terça-feira, março 16, 2004

Verdades inadiáveis sobre o Mercado Livre (I)

Não existe Mercado Livre. O que existe é o Mercado Libre (note a grafia espanhola), sediado em Miami, que por acaso foi traduzido para o português. Na verdade, não diria nem que foi traduzido, nem vertido, nem "localizado": o espanhol continua vivo e se mexendo, trancado no porão; de vez em quando seus tentáculos saem pelas janelinhas. O trabalho da equipe de manutenção do site é conter os surtos exibicionistas da versão original em língua castelhana, mantendo-a tão quietinha quanto possível.

O pior é que não dá certo. De vez em quando, por acidente, a página aparece com a coluna da esquerda em português e a da direita em espanhol (e não é a famigerada "Em manutenção/En Mantenimiento"), ou surge uma frase perdida no idioma estrangeiro entre um item e outro de um formulário.

Bons tempos do Starmedia, o portal que surgiu de uma idéia que muitos brasileiros consideram uma birutice: criar uma comunidade virtual da América Latina (mini-teste ao ilustre leitor: defina rapidamente o que é "América Latina"). Fernando Espuelas, o uruguaio-prodígio, foi atrás dos bônus, mas assumiu os ônus: brasileiros falam português, não suportam portunhol ou traduções mal-ajambradas, os sites brasileiros do Starmedia tinham como ponto de honra levar isso em conta (O Site/El Sitio, outro fenômeno da bolha, seguiu o exemplo).

Isso era no tempo em que havia sob o mesmo teto um Starmedia, um Espuelas e um caminhão de dinheiro dos investidores. Starmedia já era, Espuelas saiu da tela do radar e o dinheiro desapareceu. Aos pontocoms remanescentes restou uma esperança que cheira mal: sem sair da Collins Avenue, pilotar um embrulho pan-latino. Impunemente.

Nenhum comentário:

Google