terça-feira, fevereiro 10, 2004

[humor]

As críticas de desenhos animados do Doutor Vicentinho


Entre uma e outra reunião para formatar o projeto de lei para varrer da programação infantil da TV brasileira a maligna influência ianque, burguesa, imperialista e caucasóide (como se pode ler aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), arranjei uma forma de reforçar meus escassos rendimentos de deputado: encontrei o controle remoto perdido há meses debaixo do sofá e passeei pelos canais de desenhos em busca de material para críticas. Vamos lá:

Smurfs

É o verdadeiro campeão da injustiça. Numa espetacular manobra diversionista que só pode ter sido arquitetada pelo imperialismo suíno da CIA e do MI-5, um bando de teóricos da conspiração Internet afora não se cansa de argumentar que a aldeia dos Smurfs é um mundinho comunista, que o Papai Smurf barbudo de gorro vermelho representa o próprio Karl Marx e que Gargamel é o burguês de plantão para cortar o barato das criaturas azuizinhas. Tudo errado! Ninguém parece perceber que os Smurfs vivem na mais reacionária ditadura patriarcal gerontocrata com o auxílio luxuoso de uma caricatural Mãe Natureza (contra toda a lógica do processo histórico que resgata a reputação do autêntico paganismo). Amarrados a inexplicáveis laços de família e hipnotizados por musiquinhas alienantes, nenhum Smurf é capaz de levantar um dedo contra esse estado de coisas. Por isso, é hora de dar ao valoroso Gargamel o reconhecimento merecido como símbolo do proletariado: eis o verdadeiro oprimido que em todo episódio busca aplacar sua ira santa contra o absurdo progresso material de seus pequenos (no tamanho) inimigos, mas no fim sempre entra pelo cano, para a felicidade da TV burguesa. A comunidade dos Smurfs não tem diversidade étnica, a mulher é uma minoria sem voz de comando que se afunda cada vez mais na opressão ao usar seu charminho para levar os machos no bico, e o bosque em que todos vivem não dá margem a qualquer discussão sobre a biopirataria neoliberal que devasta o incalculável patrimônio natural dos povos da floresta.

A qualquer momento, novas críticas do Doutor Vicentinho.
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