Dia 14: comentário do leitor anônimo e os doidões virtuais
Deve ser inevitável, nesse seu livro, falar de algum publicitário muito arrogante, cool e feliz. Se é para retratar a realidade, não dá para colocar um sujeito todo ranzinza, triste e hipocondríaco. Entretanto, seria interessante se, de alguma forma, no boom da época, um publicitário desse prosperasse.
Sim, os publicitários construíram a cara da euforia pontocom; de certa forma, eram as personificações do entusiasmo e do futuro brilhante que prometiam.
Mas, acima de tudo, a explosão dos negócios foi conduzida por raposas felpudas de várias espécies, sem privilégio para os publicitários. Gente matreiríssima. Alguns até chegavam a ser espertos demais para se viciar em aditivos químicos que os fizessem parecer sempre sábios, bem-falantes, espontâneos e "para cima". Ainda assim, era preciso seguir os modelos "certos" de comportamento, parecer doidões -- ainda que virtualmente -- para impressionar as pessoas "certas".
Em outra situação, poderia tirar bom proveito da guerra de egos entre publicitários, em especial, e entre aqueles que mostram que sabem vender de verdade contra os que fazem firulas para mascarar sua suprema incompetência, em geral. Aí, sim, o sujeito ranzinza e hipocondríaco pode se dar bem. O problema é que, no tempo restrito em que se passa o romance, não haverá tempo para isso.
A empresa pontocom do romance tem uma cúpula. Os membros do conselho batalham pelo êxito da empresa. Em seu íntimo, uns acreditam sinceramente na mudança de paradigma da "nova economia"; acham mesmo que o futuro os fará justiça. Outros sabem que tudo não passa de um modismo, mas devem gerenciar o sucesso da melhor maneira possível enquanto estão na crista da onda. Independentemente das facções, um deles é criminoso. Quem? Perguntem-me... ou leiam o livro quando estiver pronto.
Abaixo deles, um exército de funcionários está igualmente dividido. Uns têm fé no que fazem, acham que a bolha não vai furar e sonham em fazer carreira no mundo pontocom; outros estão naquela só para aproveitar os salários (astronômicos para quem sempre dependeu de mesada) e tirar onda. Parece uma questão religiosa? E é mesmo.
Um comentário:
Haverá uma brecha para um Relações Públicas? E para o temido pessoal dos Recursos Humanos?
Não sou anônimo por má vontade; é que não consigo me registrar aqui. Bom, se essas perguntinhas forem inoportunas, é claro que você não precisa responder, muito menos com um post inteiro. Um abraço.
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