domingo, maio 21, 2006

Saio do Orkut. Não entro para a História

Estes são meus primeiros momentos sem Orkut nos últimos dois anos. Enviei um recadinho aos contatos e encerrei a conta. Não faço mais parte do banco de dados de usuários do Orkut. Assim. Sem maior cerimônia.

Os contatos que já me conheciam no "mundo real" saberão como me encontrar fora do Orkut. Dos outros, que só eram "contatos" no sentido estrito que o site de relacionamento atribui ao termo, só quero distância.

Agora que tirei esse peso das costas, estou mais livre para falar mal do Orkut. Não é o caso. Primeiro, nunca tive problemas com o Orkut. Segundo, diferentemente da crença dominante, nem todos os fardos pesados são absolutamente desvantajosos. Só depende do que se carrega, de onde se vem e para onde se vai. Qual é o rumo do Orkut? Alguém sabe?

O site, na teoria, é uma beleza. Mantidos seu mecanismo e seu espírito, poderia ter se tornado um megassucesso internacional. Virou um fenômeno quase exclusivamente brasileiro porque os "internacionais" não agüentam mais o que o site se tornou em pouco mais de dois anos. O grande negócio é fingir que conhece um monte de pessoas cujos "amigos" não passam de umas letrinhas na tela. Estão todos maciçamente reunidos em torno do afastamento mútuo.

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É até difícil acreditar quanta gente no Orkut está "se dando bem" -- sim, nesse sentido mesmo que você imaginou. Relacionamento íntimo é uma arte que vem do tempo das cavernas. Nesse negócio mente-se muito desde sempre: separar a verdade da mentira faz parte do jogo. Pelo menos sempre houve na enganação um método fácil de observar. O pobre se fazia de rico, o picareta fingia honestidade, o feio aumentava sua belezura. Nem essas velhas tradições passam incólumes no Brasil.

Na medida em que o Orkut criou novos meios para que pessoas façam contato com pessoas (ou "pessoas" feitas de bits e bytes que só existem na fantasia de seus criadores), virou o paraíso da exposição mútua das esquisitices. Quanto mais você for louco, feio e vândalo, maior o seu sucesso social.

Os criadores do Orkut achavam que a comunidade regularia a si mesma através da rede de vínculos sociais. Só esqueceram de combinar isso com a "elite branca" (royalties a Cláudio Burns Lembo) que acessa a internet no Brasil. Resultado: prostituição, tráfico de drogas, pornografia infantil, apologia a ideologias criminosas. Os honestos ficaram quietos ou saíram de cena, deixando livre o caminho para a classe bandida da rede. Deve ser o conceito brasileiro de "liberdade de expressão".

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Os homens da lei brasileiros não estão gostando nada disso. Querem que a poderosa/odiável Google Inc., dona do Orkut, abra o baú das informações sobre os orkuteiros que têm violado a legislação nacional. O escritório da Google no Brasil começou dizendo que nada tinha a ver com o site, que é hospedado nos Estados Unidos, e que a representação brasileira só serve para negócios. Declaração cem por cento correta, mas ainda assim uma linda contribuição aos anti-Google.

Num contra-ataque estrepitoso, segundo o Info Online de 18 de maio, "o Ministério Público poderá ainda pedir a 'desconstituição da pessoa jurídica' do Google no Brasil caso a empresa 'continue ignorando a ordem de abrir o sigilo de seus usuários'. A medida, na prática, obrigaria a divisão brasileira da empresa a deixar o país."

Qualquer atitude será completamente inútil. Se a Google sair do Brasil, os usuários continuarão acessando os servidores do Orkut lá na Califórnia. A não ser que, à moda chinesa, uma barreira virtual de censura impeça o Brasil de ter acesso ao Orkut, o que está longe dos planos do MP.

Imagino que, para evitar maiores problemas, a Google americana deva entregar os dados exigidos. Que o faça já para que as autoridades brasileiras se convençam logo de que não há o que se possa rastrear a sério. Nada é mais fácil do que criar no Orkut perfis falsos com dados inverificados e inverificáveis. Se quem busca o Orkut para arrumar parceiros(as) de intimidades sabe disso, os criminosos sabem mais ainda.

Pelo menos a bronca do MP tem uma base incontestável: o Orkut não tem feito tudo o que pode para criar e manter um ambiente limpo.

Há algumas semanas o Orkut incluiu por padrão nas páginas iniciais dos usuários uma lista de visitantes recentes. Foi o suficiente para deixar em pânico muitos orkutianos subitamente expostos pela xeretice alheia. Preocupam-se por bobagem. Todo mundo pode entrar no perfil de todo mundo por qualquer motivo ou por motivo nenhum.

Pelo menos esse recurso pode ser desativado conforme a preferência do usuário. Enquanto isso, tem feito falta desde os primórdios do Orkut um elemento que deveria ser mostrado obrigatoriamente, com o maior destaque possível, em cada uma das páginas iniciais: o nome de quem indicou aquele usuário. Acompanhem meu raciocínio:

1) Ninguém cai de pára-quedas no Orkut. Todo usuário, com perfil verdadeiro ou falso, só entrou porque foi convidado por alguém e tinha um endereço email válido para receber o convite. Nazistas, pedófilos e traficantes só entraram no Orkut (e convidaram para o Orkut seus próprios amigos picaretas) porque algum dia alguém traiu a confiança de gente honesta.

2) Todos querem aparecer. Pelo menos até o ponto em que interessa, a melancia no pescoço é adereço obrigatório. Farão todos os "amigos" que encontrarem pela frente e entrarão nas comunidades mais absurdas possíveis -- quantidade, não qualidade -- enquanto acreditarem que seus podres não serão contestados.

Resumindo: com a revelação do "Q.I." do usuário, antes mesmo de quaisquer ordens judiciais, todos os orkutianos teriam a resposta clara e antecipada da pergunta tão necessária: "Quem deixou o nazista entrar?"

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi!

Nao sou um fa assiduo do Orkut, mas nao vejo o motivo pra tanto drama e rebelia. Eu nem sabia desse problema "judicial" que o Orkut está tendo no Brasil. Acho que em muitas outras partes da Internet tem pessoas malucas e que tratam de assuntos nao necessariamente legais.

Minha esposa e eu (principalmente ela) costumamos acessar o Orkut rotineiramente simplesmente para ver o que estao fazendo nossos amigos, ver fotos novas, etc. Gente que conhecemos mesmo, ou que faz tempo nao falavamos, ou quem nem sabiamos que estavam na "Net". Nao teria outra forma de achar muitas dessas pessoas se nao fosse o Orkut. E nao esbarrei com nenhum forum pedófilo/nazista/etc. Ou voce ja clicou "sem querer" em um fórum desses?

Unica chatice é o Scrapbook pessoal, que eu sinceramente dispensaria, mas que minha mulher adora! :)

Entao fica aqui meu voto de apoio ao Orkut.

Abracos,
Ernesto

Anônimo disse...

Fala PC. Tudo muito bem colocado, apenas acrescentando ao seu pensamento o meu, de que o orkut fucniona para você como você quiser que ele funcione. Se se envolver na coisa, a coisa te envolve. Eu pessoalmente visito a cada 10-15 dias para um ou outro recado e boa. me mantenho lá pq me parece prático para rastrear contatos distantes como nós 2 por exemplo. Quem eu não conheço e quer ser "amigo", fica numa boa quarentena.
A tua grande sacada é o histórico de QI. Mas será q pessoas estarão interessadas em manter evidente o link de suas personas virtuais e reais :-)
Abraço e boa via off-orkut (existia antes, e existirá mto bem depois)

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