segunda-feira, janeiro 31, 2005

Tá gordo(a)

O site de um grandíssimo banco brasileiro pede donativos em dinheiro para a tsunami. Digo, lá saiu "o" tsunami.

Donativo para o(a) tsunami. Entenderam? Qual é a conta corrente da onda gigante? E como ela faz para movimentar seus fundos, no bom sentido, é claro?

E, a contar pela solidariedade internacional, um cearense veria a riqueza do(a) fenômeno(a) da natureza e diria: "Tá gordo(a)".

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Cegos, surdos e mudos

Diferentemente do que o Itamaraty imagina dos candidatos ao Instituto Rio Branco, eu ficaria tristíssimo se só soubesse português na minha vida. Receberia docilmente as engabelações dos tradutores de filmes sem qualquer argumento para contestá-las. Leria o que estivesse nos catálogos dos editores brasileiros, uma maçonaria onde esquerdismo é requisito, e não leria o que os desagradasse. Teria chances reduzidas de conversar com outras gentes, de outros povos, de pensamento diferente do unanimismo imperante na Pátria Amada. No mundo dos computadores, em geral, e na Internet, em especial, mal posso imaginar a desgraça. Portais anacrônicos e confusos, nivelados por baixo em seu noticiário apelativo e tendencioso, coligados a sites dolorosamente superficiais e amadorísticos. Isso quando se sabe português. Faz tempo que a língua oficial do Brasil se tornou opcional onde os brasileiros tomam conta: salas de bate-papo, blogs, fotologs e Orkut, não necessariamente nesta ordem. O dialeto do "pow kra blz vlw", ostentado com a soberba dos caipiras chiques, leva às cambalhotas o sofisma do pensador marxista que sempre convenceu meio mundo de que elite "fala bem" e computador é coisa de elite.

Da mesma forma, o "dom das línguas" tem pouco a ver com poder ou riqueza. Em certo período, trabalhei prestando serviços redacionais ao departamento de marketing de uma grande distribuidora de sistemas de informática megacorporativa. Só clientes enormes: bancos, indústrias, redes de lojas. O logiciário vinha dos Estados Unidos, dificilmente em alguma língua diferente do inglês. Mas o material de marketing para vendê-lo tinha que ser escrito em português irretocável, o que demandava um grande trabalho de tradução. A distribuidora conhecia melhor do que ninguém o nível lingüístico de seus clientes e admitia tacitamente que os tomadores de decisão da informática brasileira, responsáveis pela aquisição de sistemas de milhões, não tinham fluência suficiente na língua que toda empresa exige de qualquer candidato a auxiliar de escritório.



quarta-feira, janeiro 26, 2005

Resende Blues

Você sabe que está em Resende quando, às cinco para as onze da noite, um carro com cinco pessoas pára em frente a um restaurante e o garçom atravessa a rua para dizer à galera: "A cozinha já fechou. Podem ir embora daqui!"

FAQ de Resende: 1) Sim, é Estado do Rio. 2) Uns 200 km da capital carioca, uns 300 km da capital paulista. 3) Penedo, Itatiaia e a fábrica da Volkswagen ficam em outros municípios. 4) Sim, estão fazendo uma bomba atômica em Resende, e daí? Morei lá full time dois anos e meio e estou mais preocupado com as armas de aporrinhação em massa.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Malditos argentinos!

Chega de crucificar os hermanos por alguma coisa relativa a água, doping e 1990. Os argentinos salvaram a Copa da Itália.

Provavelmente aquela malandragem da água que Branco não bebe foi a única coisa divertida daquele Mundial, o maior fiasco da seleção brasileira em meu tempo de vida, até porque ao som daquela musiquinha nojenta ("papa essa, Brasil, papa essa, Brasi-illl...") não se ganharia nem um campeonato de totó/pebolim. Em tempos de Plano Collor, as agências de viagem ofereceram zilhões de pacotes turísticos/futebolísticos que ninguém podia comprar. Uma chave importantíssima, terminou a primeira fase em total empate, decidida no sorteio.

Há quem diga que a Copa começou bem: a Argentina perdeu para Camarões no jogo de abertura, o que rendeu aos camaroneses o respeito eterno da torcida canarinho, mas com isso o Brasil não subiu um pontinho sequer no ranking da Fifa. E a Argentina usou métodos farmacêuticos e venceu o Brasil (não necessariamente por causa dos tais métodos), mas morreu na praia; nem me dou ao trabalho de ver no Gúgol para quem foi a derrota. Antes a "mão de Deus" de Maradona levara ao título. A obra do Senhor se mostrou bem melhor que a obra do doutor.

E não custa perguntar: já que Branco ficou tão mal em campo depois de beber a água dos argentinos, como é que em quase quinze anos ninguém tinha notado coisa alguma antes das revelações do técnico Bilardo e daquele gordo fanfarrão adorador de Che Guevara que atende pelo mesmo nome do grande jogador que foi Maradona? Quaisquer que tivessem sido os efeitos do remedinho, não faltaram testemunhas. Só no Brasil uns cem milhões assistiram ao jogo. Em 1998, os torcedores souberam com antecedência que alguma coisa muito estranha tinha acontecido com Ronaldinho. Por isso, bastou que o jogador botasse o pé em campo para que todos notassem que ele ainda estava passando muito mal, ou estava sob efeito de uma droga muito forte, ou as duas coisas.

Cansei de ver o roto cobrar fair play do esfarrapado. Há uma grande chance de a Argentina ter vencido aquela partida por ter jogado melhor.

São Paulo

Nenhuma foto. Esqueci de levar a câmera.

Finalmente vi Gil Gomes ao vivo. Ele e meia dúzia de carros da polícia na Avenida Paulista. Mas não era só lá: a PM de São Paulo é muito mais visível. Se bem que visibilidade não paga dívidas.

O transporte continua ruim, mas não totalmente. O metrô, a R$ 2,10, superou os dois reáu do Rio e ainda imitou dos cariocas o programa Desconto Zero -- se o bilhete duplo custa R$ 4,20, qual é a vantagem? Pelo menos estão mesmo construindo novas linhas (e sem grandes transtornos), o que sempre surpreende quem é do Rio. Andei naquele ônibus com portas à esquerda e que anda num corredor expresso. Ambos (o coletivo e o corredor), surpreendentemente, funcionam. Táxis continuam caríssimos.

Um cartão postal enviado na quinta-feira chegou ao Rio no dia seguinte.

O café expresso do Floresta continua insuperável. Mas só para quem gosta de café forte. De qualquer forma, a vida é muito curta para café fraco.

Vi um pedacinho pouco relevante da Cultura, quase todo o Promocenter, e não passei da metade do Stand Center por falta de tempo.

Orelhões em pane. Cartões da Tele-Afônica não eram aceitos, ou custavam a ser lidos, ou completavam ligações que não duravam mais de um segundo. À tarde ou à noite, local ou interurbana, a caca era a mesma. Alguém acha que a Tele-Afônica está preocupada?

O que é Expresso do Sul? Lembra daqueles velhíssimos ônibus Cometa da linha Rio-São Paulo? Desde a "repaginação" da Cometa, é a Expresso do Sul que faz a mesma linha de antigamente com os mesmos ônibus do tempo que Brigitte Bardot dava um caldo -- praticamente, só mudou o nome. Mas o ônibus executivo da mesma empresa é novinho e é bem mais confortável que o Itapemirim equivalente. E ainda custa um pouco menos.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Mais declínio da macumba

(desta vez, sim, concluo o raciocínio...)

Em meus tristes dias de adolescente, foi com grande interesse que vi todos os capítulos de uma minissérie da finada Manchete onde o candomblé "ortodoxo" da Bahia desmascarava a si mesmo com o maior orgulho. Revelava-se como intrinsecamente indiferente ao cristianismo, o que deixou de queixo caído quem ainda tinha alguma dúvida disso, ainda que não propriamente anticristão. O recado estava dado: ou o indivíduo é cristão, ou é candomblecista. Quando santos e orixás dividem o mesmo espaço, não se pode levar nem uns nem outros a sério.

Aí vem a umbanda, que é outra coisa, de outra origem (provavelmente a maior contribuição do eixo Niterói-São Gonçalo à religião mundial desde o batismo de Araribóia -- e o próprio Araribóia, como entidade, foi incorporado à umbanda) e procura abarcar tudo: uma base de origem africana com santos católicos e elementos rituais indígenas.

Na parte puramente antropológica do fenômeno, tudo bem: considere-se a umbanda como expressão religiosa de uma sociedade miscigenada e avessa a radicalismos. Mas fé é como personalidade: quem diz que tem mais de uma certamente não tem nenhuma. Posso dar um desconto se o sujeito ainda não souber que aquele culto que pratica inocentemente, herdado de seus pais e avós, abriga elementos mutuamente excludentes (quer dizer, não confundam com os pregadores evangélicos que esbravejam que é tudo "coisa do capeta"). Pouco provável num tempo em que até as "classes oprimidas" têm celular e qualquer favela está apinhada de antenas parabólicas. Essa é que é a verdadeira falta de espaço para os cultos afro-brasileiros.

Fora isso, só há a masturbação intelequitual de quem não leva religião a sério e, ao mesmo tempo, acha que "excluídos" não podem, não devem ou não merecem ir além da macumba que praticam. Afinal, para os membros da intelligentsia, nada como descer de seu apartamento à beira-mar, jogar sidra Cereser na areia e dizer que entrou em comunhão espiritual com o proletariado...

terça-feira, janeiro 18, 2005

O declínio da macumba

Voltando tardiamente ao assunto... Não sou eu que chamo aquilo de "macumba", pois sei bem que nem tudo é igual nos cultos afro-brasileiros. Quem gosta de falar em "macumba" são os pastores evangélicos, pelo menos os que conhecem mais dos terreiros e tambores do que eu, e quanto mais conhecem, mais babam de ódio contra aquilo tudo. O que é problema lá deles.

A matéria anteriormente citada revela, muito de passagem, um motivo importante pelo qual os cultos afro minguariam mesmo que os pastores não mexessem um dedo ou pronunciassem uma sílaba. O espaço para os terreiros diminui. Não é só o espaço físico que está em falta: os brasileiros estão vivendo num ambiente que não é o de seus ancestrais. Ainda bem. (continua...)

terça-feira, janeiro 04, 2005

Diversões divertidas

Contra Fortaleza

As opiniões de Rogério Prado, copiadas-e-coladas dos comentários do puragoiaba, não refletem necessariamente as deste humilde blogueiro, mas aqui vão...

Quero ver o sujeito que "adora" o calorzinho de Fortaleza pegar diariamente, o ano inteiro, quatro ônibus lotados para ir e voltar ao trabalho sob uma temperatura de 35 a 40 graus.

Vir aqui de férias e se deitar feito um réptil imbecil (como suportam isso?) sob o sol e depois entrar no carro com ar-condicionado e voltar para o hotel com ar-condicionado é moleza. QUERO VER VIR MORAR AQUI!

Mas, aproveitando o mote, não venham a Fortaleza, nem de férias:

1) O povo daqui é, em grande parte, chato (o excesso de cordialidade e de informalidade daqui é terrível) e feio (aqui eu me incluo).

2) A famosa cultura local é um lixo (logo na chegada ao Aeroporto Pinto Martins, grupo de forró vai lhe enfiar um chapéu de palha na cabeça - não há como fugir disso). O tão propalado celeiro de humoristas é uma balela (e mesmo que não fosse, que mérito teria uma cidade por ser um celeiro de homoristas? Ainda que fosse um celeiro de físicos nucleares...) O único e último humorista cearense de talento foi Chico Anísio. Não pensem que vão encontrar grandes shows de humor aqui.

3) Cidade cuja economia depende do turismo normalmente é um antro de prostituição e gatunagem (nesse segundo aspecto estão inseridos desde mirins de praia até os donos das barracas de praia - nem queiram saber quanto custa um côco verde se você tiver um sotaque chiado).

4) A cidade é suja. Fazem o possível para esconder isso dos turistas e até conseguem, em parte. Um olhar mais cuidadoso para debaixo do tapete e eis o lixo escondido.

5) Normalmente o sujeito vem do sudeste disposto a descansar no paraíso e curar-se do estresse causado pelo ritmo da grande cidade. Pode trazer seus comprimidos. Duvido que o trânsito de São Pualo seja mais barulhento que qualquer ruela de Fortaleza. Em cada calçada de bar, em cada esquina, em cada residência, na periferia ou na orla, alguém estará com um aparelho de som (normalmente um rack de caixas acoplado na traseira de um automóvel) tocando um forró (da pior qualidade) a 500 decibéis. E se você ligar para o serviço de Disk-silêncio da prefeitura eles dirão que, devido à demanda, sua ocorrência só poderá ser atendida em cinco ou seis horas, tempo maior que a vida da bateria usada para alimentar as caixas de som do veículo.

6) Quando você vir na TV um turista em Fortaleza dizendo "isso aqui é ótimo! essa cidade é linda! o povo é maravilhoso", pode ficar certo de que ele está bêbado demais para dar uma resposta racional.

Aos amigos, sinceramente: nunca venham a Fortaleza.

Minhas férias na fazenda

O título explica por que os telefonemas de Feliz Ano Novo para o celular não foram atendidos. A cobertura não é tão boa quanto dizem... Quer dizer, aquilo é um município?

Jornal preocupadinho com o declínio (discreto) do interesse pelos cultos afro-brasileiros. É óbvio. Nem mesmo o reveiom de Copacabana, modelo para todos os outros, continua sendo uma festa propriamente religiosa: vai-se lá porque dizem que é "in", é bonito, é grande, é grátis e beija-se muito na boca. Quem pratica seu ritual a sério vai a outras praias ou vai mais cedo. Diz a militância politicamente correta que a culpa é das seitas evangélicas, "culpa" porque os intelequituais supõem que os indivíduos afro-brasileiros devam seguir inexoravelmente a fé de seus ancestrais. Vai nessa. Amanhã voltarei ao assunto...

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