domingo, fevereiro 15, 2004

Listas de discussão, do pó ao pó


Continua firme o movimento de trituração da confiança no e-mail como sistema de comunicação. O Yahoo! Groups, praticamente o único serviço grátis de listas de discussão que mantém algum reconhecimento, está vergando ao peso de tantas mensagens fajutas geradas por vírus -- aí incluídas as mensagens de erro que os headers falsíssimos direcionam a perfeitos inocentes. Como resultado, qualquer e-mail legítimo destinado às listas é retido por horas e horas, o que o próprio Yahoo! Groups admite (em inglês). Se é que vai chegar. Telegrama é mais rápido.

De qualquer forma, o poder multiplicador de mensagens não-solicitadas do Yahoo! Groups não poderia passar desapercebido pelos sistemas antispam. Antes de reclamar do serviço da lista de discussão, verifique direitinho se o antispam do seu provedor não tem guardado peixes grandes em sua rede. E já faz tempo que o Myrealbox, serviço grátis de webmail da Novell, rejeita de plano as mensagens do Yahoo! Groups (direito da Novell: o serviço é grátis e é experimental, portanto, não há motivo para queixa).

Não há muitas alternativas. O Yahoo! Groups vem de tempos distantes: surgiu com este nome quando o megaportal absorveu, a bordo da euforia pontocom, os serviços Egroups e Onelist. O Egroups já tinha vida longa como sucessor do Makelist, lá dos tempos em que o Windows 16 bits reinava nos desktops. Só que, no tempo do Makelist, não se ouvia falar de spam nem de vírus de e-mail -- até porque Internet não era usada por muita gente. Por isso, de antemão, não havia nenhum problema em incluir duzentas pessoas de uma vez numa lista de envio e começar a circular mensagens mundo afora. Pelo menos até que a irresponsabilidade dos spammers e as queixas dos usuários começassem a atrapalhar os negócios dos serviços de listas.

Pelo menos se o Egroups começasse a falhar (o que não era raro) sempre havia a possibilidade de migrar a listinha, de uma vez só, sem amolação, para o grande concorrente Onelist, ou vice-versa. Como último recurso, o usuário doméstico podia simplesmente dispensar as listas automáticas: era só abrir o programa de e-mail habitual, adicionar centenas de endereços de sua lista pessoal no campo Cco: da mensagem e clicar em "Enviar". O provedor de e-mail, pressupondo a boa intenção do usuário, deixava passar o envio em massa.

Hoje, tanto os programas populares de mensagens quanto as políticas internas dos provedores dificultam o procedimento. Tudo é considerado spam salvo prova em contrário. Resultados? Se são bons, não são para o usuário comum.

O bombardeio de mensagens não-solicitadas continua rigorosamente incontido. Só que o porte das armas de chateação em massa, tornado ilegal, se tornou exclusivo dos picaretas. Tem menos a ver com disseminação de idéias do que com o seu (estou falando com você mesmo!) endereço incluído ilegalmente em malas diretas absurdamente grandes (esqueçam os camelôs e seus CDs de quaquilhões de endereços: podem impressionar alguns amadores, mas spammer esperto não compra o que pode baixar grátis); com incontáveis computadores transformados sem conhecimento de seus donos, no melhor estilo hacker, em disparadores automáticos de spam; menos com ofertas comerciais legais e legítimas do que com promessas de menos gordura e mais virilidade, crédito fácil, pirâmides da fortuna, programas piratas e... pacotes com outros zilhões de endereços para cada um fazer sua própria mala direta. Nem conhecemos os santos, seus milagres entopem nossas caixas postais além de todo o controle. Quanto mais poderoso o antispam, maior o risco de barrar mensagens legítimas. Os honestos? Que cantem em outra freguesia.

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