quinta-feira, novembro 11, 2004

A TV a cabo deveria ser toda pay-per-view. O telespectador assiste dez minutinhos de Sex and the City, o canal do Sex and the City recebe pelos dez minutinhos assistidos (descontado o tempo de exibição de comerciais). O telespectador muda para o canal do documentário das abelhas africanas, liga-se o taxímetro do canal do documentário. Quem dormir na frente da TV vai pagar caro, quem ligar a TV para "fazer ambiente", sem ninguém vendo, vai ter que pensar melhor. Zapear para desperdiçar tempo (que a operadora de TV pensa que você pensa que tem de sobra) é uma coisa. Usar o controle remoto para votar no seu orçamento de entretenimento é bem diferente.

Se cada canal a cabo tivesse seu taxímetro (excluídos os educativos e os 100% sustentados por publicidade), todos os assinantes teriam acesso a todos os canais. Acabou-se a eterna enganação dos pacotes X, Y, Z e W. Quer ter uma dúzia de canais de cinema? Estão todos lá, desde que você pague o tempo que assistir.

Seria o fim do chutômetro na contagem de audiência, o que varreria do mapa os programinhas bundas-moles e aumentaria o prestígio dos realmente populares. Muitas lourinhas filhas de subsecretários de superintendentes perderiam seus empregos, mas os anunciantes, certos do fim de décadas de enganação, orientariam seus investimentos para programas interessantes de verdade - já que, do outro lado, os consumidores fariam o mesmo.

Alguns canais poderiam ser mais caros que outros. Bloomberg, por exemplo, seria candidata natural a tarifas premium, se não fosse a concorrência da internet (o que forçaria a Bloomberg a se tornar não-tediosa de uma vez por todas).

Horário nobre poderia ter preços compatíveis com o adjetivo. Fissurado em Friends pagaria sem pestanejar. Oferta e demanda. Horários plebeus seriam baratíssimos, o que turbinaria a audiência de programas "alternativos" e botaria mais peso no outro prato do mix da programação. Aquela re-re-re-reprise de Titanic não seria mais anunciada como uma dádiva dos céus.

O plano seria moralmente irrepreensível. Se deixar a molecada solta com o controle na mão, a conta vai às alturas. Pelo menos *UM* motivo os pais terão para vigiar o que seus filhos estão vendo na TV, tarefa pedagógica a que não estão muito acostumados. Viu Cartoon Network demais? Tá lá na conta, com horários e tudo: desconte-se da mesada.

2 comentários:

GG disse...

Interessante, mas inviável.
A receita da TV a cabo cairia vertiginosamente, uma vez que todo mundo só ia ligar a TV pra ver o que já conhece. E isso inviabilizaria o investimento em novos programas. Não teria essa do "deixa eu assistir pra ver se é bom" ou coisa igual. E é assim que se conhece coisas novas na TV, vendo por ver, zappeando a esmo.

Paulo C. Barreto disse...

Gustavo: Dependendo do ponto de vista, a TV aberta é um pay-per-view pleno, mas os anunciantes é que pagam 100% da conta. Por que anunciam? Porque as estatísticas dizem que o programa X é visto por Y pessoas, ou porque ouviram falar que dá prestígio alcançar a patota W que assiste ao programa K. Um palpite e outro palpite. Um dia os anunciantes vão desistir de ser levados no bico. A TV a cabo já está recheada de comerciais, sem que o telespectador seja proporcionalmente desonerado. Por isso, descontando eventuais impedimentos técnicos, a proposta não é assim tão absurda.

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