quarta-feira, janeiro 19, 2005

Mais declínio da macumba

(desta vez, sim, concluo o raciocínio...)

Em meus tristes dias de adolescente, foi com grande interesse que vi todos os capítulos de uma minissérie da finada Manchete onde o candomblé "ortodoxo" da Bahia desmascarava a si mesmo com o maior orgulho. Revelava-se como intrinsecamente indiferente ao cristianismo, o que deixou de queixo caído quem ainda tinha alguma dúvida disso, ainda que não propriamente anticristão. O recado estava dado: ou o indivíduo é cristão, ou é candomblecista. Quando santos e orixás dividem o mesmo espaço, não se pode levar nem uns nem outros a sério.

Aí vem a umbanda, que é outra coisa, de outra origem (provavelmente a maior contribuição do eixo Niterói-São Gonçalo à religião mundial desde o batismo de Araribóia -- e o próprio Araribóia, como entidade, foi incorporado à umbanda) e procura abarcar tudo: uma base de origem africana com santos católicos e elementos rituais indígenas.

Na parte puramente antropológica do fenômeno, tudo bem: considere-se a umbanda como expressão religiosa de uma sociedade miscigenada e avessa a radicalismos. Mas fé é como personalidade: quem diz que tem mais de uma certamente não tem nenhuma. Posso dar um desconto se o sujeito ainda não souber que aquele culto que pratica inocentemente, herdado de seus pais e avós, abriga elementos mutuamente excludentes (quer dizer, não confundam com os pregadores evangélicos que esbravejam que é tudo "coisa do capeta"). Pouco provável num tempo em que até as "classes oprimidas" têm celular e qualquer favela está apinhada de antenas parabólicas. Essa é que é a verdadeira falta de espaço para os cultos afro-brasileiros.

Fora isso, só há a masturbação intelequitual de quem não leva religião a sério e, ao mesmo tempo, acha que "excluídos" não podem, não devem ou não merecem ir além da macumba que praticam. Afinal, para os membros da intelligentsia, nada como descer de seu apartamento à beira-mar, jogar sidra Cereser na areia e dizer que entrou em comunhão espiritual com o proletariado...

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