segunda-feira, julho 07, 2008

As três aberturas da rede brasileira

Chocados com as falhas da internet da Telefônica paulista de semana passada? Pois foi um longo caminho até que a conexão à grande rede se tornasse um elemento essencial de infra-estrutura. A era pré-internet está se dissolvendo da memória nacional. Se tomarmos como referência o lançamento dos primeiros provedores comerciais brasileiros, em 1995, quem tinha três anos naquele tempo já pode tirar título de eleitor. Na verdade, para que a internet brasileira se tornasse o colosso que "sempre" foi e sua falta causasse escândalo a "todos", houve três movimentos de abertura. Todos ignorados, desprezados, repudiados, combatidos sob as melhores das intenções.

A primeira abertura foi lenta, restrita em abrangência e pouco notada em seu tempo. Ainda nos anos 80 alguns usuários brasileiros começaram a usar modems e linhas telefônicas para troca de dados. Nada daquilo parecia fazer sentido. Os computadores domésticos eram reprimidos pela reserva de mercado. Em regra, cada computador era uma ilha: ninguém tinha grande interesse em investir em modems lentos, caros e pouco úteis. As linhas telefônicas eram racionadas e custavam fortunas. E não se falava em internet, que nem era aberta aos "mortais". Na era dos BBSs, na falta de uma rede abrangente em cada residência (se é que os futurólogos enxergavam uma), cada empreendedor de fundo de quintal fez a sua. Desde então ficou claro que a rede seria o que seus usuários fizessem dela, não o que pudessem esperar que os poderosos fizessem. Esse conceito foi determinante na conquista da internet pelos particulares. Mas também serviu para alimentar a mística favorável ao hackerismo e à pirataria.

A ascensão da internet comercial em meados dos anos 90, assinalando a discrepância entre o Brasil e o resto do mundo, foi ideologicamente o último prego no caixão do monopólio estatal das telecomunicações. Enquanto assistíamos de longe ao esplendor da Web, o establishment corporativo-acadêmico-onguiano se agarrou ao controle da internet nacional até o quanto pôde. A liberação dos provedores comerciais foi feita bem à brasileira, em meio a intermináveis reuniões palacianas e limitada por grandes indefinições. Mesmo assim, imediatamente surgiram dezenas de provedores nas grandes cidades, revelando a demanda reprimida e a capacidade surpreendente de atração de capital pelo setor. Ainda assim, conseguir linhas telefônicas em quantidade dependia de boas relações com o poder.

Daí a importância da terceira abertura, que completa dez anos: a privatização da telefonia. Finalmente tornava-se fácil e barato conseguir uma linha telefônica, o que turbinou definitivamente a demanda por internet nas residências. E o provimento de acesso, que era cobrado pelo taxímetro, passou a tarifa fixa e tarifa zero. Vieram os serviços de banda larga... e o resto é História.

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