terça-feira, novembro 30, 2004

Essa onda de saudosismo anos 80 representa a própria diferença entre o ser e o parecer, entre a existência real e a impressão nas cuquinhas frescas e sem referência.

Sobre a geração baby boomer, um livreto diz que os longa-metragens de animação da Disney, com suas cores berrantes e atuações alucinadas, foram o verdadeiro pano de fundo das trips psicodélicas. Uma vez que as drogas não inventam imagens (só trabalham com o que o usuário já tem na cabeça) e a TV era em preto e branco, de onde mais tirariam aquele mundão de cores e fantasias?

Mas a brincadeira foi longe demais. Neguinho tem 3 anos de idade, ouve uma música over and over (não consegue escapar, pois toca sem parar no rádio). Causa uma impressão nas mentes. Como qualquer modismo de verão, a música mergulha no justo ostracismo. Discos de vinil são doados ao garrafeiro, fitas piratas são gravadas por cima, cantoras gostosinhas engordam e vão viver como donas-de-casa no subúrbio. Aí um animador-reciclador da cena contemporânea redescobre a música para sua patota. Todo mundo acha o máximo, mas ninguém consegue explicar o que a música em si tem de especial além de transportar o ouvinte de volta a um tempo de pouca preocupação e muita arrogância.

Música dos anos 80 é Sigue Sigue Sputnik, que não existia antes nem manteve existência real depois. A banda tinha um tema, montado sobre a guerra fria. Depois não houve mais espaço para União Soviética nem para perucas esquisitas. Sim, de um ou outro jeito, apesar dos intervalos, o SSS continuou a existir. Mas ou era uma remontagem do antigo, ou era uma atualização que os fãs sempre acharam chinfrim. O resto pode ser requentado ad infinitum.

Filmes anos 80, a mesma coisa. Todo mundo estima o filme mais porque foi visto por todo mundo que era alguém na sociedade ocidental civilizada (ou passava na Tela Quente/Sessão da Tarde, o que dava no mesmo) em seu tempo de criança. Fico com Paulo Francis: vá perguntar para os fãs do que é que eles lembram de marcante dos filmes-pipoca dos quais tanto gostaram. Não sai nada.

Já era grandinho o suficiente para entender as graphic novels, por isso é que achei tão baixo seu (como dizem nos videogames) replay value. Estou sendo muito cruel? Não escapa nada? OK, OK, Vanusa Spindler e três campeonatos de Nelson Piquet significam alguma coisa, não que um fenômeno tenha algo a ver com o outro.

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