segunda-feira, dezembro 01, 2003

É TV? É computador? É uma dúvida



O televisor com acesso à Internet, lançado semana passada pela Philco, vem equipado com teclado sem fio, Windows XP, modem e interface de rede. Faz muito do que fazemos todo dia com um computador. Mas não é um computador, o que a própria Philco admite. É uma TV à qual adicionaram recursos de informática com um resultado superior ao de qualquer experiência dos concorrentes. Resta saber se fará tão bonito no mercado quanto no laboratório.

O aparelho, chamado NeTVision, não é pequeno; é do tamanho de um televisor comum de 20 polegadas em sua configuração mais modesta. Na verdade, tem a cara, o jeito e a cor preta de um televisor comum. Os projetistas nem o equiparam com portas USB frontais para que nada atrapalhasse o visual familiar de um televisor. O NeTVision é acompanhado de um controle remoto normal e de um teclado sem fio com um pequeno joystick que faz as funções de um mouse. Funciona como qualquer TV, sem novidades. Porém, a um toque de botão, transforma-se numa máquina de Internet, com um browser (adaptado para as características da tela), mensagens instantâneas, processador de textos, reprodutor de mídia e outros aplicativos conhecidos de quem usa Internet e Windows.

Não é demais lembrar: a função TV é totalmente separada da função Internet. A conexão de Internet (por linha telefônica ou banda larga) não gera sinal de televisão, a antena de TV não conduz acesso à rede de computadores: é como se fossem duas máquinas independentes. A novidade é que estão reunidas no mesmo gabinete, o que permitiu aos projetistas da Philco desenvolver uma placa de vídeo muito mais eficiente para a baixa resolução da tela de TV. Mas o conceito é antigo.

Nos anos 70 e 80, os computadores de oito bits (MSX, Spectrum, Commodore e tantos outros) eram tradicionalmente plugados nas TVs, como se fossem consoles de videogame. Grandes, coloridas e pré-existentes em todas as salas, as TVs eram alternativas aos caros monitores - afinal, a tela preta com caracteres verdes, monitor típico da época, estava muito abaixo da expectativa do usuário doméstico.

Mais tarde, na euforia pontocom, surgiram as set-top boxes de Internet, aparelhos que pegavam carona no aparelho de TV e permitiam surfar na Web. Chegaram a ser prometidos como a revolução do trabalho e do lazer. Não emplacaram. O produto era ruim ou a época não favorecia? Ambos.

Naquele tempo, os computadores zero-quilômetro começavam a quebrar o piso dos mil dólares. Internet é toda projetada tendo em vista os usuários de computador propriamente dito. Eles gostam de fuçar, gostam de se atualizar, gostam da mera segurança de saber que podem atualizar suas máquinas. Por sua vez, as set-top boxes eram limitadas em recursos e pouco expansíveis. Não tinham meios de armazenar arquivos MP3, não eram compatíveis com determinados sites, não permitiam instalar os programas que o usuário escolhesse.

O NeTVision se esforça ao máximo para reduzir esses problemas, mas há obstáculos que estão além da possibilidade de um não-computador... por enquanto. A R$ 1,6 mil, é cara para uma TV de 20 polegadas e limitada para um dispositivo de acesso. As características das futuras versões do NeTVision, a Philco promete, acompanharão a demanda dos usuários. Mas o campo de testes do mundo real é imprevisível. O produto receberá upgrades quando se tornar um sucesso, mas terá sucesso quando receber upgrades. Para escapar desse impasse, só falta aditivar um fator invisível nas apresentações do NeTVision: seu potencial de tornar-se um fenômeno cultural.

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Antispam também falha por excesso de zelo. As mensagens não-solicitadas que o SpamBayes acusa de spam ainda podem ser recuperadas. O MailWasher também quase sempre pode salvar um não-spam (o que depende da configuração), pois mostra a lista de mensagens antes de tomar as medidas necessárias: o olho do usuário é que julga.

Por sua vez, o serviço repassador de mensagens Pobox tem um filtro implacável que pode ser ajustado pelo usuário... ou quase. Se ficar muito rigoroso, pode mandar para o brejo mensagens importantes. Aconteceu comigo: vendi um item num leilão e não consegui receber uma única mensagem do vencedor. Por motivos totalmente aleatórios (o Pobox pouco liga para mensagens de língua não-inglesa em sua filtragem), barrou todas.

Há salvação, mas é complicada e limitada. O usuário precisa ir ao site do Pobox, pedir para ver o listão de mensagens condenadas nos últimos trinta dias e ver quais são as que podem sair da geladeira. Na verdade, a lista chega a milhares de e-mails, e não há um jeito rápido e eficaz de se passear pela lista.

O pior de tudo é que o Pobox só acumula os spams, sem tomar providências: nem o destinatário fica sabendo facilmente que há algo de estranho tentando entrar em sua caixa postal, nem o remetente recebe qualquer sinal de que sua mensagem está sendo recusada. Por isso, meu cliente de leilão considerava que suas mensagens estavam realmente chegando ao destino e que eu é que o estava ignorando.

A salvação foi uma caixa postal de provedor grátis. Sem intermediários.

Quem desejar um antispam inteligente deve abaixar o escudo do Pobox e transferir sua confiança para outro filtro. E permanece a dúvida: por que o velho Pobox ainda cobra 15 dólares por ano - por isso?

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