigo ainda. Pelo menos esta placa é VGA, tem a enormidade de 1 (hum) megabyte de memória e -- respirem fundo -- é Trident!

Comprá-la foi uma novela. Nada de estandes em Info-quaisquer-coisas em toda parte: era preciso passar o pente fino nos classificados, geralmente os do Balcão ou do Info Etc., marcar um encontro em local público e pagar em dólares -- era impossível calcular qualquer valor em dinheiro brasileiro, fosse qual fosse o nome da moeda. O amadorismo, no mau sentido, imperava: no mercado carioca, Pedro Macarrão e Gerson Rissin eram exceções que tinham lá seu preço, ou seja, um pouco acima do meu orçamento para placa de vídeo. Tive que correr certos riscos.

A primeira tentativa foi um fracasso. Uma anunciante de Niterói marcou para entregar a placa em minha casa à tarde. As horas se passaram (e a máquina parada por falta de placa), e nada. Lá pela meia-noite consegui que alguém atendesse o telefone (fixo). Alegou "imprevisto". Passei adiante e procurei outro anúncio de placa VGA usada com funcionamento perfeito. Isso mesmo, pessoal: em 1994 não podia esperar sequer uma zero-quilômetro.

Desta vez marcamos na entrada de uma estação de metrô, e o negócio foi fechado. Não me lembro do preço. O vendedor, ainda mais jovem do que eu, era um geek total, que se gabava de ter detonado meia dúzia de drives em todos esses anos nesta indústria vital de duplicação maciça de disquetes "protegidos" contra cópia. Ouvi as histórias como um espectador distante: meu primeiro drive de 1,44 MB só seria comprado meses depois... A placa veio com um manual, que ainda deve estar por aí, e um ou dois disquetes com drivers (para programas em DOS), logo esquecidos por desnecessidade.

Mas a placa funcionava? Para os efeitos mais modestos, sim. Em DOS era uma maravilha. Em Windows, só em Super VGA, ou seja, tristes 256 cores em resolução 800 x 600. Mas foi usada até 1997, quando já era o fator número 1 a prejudicar o desempenho global do Windows 95. Ainda foi aproveitada em outro computador (não meu), substituindo uma placa ainda pior. Não me lembro exatamente quando foi retirada de uso. Guardei a relíquia no armário por vários anos. Ontem já joguei dúzias de componentes informáticos inservíveis ou sem valor de mercado; hoje foi o fim para a placa. A foto (que, na verdade, foi feita com scanner) é o último registro. Amanhã o zelador vai recolhê-la. Não será surpresa se, ainda amanhã, alguém encontrá-la à venda na calçada nas primeiras quadras da Rua do Catete.

Só para refrescar a memória: esta foi minha primeira placa VGA, que nunca foi grandes coisas, instalada especificamente para fazer funcionar um deplorável monitor preto-e-branco Videocompo que queimou nove meses depois. Chega de usar as tintas da subjetividade (não quero saber quanto ganhava um analista de sistemas em 1978) para pintar de rosa os tempos que se foram. Informática retrospectiva honesta é aquela em que você admite que era triste e não sabia.

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