É o título de um livrinho de Gilberto Paim lançado em 1985. Estou lendo agora (às vezes se acha alguma coisa interessante num domingão no Largo do Machado!). Não se deixe enganar pela análise meio tediosa e repetitiva dos balanços (desastrosos em regra) das empresas abençoadas pela reserva de mercado naqueles tempos. O livro é o próprio balanço do estado da indústria de informática ao apagar das luzes do regime militar. Mais: a obra é uma paulada na testa da reserva de mercado. Ainda mais: uma exortação à inteligência dos governantes civis contra aquele entulho autoritário.
Naquele 1985 as empresas brasileiras de informática, quase sempre dedicadas à clonagem de modelos estrangeiros, se encontravam endividadas até a medula. Paim previu acertadamente que aquela trilha piratesca não teria fôlego, pois não seria possível reproduzir as tecnologias "emergentes" sem algum tipo de participação das multinacionais do setor. Se antes o desastre financeiro era explicado (mas não justificado) porque os militares fizeram tudo ao jeito deles, era chegado o momento de se fazer diferente.
Mas vocês lembram qual era o governo em 1985, não lembram? Os pastéis da todo-poderosa Secretaria Especial de Informática mantiveram seu poder incontestado (em 1985 saíram os dois modelos brasileiros de computadores MSX. Ambos foram apresentados à SEI como videogames. Foram aprovados como tais). E o governo do pai mais beletrista de Roseana Sarney não mexeu uma palha para acabar com a reserva de mercado. Por que o faria? Era bom ter todo um setor estratégico da indústria nacional dependendo de seus carimbaços. E era excelente que, ainda por cima, esse setor estivesse à beira da falência, arrastando-se a seus pés, disposto a qualquer coisa em troca de um soprinho de vida.
Em 1986, lembro-me bem, enquanto todos estavam muito preocupados com o Plano Cruzado, Sarney enterrou as chances de autorização às joint ventures em informática. Manteve-se a política industrial de Macunaíma: o "vá lá e pegue, é tudo seu". Pelo menos um relevante órgão comunista de imprensa celebrou o ato patriótico. O Congresso eleito naquele ano escreveu e aprovou a Constituição que tornou ainda mais rigorosa a definição de "empresa nacional". Muambeiros ficaram ricos. Um MS-DOS com nome diferente foi considerado instrumento de resistência ao imperialismo ianque.
Gilberto Paim foi muito otimista. Achou importante reunir dados abundantes, juntar A com B e conduzir o leitor a tirar as devidas conclusões. Esqueceram de avisá-lo que essas coisas de lógica não funcionam no Brasil.