sexta-feira, novembro 30, 2007

Tupi (a TV, não o poço virtual)

A Tupi foi a primeira TV do Brasil. Quando faliu, em 1980, estava presente em todo o país, mas não conseguia formar uma rede nacional. Hoje qualquer CNT é mais “rede nacional” do que foi a Tupi. Rio e São Paulo ficavam brigando pelo título de cabeça de rede. Como resultado, até programas de auditório tinham versões diferentes para cariocas e paulistas. Anacronismo total, porque a Globo já era a Globo de norte a sul. Videoteipe existia há muito tempo, mas o show do Plim-Plim (Gualba Pessanha, o Mágico do Papel) ainda era transmitido ao vivo. Só de imaginar um programa infantil ao vivo, Xuxa deve rolar de rir até perder o fôlego. Notem bem: ainda no meu tempo de vida conheci uma Tupi de grandes talentos, mesmo que presos em atrações antiquadas, à espera de quem soubesse transformar o potencial em sucesso (não digo ultrapassar a Globo, essa obsessão dos profetas do Apocalipse, mas encontrar seu espaço justo no mercado). Dizem que a Tupi sucumbiu por falta de dinheiro. Nem uma palavra sobre a falta de comando.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Uma TV, muitas bolhas

Luciana Gimenez é melhor apresentadora do que dizem. Dizem que ela é limitada. Ou seja, não é nem mais nem menos do que o “Superpop” exige. Ela não fica falando pelos cotovelos como se sua palavra fosse a revelação divina, não faz macaquices vocais de locutora de rádio, não trata os convidados como reles súditos. Em termos de televisão brasileira, é praticamente de uma fleuma britânica.

Mas Luciana é primeira-dama da RedeTV!; ainda assim, trabalha duro. Ontem ela estava rouca. Se estivesse na Globo no tempo em que o Padrão Globo de Qualidade era levado a sério, não teria saído de casa. No palco, do jeitinho das garotas-propaganda de outros tempos, anunciava um produto desses aí. Poupando sua garganta, a apresentação era intercalada com um comercial gravado. Aplausos. Intervalo comercial propriamente dito. Luciana volta e mostra mais um produto. Aplausos. Luciana abre espaço para um comercial de guaraná. Aplausos. Entra uma chamada de “Donas de casa desesperadas”. Mais um intervalo comercial propriamente dito.

Não se pode dizer que o “Superpop” não fature. Mas cadê o conteúdo?

Falei de "Donas de casa...". O seriado é exibido na noite de quarta-feira. Aí o mesmo episódio é exibido no domingo seguinte. "Pânico na TV" é a grande atração domingueira da emissora. O programa é integralmente repetido na noite de sexta-feira. De terça a sexta temos o "Programa Amaury Jr.". No nada desprezível horário de sábado à noite são reprisados os melhores momentos da semana.

E estes são os programas mais relevantes da RedeTV!. Ainda nem cheguei aos programas de fofocas de copiar-e-colar, às televendas, aos pregadores evangélicos e aos suspeitíssimos joguinhos por telefone.

Não perderia meu tempo comentando o enchimento de lingüiça de uma TV "brega" se fosse um caso isolado de emissora em luta contra o tempo -- excesso de tempo, escassez de conteúdo para preenchê-lo. Parece ser um comportamento padrão. Não é verdade que há tempos uma antiga e tradicional rede nacional tem alugado o horário nobre para uma igreja? Um certo programa das tardes de domingo podia ser xingado de popularesco, mas não de antiprofissional. Não mais. Quem passar os olhos pelo programa acabará se deparando com umas imagens borradas, trêmulas e sem contraste, explicadas off por uma tagarelice qualquer e identificadas pela legenda fatal "Imagens da internet". Sim, os mesmos vídeos chinfrins que são exibidos no YouTube e circulados em emails. O programa chora a perda da liderança aos domingos. O programa compete com cibercafés de um real. O fracasso lhes cai bem.

De volta ao Segundo Caderno

Joaquim Ferreira dos Santos, outrora sacaneado até a medula em shows da banda Casseta & Planeta, deu metade da coluna de hoje para o lançamento do livro “O Planeta Diário”, evento de terça-feira. Se não estivesse chovendo (carioca dissolve na chuva) e o lançamento tivesse algo a ver com alguma peladona ex-mulher de traficante, daria a coluna inteira.

 

Mas a noite de autógrafos estava pequena, pelo menos enquanto eu estava lá, pois saí antes que Hubert chegasse. Entusiasmo da coluna com a ressurreição das camisetas “eleitorais” do Macaco Tião, agora elevadas a ícones dos anos 80...

 

Faltou explicar que o fôlego do chimpanzé não deu nem para a saída. A candidatura prefeitural do Tião em 1988, levantada em conjunto pela Casseta e pelo Planeta, foi campeã de popularidade nos bons tempos em que o Rio ainda apitava alguma coisa culturalmente (quando os eleitorólogos da Globo apontaram Tião, símbolo do voto nulo, como o “grande derrotado” nas urnas, queriam dizer “alguém do PT venceu em São Paulo”).

 

No ano seguinte, bem que tentaram levantar a bola do Macaco Tião como candidato a presidente. Alguém lembra?

 

Mas, enquanto durou, a gracinha foi levada mais a sério do que deveria, incluindo talk shows e candidatos de verdade, o que sob os devidos critérios teria feito o consórcio Casseta-Planeta merecer alguma espécie de Top de Marketing.

 

Especialmente porque tanto a Casseta quanto o Planeta já tinham entrado em trajetória descendente na mídia impressa, assolados por pacotes econômicos e perdendo de vista o público-alvo (baixaria “impacta” muito e vende pouco. Adolescente não lê texto de mais de cinco linhas). Mas foi em 1988 que descobriram a televisão, conquistando o ódio eterno da intelligentsia. E ainda lançaram “oficialmente” a banda, que correu o Brasil com shows que lucraram um quase nada - só serviram para promover as vendas do LP “Preto com um buraco no meio”, exatamente o inverso do modelo de negócios que os obituaristas da “indústria fonográfica” consideram o único que resta a seguir...

quarta-feira, novembro 28, 2007

Campeonato de arremesso de Palm

Acabei de escrever para o marketing (qual outro departamento?) da Palm Brasil perguntando o que fazer para reciclar o Vx morto. O que responderão?

  1. Esteja ligando para São Paulo para estar entrando em contato com o departamento responsável. Portanto, se vire.
  2. Esteja entrando em contato com o "centro de reciclagem" mantido pelas autoridades locais. As autoridades locais que se virem.
  3. Esteja depositando o palmtop em uma das lixeiras verdes mantidas pela Comlurb. A Comlurb que se vire.
  4. Esteja deixando o palmtop distraidamente na esquina do Palácio São Joaquim, o verdadeiro "centro de reciclagem" da Glória/Catete. Rapidamente o Vx morto estará sendo revendido. E o comprador que se vire.
  5. Esteja entregando o palmtop ao revendedor mais próximo de baterias de celular. O Vx é "inabrível", o que torna as baterias... Bom, o revendedor que se vire.

terça-feira, novembro 27, 2007

Lançamento: sucesso total

Quer dizer, teria sido um sucesso parcial se a Livraria da Travessa estivesse entupida de bicões sem noção. Do jeito que estava, podia-se até andar de um lado para o outro. Reencontrei o Reinaldo, que lamentou muito não ter me localizado antes do lançamento, apesar de todos os esforços de pesquisa. Reinaldo ao vivo parece bem mais velho que na televisão (e eu o conheço pessoalmente desde 1988). Hubert, meio que misteriosamente, não estava; Cláudio Paiva não saiu da mesa. E vamos que vamos.

Bem morto

O Palm Vx pode ficar o dia inteiro na base de recarga, mas nunca mais liga. Meu sonho antiecológico é lançá-lo do vão central da Ponte Rio-Niterói.

Sem substitutos. O celular, pelo menos com os programas fornecidos, não tem a menor chance de sincronizar com o micro (aceito sugestões). Penso em ver outro modelo. Os planos das companhias telefônicas são vergonhosos. Oferecem como grandes novidades, e a preço de novidades, uns aparelhos obsoletos (a Palm faz isso com o TX, que nem telefone é) nos quais empacotam uns planos de dados que me fazem lembrar da velha NutecNet de 1996 (estou aqui com o papel), matrícula de R$ 50 mais R$ 25 mensais para dez horas de uso e R$ 2 por hora adicional -- mas o 486 que eu usava naquele tempo não tinha o visor do tamanho de um selo.

O Planeta Diário: engraçado o que dizem...

Catálogos virtuais repetem um texto sobre o livrinho, entusiástico mas derrapante na primeira linha:

O Planeta Diário, jornal mais importante da década de 80 e feita pelos Cassetas (...)
Muito lisonjeiro, pouco verdadeiro. Pode ter sido o jornal de humor mais importante da década de 80 num período em que os jornais "sérios" despencavam em importância (não, crianças: a internet não é culpada única). E Hubert e Reinaldo, sem Cláudio Paiva, só puderam ser considerados "cassetas", num rótulo vira-lata para situar totais desinformados, vários anos depois do auge do Planeta jornal.

É hoje! Os vinhos se dividem em "bom", "médio", "mau" e "para lançamentos e vernissages". Este último será fartamente servido às 20h na Livraria da Travessa de Ipanema no lançamento do livro. Estarei lá.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Adeus, Palm

O Palm Vx funcionou mais ou menos até ontem, quando desligou e não ligou mais. Sem explicação e sem chance de conserto.

Só a morte do portátil conseguiu ser mais absurda que sua longevidade: mais de sete anos de efetivo exercício, o que prova que de vez em quando até o Stand Center é capaz de vender um troço honesto... Exceção total. Nada em informática dura sete anos, mesmo sendo o símbolo de uma era.

Lançado em 1999, o Vx (igual ao V original com o quádruplo de memória) foi o melhor Palm de todos os tempos, ponto. O primeiro com design “de gente grande”, imitadíssimo. O primeiro com tela realmente nítida. E o primeiro com bateria recarregável, minúscula e que durava horas e horas (não me lembro de celular daquele tempo que tivesse bateria que prestasse).

Enquanto Palm foi sinal de status, leiam The anatomy of buzz, e as pretensões do usuário típico se limitavam a agenda, tarefas e lista de contatos, o Vx era a continha do necessário. Depois só estragaram a receita. O conceito do Palm (e do PDA em geral) degringolou quando as operações de agendinha foram absorvidas com folga pelos celulares -- no bolso, um gadget só já basta. E os handhelds remanescentes, de todas as marcas, correram desesperados em busca de conectividade, armazenamento e multimídia. Aí é que as tartarugas ultrapassaram a lebre.

Resultado: qualquer Motorola V3 vagabundo é mais cult que o melhor dos Palms (e sem deixar seu usuário parecendo um usurpador do proletariado), o BlackBerry ressuscitou o teclado, o iPhone botou o hype das canetinhas em seu devido lugar, qualquer coisa da Symbian mostra que, em usabilidade, é possível pôr no bolso um computador conectado que não pareça um Frankenstein de PDA com telefone.

Palms? Ainda os há, mais caros do que parecem. O TX é o herdeiro da "velha tradição" na falta de melhor (não que dê para melhorar muito diante dos problemas conceituais), os Treos são antiquados e limitados, o LifeDrive castigou os early adopters com seus defeitos, "coisas" como E2 e Z22 dão a idéia do que a Palm (empresa) pensa do consumidor brasileiro. Daqui a pouco vem o Palm Centro. Não espero nada.

Longevidade

A seção Veja Recomenda da edição desta semana da revista diz que O Planeta Diário, o jornal, foi publicado até 1991. Não foi. O jornal resistiu até julho de 1992. Já pedi retificação.

Nesta terça às 20h na Travessa de Ipanema

OK, vocês já leram o Segundo Caderno de hoje: O Planeta Diário, o livro, enfim será lançado oficialmente. Continuo esperando um emailzinho da Editora Desiderata.

sábado, novembro 24, 2007

Charlie and the Chocolate Factory

O enredo é inequivocamente religioso. Quem descuidar disso vai entrar pelo cano. Dois filmes entraram pelo cano.

O tema subjacente é manjado porque sempre funciona: "quem é que merece entrar no Céu?". Se eu fosse menino britânico, também desejaria um Céu cheio de doces, mas essa é outra história... No livro de Roald Dahl, do qual Tim Burton mostrou que só conhece o que sopraram em seu ouvido uns assessores engraçadinhos cheios da grana, parece tão óbvio quanto nos filmes que o pobre menininho está fadado a tirar a sorte grande. O interesse da história não é o quem, mas o como.

Charlie não precisa fazer nada especial para conquistar o paraíso dos doces. Seus quatro concorrentes pentelhos se enrolam em suas próprias pentelhices, saem do jogo, Charlie ganha a fábrica de Wonka por W.O. e o livro acaba mais ou menos aí (desse ponto em diante, Tim Burton emenda uma patetice metida a socialmente correta; dispensem). Acostumado que estava com o filme "da Sessão da Tarde" dos anos 70, pensei que estivesse faltando alguma página no livro.

Segundo o quase-cult dirigido por Mel Stuart (quem?), Charlie "sobra", Wonka se desespera achando que ninguém merece o grande prêmio, o resignado Charlie devolve a Wonka o chiclete mágico (um grandíssimo segredo industrial), o rosto de Wonka se ilumina com o gesto de lealdade, Charlie ganha a fábrica inteira. No livro, bastou a fé. Em Hollywood, é dado por certo que a platéia é inteiramente incapaz de conceber fé sem obra, até porque hollywoodiano não conhece nem uma nem outra.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Megalojas

A Tower Records já dançou. Andrew Keen, em “The cult of the amateur”, ainda sem tradução no Brasil (não esperem; encomendem o original), chora longamente a perda. É nessas horas que o argumento do livro, em geral digno de respeito quando denuncia “duela a quien duela” os ídolos ocos da era 2.0, se perde em dores-de-cotovelo, emocionalismos, ímpetos “californianos” de ser do contra. Keen preferia que a galera continuasse, como nos bons tempos, gastando sola de sapato para prestigiar a Tower Records, ouvir as sábias dicas dos vendedores... Quero ver no Brasil um vendedor, de qualquer coisa, com competência para algo mais que intimidar possíveis não-compradores e procurar preços escondidos. Descontando a pirataria, o público-alvo virou as costas quando descobriu que tudo que havia na Tower se comprava melhor em lojas virtuais com catálogos (de vendas por catálogo os americanos entendem) ilimitadamente expansíveis e infinitamente comparáveis uns com os outros. No geral, isso deixa o consumidor passando melhor hoje do que ontem. É nessas coisas que internet faz a diferença. Mas enquanto Keen passeou só na superfície do descalabro cultural pós-bolha pontocom, “The weightless world” (cadê a tradução?) é que revirou os alicerces da economia digitalizada e não gostou do que viu. Isso quando a glória e prosperidade da Nasdaq ainda era considerada eterna...

Pena do ICQ? Fique com ele

Choramingos aqui e ali pelos poucos e bons tempos do ICQ, o primeiro software-serviço de mensagens instantâneas que deu certo, porque era o que “todo mundo” usava até mais ou menos 2003-2004 quando, dizem, foi atropelado pelo odioso monopólio de Bill Gates através do MSN Messenger (depois Windows Live Messenger). A Microsoft cumpriu sua obrigação competitiva de mexer o traseiro e oferecer um produto rival que os usuários desejassem usar. E o império AOL, antes e depois da Time Warner, dormiu no ponto com o ICQ (idem com o Netscape). Deixou a equipe de produção solta para rechear o programinha com penduricalhos que as máquinas da época não assimilavam bem; já em 1999 era bombardeado por críticas de usuários, que, no entanto, valorizavam o ICQ justamente porque “todo mundo” o usava. A AOL olhava para o teto enquanto o que realmente valia no ICQ, os zilhões de usuários, lhes escorriam pelos dedos. AOL já teve um modelo de negócios sustentável? O Messenger se ergueu por seus méritos enquanto, lateralmente, o ICQ despencava pelos defeitos de si mesmo, e é essa a história. Se alguém quiser “colocar” a morte em vida do ICQ (ainda existe, mas ninguém mais quer saber dele) como questão opressor-oprimido, só se for por peninha das centenas de bilhões que a AOL desintegrou com o fim da bolha pontocom. Mas é uma façanha convencer de alguma coisa essas crianças que conhecem melhor a cartilha marxista do que a localização do Brasil no mapa.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Mega o quê?

Falando em Saraiva, esqueçam essas megalojas. A não ser que você precise de determinado livro “para ontem” ou na improvável circunstância de oferecerem uma promoção realmente compensadora em relação às das lojas virtuais. Leve em conta, porém, os custos de transporte público que não digo que é “de gado” para não ofender o gado, possível estacionamento, cafezinho caro servido por completos palermas, longas filas, barulho, assaltantes e tempo perdido que não volta mais.

 

Megaloja física não está mais nem aí para vender coisa alguma. Mantém aquele símbolo dos anos 90, a seção enorme de CDs e DVDs que “ninguém” compra porque, ah, deixa pra lá. Pelo menos seria útil mexer nos computadores e outros eletrônicos antes de comprá-los. Não há nem espaço para isso. Os poucos atendentes são meninos “pow kra vlw blz” que explicam menos que a loja virtual, as condições de pagamento são melhores na loja virtual e todos os itens em falta são oferecidos pela loja virtual.

 

Se o estabelecimento de tijolos existe para atender a compradores impulsivos, então deveria pelo menos não esconder os preços das mercadorias (busque uma oferta na internet: o preço é mostrado antes do nome da loja). Em qualquer birosca o grande trabalho dos balconistas é ficar consultando livros de referência (ou listas computadorizadas) para dizer os mesmos preços dos mesmos itens para todo mundo. É uma velha tradição brasileira que nenhuma leizinha parece intimidar. De minha parte, se escondem os preços, eu escondo a carteira.

O Planeta Diário na Saraiva

Enfim o livrinho em exposição não-virtual em filial carioca de rede não-carioca de livrarias. Se a Desiderata fosse editora paulista, já teríamos O Planeta Diário nas Saraivas cariocas há tempos.

 

Continuo esperando a boa-vontade de alguém, pode ser um “sub”, na Desiderata em responder meu email.

terça-feira, novembro 20, 2007

Notícia de ontem

A Editora Desiderata respondeu ao meu pedido de contato. Assim que chegarmos a um acordo sobre o horário, farei uma visita.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Ainda o livro do Planeta Diário

O maior mérito do livro da Desiderata deve parecer uma heresia a quem viveu "aqueles tempos": delavar o visual antigo para que as novas gerações possam absorver o conteúdo sem torcer o nariz. Daqui a pouco ninguém mais vai saber o que realmente o Planeta satirizava em gênero, pois a garotada que entra hoje na população economicamente jamais deu a menor pelota para jornais de papel (sai tudo grátis na internet mesmo; ademais, "eucalipto não se come"), e qualquer matéria impressa um pouco mais complexa remete ao site do jornal, onde contará com a foto-cidadão, o vídeo-cidadão e uma enxurrada de comentários. Pelo menos hoje os fetichistas da celulose recebem jornais multicoloridos e graficamente impecáveis. Em comparação, O Planeta Diário dos anos 80 deve parecer a coisa mais tosca da História da imprensa.
 
Numa estimativa otimista, o Planeta gozou (no bom sentido) dois anos de glória, mais ou menos os anos de 1985 e 1986, até que sucumbiu à glória e decadência do Plano Cruzado e continuou caindo nos muitos pacotes econômicos seguintes. Porque boa produção custa dinheiro. O papel piorava, a impressão piorava, o número de páginas caía, os anunciantes desapareciam. Acima de tudo, quem não se lembra de ter visto uma troca de moeda não tem a menor noção no abalo psicológico que os furacões econômicos causavam e no baixo astral que disseminavam. De todo modo, O Planeta entrou em 1988 sem Perry White, sem A Vingança do Bastardo e sem Cláudio Paiva, mas com uma banda e um programa de TV batendo à porta, o que tornou o jornal um negócio secundário.

Sim, Verissimo já foi bom

"Lenda de Copacabana" bem aqui. Li esse conto numa Revista de Domingo nos anos 70, cuja última página era do Verissimo. Eu era muito criança. Nem me lembrava mais dos detalhes. Só agora reencontrei a "Lenda" pelo Google.

Pois a molecada de hoje pensa que Google (e a internet por baixo dele) sempre existiu, que "a revistinha" do JB sempre foi uma coisinha irrelevante, e que Verissimo nunca fez nada melhor que suas parlapatices adesistas. E, principalmente, que eu nunca falaria bem do Verissimo neste blog ou fora dele. "Lenda de Copacabana" bem aqui.

sexta-feira, novembro 09, 2007

O Planeta Diário: Me exumaram. Aos pedaços. Vida breve, arte longa

Primeiro foram as versões resampleadas, delavadas, remasterizadas e customizadas das matérias do período mais glorioso d'O Pasquim, reunidas em dois grossos volumes da Editora Desiderata. Agora a mesma editora faz o mesmo com outro famoso tablóide de humor: O Planeta Diário. Comprem. Peçam os autógrafos. Leiam.

O que eu tenho a ver com isso? Uma coisinha ou outra. Quer dizer, algumas matérias de minha autoria acabaram saindo. Não riam. Ninguém acredita mesmo, mas é verdade. Em 1988, aos 16 anos, comecei a escrever no Planeta e na Casseta Popular e nem os insiders do jornal/revista acreditavam. Em diversos níveis de descaramento, insinuavam que eu era só um laranja do verdadeiro autor dos artiguinhos (top-FAQ: todas as minhas colaborações ao Planeta e à Casseta foram rigorosamente pagas). No Brasil, imagina-se, desenvolver trabalho intelectual é mais ou menos o mesmo que ser farsante.

Mas as matérias. Numa lida atenta mas rápida, encontrei o "Guia Quatro Patas: São Paulo", obra do prolífico verão de 1989 que passei no quarto dos fundos da casa de praia sobre uma velha máquina Olivetti. Faltou justamente o quadro sobre a capital paulista. Um pedacinho de "A Patada", publicado originalmente em outubro de 1990, quando os editores já tinham mexido no original mais do que os cirurgiões plásticos já mexeram em Dercy Gonçalves. Pelo menos do "Especial Videogame", de 1991, aproveitaram o principal -- a entrevista Sunda-Mário -- com uma fidelidade razoável. Só não me lembro de ter inventado qualquer coisa no sentido de "Pac-Mandíbula". À dupla Hubert-Reinaldo nunca faltou uma prodigiosa imaginação.

Update: Assim como fui o último a saber que tive algo republicado, também não me contaram até hoje quando haverá noite de autógrafos.

Update 2: Em leitura um pouquinho mais atenta, descobri que fui devidamente creditado. Até acertaram a grafia do meu nome! Corram à livraria mais próxima e confiram. Enfim, seguiram o espírito do Planeta original, que jamais deixou de cumprir suas obrigações com este humilde colaborador. Se Hubert e Reinaldo atingem o status de celebridades, não é por falta de profissionalismo.

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